Nívea abriu os olhos lentamente.
Mais uma vez, tentou não acreditar no que viu; chegou a beliscar-se, para ter certeza de que não estava sonhando...
Mas, a criaturinha teimava em permanecer à sua frente, muito real.
Sacudia a cauda e arfava o peito ao encontrá-la na volta da escola, e dormia ao seu lado, aos pés da cama de tons rosados, estando sempre a postos quando ela acordava.
A mocinha até então, do alto dos seus 6 para 7 anos de vida, não entendia o motivo dos adultos nunca perceberem a existência do animalzinho.
Ficava possessa quando achavam graça dos cuidados dedicados ao pequeno Tob.
Por mais que aqueles insensíveis adultos mangassem dela, e todas as noites a tentassem convencer que tudo era fruto de sua fértil imaginação, não podia negar aos seus sentidos a presença constante do bichinho.
Aos olhos de Cristina, a orientadora educacional do ensino fundamental do colégio Sacre Coeur, a preocupação dos pais da pequena Nívea era injustificada; era uma aluna acima da média, e seus coleguinhas a respeitavam, pois a danadinha tinha muito jeito para liderança; demonstrava ainda muita criatividade nas tarefas escolares, apesar de às vezes divagar, como se dedicasse atenção temporária a outros assuntos.
Já aos olhos do pequeno ser quadrúpede, um dos poucos remanescentes da última viagem cósmica de sua espécie, aquela moradia o havia acolhido em boa hora, quando já não mais tinha esperanças de sobrevivência, naquele distante planeta.
O cômodo onde passava as noites, de vez em quando era invadido por aquela estranha criatura de patas compridas e grandes olhos, mas que demonstrava uma enorme atividade cerebral, muito superior aos outros de sua raça.
Seu bem-estar dependia daquele jovem espécime... assim, afeiçoou-se à pequena.
O problema contudo, é que à medida do crescimento, estes mesmos espécimes sofriam uma redução de sua capacidade intelectual, o que dificultava gradualmente a comunicação.
Iniciava-se aí uma nova etapa de recrutamento de novos cuidadores, já que a vida longa era uma característica comum aos seres do extinto planeta Akron, consumido pelo desmatamento e pela poluição desenfreados.
O fruto natural desta interação deveria ser uma conscientização maior quanto aos problemas ambientais, por parte dos pequenos humanos, o que na verdade era sempre tentado pelos forçados visitantes, interessados em sua própria sobrevivência.
A crescente perda do contato mental, desencadeada pelas mudanças hormonais dos terráqueos, condenava porém, ao fracasso as tentativas.
O pequeno E.T., no fundo, no fundo, temia o possível destino daquele novo mundo...
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