Não. Eu não sou nenhuma ingênua que não saberia reconhecer um assédio. De fato até poderia ser isso, mas havia todo um contexto ali que alguém de fora não entenderia. Léo, o namorado da minha irmã, estava com a mão sobre minha perna enquanto dirigia. Estávamos voltando da casa dos meus pais, numa cidade do interior, onde minha irmã ficou para passar as férias. Agora éramos apenas nós dois naquele veículo.
Eu usava um short curto, então sentir aquele toque diretamente sobre a pele numa região tão sensível, me deu arrepios. Mas o que mais me estranhava era minha própria reação. Ou "falta dela". A estrada possuía uma paisagem monótona e repetitiva, e tirando o som do rádio do veículo, tudo mais contribuia para que aqueles segundos parecessem horas. Ainda mais quando a mão inerte começou a mover-se, subindo inquestionavelmente em direção ao meio das minhas pernas, enquanto os dedos pressionavam levemente o percurso. E ainda assim eu me mantive ali estática e calada. Por quê?
No momento não pensei no fato de que poderia ser um tipo de chantagem, afinal sem aquela carona, eu estaria no meio do nada, a uma centena de quilômetros de casa. Mas certamente o motivo não era aquele. Tampouco seria algum tipo de medo ou timidez minha. Conheci ele há pouco mais de um ano, e nesse período, provavelmente minha principal interação com o mesmo, era a de reclamar. Na maioria das vezes, até sem razão alguma. Sequer estaria "paralisada" pelo constrangimento do ato, visto que acidentalmente ele já havia me flagrado em roupas íntimas ou mesmo nua em algumas ocasiões, e em todas elas eu reagi prontamente com uma chuva de agressões e termos nada educados, como era de se esperar.
Senti seu dedo mínimo encostar levemente sobre minha vagina, juntamente com um aperto mais vigoroso de sua parte. Aquele era um ponto sem volta. Eu não estava dormindo, e teria acordado mesmo se estivesse; se não houvesse algum protesto de minha parte a partir dali, o que ele poderia pensar? Mas meu principal questionamento era: por que estava sendo tão difícil tomar uma atitude tão simples e rotineira entre nós, eu reclamando com ele?
Não sei se para meu alívio ou desgraça, naquele momento ele também pareceu acordar de um transe, e rapidamente retirou a mão que estava sobre mim.
— Puta merda! Mil desculpas Ana, e-eu juro que... não foi de propósito... e-eu tava distraído aqui e… p-pensei...
— Tá legal — respondi, enquanto apoiava um pé sobre o painel.
— Sério? Só isso? — ele me questionou, após alguns segundos de um embaraçoso silêncio. — Quer dizer, não que eu esteja reclamando, mas achei que no mínimo ia cortar minha mão fora.
— E por acaso eu sei dirigir, sua anta? Além do mais... você disse que não foi de propósito, não é mesmo?
— Não, não. Claro que não. Me desculpe.
Eu sei, parecia uma desculpa bem esfarrapada mesmo. Mas como eu disse antes, havia um contexto pelo qual eu sabia que aquilo poderia ser verdade. Essas carícias íntimas e nada discretas, fizeram parte de todo o percurso de mais de três horas na ida, entre ele e minha irmã. Completamente indiferentes ao fato de eu estar ali vendo tudo.
Apoiei a cabeça sobre o joelho levantado, virando o rosto em direção à janela, evitando assim o seu olhar. Eu me sentia envergonhada e meu corpo instintivamente reagiu. Senti o umedecer no meio das pernas e aquela posição, era uma tentativa de esconder aquilo. Juntamente com o fato de que bem lá no fundo (e isso é algo que só admito hoje em dia), eu lamentei um pouco ele ter dito que não foi proposital.
— Um mês. Vocês são muito grudados. Vai sentir falta dela, não é?
— Muita. Desde que começamos a namorar, acho que nunca passei tanto tempo assim longe dela.
Realmente era visível essa proximidade entre os dois. Eu e minha irmã dividíamos um pequeno apartamento na capital, então para mim não era incomum vê-los trocando carícias íntimas mutuamente. Desconfio até do que rolou durante a viagem de ida. Enquanto eu cochilava no banco de trás, acordei subitamente por um gemido bastante característico. E o pior que ficar pensando naquilo acontecendo, justamente onde eu estava sentada agora, não ajudava em nada a diminuir minha excitação involuntária.
— Ana — ele me chamou, ainda assustado. — Você não vai contar isso pra ela, vai?
— Depende Léo.
— Do quê?
— Você tava pensando em mim ou nela? — perguntei, na intenção de deixá-lo desconcertado.
— Nela, nela. É claro...
— Sei. Nesse caso, não. Mas vou te bater muito quando chegarmos.
— E... se fosse em você? — ele ousou perguntar, depois de vários minutos em silêncio. Provavelmente entrou na brincadeira, e agora queria me deixar desconcertada.
— Então nesse caso, eu contaria tudo, e a Aline ia te bater muito.
— Nossa, cunhada. Não tem uma opção onde eu saia sem apanhar?
— Bem, se você parar de falar nisso, talvez eu esqueça até chegar lá. Mas parece até que está gostando de ficar lembrando — respondi, fingindo uma cara indignada.
— Err... olha, devo admitir. Ruim não foi.
— O QUÊ?!
— Desculpe... só quis dizer... ah qual é? Se eu dissesse que foi ruim tocar em você, acharia melhor?
— Claro que não! Quer dizer...
— Então por quê está com raiva só por eu ter dito que não foi? Além do quê... fui eu quem parei, lembra?
— Léo. O que você tá querendo insinuar com isso?! — falei pausadamente, com um olhar de fúria.
— E-eu... só quero dizer que... Foi errado, tá. Eu admito que foi completamente errado. Mas...
— MAS?! Não tem "mas", Léo! — respondi, com o rosto queimando. Não sei se de raiva ou vergonha de ouvir em voz alta, algo que provavelmente também estava passando pela minha cabeça naquele instante.
— Mas... supondo que fosse numa situação em que "não seria errado". Então... não seria errado nós admitirmos que foi bom, certo?
— NÓS?! Eu não estou admitindo nada Léo!
— Então por quê não me impediu?
— Não é isso! E-eu ia te impedir, tá? Mas... eu tava com sono, e você parou antes. Só isso.
Ele me olhou com um sorriso, finalmente tinha me deixado desconcertada. Eu estava me explicando e com medo de escolher as palavras erradas, e acabar admitindo que talvez...
— Cala a boca, Léo! Mudei de idéia, vou te bater agora e quando chegarmos.
Comecei a bater no braço dele, que sorria enquanto eu fazia aquilo, me contive para parecer furiosa sendo que no fundo, minha vontade era de rir também. Estávamos implicando um com o outro novamente, como era de costume. Era nosso jeito de dizer que estava tudo bem.
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