repolho_imortal Harumi Matsunaga

Rebecca já estava cansado de viver, depois de reviver 50 vezes, nada mais fazia sentido, nem mesmo quando conquistou o continente lhe foi satisfatório. Apenas quando seu único amor lhe matou, foi quando realmente sentiu que deveria voltar a vida


Aventura Todo o público.

#interactive #elfo #magia #bruxa #lgbt
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A Rainha Solitária

— Por favor, me deixe morrer.

Rebecca clamava todas as vezes que ficava sozinha no palácio, mas categoricamente seria ignorada por qualquer uma das divindades que estivesse ouvindo.

Todos sabiam que a rainha na verdade era um homem, mas sequer sugerir isso faria com que você nunca mais pisasse em Luxerion.

Para o povo era surpreendente como uma jovem poderia conquistar o mundo de forma tão fácil como o levantar de uma pipa. Mas para Rebecca , aquela era a quinquagésima vida em que tentava sobreviver. Já não sabia mais quantos anos se passaram depois de morrer pela primeira vez.

Via sua mãe envelhecer sem poder se despedir. Via seu marido viúvo se casar novamente, sem poder dizer que havia retornado. Via os novos amigos visitando sua lápide sem poder dizer que tinha saudades. Ninguém acreditaria em uma pessoa que nunca havia visto, por mais que fosse sua reencarnação.

Os olhos verdes de Rebecca se fecharam, então se abriram novamente. Em meio ao vai e vem de despedidas e solidão, trezentos e cinquenta anos se passaram.

Ela ficou cansada de viver, se sentia solitária e entediada. A cada ano havia menos pessoas que conhecia ao seu redor. Desistiu até mesmo de conhecer seus descendentes.

Rebecca sentiu que poderia fazer qualquer coisa.

Foi quando tomou o trono pela primeira vez. A elfa se esquecera que era ordinariamente fácil matar uma pessoa. Em uma das vidas foi um orgulhoso soldado, em outra era uma ladra de becos, mas mesmo com todas as habilidades que conquistara os movimentos da nova rainha eram lentos e preguiçosos, como alguém que já havia se cansado de tudo.

O golpe foi realizado por uma única pessoa, e foi parado por uma única pessoa. Rebecca perseguia todos que ousassem interferir em seu caminho: matou cada um até encontrar o príncipe herdeiro Dália Luxerion.

O palácio estava silencioso e manchado de vermelho. Completamente sem vida, sem som, e sem luz. Apenas Rebecca cercado de corpos, e dentre eles havia um homem de cabelos castanhos, agora manchados pela púrpura de seu próprio sangue.

— Até mais, Dália.

Agora não existia ninguém para contrariar a nova rainha.

Príncipe Dália estava mais velho do que se lembrava, quando se conheceram era um homem baixo de cabelos curtos e brilhantes olhos azuis; a última vez que se viram eram jovens amantes sem medo do mundo.

Aquele antigo corpo não carregava as cicatrizes de repetidas lutas, e aquelas mãos não eram manchadas pelo sangue. Naquela época Rebecca era uma dama da corte por quem Dália se apaixonara, alguém que podia se sentir especial.

Mas sua vida passada carregava outro nome: Yasmin. Ela era uma jovem de aparência comum, vindo de uma família comum. Qualquer um poderia dizer que foi apenas sorte que a fez servir ao palácio real, afinal, nem todos os escravos tinham a honra de viverem tanto para sempre comprado pelos nobres de Luxerion.

Depois de voltar a vida tantas vezes, todas as verdades escondidas agora borbulhavam para a superfície queimando a pele.

— Querida!

Uma delicada voz chamava no fim do corredor, Dália estava indo ver as flores. Era algo que sempre fazia no fim da tarde, quando podiam se encontrar.

Dália sempre foi seu amor secreto, mesmo se não procurasse, todas as vezes amaria a mesma pessoa, o mesmo sorriso caloroso. Todas as vidas ele estava lá.

— Amado, por favor use meu nome.

O amante ruborizava ao lado da dama, uma mão rosada segurando uma lâmina contra o peito de Yasmin e o outra em seu rosto.

— Yasmin, meu amor.

Sim, essa foi a ultima vez que ouvia chamar pelo seu nome. Uma doce e carinhosa voz.

Teimosamente Yasmin se aproximou para lhe dar um beijo, fazendo a lâmina perfurar seu coração.

— Até mais.

Ao retornar, Yasmin, agora uma elfa chamada Rebecca descobrira que conquistar as damas da corte era um costume nada popular do príncipe herdeiro. Várias damas estava sepultadas nos jardins do palácio por onde ele sempre visitava.

Ela pensou, poderia eu visitar as flores nascidas de meu corpo?

Nos primeiros vinte e três anos dessa nova vida, Rebecca era uma caçadora alta e robusta. Acabou ficando conhecido como “lobo carmesim” pela guilda de caçadores, por conta de seus cabelos vermelhos que se escondiam na mata. Não foi a primeira vez renascido em um corpo masculino, mas ainda gostava de ser uma mulher.

Era difícil estar apaixonada por alguém que não era o que acreditava, sentia como se mais uma vez seu mundo fosse destruído.

— Majestade.

Um servente tremia ao chamar a nova rainha, e com um simples gesto com a mão, ele se retirou.

A coroação de Rebecca não permitiu que a antiga realeza se despedisse com as tradições do reino, em vez disso ela os enterrou ao lado de seu antigo corpo no jardim.

Podia ver ao longe o chafariz que centralizava as flores de diversas cores. Era como uma pupila azul que observava a elfa, assim como Dália, uma vez a observou.

— Estou cansada disso.

A rainha reclamava sozinha enquanto se dirigia para o salão real, os súditos fofocavam sobre seus hábitos mas temiam serem severamente punidos por pensar que sua majestade era louca.

Rebecca sabia que não era aplicada para jogos políticos, suas maiores conquistas sempre foram com sangue e ferro e isso não mudou muito com uma coroa em sua cabeça.

O continente de Hanen não precisava de uma governante como Rebecca. Agora nomeada de Rebecca Luxerion, a rainha solitária.

Antes dela, muitos reinos e povos vivam sobre corpos na guerra. Muitos guerreiros sem nome ou glória morriam todos os dias pelos caprichos de alguém com poder. Sua primeira e única ordem foi dizimar a todos.

— Por favor, morra por mim.

Era o que sempre ouviam. Ela fez o que todas a pessoas do mundo jamais tiveram coragem para pensar: queimou templos, bebera dos melhores álcoois e usufruia dos mais belos homens e mulheres que lhe interessassem.

Ao longo de trinta e seis anos construiu um império carregado por um coração vazio. Não havia espaço para rancor ou arrogância, sua vida simplesmente não fazia mais sentido.

Súditos e soldados se ajoelhavam por lealdade, escravos libertos marchavam em seu nome. Aqueles que podiam se rebelar já não viviam mais.

A terra que uma vez foi jogada em caos, de repente se tornou bela e ordenada.

Depois de anos de batalha sangrenta, o exército dos revoltados finalmente tinha sido dizimado, mas não pela morte, mas pelo cansaço e desistência. Lutar não fazia mais sentido. Os que se uniam pelo ódio começaram a pensar duas vezes: uma nova ordem estava se instituindo. Ninguém queria continuar com os sacrifícios.

O exercito de oposição tinha entrado em um acordo de desistência quando um jovem garoto de cabelos negros gritou em protesto.

— Estamos tão perto da vitória, senhores! Não podemos parar agora!

Era um escravo sem nome que lutava por algum reino do sul, estava apenas seguindo ordens, mas seus olhos azuis brilhavam em raiva.

— Realmente pretendem deixar que os sacrifícios que nossos colegas tenham sido em vão?

Os soldados veteranos se afastavam do discurso, alguns cansados demais para se mover ouviam a contragosto. O escravo discursava no acampamento buscando motivar a alma ferida dos sobreviventes.

— Cale-se animal imundo! — um velho joga o que sobrou da carne em sua direção — Já concordamos em se submeter a rainha solitária!

— Uma desgraçada sem emoção — outro acrescentou.

As mulheres retiravam os mais jovens da chuva de insultos. Os mais sensatos faziam questão de ignorar.

— Vão permitir que sua terra seja tomada? Permitir que seus filhos sejam mortos?

O jovem sem nome se encontrava falando sozinho, ninguém queria ouvi-lo novamente. Apesar das dores, sabiam que não valia a pena.

Foi a última vez que o viram no acampamento.

Na noite seguinte o escravo tinha se dirigido ao palácio real Uiri, que fazia juz ao seu nome “iluminado”, em algum dialeto antigo. Todas as paredes eram do mais cintilante ouro e até as flores brilhavam como joias.

Ele pensou, repugnante

Sem alguma segurança, foi extremamente fácil para um pequeno garoto invadir o palácio. Todos os cantos lhe causavam enjoo de tanta soberba em cada detalhe.

Até se encontrar com um enorme buraco no jardim. A criança não conseguiu olhar por muito tempo sem vomitar, cambaleou alguns passos para trás e caiu em algo muito duro.

— Uma… cova conjunta — se recolheu rapidamente para sair dali — O que merdas uma coisa dessas faz aqui?

Não queria cogitar ser um hobby da rainha, afinal parecia ter sido desenterrados há muito tempo, sem sinal de novos corpos. Ele saberia.

Em direção ao final do corredor, ficava as escadarias de rubi. Cada degrau cravejado com as mais belas jóias vermelhas, era como uma cachoeira de sangue. E no final dela ficava os grandes portões para o salão real.

Normalmente seria necessário quatro soldados para abri-la, mas agora estavam tão destruídos que não parecia mais portões, apenas um arco amassado.

— Um humano? Que ridículo vocês ainda existem?

O jovem sem nome estremeceu ao ouvir a estrondosa voz no interior do salão. Sua garganta queimava e seu nariz ardia com o cheiro de podridão.

Os corpos, Ele pensou, estão todos aqui? Que absurdo!

— Sim, essa é a Ginevra, sabia? — Rebecca estava no chão, rodeada de corpos e terra — Essa é a Luciene, ela adorava o por do sol.

Sem mesmo desviar, Rebecca é flechada pelo invasor. Já não sentia mais dor, já não sentia mais raiva. A rainha solitária parecia ordenar os ossos das mulheres mortas de acordo com as que conhecia.

— Você é louco… louca.

— Menos que você, eu garanto.

Recuando alguns passos, o jovem parou ao perceber que Rebecca não revidaria, em vez disso ela apenas estava arrumando alguns ossos. Foi quando reparou em um conjunto de poeira e restos mortais no trono real.

— Ah, sim, é ele — Rebecca nem se deu o trabalho de desviar a atenção do que estava fazendo — Príncipe herdeiro de Luxerion, Dália.

O escravo sentiu suar frio.

Sua mestra apenas ordenou que matasse Rebecca, mas não havia nada como isso nas coisas que tinha que lidar.

Nesses últimos trinta e seis anos, Rebecca tinha se erguido como a salvadora de muitos e destruidora de outros. O que tinha acontecido além disso ninguém sabia.

A rainha havia envelhecido, mas suas feições eram como pedra esculpida no tempo.

— Você ouve ele também? Eu sei que sim, afinal, ele o mandou aqui.

O jovem sem nome queria correr, mesmo com suas pernas pesando e o estômago revirado, queria dar um passo a mais para longe dali.

— Não ouço ninguém.

Rebecca fechou os olhos, ela sabia que estava perto de mais uma vez morrer, e sabia que não poderia realizar seu mais estimado sonho.

— Faça, garoto, apenas termine o que veio fazer.

A rainha sangrava pelo ferimento da flecha e provavelmente já sofria de muitos outros ferimentos. Não havia muito o que fazer, logo seu corpo estava duro, como uma estátua sentada em meio às cinzas.

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└─ Reviver
5 de Fevereiro de 2022 às 00:44 0 Denunciar Insira Seguir história
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DeAnima
DeAnima

Um extenso universo desenvolvido desde 2014. A saga em si não possui um protagonista, pois cada história segue a vida de diferentes pessoas, compartilhando o mesmo universo, se conhecendo ou não. Algo como o destino que influencia suas vidas, sejam humanos ou deuses. Leia mais sobre DeAnima.