Há muito tempo,antes da existência de reinos,reis e rainhas ,o planeta Terra era um lugar onde a magia prevalecia, e junto de diversos seres de aparências e classes diferentes fazia com que tudo fosse como um mundo de contos de fadas. Elas inclusive sempre estavam a cantar junto com os passarinhos e a nadar com os golfinhos. Umas das coisas mais bonitas que poderiam existir. Haviam fadas, magos, gnomos, gigantes, dragões, sereias, humanos e outros diversos seres espalhados pelo mundo.
Todos viviam em perfeita harmonia e respeito,a paz prevalecia em tal Era da Humanidade,humanos e seres diferentes coabitavam o mundo de forma gentil e saudável. Era tudo perfeito.
Com o passar das luas o planeta foi dividido em cinco partes de acordo com a famosa Rosa dos Ventos, tendo eles seus respectivos elementos da natureza e líderes. Era uma forma que ficava mais organizado e adaptado para cada ser. Estes que possuíam seus diferentes poderes e eram orientados pelos seus ancestrais divinos,ou seja os deuses componentes da hierarquia genealógica guiada pelos líderes. Sendo assim considerados filhos dos deuses e enviados para a Terra com o objetivo nobre de conviver e se relacionar com os diversos seres que habitavam o planeta redondo,assim como tudo e todos que estivessem envolvidos com esse planeta.
Em questão da divisão, a primeira parte era a primavera ,liderada por Park Arin. A primavera era o lugar diverso, que se misturava dando origem a um ambiente bonito e agradável aos olhos. Haviam muitas árvores que davam diversos frutos com cores e sabores diferentes, além das frutas as árvores continham tons fortes diferenciados de verde que destacavam suas folhas em meio à vista, grandes e fortes eram os troncos com cores vibrantes de marrom, branco e até mesmo vermelho - este último era possível retirar uma tinta, que era usada para pintar corpos, contando suas histórias e conquistas- ,os rios e lagos eram tão cristalinos, podendo observar todos os seres que habitavam as profundezas da imensidão nomeada água. Os seres que viviam nessa estação eram fadas, sereias, trolls, gnomos, anões, groots, gigantes, magos etc. Primavera era o sul do imenso globo.
A segunda parte era conhecida como Outono, ao norte, sendo liderada por Yoon Jonghan. Naquela estação viviam alguns magos,híbridos,animais, dragões, Herceles, seres parecidos com as fadas porém menores e podendo ser um pouco mais agressivas, tendo também como diferença a forma como nascem. As fadas nascem do riso e Herceles nasce diretamente da natureza. Por exemplo, se uma flor nasce, a Herceles também nasce como consequência, protegendo e vivendo naquela e pela flor. Quando a flor morre, Hercele vai junto, como se fosse uma só coisa.
No oeste se encontrava o Inverno,com seus flocos de neve com formatos e tamanhos diferenciados. Mas nem em todo o oeste nevava, havia certos pontos que faziam mais frio, outros que na maioria das vezes, vivia chovendo. Não era raro encontrar lindos e majestosos ursos polares andando pela neve fofa. Pinguins,
Krill, Elefantes e Leopardos marinhos, Avatares, Focas, e aves grandes e robustas - como a ave de rapina, águia e coruja- eram alguns seres que no oeste viviam.
Os grandes e estupendos castelos de gelo e vidro eram outra coisa que deixava o inverno ainda mais belo e encantado. Comandada por Park Seonghwa, também muito conhecida por sua beleza e elegância, com seu charme conseguia conquistar homens e mulheres de diversas espécies deixando facilmente qualquer um hipnotizado por sua graça e beleza. Uma verdadeira rainha.
E o quarto e último elemento, liderado por Yezi, o verão era um lugar quente onde havia enormes e belas praias com águas limpas e cristalinas, além do ambiente tropical que o verão lhe passava, suas lindas cachoeiras também não eram difíceis de serem achadas. Os seres que ali viviam conseguiam se adaptar ao clima quente e tropical ganhando resistência ao calor, ou seja, alguns seres do inverno não podiam ir à estação do verão por não terem as características adequadas ao clima e logo iriam morrer e vice -versa. Nenhum ser de uma estação poderia ir a outra, pois ainda de ser contra as regras era arriscado.
A divisão com seres foi feita de forma com suas características biológicas e fenotípicas, que juntando com o ambiente, fez com que eles pertencessem apenas a aquela estação.
Assim como também quem vivia no verão sofreria graves sequelas e possível morte ao ir no inverno. Alguns relatos dizem que pessoas morreram congeladas nas divisas - que como já diz, era onde delimita cada estação- e com o passar dos anos as estátuas de gelo iam sumindo pouco a pouco de forma dolorosa e torturante. Porém, a água tem memória, e quem dominava a água conseguia ver algumas das histórias das esculturas que ainda estavam congelados.
E por último, no cento, viviam os seres humanos que não queriam ou não se importavam muito com a divisão das quatro estações, a maioria da espécie que se encontrava alí, sobrevivendo com a caça, pesca e os outros elementos naturais, era liderado por Kim Hong e sua esposa, tendo também a visita constante dos deuses e sua presença no desenvolvimento humano.
As luas foram se passando, os seres que antes viviam juntos em um relacionamento saudável e harmonioso se encontravam agora divididos em cinco partes onde iriam conviver entre pessoas de mesma origem, e aproveitarem de sua forma o planeta que os deuses lhes presentearam.
Porém alguns conflitos começaram a aparecer, e em todos os casos algum humano estava envolvido. Esse envolvimento acabou aborrecendo os deuses devido às decisões e ações controvérsias da humanidade, e com o passar do tempo essas ações atraíram algo muito maior que o esperado, todos viram que uma simples briga poderia iniciar em uma grande e violenta guerra, então os próprios deuses puseram leis aos humanos que deveriam ser obedecidas, e quem ousasse contrariar acabaria morto.
Mesmo com os diversos avisos os tumultos continuaram e manifestações mais sérias passaram a acontecer, isso acabou levando Zeus e Poseidon a destruir algumas cidades e mandar algumas pessoas para lugares terríveis, até mesmo afundaram diversas aldeias para conter um avanço maior que eles tanto tentaram evitar.
Essa fase ficou conhecida como a Antiga Divisa.
Mais séculos se passaram, as diferentes espécies continuaram convivendo juntas e se habituando à nova rotina entregue a eles, começaram a se alimentar de diferentes comidas, criando plantações e formas diferentes de conseguir o alimento, vilas começaram a ser construídas, assim como: cidades, países e continentes, para que com essa evolução enfim chegarmos à atualidade.
Leis mais severas foram estabelecidas assim como punições de morte. As espécies renasceram e começaram a tentar viver de uma forma pacífica e sem brigas,resultando em um mundo com mais respeito e comunhão,sendo liderado por reis,rainhas e príncipes.
A fase apresentada acima denomina-se de Nova Era, a qual prevalece até os tempos atuais.
Nova Era
Seogwipo
Séculos depois da Antiga Divisa
O vento da primavera soprava as folhas verdes das árvores e espalhava o pólen das flores. As folhas que caiam no chão eram pisadas pelas crianças correndo de um lado para outro, deixando seus pais apreensivos caso se machucassem e outros com os cabelos em pé ao ver o estado da criança.
Algumas fadas, magos, gigantes e groots andavam livremente pela vila de Myeong-dong. Pelo horário, os estabelecimentos já estavam sendo abertos, as escolas começavam a receber as crianças e se você observasse bem, alguns moradores cantavam e dançavam uma música da vila, contando sobre a Antiga Divisa e da evolução pela qual passamos até o momento atual, onde todos viviam um novo começo, com paz e muito alegria,apesar da fúria dos deuses, que a muito tempo estavam adormecidos.
Em uma casa mais afastada das outras e mais próxima da extensa floresta, Jungkook se encontrava sentado em sua sala lendo um livro. O garoto estava tão concentrado que assustou-se quando ouviu alguém batendo em sua porta. Levantou-se a contragosto, deixando seu livro de lado e indo atender o senhor.
Ele era baixinho, seus olhos eram pequenos e com uma íris diferente da outra. Estava com o uniforme real na cor azul marinho, branco e dourado. Em sua mão estendida, havia uma carta guardada em um lindo envelope.
Estranhou, não era de receber cartas.
O desconhecido lhe entrega um envelope com o brasão real na cor vermelha sem proferir uma palavra. Tão rápido quanto chegou, se foi, deixando pra trás o Jeon altamente curioso. Em poucos segundos estava abrindo a carta com certa empolgação, e sentando-se confortavelmente na cadeira que estava anteriormente , começou a ler.
Seus olhos negros estavam concentrados nas palavras que ali estavam. Seus lábios rosados levemente abertos e seus cabelos caiam sob seus olhos grandes e redondos, levando ele a cada minuto arrumar a madeixa dourada teimosa que não queria ficar no lugar. Vestia uma blusa com mangas compridas e gola alta, uma calça sendo segurada por um suspensório, e em seus pés, apenas havia poeira por ficar andando descalço por aí.
"Queridos súditos,os reis de Seogwipo declaram que haverá uma seleção com 35 participantes para ser A/O pretendente do príncipe primogênito Kim Taehyung, onde passarão por algumas provas para assim se tornarem o futuro rei ou rainha."
"Para aqueles que quiserem participar, basta responder o formulário que virá junto com esse comunicado e entregá-lo para a banca de jornal ou biblioteca mais próxima, que em três dias será recolhido todos os formulários."
Atenciosamente, Duque Kim.
Jungkook deixou que um leve som de surpresa escapasse por seus lábios, sentindo seu coração dar batidas mais que necessárias para o seu corpo que se encontrava em combustão. Apertou aquele papel entre seus dedos enquanto se deixava divagar em seus pensamentos acerca da carta.
Sentiu a brisa forte do vento quando deixou sua cabeça tombar para trás, bagunçando ainda mais seus cabelos. Mas por aquele instante, se permitiu esquecer que mais tarde ele mesmo teria o grande trabalho de desfazer cada nó em seu cabelo. Não queria pensar nisso naquele momento, sua atenção estava tomada no papel em suas mãos, se questionando se aquilo era uma brincadeira de mal gosto.
Desde criança quis conhecer o imenso castelo do reino na qual vivia e isso não era segredo pra ninguém. Nunca conseguiu esconder seu interesse e admiração pelo castelo. Só de lembrar das grandes torres, da beleza que deveria haver por dentro, não conseguia segurar seu suspiro de apaixonado.
Sim, era apaixonado por aquele castelo e sempre quis morar em um. Poderia fazer ele mesmo? Poderia! Mas além do medo de ser pego, ainda - também- tinha o medo de descobrirem o “seu” refúgio. Então desde pequeno fazia pequenos castelos de areia ou de madeira e ficava horas e horas ali brincando e se imaginando como dono do seu próprio nariz. Mas já não foi uma ou duas vezes que fizeram brincadeira de mal gosto consigo por conta do seu desejo de ir ao castelo. Se cansou de contar quantas vezes ouviu ou caiu que nem um patinho nas brincadeiras feitas pelos meninos mais velhos na vila.
Já tinha ouvido falar sobre a beleza e inteligência dos príncipes e princesa de Seogwipo, assim como suas habilidades e serem extremamente educados e elegantes. Boatos também diziam que viviam outros seres além dos humanos no castelo. Seres estes descendentes e sobreviventes da Antiga Divisa. Se imaginava vivendo diariamente eles, queria realmente ver a construção que tanto lhe encantava além daquelas pinturas e esculturas. Queria explorar e observar pelo menos de longe, mas nunca conseguiu.
Um bico se formou involuntariamente em seus lábios com aqueles pensamentos. Aquela seleção - caso fosse real- seria uma grande oportunidade para realizar seu sonho, porém a insegurança o tomava por completo. Temeu ser outra brincadeira sem graça ou até mesmo - novamente, se caso fosse realmente uma seleção- não passar sequer na primeira avaliação, que até onde entendia, era quando a corte analisa juntamente com os reis os formulários, selecionando o número desejado para enfim os candidatos serem chamados e disputarem.
Só que não era o que queria. Não queria estar competindo por algo que sequer prioriza em sua vida. No caso, um amor e um casamento.
Jeon era muito desastrado e sonhador,com toda certeza não duraria muito no castelo. Afinal,como conseguiria uma chance no meio de tanta gente rica,bonita e "normal"? Também havia o fato que não queria se casar tão cedo, queria conhecer o mundo, explorar e descobrir seus segredos. Procurar tudo que estava relacionado a história e passado da humanidade. Era completamente apaixonado por arqueologia. Não havia espaço para si no meio de nobres ricos e refinados. Não! De jeito nenhum.
Era o que ele pensava.
Jungkook tinha uma mania ruim em pensar demais e acabar se diminuindo. O tornando uma pessoa insegura e preocupando sua madrinha por conta dos pensamentos negativos sobre si mesmo. Ninguém deveria pensar em si mesmo daquela forma. O mundo era muito grande e a vida era curta. Não fazia sentido resumir um acontecimento resumir o que você é. Você é capaz, é tão forte quanto um leão, tão esperta como uma raposa e tão ágil e rápido como uma águia. Você é maravilhoso e não deveria se deixar levar por pessoas que não sabem nada sobre sua vida.
Hye dizia isso constantemente a Jungkook, mas às vezes o mais novo não acreditava, lhe arrancando urros de dor quando a mulher lhe enchia de cascudos muito bem dados.
Bem feito.
Em sua cabeça, Jungkook era inferior aos outros por ser quem ele era e por suas habilidades, que segundo a sua madrinha, era uma dádiva. Não conseguia enxergar daquela maneira. O que era contraditório porque ele vive rodeado de diversos tipos de seres. Às vezes concordava com Hye e se sentia um sortudo por ser quem era, mas também não se achava digno em determinadas coisas e acabava se sentido mal.
Perdido no meio de tantas incertezas e “e se 's", não percebeu a figura de sua madrinha apareceu na porta da casa.
Park Shin Hye foi a mulher que lhe criou quando os pais biológicos de Jungkook "morreram", restando a ela cuidar da criança, na época, com poucos meses de vida. E agora, vinte e um anos depois, Hye poderia dizer que não se arrependia por ter criado a criança.
Os anos podem ter se passado, porém a essência infantil e aquele brilho em seus olhos nunca se apagaram. Sempre se via admirando o homem de Jungkook que estava a se formar, mesmo que em alguns momentos, ele estivesse tão perdido em pensamentos que acaba não se dando conta do que acontecia à sua volta.
Como agora.
Ficou encarando a figura do Jeon por alguns minutos antes de chamar sua atenção soltando um pigarro, assustando o outro que sobressaltou na cadeira e olhou de forma envergonhada para a sua madrinha. Com os seus olhos, agora também em dourado, igualmente como alguns fios de seu cabelo, por conta de suas emoções, Jeon se perguntou se Hye estava ali por muito tempo. E analisando bem suas expressões, não precisou de muita coisa pra perceber que sim, estava divagando em sua própria mente a muito tempo. De novo.
- Perdido em seu próprio mundo, querido? – Mesmo já sabendo a resposta, perguntou quando entrava em casa.
Hye era uma mulher alta e magra. Possuía olhos redondos e castanhos. Sua boca era mediana e rosada. Sua pele branca estava levemente bronzeada por conta do sol, não sendo um empecilho para sentir um gostoso cheiro doce vindo dela. Constatando o que ela era, um doce de pessoa.
Na maioria das vezes quando estava dormindo, é claro.
Deixou uma cesta de palha em uma cômoda perto da porta, assim como sua capa azul marinho perfeitamente dobrada ao lado, deixando a vista o seu lindo vestido azul escuro, quase preto, com um cordão trançado dourado em sua cintura, dando algumas voltas para finalmente dar um perfeito laço na frente. As mangas do vestido cobriam todo o braço até seu acima do seu pulso, com alguns babados soltos, deixando apenas à mostra suas mãos pálidas e suas unhas grandes e pintadas. Seu cabelo longo e ondulado estava solto, tendo algumas tranças e miçangas espalhados pelo mesmo.
Em seu rosto tinha um belo sorriso, a deixando ainda mais bela.
- Não, eu..- engoliu em seco e consertou sua postura, sentindo suas costas doer por ter ficado em uma má posição por muito tempo. - Quer dizer sim... Ou talvez não, mas eu... –Tropeçou nas próprias palavras enquanto sua mente ainda formulava uma resposta.
Hye percebeu a confusão que seu afilhado estava e deixou com que sua gargalhada fosse ouvida, arrancando bochechas avermelhadas do outro.
- Vejo que também recebeu a carta- Disse ela andando pela casa, procurando um baú. Não pode deixar de perceber o envelope e a carta na mão do Jeon, até porque durante toda aquela manhã só se falava na seleção. Seus ouvidos já estavam começando a se cansarem de tanto ouvir suspiros das senhoras fofoqueiras enquanto babavam na família real e em como seria mágico se elas fossem mais novas para também participarem e se casarem com o príncipe. Velhas sem vergonha. – Vai se inscrever? - perguntou.
- Eu não sei se deveria, madrinha- respondeu com sinceridade, deixando de lado a carta enquanto via Hye organizando algumas coisas. Não estava tão tarde e tinha almoçado direitinho mais cedo, então aproveitou que estava ali e começou a comer uma maçã bem doce e vermelha.
- Ora, porque não?
- Não me sinto confiante o bastante. – Franziu o cenho e tombou a cabeça pro lado. Também balançou em negação com a cabeça quando a mais velha lhe ofereceu a fruta. Estava sem fome pois tinha comido três cachos inteiros de uvas e vários morangos quando estava lendo antes do carteiro chegar. Parando agora, confirmou então que não era uma brincadeira de mau gosto e que sim iria ter uma seleção. Hye nunca fiz brincadeira daquela maneira com Jungkook. Pra falar a verdade, odiava qualquer tipo de brincadeira que envolvia psicológico e sentimentos de uma pessoa. – Eles devem estar procurando alguém nobre, madrinha, além do mais, não ia sobreviver por muito tempo lá dentro.
- “Não ia sobreviver por muito tempo”? - Repetiu as palavras do mais novo. – Acha que eles entregaram esses formulários se realmente estiver ligando se a pessoa é da nobreza ou não? Ou se estivessem ligando para a sua espécie? Sabe que existem vários seres por aí misturados com humanos, não sabe? É raro você encontrar pessoas com a decência cem por cento humana. Eles existem, mas é bem improvável que os reis não saibam disso. E se quisessem apenas nobres, que fizessem alianças com outro reino. Não é assim que as coisas funcionam? - tentou explicar com calma, mas ao mesmo tempo sendo dura. Porque além de não ter lá essas paciências, ainda tinha a insegurança das madeixas douradas e não gostaria que ele ficasse mais recluso.
Desde a adolescência, Hye precisava ter constantes conversas com Jungkook sobre sua autoconfiança, e mesmo que hoje ela ainda estivesse ali, ambos conseguiram evoluir muito. Jeon não era mais inseguro como antes e isso era fato.
- Sim, por isso os deuses estão bravos conosco! Muitos pensam que somos seres perfeitos e pacíficos agora, mas a senhora sabe como as coisas realmente funcionam. Lembra-se que uma vez todos estavam eufóricos com uma festa que um senhor no começo da vila ia dar pra todos, mas depois descobriram por uma mulher que trabalhava lá que ele fez isso apenas para parecer que era amoroso e respeitoso, mas na verdade ele não suportava seres diferentes dos humanos? O que impede os reis de estarem fazendo a mesma coisa? Como uma forma de se passarem por amadores do seu reino? Eu me recuso a fazer parte disso madrinha. Já sou inseguro demais, o que vai restar de mim depois?
Doeu. O coração de ambos doeu quando ouviram e falaram. Hye entendia os receios do sobrinho e estava entendendo o ponto de vista dele. Mas o problema era que ele pensava assim em tudo!
- Os deuses estão bravos com todo mundo, meu bem. – Voltou para o cômodo onde estava o afilhado, guardando alguns frascos de essências e perfumes no baú, com diversas cores e tamanhos. Neles também havia algumas figuras e logo Jungkook reconheceu as porções que se vendiam em uma loja no centro da vila. A loja era conhecida e dava muitos lucros, não fazendo os faltar nada e permitindo terem uma vida de conforto. – Sempre foi seu sonho conhecer o interior do castelo, porque não aproveita essa chance? Mesmo que não passe pela primeira fase, mesmo que tudo seja mentira, não desperdice essa chance e pelo menos saiba que tentou.
- Eu não sei não madrinha.
A mais velha parou para observar Jungkook, percebendo que ele mordia os lábios e que estava com uma das pernas inquietas.
- Te conheço de cabeça pra baixo e pelo avesso, sei que não é apenas isso. Está assim apenas pela nobreza ou está me dando respostas pela metade?
- Respostas pela metade. – Suspirou novamente. Olhou intercalado para a carta e para sua madrinha, que ainda andava de um lado para o outro, arrumando as porções e para o espelho no canto daquele cômodo, vendo seu reflexo. Seus cabelos e olhos ainda continuavam em coloração dourada. – A verdade é que eu estou com medo.
- Medo de que?
- De eles me acharem estranho. – Desviou o olhar de sua imagem para a mulher.
- Sabe que pode resolver isso rapidinho. – Cantarolou. – Além do mais, se der errado, é só cair fora. Sua casa sempre vai estar aqui te esperando, assim como todos os dias. Vou sempre estar com você, Jungkook. Eu te criei e nunca soltei sua mão, não vai ser diferente agora. Eu sempre vou esperar.
- A senhora já esperou o bastante não é? – Disse se referindo aos seus pais, que mesmo sob tantos anos que estava sob os seus cuidados, não tinha notícias dos dois.
- A pressa é inimiga da perfeição. - recitou uma frase que vira em algum livro, sorrindo sapeca - E nós devemos ser pacientes com as coisas. Se algo tiver que acontecer, ela vai acontecer independente de qualquer coisa, nem mesmo o destino pode intervir. - Fechou o baú. Viu que Jungkook ouvia tudo de cabeça baixa e isso não lhe agradou. Sabia que ele estava inseguro e pensando em seus pais, o que rendia em várias lágrimas. E Hye odiava ver seu filho chorar. Caminhou até ele, pegou delicadamente seu queixo levantando o rosto, fazendo com que os olhares se encontrassem. – Nunca desista do que você quer Jungkook. Se você quer algo, deve ir atrás custe o que custar. Lembre-se de quem você é.
- Devo ir atrás do que quero e nunca me curvar para quem não merece.
- Ir atrás do que dizem impossível e nunca abaixar a cabeça.
- Porque perder uma guerra é melhor do que se curvar para o inimigo- Falaram juntos e sorrindo a uma frase que, segundo Park, sua mãe biológica sempre recitava.
- Não se submeta a eles, Jungkook. Você é mais e maior do que eles pensam. Nunca deixe pensar que é fraco e que não é capaz. Porque você é sim capaz e eu aposto que seus pais estariam orgulhosos de você.
- Acha mesmo?
- Eu tenho certeza. – Depositou um selo na testa do mais novo, que ao poucos se acalmava, deixando sua aparência normal em evidência, com olhos iguais a duas grandes e gordas jabuticabas. Seu cabelo continuou do mesmo jeito, mas não era motivo de preocupação. Jungkook abriu um sorriso maior, se sentindo melhor do que antes. – Eu preciso ir, só vim aqui para pegar essas porções. – Se afastou quando deixou um carinho e um beijo em seus cabelos agora totalmente castanhos para ir em direção a sua capa, a colocando, e pegando o baú. – Vai ficar tudo bem, ok? E não se esqueça que você é maior do que pensa, Jungkook, não se limite ou se deixe intimidar por nobres que nem sequer lhe conhecem, entendeu?
- Entendi, madrinha. Muito obrigado. - Deu um sorriso, deixando seus dentes de coelhos amostra e apertando seus olhos.
- Apenas estou fazendo o meu papel. - E saiu, o deixando pra trás.
Era certo dizer que as palavras da mais velha ficaram martelando em sua mente. Ele não só tinha o direito de ser feliz como tinha a obrigação de ir atrás de sua felicidade. E Jungkook precisava pegar sua espada e lutar, porém é claro, nunca deixar se abater por conta de outras pessoas e mostrá-las que ele podia sim. Porque por ser quem era, ele podia. Independente se tinha pais ou não, se possuía peculiaridades, segredos ou curiosidades. Aquilo não era importante o suficiente para impedi-lo, e ele ia tentar.
A felicidade não dependia do que nós temos, mas sim como lidamos com o que temos.
E Jungkook tinha sonhos. Muitos sonhos.
Ouviu algumas vozes próximas, como uma discussão, perto da janela. Ficou um pouco confuso de primeira, mas logo as reconheceu. Dirigiu-se ao pequeno sofá que tinha na janela e se sentou, olhando para o lado de fora e procurando os donos das vozes. Mavi e Mushu. Seus dois e únicos melhores amigos.
- Tá legal, já chega! Eu já disse que não fui eu!- na medida em que se aproximava, a voz do dragão com escamas vermelhas ia ficando mais nítida, mostrando que mais uma vez estava brigando com a fada.
- Como não? Eu vi você mexendo naquele formigueiro, Mushu. – A fada azul com detalhes brancos falou. Seus cabelos grisalhos estavam soltos com algumas tranças espalhadas, igualmente com as flores. - Se aquelas formigas quiserem vim atrás de você por destruir o lar delas eu vou deixar. - As asas azuis de Mavi batiam de uma maneira rápida e forte, seu rosto pálido estava vermelho e apontava o dedo para o dragão. Estava furiosa.
- Não sendo eu oras, e elas que venham, não tenho medo delas, vai que tenha outro dragão bonito por aí e elas me confunda, nunca se sabe. - Deu de ombros, dando as costas para a fada e virando em direção ao humano, que apenas assistia a discussão dos dois.
- Jungkook meu amigo. - Disse com os braços abertos e um sorriso amarelo, cínico.
- Quanta falsidade- Mavi revirou os olhos – Jungkook, esse projeto de dragão destruiu o formigueiro das Myrmecia de novo, tem noção da burrice dele?- Perguntou ao único – metade- humano do trio, que ao saber da briga dos dois, arregalou os olhos.
- Porque foi mexer justo com elas, Mushu? Tanta coisa pra se fazer e foi destruir um formigueiro! Sabe que elas são venenosas. - Advertiu com a cara preocupada, apesar de não ser a primeira vez que uma coisa dessas acontece.
- Nhen, não aconteceu e nada vai acontecer comigo. – Respondeu- Relaxa gente, vocês dois são muito... qual é a palavra mesmo? – Fingiu pensar com o dedo do queixo, encostado na janela. – Ah sim, chatos. Vocês são chatos.
- Da última vez que falou isso você quebrou uma estátua de Poseidon. – Disse Mavi com uma sobrancelha em pé e mãos na cintura.
- Foi uma orelhinha, cara.
- Uma orelhinha que quase custou o nosso couro.
Mesmo depois de tantos anos após a destruição da Antiga Divisa, alguns objetos dos deuses permaneceram na terra. E uma delas, era uma estátua do próprio Poseidon em uma praça, que não ficava muito longe da casa de Jungkook. Entretanto, sem querer, Mushu quebrou a orelha do deus quando se sentou. O que não rendeu em um final muito bom, obviamente.
- Os dois, por tudo que é mais sagrado, parem. Vocês são insuportáveis desse jeito.
- Foi ele/ela que começou. – Os dois falaram um apontando para o outro. Jungkook revirou os olhos, já cansado por ser sempre a mesma coisa.
Mushu olhou para o interior da casa e em cima da mesa, viu uma carta com o brasão real. Mavi, querendo saber o que o outro estava olhando, viu também a carta.
- Recebemos uma carta do rei?
-Você recebeu uma carta do rei?
- É uma seleção para o futuro pretendente do príncipe. – Jungkook respondeu simplista.
Mushu deu um grito de euforia.
- Vai se inscrever não é?
- Provavelmente sim. Sempre quis ir ao castelo e minha madrinha me motivou a me inscrever. – Respondeu novamente, indo para a mesa e pegando a carta, sendo seguido pelos dois.
- Em todas as minhas décadas de vida eu nunca pude apreciar o castelo de Seogwipo. - Comentou o dragão. – Sabe, eu acho que vai ser legal, é o nosso sonho.
- Porque será que você nunca pode ir a um castelo, hein Mushu?- Jungkook questionou cantarolando.
- Nhen. - Fez um barulho com a boca.
- Será que lá tem animais como tem por aqui? Porque, sabe... Nem todos se dão bem e nós vamos pra lá, então... - Mavi falou meio incerta com as palavras.
O tempo pode ter passado, mas ainda sim algumas espécies não se davam bem. O que foi o motivo de muitas brigas na Antiga Divisa. Então era compreensível o questionamento de Mavi.
- Não vai ter nada se vocês se comportarem. - Jeon olhou para os dois de uma forma avaliativa com o intuído te adverti-los por suas aventuras perigosas. Conhecia aqueles dois. Juntos poderiam ser piores do que as crianças da vila.
- Porque ta olhando pra gente? Nós somos os mais comportados dessa vila. Muito mais do que os mini catarrentinhos.
- Eles são crianças, Mushu.
- Idai? É eles me verem que já querem puxar meu rabo. – Reclamou- Isso dói sabia pisca-pisca?
Jungkook revirou os olhos novamente.
- Eles são que nem animais selvagens, como uma boiada, entendem? - Comparou a brutalidade das crianças com os animais- Uma vez eu tava andando e mais de quinze vacas apareceram. - Parou para pensar por alguns segundos. - Não, eu acho que eram touros. – Concluiu- Eu sou todo vermelhinho e eles ficam louquinhos quando me viram.
- Como você tá vivo, Mushu? Alguns touros não enxergam as cores, mas se eles forem muito agressivos, ele pode ficar muito irritado e lhe atacar. – O humano falou novamente preocupado.
Aqueles dois ainda iam lhe enlouquecer.
- Aí vem o resto da história, coelhinho. - Levantou o polegar com uma cara de convencido. Mushu adorava contar suas histórias que adquirira com o passar do tempo. Porém, ele é bem conhecido por se meter em encrencas e ser um mentiroso cretino. - Eu tava lá na gaiatice quando mais de trinta touros apareceram-
- Você disse que foram mais de quinze.- A fada interrompeu.
- E trinta não é mais que quinze, mulher?
- Daí, eu os ignorei porque eu não queria confusão. - Empinou o nariz- Mas um veio querendo mexer comigo. Veio falando que ali era o território dele, assim, todo machão - Imitou os passos e feições que talvez o touro tenha feito. Estufando o peito e deixando as patas longe do corpo. - Eu respondi que ali era um lugar público e que não ia sair. Só que daí começamos a brigar. Ele tentava me acertar e eu desviava e dava um murro nele. Vieram uns amigos dele também pra cima, e eu dei um murro na fuça de cada um... Mas adivinhem? Eu os venci. Até matei um.
- Porque eu não consigo acreditar que o projeto de dragão brigou com touros raivosos e venceu?
- Isso é impossível, Mushu.
- Claro que é. Por um acaso eu já menti pra você, Jungkook?
O questionado fez careta, uma que podia ser interpretada como “Você quer mesmo que eu responda?"
- Como uma coisa dessas pode acontecer?
- E eu sei lá, só sei que foi assim.
[...]
Jungkook olhou mais uma vez para a janela, vendo que já estava na hora. Levantou-se da cama apressadamente, tentando fazer o mínimo barulho possível para não acordar ninguém da casa.
A lua estava cheia e bem no topo do céu. As estrelas pareciam mais brilhantes e maiores, iluminando tudo o que havia. Inclusive o quarto inteiro de Jeon.
Saiu de seu quarto, passou pelos cômodos até se encontrar no quintal de sua casa, onde a grama molhada se encontrava com seus pés descalços e o vento batia em seu rosto, bagunçando seus cabelos que tinha lhe dado muito trabalho de desfazer os nós de mais cedo.
Para que não chamasse atenção de ninguém, pôs suas pernas para correrem em direção a floresta, desviando os galhos das árvores, pulando os tronos largados e rochas grandes no chão, observando a todo o momento a lua cheia.
Era completamente apaixonado pela natureza e desde que se entendia por gente, era super conectado com ela.
Deixou os seus pensamentos de lado e esvaziou sua mente, deixando o vento levar seu corpo para onde quisesse na imensidão da floresta. Se perder ali estava fora de cogitação, conhecia aquela floresta a palma de sua mão e confiava sua alma nela.
Sentiu nas veias uma leve queimação, uma cócega em seu cabelo e uma sensação de alívio quando deixou suas asas aparecerem, assim como seus olhos e desenhos brancos espalhados pelo corpo, sentindo uma sensação que amava.
Se sentia livre.
Correu ainda mais quando viu um precipício à sua frente, se jogando nele sem pensar duas vezes e sentindo a adrenalina lhe tomar e as asas grandes abrindo quando estava quase no chão novamente, impulsionando seu corpo para cima e começando a voar.
Ventos frios me chamando
Vejo o céu azul brilhar
As montanhas sussurrando
Que pra luz vão me levar
Vou correr
Vou voar
E o céu eu vou tocar
Vou voar
E o céu eu vou tocar
Jungkook observou a paisagem ao seu redor. A floresta era iluminada pela lua e podia ver a sua sombra no solo árido.
As fadas e passarinhos que ainda não dormiam, pararam para observar a figura do Jeon voando e se encantando com a imagem angelical do outro. Porque mesmo que todas as madrugadas ele passasse por ali, ainda sim era uma imagem muito bonita de se observar.
Onde os bosques tem segredos
E as montanhas imensidão
Águas guardam os reflexos
Dos tempos que se vão
Vou gostar de cada história
Meu sonho guardarei
Como o mar e a tempestade
Valente sempre serei
Abaixou-se quando se aproximou da cachoeira, pegando a água com as mãos e a jogando no ar, lhe molhando. Riu quando sentiu as gotinhas em sua derme. Era completamente apaixonado pela sensação de estar livre na natureza.
Estava tão quentinha, ótima para um banho.
Porque não?
Mergulhou de cabeça entre a água, observando tudo à sua volta. Seus cabelos e seus olhos ainda brilhavam e isso atraia os peixes para si, que juntos começaram a nadar.
Vou correr
Vou voar
E o céu eu vou tocar
Vou voar
E o céu eu vou tocar
Eu vou tocar
Como o vento voar
Céu tocar
Depois de horas nadando e voando, Jungkook voltou pra casa antes do sol nascer, com a mente mais resolvida e com seu corpo mais leve. Se permitiu sorrir, sabendo que sua aventura estava apenas começando.
Mas estava tão absorvido na sensação que a natureza lhe proporciona, que não percebeu os olhos vermelhos lhe observando atentamente.
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