Num certo domingo cinzento,
o Jumento Rabugento,
fulo com a vida de cão,
marcou o cimento novo no chão.
A amiga, Coruja Sofia,
a cuidar da construção,
como há tempos o conhecia,
chamou-lhe logo a atenção:
— Andas atazanado, carrancudo e desastrado, a emanar má vibração. Sei que pode ser só fase, mas quero que desabafe, qual é a preocupação?
O Jumento meio marrento,
Se ofendeu de prontidão.
Considerou ralhar com a amiga,
mas vendo alí razão,
respondeu-lhe a questão:
— A floresta é toda bem resolvida, eu estagnado na vida, não vivo, existo em vão. Ceguei-me na vaidade, desperdicei oportunidade, apeguei-me em ilusão. Fadado a este momento eu sem poder voltar o tempo, padeço na escuridão.
A Coruja sobressaltou-se em espanto.
Austero, o amigo nunca falara tanto!
Como assim, na escuridão?
Pois, era ele dotado de pura qualificação!
— Diga-me amigo Jumento… Você dormiu em seu colchão? Lavou o pelo catinguento e fez boa refeição?
— Certamente que sim. Não vejo a ligação?
— Parte da floresta que você julga bem resolvida, não tem tal oportunidade na vida. Passado difícil constrói seres fortes ou psicopatas. Espero que se encaixe na primeira opção, para nossa sorte. E sobre a tal ligação, é simples; pratique mais gratidão!
Agradecer o que tinha,
sendo menos do que merecia?
Lhe pareceu estranho, piegas e clichê.
Mas, de fato, admitira; era o certo a se fazer.
Naquela noite ao relento,
o Jumento Rabugento,
redefiniu o seu padrão;
ainda que pouca seja,
valorizar as conquistas e praticar gratidão!
Obrigado pela leitura!
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