riadalap Thays Diniz

Eles surgiam nas noites escuras enquanto os ancestrais dormiam. Das entranhas da terra eles vinham, com suas garras e presas afiadas dilacerar a carne dos homens. Demônios que assumiam a forma humana, bestas imortais.


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Céu sem estrelas

Eles surgiam nas noites escuras enquanto os ancestrais dormiam. Das entranhas da terra eles vinham, com suas garras e presas afiadas dilacerar a carne dos homens, possuir as mulheres e roubar as crianças. Demônios que assumiam a forma humana, bestas imortais.

Joana avistou os vultos do lado de fora, esquivando-se da luz do luar, como sombras eles se moviam silenciosos e mortais. Com mãos trêmulas fechou a janela e secou uma lágrima que teimosamente escorreu pelo seu rosto. Aquele não era momento para fraquezas, obrigou-se a ser forte por si e pelos seus filhos.

A passos largos moveu-se e ágil pegou o pequeno do berço e o enrolou em mantas escuras. Chamou pelas crianças que brincavam no quarto ao lado. Abriu uma pequena abertura no chão e entregou o bebe aos braços da sua filha mais velha.

— Maria escute com atenção. — falou Joana. — Mantenha seus irmãos em silêncio e em nenhuma hipótese suba novamente. No momento certo voltarei.

— Mãe!

— Não temas querida vai ficar tudo bem.

Joana depositou um beijo na testa da garota e observou os filhos que a olhavam assustados de dentro do porão. Com o coração apertado fechou a portinhola.

Seu coração parou ao ouvir passos dentro da choupana, esgueirou-se e apressou-se em se armar com a faca de caça do marido. Preparou-se para o pior.

— Joana.

Respirou aliviada ao avistar Luiz. O homem moreno, possuía as vestes sujas de sangue e terra e empunhava o machado de corta lenha.

— Você está ferido?

— Isso não foi nada. Você não devia estar aqui mulher,junte-se as crianças, fuja pela floresta. Eles invadiram as plantações, mataram parte da criação e logo cercaram a casa.

— Não seja tolo Luiz não temoschancesem você. Estaremos todos mortos se não permanecermos juntos.

O homem a olhou com pesar, medindo as suas palavras. Seria de fato muita sorte uma mulher e cinco crianças escaparem pela mata sem serem vistos. Jogou-lhe o arco que estava preso em suas costas:

— Você terámaischancescom isso. — Luiz falou entregando-lhe as flechas.

O estrondo de corpos batendo contra as paredes fizeram com que um calafrio percorresse seu corpo.

— Apenas segure firme, mire e atire. — Luiz segurou as suas mãos e olhou em seus olhos. — Como em uma caçada.

Joana atirou sem parar nos buracos que se abriam na madeira da choupana, e uivos de dor foram ouvidos. Seus filhos choravam a abaixo dos seus pés, atormentando o seu juízo. Viu quando Luiz foi lançado longe e a porta veio ao chão, da escuridão surgiu um ser monstruoso, o corpo humano com a cabeça de um animal. A criatura rugiu alto mostrando garras afiadas e correu na sua direção. O desespero tomou conta dos seus sentidos, e as mãos trêmulas deixaram as flechas caírem ao chão, aquilo não era um animal, era uma fera prestes a devorá-la. Agarrou a última flecha que tinha em mãos e atirou, com um assobio o projétil cortou o ar e encontrou a parede. Garras cravaram em sua perna direita, arrancando um grito agudo da sua garganta, perdendo o equilíbrio caiu ao chão sentido o impacto da batida e a dor espalhar-se por todo seu corpo. Com um puxão forte a criatura a arrastava para fora. Luiz moveu-se rápido e com um golpe certeiro cortou o braço da fera, que se contorceu no chão. Os braços de Luizenvolveram seu corpo colocando-a de pé novamente, em um relance, Joana pode verque mais seres surgiam da escuridão.

— Joana olhe para mim. — Luiz falou segurando o seu rosto para que não desviasse o olhar. — Você precisa ir agora.

— Eu não posso deixá-lo. — Joana respondeu em um murmúrio.

— Estarei logo atrás de você, prometo. — Luiz respondeu beijando-lhe os lábios rapidamente antes de afastá-la.

Joana observou seu marido cravar o machado no peito de um invasor antes de virar para trás. Arrastou-se com dificuldade até o quarto e passou pela pequena abertura no chão. Os filhos a cercaram jogando-se nos seus braços aos prantos, soluçando assustados.

— Vamos precisamos ser rápidos.

Respirou fundo, suportando a dor e puxando os filhos pelos braços, os guiou pelo túnel que dava da casa até a floresta. No final do caminhou sussurrou para os filhos:

— Corram até a estrada, não parem até chegar na vila. Não olhem para trás não importa o que aconteça. Apenas sigam mesmo se estiverem sozinhos.

— E a senhora?Eopapai? — Maria falou tentando acalmar a criança no seu colo.

Olhou com serenidade para filha e com o coração partido Joana repetiu as mesmas palavras do seu marido:

— Estaremos logo atrás de vocês. Prometo.

Observou os pequenos correrem desaparecendo na escuridão.

Esgueirou-se silenciosa pela floresta tomando o caminho oposto aos das crianças, podia sentir que olhos vigiavam os seus passos. O suor escorria pela sua face e a perna latejava, o estalar de galhos se partindo fez o sangue gelar em suas veias. Antes que pudesse se virar alguém puxou-lhe pelos cabelos com força, pegou a faca presa em sua cintura e quando o agressor a virou acertou-lhe na barriga. A fera cravou suas garras rangando a sua pele, jogando todo o seu peso em cima de Joana e os dois caíram e rolaram pelo grotão. Joana se debatia tentando, livrasse do seu agressor e agarrar-se em alguma coisa, libertando-se quando finalmente caiu na clareira. Nas suas mãos, tinha a face do monstro, uma casca de árvore, uma máscara de madeira. Com dificuldade virou o rosto para o lado a onde o corpo jazia iluminado pelo luar. Tentou gargalhar, mas engasgou com o seu próprio sangue e murmurou as suas últimas palavras que ninguém escutaria:

— São apenas homens.

7 de Abril de 2021 às 23:28 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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