u15715377901571537790 Gláucio Imada Tamura

Como uma doce canção que alivia o peito cansado das angústias da vida, essa é uma nova fase pra Ana Luiza e Guilherme. Agora, tudo aquilo que despontou no início como sendo algo verdadeiro no coração, passa aos poucos, a ganhar cada vez mais força e forma, à medida que ambos compartilham de um mesmo cotidiano.


Ficção adolescente Todo o público.

#confusão #relacionamento-conjugal #amor #traição #viagem
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Parte 1

Com os encontros ocorrendo às escondidas entre Guilherme e Ana Luiza, um sentimento mais forte foi crescendo entre os dois, sequestrando seus pensamentos, palpitando ambos os corações a, enfim, assumirem um compromisso livre de quaisquer culpas.

— Roberto, — Disse Ana Luiza assim que, após uma noitada, viu o marido adentrar a sala, cambaleando. — precisamos conversar...

— Ana, — resmungou Roberto. O cheiro de cerveja exalando pelos poros do seu corpo — estou só a capa do Batman. Pode ser outra hora?

Ana Luiza pensou em dizer: “Onde você estava?”, mas logo desistiu de perguntar, afinal, não havia em si sequer fibrilações de ciúmes, tão pouco, resquícios de quaisquer sentimentos que pudessem de alguma forma, embasar uma cobrança conjugal que, naquela situação, pareceu ser algo tão desnecessário.

— Pode ser, — Ana Luiza falou baixinho — vá descansar então... Depois conversamos.

A princípio, Robertão estranhou aquele seu comportamento compreensivo, carregado de falas moderadas, estranhamente vazias e divorciadas de argumentações de qualquer natureza. “Que bicho te mordeu?” Ele pensou em revidar, ou pelo menos cutucá-la, mas tão logo vislumbrou a maciez do colchão seduzindo-o em convites de repousos bem demorados, calou-se ao invés de falar e, como um muro que cai por conta da deterioração da estrutura que por bastante tempo o segurava, tombou-se por inteiro sobre o colchão, e adormeceu.

Três horas depois...

— Roberto, iremos nos separar. — Ana Luiza disse com a voz calma, segundos após ver Robertão engolir um Engov com água.

— Como assim, se separar?! Por que isso agora, hein? — Ele disse também com a voz calma, enquanto acariciava a barriga sobreposta a calça, expressando no semblante um desdém costumeiro e tão convicto que aquela atitude era, entre tantas outras, só mais uma frescura.

— Sim, — ela tornou a repetir, encarando-o nos olhos — é isso mesmo que acabou de ouvir: iremos nos separar. Até já enviei a procuração para o Brasil. Tia Lurdes já deu entrada na nossa papelada.

— Ana, coloca uma coisa na sua cabeça, ok? Eu não vou me separar de você! — Ele a respondeu, e pela voz demonstrava indícios de exasperar-se, mas logo após certificar-se de um “certo” cheiro de perfume ainda exalando de sua camiseta, conteve-se distanciando alguns metros longe dela — Por que isso agora, hein?! — disse por fim.

— Roberto, — ela tornou a falar — nós dois sabemos que, no fundo, no fundo, estamos fartos um do outro. O que tinha de dar, já deu.

— Eu não estou farto! — Ele retorquiu, mas sentia-se inepto para argumentar.

— Sério?! — ela disse — Por favor, me poupe!

— Olha, Ana Luiza, todo casal tem períodos de crise...

— Me poupe desta conversa, Roberto — Disse Ana Luiza levantando-se da cadeira. Depois foi beber um copo de água para acalmar-se — não piore as coisas...

— Essa decisão é mesmo definitiva?! — ele disse.

— Sim, definitiva. — ela respondeu — Não volto atrás no que disse. Não posso continuar vivendo assim, e...

— Assim como?! — ele exclamou.

Após mirá-lo com um olhar enviesado, lhe disse calmamente: — Incompleta. Sinto-me incompleta. E por favor, — tornou a dizer — me poupe do trabalho de ter de te explicar.

Robertão exasperou-se: — Não acredito que você quer o divórcio só por que está se sentindo incompleta. Ana Luiza, eu posso mudar! Eu juro que vou mudar.

— Desculpe — ela disse. Depois, ela afastou-se para evitar seu abraço — Minha decisão é definitiva. Sinto muito.

— Ok então! Mas você sabe que dependo da droga do visto para continuar trabalhando nessa “merda” de país, certo?!

— “Merda” de país?! — ela retorquiu.

— É, Ana, você entendeu...

— Não entendi não! — ela disse — Se me recordo bem, foi você quem insistiu em vir. Casamos às pressas, não se recorda?!

— Foi maneira de falar, Ana. — ele disse — O que estou dizendo é que, se a gente separar-se, daqui uns meses serei obrigado a voltar para o Brasil e…, acho que ainda não te contei, mas,... Eu meio que estou devendo dinheiro para uns caras lá...

— Nem quero saber, — suspirou Ana Luiza — isso nem é novidade pra mim.

Ao perceber a austeridade de Ana Luísa, Robertão ajoelhou-se aos seus pés.

— Confesso que fui infiel com você, te traí na cara dura, por várias vezes seguidas, mas, por favor, não me mande de volta pro Brasil...

— Nem sei o que te dizer.

— Diga que me dará mais uma chance...

— Na verdade, Roberto, nessas suas escapulidas por aí, eu acabei conhecendo outra pessoa...

— Eu sabia que tinha homem na parada! — Ele retrucou. Pensou ter encontrado um caminho para encurralá-la.

— Nem vem que não tem! — ela disse — De qualquer jeito, uma hora ou outra, isso iria acontecer mesmo.

Robertão não quis acreditar, afinal, até pouco tempo ele pensava que, independente de o quanto fosse infiel, tudo acabaria do mesmo jeito, ou seja; em pizza. A partir daí, o silêncio reinou entre os dois. Foi Robertão que quebrou.

— Posso saber quem é esse rapaz?

Ana Luiza mantinha o mesmo semblante; austero, e decidido.

— Deixe-me te dizer uma coisa, — ela começou a falar — eu creio que quem quer que seja não é da sua conta.

— Como não é da minha conta?! — Ele retorquiu. — Ainda sou seu marido, esqueceu-se?!

— Marido?! — Ela disse, com sarcasmo impregnado na voz. — Eu sou uma chifruda! É isso que eu sou!

— Calma — ele disse — também não precisa falar assim.

Mas ela continuou firme.

— Diante das suas traições, eu sempre sofri calada, crendo que um dia você me respeitaria. Mas infelizmente esse dia nunca chegou. Agora, — ela sussurrou. Mantinha o olhar indiferente — pouco me importa.

Robertão lutava para sustentar um sorriso inepto, mas estava incapaz de argumentar. Enfim, empoleirou sobre o sofá, e calou-se.

Diante de um Robertão acovardado, por fim Ana Luiza lhe disse:

— Se sua preocupação é a permanência nesta “merda” de país, fique tranquilo, tá? Darei o visto até que consiga quitar suas dívidas.

Robertão agradeceu cabisbaixo, atordoado com a decisão inesperada que lhe roubara o chão dos seus pés.

***

Naquela mesma noite, a campainha do apartamento de Guilherme tocou sem parar. Era Ana Luiza. Como de costume, Guilherme estava deitado, ouvia música com o fone de ouvido posicionado no volume ao máximo. Por isso, ele não pode ouvir a campainha que tic taqueou sem parar. Breves minutos se passaram e, como ele não dava sinais de aparecer para atendê-la, Ana Luiza deu a volta no edifício até desembocar abaixo da sua janela. Chegando lá, ela abaixou-se e pegou algumas pedrinhas espalhadas pelo chão. Depois, atirava-as, tentando sobrepujar a pequena abertura de vidro. Enfim, uma acertou em cheio a cabeça de Guilherme.

Após um “ai”, Guilherme olhou para fora da janela e assustou-se: — O que se tá fazendo aí garotinha?! — Ana Luiza permanecia lá embaixo, os pés juntinhos, encarando-o com um sorriso doce.

Depois de ver uma meia lua horizontal feita com os dedos, Ana Luiza deu a volta e subiu os degraus que davam acesso à entrada do apartamento. Aberta a porta, ela se lançou sobre seu pescoço.

Continua...


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3 de Abril de 2021 às 10:43 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Gláucio Imada Tamura Eu sou um contista nipo-brasileiro que se dedica a escrever sobre temas relacionados ao drama, horror, terror, suspense, mistério, às vezes somando tudo isso com boas doses de humor.

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