juanpablo Juan Diskay

O destino programou o encontro de duas vidas, uma calma e solitária e a outra intensa e sofrida, que certamente estavam fardadas a viverem juntas para sempre.


Romance Romance adulto jovem Todo o público.

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ME ENSINOU A TE AMAR

As duas horas na estrada não fadigava o pacato fazendeiro Daxton. Pouco se distraía da paisagem monótona das planícies no sul do Canadá. Uma vez ao mês viajava para Cut Bank, Estado de Montana no extremo norte do Estados Unidos, buscando providências e organizando suas coisas. Cut Bank é sua cidade Natal, estudou em Seattle, e há alguns anos retornou, após ser abandonado pela sua esposa e filhos, que optaram por uma vida mais abastada no Sul, quando decidiu acompanhar seu atual companheiro.

Sentiu uma raiva mortal quando descobriu a infidelidade, porém decidiu abandonar o seu mundo agitado e retornar as suas origens, em Montana.

Antes um homem nervoso e agitado, o clima tranquilo da região o transformou em um ser dócil e prestativo. Todos o conheciam na região, apesar da imensa discrição da sua vida pessoal.

Parou a camionete na porta do armazém e seus quatros cães pularam da carroceria, indo três deles explorar a cidade e a fiel poodle Moon sempre o acompanhava.

— Boa tarde, Sra. Betty!

— Boa tarde, Sr. Daxton! Seja bem-vindo!

— Obrigado! Providencie o material desta lista para mim, por favor! Tem algumas peles na carroceria! Veja se lhe interessa!

— É para já! Se o senhor não sabe, mas ainda tem um crédito, da sua última visita! Se precisar de algum dinheiro vivo, também estará disponível!

— Use-o na minha compra, por favor! Irei ao banco e depois vou acertar algumas coisas! Mais tarde passo aqui! Até mais!

— Até! Disse Betty, chamando o empregado para separar os materiais.

Ao sair do armazém, Daxton assustou com um pedinte, solicitando alguma ajuda.

— Eis um trocado! Vá comer algo! Deu uma gorjeta, observando que curiosamente seus cães acompanhava o morador de rua.

Assobiou e logo eles aproximaram.

— Estão ficando loucos? O que estão fazendo? Xingou, observando o pedinte sentando na calçada, enquanto ordenava os animais a ficarem ali.

Resolveu suas coisas no banco. Depois pegou o carro e foi até o posto, encher os galões com combustível. Sentiu falta novamente dos cães. Resolveu outras altercações, e no final da tarde, foi ao armazém buscar os materiais solicitados.

— Mas que droga! O que é que estes bichos tem hoje? Resmungou, ao ver seus animais novamente perto do pedinte.

Carregou a camionete, e assobiou chamando os cães.

— Olá, Daxton!

— Olá, James!

— Seus bichos estão estranhos hoje!

— Você viu? O que será que o mendigo tem que está chamando tanto a atenção?

— Sei lá!!!

— Quem é?

— Não sabemos! Chegou aqui há alguns dias! E sabe como é! Todo mundo tenta ajudar, aí acaba acostumando com o lugar!

— Estranho! Nunca vi pedinte assim por aqui! Com o inverno aproximando, vai sofrer ficando na rua!

— Pois é!

— Não tem um albergue aqui na cidade?

— Até tinha! A mais ou menos um ano o coordenador fechou e nunca mais retornou! Acho que perdeu apoio do governo!

— Deixe-me ir! Até mais, James! Prazer em revê-lo!

— Daxton! Já está anoitecendo! Eu e os rapazes vamos tomar uma cerveja lá no Thomas! Fique e amanhã cedo você retorna! Vamos bater um papo! E descansa um pouco também! A estradas de acesso estão muito ruins e perigosas! E parece que está chegando uma tempestade também! Talvez não dê tempo de você chegar em casa! E... é o que? Três, quatro horas? Onde é mesmo?

Daxton olhou desconfiado para James, com as indiscretas perguntas para saber onde ele mora, pois nunca havia dito a alguém onde seria, e nem imaginava o motivo para manter este segredo. Poderia ser pela própria proteção.

— É! Disse olhando para o tempo. — Talvez seja melhor eu ficar! E também estou louco por uma cerveja! Frustrando a curiosidade de James.

Foi até um motel, acertou a estadia dele e dos cães, e seguiu a pé até o bar. Reencontrou todos lá. No caminho encontrou novamente com o mendigo, o que havia visto mais cedo, sentado próximo ao bar.

— Que curioso! Este sujeito está me seguindo! Só pode! Pensou.

Depois de muito bate papo e algumas cervejas, pediu um sanduíche caprichado e um copo com café. Despediu de todos e quando saiu, seguiu em direção ao mendigo, que continuava lá, encolhido, no mesmo lugar.

Aproximou e logo sentiu o mau cheiro característico de uma pessoa que a dias não toma um banho.

— Tome! Entregou o lanche com o café.

O necessitado acenou com a mão como um gesto de agradecimento, logo atacando a suculenta refeição.

A temperatura havia caído drasticamente e o frio nas ruas já estava quase no nível do insuportável.

Deitou e logo adormeceu. Por volta das 4:00 horas da manhã, se preparou e partiu, retornando para casa. Após um pouco mais de duas horas, chegou no seu aconchegante refúgio.

Mora sozinho e tudo que precisa ele mesmo faz, exceto providências de primeira necessidade, como arroz, feijão, milho, e alguns enlatados, estes que sempre compra quando vai à cidade.

Ao descer do carro, novamente sentiu o odor ruim do pedinte.

— Que droga! O mau cheiro do mendigo está impregnado no meu nariz até agora! Estes cachorros também ficaram colados nele! Vou ter que dar um banho geral! Resmungou.

Encheu as tigelas dos animais de ração, entrou, tomou um banho e preparou um café. Logo que saiu, percebeu que as tigelas estavam vazias. Um fato bem incomum. Normalmente os cães sempre deixam uma sobra. Supervisionou o ambiente, e reencheu as vasilhas. Descarregou a camionete e continuou com os afazeres da fazenda.

Estava intrigado que como o mal cheiro do pedinte estava impregnado no ar. Correu o olhar para ver se não tinha algum coiote ou cão selvagem nas redondezas.

— Se estivessem por aqui comeriam as galinhas e os patos, não a ração! Pensou.

Rodeou a casa e não viu nenhumas pegadas além de seus animais domésticos. Selou o cavalo e foi verificar as armadilhas que deixou na propriedade. Algumas horas depois chegou com alguns cadáveres de raccoon e castores. Infelizmente uma das armadilhas acabou capturando um jovem coiote, coisa que Daxton não gosta muito e tem leis Canadenses e Americanas de proteção deste animal e não é possível comercializar a pele destes.

Preparou os animais para tirar a pele, e ao aproximar da varanda, lá estavam as tigelas novamente vazias.

— Mas o que está acontecendo aqui? Resmungou.

Assobiou e os cachorros obedeceram ao chamado, aproximando. O mal cheiro era nítido.

— O que vocês estão fazendo? Perguntou mesmo sabendo que não teria resposta.

Não conseguia pensar porque os cachorros estariam reagindo assim. Ou se foi eles mesmos que comeram toda a ração.

Continuou com as suas tarefas, porém intrigado.

Não demorou e a noite aproximou. Como sempre fazia, tomava um banho, lanchava e refeição leve, lia um livro e logo ia dormir. Por precaução e curiosidade, colocou um pouco de ração para os cães, assombrado com a comilança desenfreada daquele dia.

Mal conseguiu ter uma hora de sono direto. Remexia na cama impaciente. Tem uma vida tranquila e apenas com as preocupações de suas responsabilidades na fazenda. Acostumado a viver sozinho, tinha suas necessidades pessoais afogadas em uma boa leitura e manter suas coisas organizadas e sob seu completo controle. Alguma coisa o incomodava.

Cochilou na madrugada, e acostumado a levantar cedo, notou que a poodle não estava no seu quarto como de costume. Sempre dormiu ali ao lado da cama. Levantou vagarosamente e observou que nenhum dos cães estavam na casa. Saiu na varanda e não ouvia nada a não ser os piados das corujas e barulhos de insetos. Normal para o início do dia. Observou aos arredores e tudo parecia habitual. Percebeu as tigelas vazias novamente. Aguardou alguns minutos tentando acostumar as vistas na escuridão que se esvaía no surgimento tímido dos raios solares, e nada foi percebido de irregular.

Assobiou e logo dois dos cães apareceram, saindo do celeiro. Aproximaram temerosos com Daxton.

— Onde estão Moon e Dic? Observando a redondeza.

Havia algo muito estranho no ar. Entrou e pegou a espingarda, recarregando-a. Assobiou novamente e nada dos cães ausentes.

— Moon? Dic? Gritou várias vezes sem a resposta presencial dos cães.

Rodeou a casa com várias hipóteses na cabeça. O cuidado e a tensão eram grandes, já na expectativa de encontrar algum animal selvagem, até mesmo um urso. Chamava e assobiava insistentemente, mas não teve respostas.

— Bill? Hilary? Chamou os dois que não o acompanhava.

Logo apareceram, nitidamente retraídos, esperando uma represália feroz do seu dono.

— Onde está Dic e Moon? Sussurrou, fazendo um carinho no pêlo gelado dos cães.

Ficou alguns minutos parado, olhando para todos os lados. Logo viu a poodle Moon e o vira latas Dic saírem do celeiro. Daxton os chamou e um mal cheiro característico de sujeira subiu nas suas narinas.

— O que vocês estão aprontando? O que tem no celeiro? Gritou, fazendo-os deitarem de tanto medo.

— O que tem no celeiro? Sussurrou, caminhando vagarosamente para a estrutura onde guardava suas ferramentas, as rações e tudo quanto é tipo de tralha que tinha.

— Quem está aí? Tem alguém aí? Disse na entrada.

Aproximou vagarosamente, com a espingarda engatilhada, tentando descobrir o que seria. Viu um pequeno movimento na pilha da alfafa solta.

— Quem está aí?

Observou alguns grãos de ração dos cães espalhados no chão. Logo viu um vulto no canto do celeiro, aproximou gritando, apontando a espingarda, pronto para atirar.

— Fique onde está! Quem está aí?

Coração na boca. Os nervos doíam de tensão. Esperava uma reação brusca do vulto desconhecido. Aproximou vagarosamente, e assustou quando viu o morador de rua, o que encontrou em Cut Bank a dois dias, encolhido, olhando para ele, com nítidos sinais de temor.

Daxton ficou alguns minutos paralisado, com dezenas de coisas na sua cabeça, apontando a arma para o emblemático ser.

— Mas que droga! Como você chegou aqui? Questionou.

Abaixou a arma, e logo percebeu que quando retornou, o cheiro característico do morador de rua impregnava o ar.

— Hum! Que loucura! Poderia ter me pedido carona!

O mendigante continuava estático, no canto do ambiente. Daxton olhou para o chão e compreendeu porque as vasilhas de ração estavam ficando vazias. Aproximou vagarosamente, agora com mais calma, e retirou o cobertor sujo da cabeça do ignoto.

— Mas que droga! Quase gritou ao ver que o pedinte era uma mulher.

— Você é uma mulher! Que droga!

Afastou e olhou para os quatros cães, que não se atreveriam aproximar.

— Só me faltava isto!!! Resmungou.

— Você está bem?

O pedinte balançou a cabeça positivamente. Daxton afastou um pouco, respirou fundo, pensando no melhor a que fazer. Retornou e ficou olhando para aqueles olhos verdes carregados de aflições.

— Está mesmo precisando de ajuda! Sussurrou. — Venha! Me acompanhe! Dando as costas e caminhando para a casa.

Quando chegou na varanda, percebeu que a mendigante ainda não havia saído do celeiro. Retornou e que ela tinha alguma dificuldade para andar. Aproximou, pegou-a pelo braço e a trouxe até a varanda. O mal cheiro era insuportável.

— Consegue falar, moça?

— Sim! Sussurrou.

Olhou para aquele ser, exposta ao tempo, inverno aproximando naquele inicio de mês de novembro, fatalmente não sobreviveria.

— Aguarde aqui! Sentando-a no banco.

Entrou e depois de vários minutos retornou. Aproximou de novo e foi retirando as camadas de cobertores impregnados de sujeira, até expor uma moça extremamente magra, acomodada numa calça uns dez números acima do seu, com uma blusa também frouxa no corpo esquálido. O coração de Daxton acelerou ao ver que era uma mulher de uns vinte e cinco a trinta anos, com aparência de uma pessoa de cinquenta.

— Vou incinerar toda esta sujeira! Brincou, sem ver uma ponta de sorriso no rosto dela.

— Você tem um nome?

Ela olhou para ele, e depois de longos segundos resmungou.

— Mary!

— Então, Mary! Venha! Segurando-a pelo braço, adentrando na casa. — E vocês fiquem aqui fora! Xingando os cachorros.

O ar aconchegante e quente da casa, aparentou ter dado um alívio físico e mental em Mary, que olhou todo o ambiente, em um semblante de esperança e vida.

— Pegue isto! Vai tomar um banho! Temperei a água! Use estas toalhas! Fique o tempo que quiser! Recomendo um molho antes! (Risos) Tem shampoo e sabonetes na banheira! Aqui está um pijama de quando eu era magro! Pode usá-lo! E aqui uma escova de dentes! Eu empresto para visitas! (Risos) Qualquer coisa, pode me chamar! Vou preparar um café decente para você!

Mary segurou as roupas, e Daxton percebeu uma lágrima correndo no sofrido rosto.

— Obrigada! Acompanhando-o até a porta do banheiro.

— Vou fechar a porta para o seu conforto! Qualquer coisa pode chamar! Estarei aqui na cozinha!

Olhou para Daxton e já não conseguia segurar o soluço de um choro apertado no peito.

— Meu Deus! O que aconteceu com esta moça??? Sussurrou, indo preparar o café. Olhou para os cães parados na porta da casa, e sorriu.

— Se preparem! Depois serão vocês! E na água fria!

Depois de quase duas horas, ela apareceu, evidente com uma aparência e cheiro melhor. Ele a sentou à mesa, servindo-lhe o café.

— Está melhor?

— Sim!

— Fique à vontade! Coma devagar! E beba bastante líquido!

Alguns minutos se passaram e Daxton continuava olhando para aquela moça, tentando imaginar como ela chegou a aquele ponto.

— Como você fez?

— Como eu fiz o quê?

— Chegou até aqui?

— Você sabe!

— Quero ouvir a sua versão!

Depois de engolir o pedaço da degustação, olhou para Daxton, com os olhos lacrimejando, abaixou a cabeça e suspirou forte.

— Estava a dois dias sem comer alguma coisa decente! Na verdade, não havia comido quase nada! Estava no meu limite de fome! Vi você chegando, e seus cachorros aproximaram de mim, e logo, não sei explicar, eles ficaram por perto, mesmo temendo que me avançassem! Mas não! Ficaram ali mesmo, deitados ao meu lado! Consegui levantar indo à sua direção e logo o encontrei na saída do armazém! Você me deu uma ajuda e fui logo comprar algo para comer! Me aliviou tanto! Você nem imagina! O vi passando por mais umas duas vezes ali por perto! Quando você parou a camionete outra vez na porta do armazém, pensei na chance de subir na carroceria e seguir para onde você iria! Mas vi que você olhava para mim, e estava mesmo intrigado porque os cães ficavam sempre por perto! O vi saindo, e o acompanhei até a pousada, vendo-o sair e mais tarde retornou com um sanduíche e um café!

— Puxa vida!

— Naquele momento seu gesto foi mais que matar a minha fome e sede! Foi um acalanto na alma! Estava quase morrendo de frio! Ali quase pedi sua ajuda para me tirar dali!

— Porque não pediu?

— As pessoas são surpreendentes! Às vezes pensamos que são de um jeito e elas agem de outro! Tive medo! Estava com medo!

Um silêncio parou no ambiente, quase podendo ouvir os pensamentos.

— E como você subiu na camionete?

— Vi você entrando! Já não aguentava mais de tanto frio! Sinceramente achei que era o fim! Não conseguia pensar direito e nem sabia o que fazer!

— Lembrei de seus cães! Aproximei da pousada! Não conseguia saber que horas eram! Subi na carroceria para me proteger do frio! Não era a minha vontade de vir para cá! Me aconcheguei entre suas coisas, me ajeitei com os sacos de ração e adormeci! Quando acordei, dois dos seus cachorros estavam ao meu lado! Me levantei um pouco e vi que você já havia saído da cidade! A paisagem era estranha! Nunca havia visto! Não demorou muito e você chegou aqui!

— Você pensava ir para onde?

— Vermont!

— Um pouco longe de onde estava!

— Onde eu estava?

— Cut Bank! Norte de Montana!

— É! Bem longe! Estava sem noção!

— Com certeza estava! Se eu tivesse descarregado assim que cheguei, veria você!

— Com certeza! Quando se afastou e entrou na casa, percebi que no celeiro seria a minha melhor opção! Fui para lá com o temor que apareceria a qualquer momento! Passou algum tempo e logo procurei água e algo para comer! A ração dos cães foi minha alternativa!

— Que loucura, moça! Foi muito perigoso e colocou a sua vida em risco fazendo isto!

— Minha vida já estava em risco! Se eu acordasse a tempo, não estaria aqui! E nem sei por quanto tempo duraria naquela cidade!!!

— Fique o tempo que for necessário para se recuperar!

— Vou embora assim que descansar um pouco mais!

— Vai embora como?

— Seguirei meu caminho!

— Sei! Só para a sua informação, quando subiu na carroceria, estava na América! Quando desceu da camioneta, você estava no Canadá! Se for a pé, não duraria quinze milhas! O frio te mataria! Nem eu aguentaria! A cidade mais próxima está a cerca de 150 milhas daqui! E eu não quero carregar na minha consciência uma morte, mesmo sendo de uma pessoa desconhecida!

— Talvez seja até melhor isto acontecer!

— Acontecer o que?

— Me deixar ir!

— Hum! Estou vendo que vou ter que te amarrar!

— Não precisa! (Sorriso).

Mais alguns minutos de silêncio e Daxton recolhia a mesa de café. Olhou pra ela e indagou.

— Como você chama?

— Eu já te disse!

(Pausa) — É! Disse sim! Descanse o resto do dia! Venha! Vou mostrar o quarto! Na hora do almoço eu te chamo!

A fraqueza de Mary não ajudava a caminhar direito e quase caiu no acesso ao quarto. Daxton a ajudou até chegar à cama. Deitando e cobrindo-a. Passou a mão nos cabelos úmidos e impregnados, ainda embolados de sujeira. Arrumou a cozinha do café, deu um banho nos cachorros, e após ajeitar outras coisas, preparou o almoço.

Um pouco mais de meio dia, foi ao quarto e Mary dormia profundamente, com uma respiração quase silenciosa, e um nítido semblante de dor e sofrimento.

Daxton estava preocupado com a visitante. Apareceu do nada e instantaneamente mudou sua rotina. Pensava no que seria o melhor a fazer. Planejava no dia seguinte levá-la às autoridades.

— Moça? Moça? Chamou balançando levemente o frágil corpo.

Acordou e olhou para ele. Não conseguia segurar suas emoções. Ele a levantou e a acompanhou até à mesa. Serviu o almoço e a acompanhou digerir vagarosamente os alimentos. Ela não conseguia levantar a cabeça e olhá-lo.

— Pensei que havia morrido e que você era um anjo me preparando para me levar à presença de Deus!

— Está de chamando de “o anjo da morte”?

(Sorriso) — Não! Só pensei!

— Termine sua refeição! Volte para a cama! Ainda precisa descansar! Está muito debilitada!

— Porque?

— Porque o quê?

— Porque está fazendo isto tudo por mim?

— Você queria que eu fizesse o quê??

— Não tive muita sorte com as pessoas que aproximaram de mim!

— É! Deu azar de novo! Tenha muito cuidado comigo! Sou uma pessoa perigosa e tenho alguns planos para você! Disse esfregando as mãos e dando uma risada sarcástica.

Mary sorriu de mostrar os maus cuidados dentes.

— Brincadeira! Não questiono as direções que o destino me proporciona! Você não é uma inconveniência, mas sim uma ocasião! Não cuidar de você talvez me traria mais cargas emocionais do que agora estou carregando! Foi me dada uma oportunidade e eu soube aproveitar do meu jeito! Gostaria que você fizesse o mesmo! Aproveite esta oportunidade! Talvez Deus fez cruzar os nossos caminhos, sabendo do que eu seria capaz de fazer por você! O dia de hoje é uma dádiva, um presente! Amanhã também será uma dádiva também! Ontem já não me interessa!

— Obrigada!

— Venha! Vamos escovar estes dentinhos que estão cheios de sujeirinhas!

— Você é engraçado! Parece sério, mas é engraçado!

— Melhor assim, não?

— É!

— E está precisando de muitos cuidados!

Sorrindo, ajeitou-a na cama. Percebeu que as emoções estavam transbordando na alma da hóspede. As lágrimas escorriam pela face sofrida.

— O que aconteceu com você, moça? Toda machucada! Perdida...! E tão nova para tantas feridas!

Ela o fitou, e em absoluto silêncio virou para o lado.

Daxton retornou aos seus afazeres sem conseguir esquecer Mary. A tarde passou lenta e ao anoitecer, preparou uma sopa com bastante sustância, com o intuito de fortalece-la.

Trouxe-a até a mesa, e percebeu que estava mais fraca que antes. Sentia dores e sua respiração ofegava. Ele mesmo a serviu e a alimentou. Trocaram pouquíssimas palavras.

— Vamos! Venha deitar!

Mary extremamente fraca, mal conseguia levantar. Daxton a carregou até a cama. A cobriu e preocupado, deixou a porta do quarto aberta para poder perceber qualquer anormalidade.

Deitou um pouco mais tarde do que de costume. Antes de deitar, supervisionou-a novamente. Ofegava baixinho, totalmente encolhida na cama. Ficou mais alguns minutos observando-a, e foi deitar. O dia foi anormal. Extenuante com as novidades no seu cotidiano.

Sono irrequieto, acordou com a sua cadela, Moon (que dormia no seu quarto), com a cabeça levantada e as orelhas atentas, olhando para a porta.

De súbito, levantou e tentou entender o alerta do poodle e caminhou vagarosamente até o corredor de acesso. Imaginava que Mary havia levantado para alguma necessidade. E nada. Não havia nada. Olhou para Moon e ela continuava na mesma posição. Fez um carinho na cadelinha.

— Será que ela congelou? Brincou com seus pensamentos.

Parou um pouco e captou suspiros fortes vindo do quarto da hóspede. Aproximou e viu Mary descoberta, remexendo o corpo, completamente úmida de suor, dizendo coisas sem sentido. Um delírio.

Daxton aproximou e percebeu que ela estava transpirando por causa de uma febre alta que sentia.

Daxton correu e encheu a banheira de água fria, e mergulhou Mary. Depois de algum tempo a temperatura da febre abaixou um pouco e percebeu que ela havia feito suas necessidades fisiológicas ali mesmo na banheira.

Ajeitou tudo trocando a roupa dela e da cama. Colocou outra cama ao lado, e logo percebeu que a febre voltou.

— Meu Deus! Esta moça está mal! Resmungou.

Quatro dias se passaram e o tempo de Daxton estava quase concentrado nos cuidados à Mary. Sua febre havia piorado e ele cuidava das várias feridas que ela tinha no corpo, tentando acabar com as infecções. Por um determinado momento, realmente achou que ela estava morrendo.

À noite, ficava no quarto para acompanhar a decorrência das manifestações que o sofrimento proporcionava na moça.

Acordou no quinto dia, totalmente fadigado, e ficou aliviado, que ela já não tinha mais febre. Dormia serenamente e já respirava com mais suavidade. Os cuidados ajudaram bastante.

Tomou o seu café e retornou às atividades habituais, sempre indo no quarto verificar a situação da Mary.

17 de Março de 2021 às 19:46 0 Denunciar Insira Seguir história
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