maxrocha Max Rocha

Você valoriza sua vida e seu mundo? Nem sempre? Venha viajar um pouco...


Fantasia Todo o público.

#sonho #cósmico #vida #reflexão
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UMA NOITE FANTÁSTICA

Deitei-me como de costume por volta das onze. A mesma rotina. De início decúbito lateral esquerdo; um travesseiro baixo por sob a cabeça, outro entre os joelhos e um terceiro servindo de apoio lombar. A consciência aos poucos se desvanecendo em devaneios oníricos...


Ocasionalmente um resgate à vigília, em contraponto às investidas de Morfeu. Um pouco mais tarde, após o desvio ao decúbito lateral direito sobreviria inapelavelmente o sono profundo...


Mas aquela noite foi diferente. Ouvi um sussurro. Levantei-me de prontidão e, abrindo a janela, deparei-me com a visão instigante. Por cima das folhas da hera, trepadeira nativa a parasitar o muro lateral, e por entre as gotas da chuva incessante, percebi a face impassível...


Olhos, nariz e boca humanos, mas a cabeleira definitivamente alienígena, furta-cor, emanando descargas elétricas acentuadas pela chuva que farfalhava. O tom de pele fugidio e esverdeado.


Eis que então a criatura saltou de seu pequeno galho e num só rompante acocorou-se no parapeito da janela, fazendo-me recuar, estupefato. Disse-me então em voz ronronante: "vim para que você tenha vida".


Refeito do susto, convidei-a para um café na mesa da copa. Ao sentarmos notei que não tinha pés, mas apenas uma bruma espessa a lhe sustentar o tronco. Dei de ombros, sorvi o primeiro gole e fui direto: o que significava aquela intromissão? Quem lhe havia dito que eu precisava de alguma outra vida? Achava ela por acaso que eu não estivesse satisfeito com a minha própria? Vinha por iniciativa própria ou a mando de terceiros? E qual o motivo...


Num gesto definitivo a criatura de aspecto medusoide levou seu dedo aos meus lábios e calou-me. Repetiu sibilantemente: "vim para que você tenha vida".


De súbito tomou-me pela mão e saímos a flutuar pela janela da copa. Num instante estávamos por sobre o telhado. Divisei toda a minha rua, o meu bairro, a minha cidade, a minha região, o meu estado, o meu país, a América Latina, o planeta.


Pensei comigo: como sempre estive em todos esses lugares e nunca me dei conta?


À medida que subíamos mais e mais, percebi a insignificância da minha existência mundana. A minha pequenez.


E constatei então que apenas sobrevivia, feito um mísero inseto míope.


Pela manhã estava diferente, fortalecido. Não entendia bem a razão daquilo tudo. Mas me senti melhor do que de costume.


Oxalá pudesse permanecer assim...




16 de Março de 2021 às 14:16 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Max Rocha Médico e escritor amador, a procurar nas letras um alento para o cotidiano. Especialização na área do envelhecimento, mas com contato frequente com diversas faixas etárias, familiar e profissionalmente, fato inspirador de diferentes motivações literárias. Interesso-me por ficção histórica e científica, suspense, misticismo e mistério com um toque de humor. Às vezes enveredo pelo tom crítico e motivacional. Escrevo ouvindo música instrumental relacionada com o tema no Spotify.

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