mschneider21 Margot Schneider

Uma moça procura um vidente para saber porque seu namorado sumiu e sai da consulta mais tranquila.


Conto Para maiores de 21 anos apenas (adultos).

#vidente #futuro #homens #Sumisso
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Consulta ao vidente


É o número cento e cinquenta e quatro. Um e cinco, seis, seis e quatro, dez....o que significaria “dez” na numerologia? Pensou Felicia procurando os números das casas que via, enquanto caminhava pela calçada a passo largo naquela tarde fria de pleno inverno em Bruxelas. É aqui! Em uma placa em frente à casa podia-se ler: “Astrologia, Assuntos Exotéricos, Limpezas Espirituais”. Felicia mal abriu a porta e sentiu um cheiro forte que sugeria uma mistura de produtos químicos com água ardente, peixe e sujeira. O odor lhe embrulhou o estômago. Mesmo assim ela estava determinada a consultar o recomendado vidente de estranho nome; Ofruna.

Com muito atraso Felicia foi atendida. Ela entrou em um quarto assustador, repleto de figuras de Buda, esculturas africanas, pinturas de Cristo, de Nossa Senhora, com uma larga estante cheia de temperos, potes de vidros de cores diferentes cheio de líquidos, velas, colares e uma escrivaninha no centro, imunda com um Notebook aberto, de onde Ofruna trabalhava. Ofruna era um mulato baixo, forte, de semblante simpático e usava um turbante branco na cabeça.

- O que lhe traz aqui?

- Um cara entrou na minha vida, me convenceu de que gosta de mim e saiu tão subitamente quanto entrou. Não sei porque, ele sumiu.

- Embaralha as cartas. Ofruna deu um punhado de cartas velhas, sujas, um tanto amaçadas para Felicia, que neste instante pensou... ”Meu Deus, acho que vou dar...” e antes que completasse o pensamento ouviu o Mestre Ofruna em voz bem alta.

- Nem pense em me sugerir trocar de cartas. Eu gosto destas! “Nossa...ou ele é muito bom em ler pensamentos, ou várias de suas clientes já pensaram em trocar essas cartas sujas”. Felicia fez o melhor que pôde para embaralhar as cartas amaçadas e as pousou na mesa novamente com as figuras viradas para baixo.

- Separa as cartas em três partes, cada uma com sete cartas.

Ofruna começou a virar as cartas uma a uma para cima e saiu lendo a vida da moça.

- Tem um homem na sua vida.

- Tinha, ele sumiu. Não está escrito aí nas cartas?

- Ele gosta de você.

- Gosta tanto que me deixou sem explicações!

- Ele é devagar, está confuso, não sabe para que lado vai, ele come mal, dorme mal, não faz qualquer esporte, fuma, fuma, fuma...

- É ele, o François!

- Ele carrega trabalho para a casa, senta em frente ao computador, trabalha meia hora e para duas horas para checar a televisão, volta para o trabalho, para novamente depois de meia hora, pega o telefone, se pendura na ligação por duas horas...

- É ele, é ele mesmo, ele é exatamente assim!

- Mas o que você viu nele mulher?

- Ah, ele é bonito, alto, forte, muito atraente, nós nos damos muito bem, conversamos abertamente sobre tudo, todos os dias nos falávamos até às 3:00, às 5:00 horas da manhã, ele me pareceu realmente interessado em um relacionamento mais duradouro.

- Você vai ter em um breve futuro outros dois homens na sua vida, um mais jovem e um mais velho, casado. Primeiro vem o mais jovem. Você vai se apaixonar pelos dois.

- Eu nunca gostei de homens mais novos do que eu.

- É só um pouquinho mais jovem, deixa de ser preconceituosa!

- Tem um rapaz me assediando que tem 20 anos de idade. Eu tenho 50! Você não está falando desse, não é?! Trinta anos de diferença não é um pouquinho mais jovem.

- Não... esse que vai aparecer é um tanto louco, mas é atraente.

- Louco?! Já não chega meu ex-marido louco? Estou cansada de gente louca.

- Mas você também é um pouco maluca! Você vai viver uma aventura com esse homem, só que ele não presta. O outro sim, o casado é boa pessoa, é um bom homem.

- Normalmente é o contrário. Diz-se que os casados que estão pulando cerca é que não são boa coisa. Que ótimo! O jovem solteiro atraente não presta e o que presta é casado. E provavelmente feio. Tem certeza que você não quer cartas de baralho novas? Não quero saber de nenhum dos dois. Estou interessada no François.

Ofruna olhou fixamente a moça por uns 2 minutos sem dizer uma palavra e em seguida perguntou:

- Você gosta dele, quer ficar com ele?

- Bom, eu gosto dele, sim.. eu gostaria de ficar um tempo com ele. Ficar por muito tempo eu já não sei, depende. Se a parte da cama melhorar, aí sim. Do jeito que está, não satisfaz.

- Deixa eu ver uma foto dele.

Felicia procurou uma foto de François no seu telefone celular e mostrou a Ofruna.

- Que pena! Tão bonito, não vai durar muito. Melhor mesmo procurar outro.

- Não vai durar muito? Mas é dele que eu gosto.

- Traz uma vela grande, uma foto em papel e uma cueca suja dele aqui e a gente tenta fazer um trabalho.

- E dá certo? – Não sei. A gente tenta.

- Eu não consigo nem arrastar ele para a cama, ele parece que tem medo de mim! Como eu vou conseguir trazer uma cueca e ainda uma cueca usada dele?

- Então ESQUECE ESSE HOMEM! Disse Ofruna quase que gritando. - O que adianta você com esse fogo todo que eu vejo nas cartas, querer o François, se o pinto dele não levanta?! O François está com vergonha de você justamente por que ele não funciona.

- E por isso, ele não vai mais falar comigo, não vai mais me procurar?

- Vai! Mas ele não está bem consigo mesmo. Ele está com problemas com tudo, com a saúde dele, com o trabalho dele, com a impotência dele... ele não está bem com nada na vida dele. Quando ele procurar você, será tarde para ele. Você já vai estar com outro. Se acalma, que o homem que vai chegar na sua vida tem um pinto enorme!

E Felicia foi embora sorridente, satisfeita com a explicação lógica sobre o sumiço do ex-namorado e contente em saber que apesar do próximo homem em sua vida ser mais jovem e um mau caráter, ele irá compensar a deficiência do anterior.

20 de Janeiro de 2021 às 22:32 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Margot Schneider Margot Schneider é o pseudônimo adotado pela escritora brasileira, nascida em Santos. Mudou-se para São Paulo, estudou Ciências da Computação o que lhe permitiu mais tarde trabalhar como desenvolvedora de sistemas de informação na Suíça, onde mora desde o ano 2000. A escritora adora tocar piano, violão, ler, viajar, conhecer gente, conversar, aprender outras culturas, novas línguas e atualmente só usa os computadores para trocar e-mails e escrever, mais uma paixão descoberta.

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