leandrosevero Leandro Severo

Uma simples ida ao dentista pode ser perturbadora às vezes. Para ambos os lados.


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DOR DE DENTE

- Sr. João? Pode entrar.

A sala toda branca, com aparelhos metálicos e o rosto amigo do dentista lhe deu certo frio na barriga. O ambiente era frio devido o ar-condicionado mal regulado pelo assistente do doutor.

- Deite aí na cadeira e relaxe. Só vou conferir uns papéis e já volto.

- Está certo. Qual seu nome mesmo, doutor?

- Mizrahy. É. Eu sei, nome difícil. Coisa de família árabe.

E fechou a porta atrás de si.

O ficou aguardando o doutor. Andou pela sala querendo tocar em algumas coisas. Ficou observando o retrato da esposa e filha do dentista. Quando o doutor voltou, o constrangimento foi embora após um sorriso calmo do cirurgião, fazendo João voltar lentamente para a cadeira odontológica.

- Que belos olhos sua família tem.

- Obrigado. As duas são muito apegadas. Minha filha tem os olhos iguais aos da mãe. Amo essa mulher. O olhar dela me enfeitiça até hoje. E o senhor? Tem filhos?

O dentista ajustou a cadeira numa posição em que o paciente ficasse completamente deitado.

- Divorciado. Tenho um.

- Entendi. Está bem assim?

João fez um “joia” e balançou afirmativamente com a cabeça. O doutor colocou as luvas e a máscara:

- Abra a boca.

Mizrahy viu que o paciente tinha um hálito forte e dentes muito tortos. O olhar do homem deitado parecia evidenciar a vergonha. Ele reparou numa imensa cárie em um molar do lado direito na parte de baixo.

- Dói?

- Se dói, doutor.

- Ok, o senhor fez o orçamento?

- Quero arrancar hoje mesmo. Está doendo.

- Tudo bem. Coloque isso aqui na boca e espere um pouco.

O dentista deixou um pedaço de papel-toalha próximo ao queixo do paciente e uma pequena mangueira que secava a saliva no canto de sua boca. Voltou com um pequeno sino dourado em suas mãos.

- Para que isso, doutor?

- Aqui não uso agulhas para anestesias. Usamos a hipnose.

João ergueu um pouco a cabeça ainda com o objeto em sua boca.

- É alguma brincadeira?

- Não. Ela ajuda muito na odontologia. Aliás, o senhor devia estar ciente porque fica explícito na nossa entrada.

- Eu não sei ler muito bem, senhor.

- Fique tranquilo que é indolor e totalmente seguro.

- Doutor... - dizia rindo seriamente - Não sei não. Espero não virar galinha ou acordar com uma leve dor o senhor sabe onde atrás de mim. Meus parentes são influentes. Qualquer cagada que o senhor fizer, eu te ferro.

- Calma. Estamos próximo a uma guarita policial. Qualquer coisa pode ir lá. Caso não, o senhor está livre para procurar outro profissional.

João ficou apreensivo. Seu dente latejava e era mais cômodo resolver ali mesmo.

- Ok. Mas não me machuque.

- Tudo bem. Deite na cadeira e relaxe. Vou tocar o sino e o senhor vai ficar ouvindo minha voz. Lentamente vai sentir um sono, suas pálpebras irão pesar...

- Vou ficar inconsciente? Digo, sem poder reagir?

- Não. Esses filmes de hipnose só arruínam nosso caráter profissional. É cada coisa que inventam. O senhor só vai ficar mais relaxado e não vai sentir dor. Só isso. Agora fique calmo.

O dentista tocou o sino três vezes. Cada vez com uma pausa de quatro segundos.

Uma... duas... três...

“Ding... ding... ding”

João adormeceu.

Mizrahy pegou seus instrumentos e começou a examinar a boca do paciente. Ao fazer isso, notou que o que restava do dente estava quase solto. Removeu cuidadosamente. Estancou o sangramento e se preparou para fazer alguns pontos com a linha de costura medicinal. Tudo levou quase vinte minutos.

Tendo concluído, tocou novamente o sino:

“ding... ding... ding.”

João despertou gritando:

- Mãe!!

Mizrahy se assustou com aquele comportamento.

- Sr. João, se acalme! Se acalme! Só foi uma extração. Deu tudo certo. Está tudo bem?

João meneava a cabeça olhando para o nada:

- Mas... minha mãe...

- O que tem ela?

- Um momento.

João pegou seu celular e andava de um lado para o outro na sala do dentista, que apenas o observava enquanto guardava o sino. Viu quando o paciente deu um suspiro, deixou uma nota de cem reais na mesa de Mizrahy e foi embora chorando abrindo a porta sem jeito. Retornou ainda com o celular na orelha e disse:

- Preciso do dente, doutor.

- O quê?

- O dente. Preciso dele.

- Ué, mas para quê?

- É meu. Eu só arranquei. Não doei ele. Por favor. Preciso dele.

O doutor entregou o pedaço de dente para João que saiu imediatamente sem sequer esperar para ouvir as recomendações do dentista quanto aos cuidados com a boca após a cirurgia.

* * * * * *

Um mês depois João retornou a clínica odontológica. Sua boca estava inchada. Aguardou sentado num dos puffs acolchoados da recepção. Quando Mizrahy saiu de seu consultório e viu quem iria atender, chamou com um tom desanimado, pois imaginava que o retorno seria alguma reclamação. Já havia atendido clientes onde, após receitar medicamentos e cuidados com a higiene bucal, os mesmos voltaram para reclamar dos efeitos que a negligência deles havia provocado, colocando a culpa no cirurgião.

- Sente-se, Sr. João.

Ele sentou e sorriu. Um pequeno sorriso que deixou o dentista um pouco ansioso.

- E então? Está tudo bem? E sua mãe? O senhor saiu daqui espavorido, hein.

- Ela morreu. Mas já voltou a viver.

- Espera. Como assim?

- Coisas de família. Complicado. Agora estou sentindo que minha gengiva sangra muito ao escovar, doutor. E são os dentes de cima que doem agora. É um só, mas faz doer minha boca inteira.

- Certo. Deite-se.

- Ah! E outra coisa. Eu quero me desculpar por aquilo.

O doutor esperava que ele dissesse algo mais. O silêncio permaneceu e então respondeu:

- Está tudo bem. Espero ter sido útil para o senhor.

- Ah sim! E se o senhor não se importa, quero que me hipnotize de novo. Nossa! O sono foi revigorante. Isso não posso negar.

- Mas é só uma consulta simples. O senhor quer extrair mais algum dente?

- Claro que sim, mas aqueles minutos de sono... ah doutor. Foi bom demais. Há tempos um rápido cochilo não me valia mais que uma noite inteira. Só o sonho que me incomodou.

- Caramba! O senhor conseguiu sonhar? Com uma simples hipnose?

- Sim. No começo estava muito bem. Mesmo que eu tenha acordado agitado, estava mais leve. Cheguei aqui com dores de cabeça terríveis. Após a hipnose, ela passou. Eu me sentia... satisfeito.

- Eu falei que a hipnose não é nenhum monstro, agora relaxe.

Depois do toque do sino, João adormeceu. Quando o dentista abriu a boca do paciente, espantou-se com o que viu. O dente arrancado estava no mesmo lugar, com feridas e sangue ainda coagulado na região. Havia sido enfiado na gengiva novamente.

Observando os de cima, estavam perfeitos. Sem nenhuma contaminação ou cárie. Mizrahy pensou em remover o dente recolocado. Antes disso despertou o paciente:

- Sr. João? O que é isso? Porque o senhor recolocou o dente no mesmo lugar? Isso pode causar uma infecção terrível.

- Mas não dói. E minha mãe agora está salva.

- O que tem a ver sua mãe?

- Bem... no dia da extração, eu sonhei com...

- Com o quê? — o doutor fez a pergunta sem querer, pois sua curiosidade estava maior que sua cautela de se meter na vida dos pacientes.

- Doutor, eu sofro de uma insônia terrível, e naquele dia parece que dormi por horas, mesmo que tenha sido somente alguns minutos. No entanto, sonhei com minha mãe. Ela já é idosa e até bem de vida. De repente, quando me virei, vi uma fumaça escura, com dois olhos amarelos e uma boca enorme de sorriso vermelho e dentes pontiagudos. Estava frio. Ele se aproximou de mim, minha boca se abriu sozinha e eu não conseguia fechá-la. Aquela coisa passou seus dedos de fumaça em meus dentes. O senhor já mordeu algo gelado que o fez tremer, doutor? Foi essa sensação. Em seguida ele extraiu o mesmo dente que o senhor removeu. Em mim não doeu, porém, a cabeça da minha mãe na mesma hora foi arrancada. Foi aí que despertei.

“Que merda de sonho é esse?” pensou o dentista.

- Uma pergunta, sr. João? Você toma alguma medicação controlada, bebe ou... é ou já foi usuário de...

- Não. Nunca fumei. Bebia um pouco, mas parei assim que as dores de dente começaram. E então? Vai remover o dente de cima? Estou esperando.

- Olha, Sr. João. Como cirurgião é meu dever, por ética, informar o estado do seu dente de baixo. Ele sim vai prejudicar sua gengiva e comprometer toda sua boca. Os dentes de cima estão em perfeito estado. O único que devo me preocupar, e o senhor também, é com esse dente mal colocado.

João ficou olhando para o médico por alguns segundos:

- Está bem. Obrigado.

O paciente se levantou da cadeira odontológica e antes de sair, disse:

- Doutor, um dente não é só um dente. O senhor vai entender em breve.

E saiu.

* * * * * * * * *

João retornou ao consultório. Dessa vez seus olhos estavam com olheiras fundas e sua boca mais inchada. Quando o recepcionista informou que era João, o doutor não quis atendê-lo. Porém, ele ficou na porta olhando por entre as grades do pequeno portão automático da clínica.

Vendo que o homem não saíra da frente da clínica, Gustavo, o recepcionista, tentou chamar o segurança que rondava pelos estabelecimentos da avenida, porém ele demorou a aparecer. Mizrahy, percebendo que João não sairia dali, decidiu atendê-lo. Ao entrar, o cliente colocou duas notas de cem reais no balcão da recepção e falou como se estivesse mastigando algo:

- Isso é só para a recepção. O senhor terá bem mais. Agora por favor, me ajude.

As pessoas que aguardavam no local ficaram olhando para aquele paciente. Após um tempo de espera, foi a vez dele.

- O que foi dessa vez, Sr. João?

- Meus dentes de cima doem demais. Está ruim para comer, para falar. E o pior é que eu não consigo dormir. É tanta que mal consigo fechar os olhos.

- Vá para a cadeira. Mas vou logo avisando, irei arrancar aquele dente podre se ele estiver aí ainda.

- Pode arrancá-lo.

Depois do procedimento com o sino, João adormeceu. O dentista abriu a boca daquele homem. Realmente o dente de cima estava com um buraco preto e já estava atingindo o outro. O dente podre ainda estava no local. Removeu primeiro o apodrecido. Em seguida os dois molares de cima. Ao despertar o paciente, este acordou aos urros:

- Isso! Desgraçados! Morram! Morram!

A expressão de seu rosto era de uma severa felicidade. O silêncio perpassou o local como uma sombra fria:

- Sonhei de novo com aquilo, mas estou bem melhor agora. Eles mereceram. Aqui está.

E colocou em sua mesa oitocentos reais com um sorriso que babava sangue e saliva.

- Obrigado, doutor. Pode me dar um papel ou algo para estancar isso, por favor?

- Espere? Preciso fazer os pontos.

- Ah! Desculpe. Pode fazer então. Pegue o sininho.

Após os três “Ding... ding... ding”, o paciente fechou os olhos deixando cair um braço para fora da cadeira. Mizrahy ajeitou João e abriu sua boca. Afastou-se bruscamente quando um cheiro azedo saiu daquela boca. Aquele odor não estava ali antes. Ao analisar a gengiva machucada e toda a arcada dentária, jogou um pouco de flúor para remover o mau cheiro.

Enquanto isso, alguns leves murmúrios saíam do paciente. Os olhos entreabertos de João e o desenho de seus lábios evidenciavam um prazer quase igual a um orgasmo de um adolescente por polução noturna.

Após fechar os pontos, sendo os últimos na gengiva de cima, notou que havia uma bolinha preta no céu da boca de João.

O doutor despertou o paciente, que se levantou se espreguiçando-se.

Mil vezes odontologia com hipnose. Sim senhor. Posso marcar para quando o retorno?

Mizrahy suspirou:

- Veja com o recepcionista. Tenho outros clientes para atender. Se não se importa...

- De modo algum. Obrigado. Aliás, minha mãe e meus dois irmãos acabaram de morrer.

E saiu.

* * * * * * * * *

Meses depois Mizrahy não vira mais João. Imaginou que o homem era só um lunático ou um bêbado endinheirado que não sabia como gastar o dinheiro, machucara os próprios dentes para visitar uma clínica odontológica. No entanto, as palavras daquele homem ficaram em sua mente:

“Um dente não é só um dente..."

“Minha mãe e meus dois irmãos acabaram de morrer...”

"O senhor vai entender em breve..."

Trabalhara com dentes por muito tempo de modo frio. Ainda sim relutava a acreditar. Nunca tinha ouvido falar de sonhos assim.

Certa tarde conversava com seu recepcionista sobre o caso:

- Sabe como é. Esse povo tem cada crença.

- Doutor — dizia Gustavo - foi um daqueles supersticiosos que acreditam que sonhar com dente caindo é parente morrendo? Minha avó cria nisso, mas dizia que era só lançar sal atrás das costas. “Um truque vence outro" ela falava. Quando na verdade, era apenas para saber em que animal jogaria no jogo do bicho.

- Mas já aconteceu?

- O que? Se alguém morreu? Não sei. Talvez. Não lembro. Provavelmente não.

O coração do doutor balançava.

- Você não acredita nisso, não é?

- Eu mesmo não, doutor. Estou estudando psicologia. Algumas pessoas deslocam sentimentos para objetos.

Mizrahy ouvia com atenção, pois Gustavo gostava de mostrar que sabia das coisas.

- Recentemente a professora passou um trabalho sobre A FICÇÃO E A PSIQUE. Devíamos escolher um conto selecionado para avaliarmos questões psicológicas. Meu grupo ficou com BERENICE, de Edgar Allan Poe. Quando puder leia. Fala sobre...

O telefone da clínica tocou. Gustavo atendeu.

- Clínica Mizrahy, boa tarde. Sim... está sim. Olha, agora não tem ninguém. Por nada, um abraço.

Desligou.

- Quem era?

- Adivinha?

* * * * * * * *

João estava com o maxilar inchado. O doutor tentou fazer o mesmo sorriso calmo da primeira consulta, mas não conseguiu. O cliente estava em silêncio fúnebre. Entrando para o consultório João suplicou com nítida aflição:

- Por favor, me hipnotize, doutor!

- Mas o que está acontecendo, Sr. João?

- Só preciso que me hipnotize. Preciso dormir e sonhar. Rápido!

- Calma. Não é assim. Aqui é apenas uma clínica odontológica. Caso o senhor precise de algo além disso, uma ajuda psicológica, posso recomendar um psicoterapeuta que...

Ele agarrou o doutor pelo jaleco:

- Você não me ouviu? Preciso que me hipnotize agora. Meus dentes estão...

De repente soltou Mizrahy e cuspiu sangue. O dentista se recompôs:

- É muita dor, doutor. Eu não aguento mais!!!

- Está bem. Deite-se. Farei o possível.

Antes de hipnotizá-lo, João pegou na mão do doutor, deu-lhe um pequeno dente de leite e pediu em lágrimas:

- Por favor, por tudo que é mais sagrado, implante esse dente em mim. Por favor. Prometo que não virei mais depois disso. Mas eu imploro, implante esse dente em mim. Mizrahy viu que era o dente de uma criança.

- Senhor, eu...

- Por favor... eu vou perder meu filho! Você não entende! Rápido, antes que eu perca meu filho para sempre!

"Um dente não é só um dente", ressoava na mente do doutor.

O dentista tentava associar as coisas, porém não conseguia, ainda mais diante do desespero daquele homem.

- Mas de quem é esse dente? Você arrancou um dente do seu filho?

- É meu, doutor. Nasceu no meu céu da boca. Por favor, coloque-o novamente. Eu não posso perder meu filho. Me faça dormir!

Mizrahy fez os procedimentos com o sino e João entrou em estado de transe. Abriu a boca do paciente e colocou a mão nos olhos dando passos para trás ao ver que todos os dentes de trás estavam escurecidos e purulentos. Entretanto havia um buraco pequeno no meio do céu da boca.

- Meu Deus! O que está acontecendo?

O dentista decidiu esquecer-se de suas crenças na razão e implantou o pequeno dente na cavidade que havia no céu da boca do paciente. A língua do paciente se contorcia para todas as direções. Depois disso removeu quatro dentes de trás, dois em cima e dois embaixo, um em cada lado, deixando João com quase nenhum molar. Ao terminar os pontos, despertou o pobre homem que abraçou o dentista chorando:

- Obrigado, doutor! Você fez o que pôde, mas no sonho eu...

Os olhos de Mizrahy pediam por uma explicação. João começou a contar:

- Nos sonhos, o dente não é só um dente. Pode ser alguém ou parte de alguém. Cada dente que aquela criatura arrancava, aparecia algum parente meu. Primeiro minha mãe foi atropelada, mas não poderia morrer sem resolver uma questão financeira de alto valor conosco. Porém, ela decidiu me deixar sem nada e só incluiu meus dois irmãos, aqueles agiotas desgraçados. Os três estão mortos agora e não fui eu quem os matou. Sempre foi assim. Os dentes me avisavam. Contudo, não consigo mais dormir. Perdi meu pai assim. Foi horrível. Meus dentes avisam que algo vai acontecer. E sempre que sonho, acontece. Estava tudo bem por esses tempos e passei uma semana com meu filho que mora com minha ex-esposa. Eu não vi quando ele subiu numa árvore. Estava atrás de uma pipa. Foi quando um galho quebrou, ele escorregou e caiu de uma altura de nove metros. O médico não me dera muitas esperanças, disse que ele ou morreria ou ficaria paraplégico. Graças a Deus o senhor o salvou, mas agora nunca mais brincarei com meu filho novamente, já que os quatro dentes eram seus membros.

"O senhor vai descobrir em breve..." martelava no coração de Mizrahy.

Depois que o homem chorou, entregou um pacote de dinheiro e nunca mais voltou.

* * * *

Em casa, a esposa do doutor estava na cozinha fazendo jantar. A pequena Berenice foi até o dentista:

- Papai, meus dentes da frente estão molinhos. Tira pra mim.

- Eita! Quer que o pai te hipnotize?

- Não. Eu tenho medo. Tira na linha.

Ele pegou a linha de costura e amarrou nos dois incisivos frontais da pequena, arrancando cada um numa só puxada.

- Oh menina do pai. Agora tem janelinha.

- Papai, o senhor acredita em sonhos?

Ele tomou um choque do modo abrupto que ela disse aquilo:

- Por que, filha?

O doutor sentiu um frio envolvendo o ambiente. Sua cabeça pesava.

- É que ontem a noite eu sonhei com a mamãe. Aí apareceu um negócio estranho e tocou nesses meus dois dentinhos da frente e…

De repente ao piscar os olhos, viu rapidamente uma fumaça escura, com dois olhos amarelos, uma boca enorme de sorriso vermelho e dentes pontiagudos, segurando duas peças brancas de leite nas mãos, dizendo:

"Um dente vale muito..."

Escutou um grito de mulher. Como se só ele ouvisse.

Mizrahy não esperou sua filha terminar de falar. Seu coração gelou e correu desesperado até a cozinha. No entanto, sua alma gemeu ao ver sua esposa caída numa poça de sangue, com ambos os olhos arrancados.

7 de Janeiro de 2021 às 14:53 0 Denunciar Insira Seguir história
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Leandro Severo Eu escrevo. Se bem ou mal, aí descobriremos juntos.

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