docedellu DoceDellu

Em um mundo onde a bondade transborda pelo olhar, e a maldade transforma olhos em vazio, Jason cresce entre a escória, e acredita que nunca será melhor que isso, afinal, nascemos onde nascemos e somos quem devemos ser. Ou será que isso pode mudar ao conhecer um viajante misterioso?


Conto Impróprio para crianças menores de 13 anos.

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Capítulo Único

Meu passado teve um gosto amargo por anos
Então eu vou negar ele e encarar
Graça é apenas fraqueza
Ou então fui informado
Eu fui frio, eu fui implacável





Nunca houve nada, nem uma flor desabrochando na primavera ou o canto de um pássaro livre, nem mesmo uma borboleta saindo de seu casulo para iniciar sua nova vida, nada nunca o fez querer ser melhor.

A sarjeta era um lugar que ensinava muito, o primeiro ensinamento que Jason aprendeu fora que ele jamais teria alguém.

Todos se vão.

O que aprendeu a seguir era que não se devia confiar em ninguém, principalmente naqueles que tem a bondade nos olhos.

Sim, é fácil reconhecer que tipo de pessoa alguém é pelos olhos. Pessoas bondosas são como anjos, mas suas aulas e auréolas estão no brilho vivo em seus olhos, um brilho de esperança, um brilho que trazia esperança.

Pessoas como Jason não tinham nada, absolutamente nada, não havia luz em seus olhos, assim como não existia luz no fim do túnel ou uma escada no fundo do poço.

Definitivamente, apenas dois tipos de pessoas existiam, boas e más. Todd não era do primeiro tipo.

E ele soube desde criança.

A sarjeta não deveria ser lugar para crianças, mas era.

Mas que culpa alguém teria por nascer ali?

Como ter bondade quando tudo que se viu em sua infância fora a maldade?

Lutar para ter algo para comer, sobrevivência. Sim, a maldade daquele lugar e daquelas pessoas era em busca de sua sobrevivência.

Conforme fora crescendo o rapaz aprendeu muitas coisas.

O vilarejo era enorme e havia uma área, a área de antigos castelos, onde os nobres moravam em suas confortáveis casas, mansões.

Onde nunca passavam fome ou precisavam ver os seus morrendo por doenças tão banais que um simples remédio poderia curar.

Mas você nascia onde nascia e era o que deveria ser. O que os seus olhos indicavam.

A sorte nunca seria sua aliada, a sorte não existia para pessoas desse tipo, mendigos jogados pelas valetas, crianças largadas entre os becos gritando por comida e mães chorando sobre o frágil corpo de seus filhos mortos por frio ou fome, ninguém saberia, ninguém se importava.

Essa era a vida naquele tempo e o único jeito que Jason encontrou para viver era roubar.

Roubar, matar em várias vezes, matar viajantes que chegavam perto dos portões do reinado.

Tais portões eram longe de tudo, pelo menos levava algumas horas para ter o vislumbre da primeira casa depois de passar pelos portões.

E era lá, abaixo da ponte de madeira velha que Jason ficava grande parte de seus dias, esperando, aguardando, ansiando que algum viajante parasse seu cavalo cansado para que o animal se refrescasse na correnteza leve do rio e talvez pegar uma maçã da enorme macieira que oferecia uma boa sombra.

Enfeite para aqueles que chegavam, assombração para aqueles que iam.

Essa era a descrição do lugar em si.

Jason já se dera bem inúmeras vezes ali, roubara de vários que caiam na doce e atrativa armadilha e em dias de sorte o rapaz não precisava compartilhar de seu ganho com nenhum outro rato.

Ratos, pessoas que viviam daquele jeito eram chamadas de ratos pelos nobres.

Sobrevivendo de migalhas.

Sim, ele era um rato.

De qualquer jeito, havia dias bons, havia dias ruins e havia aquele dia. Aquele dia estranho.

Jason estava relaxando perto do morrinho das margens, esperando como sempre, até que alguém apareceu.

Não era um viajante, pelo menos não parecia, não se importou com a macieira, apenas deixou o cavalo beber água, nem sequer desmontou para tal.

Bem, Jason já tivera de roubar naquela situação então sem importunos saiu de onde estava e fora até lá, andando calmamente, procurando qualquer vestígio de onde o rapaz deixaria algo de valor além das roupas que por sinal eram caras.

Mas assim que se aproximou o cavalo relinchou, com um susto o jovem bateu as botas na lateral do animal que se virou, apenas por alguns segundos Jason pode ver os olhos do alvo, olhos azul meia-noite.

Então o equino correu em disparada para dentro dos portões.

O dia não estava perdido, haveria outros viajantes. Mas aquele ficou na mente do jovem infortúnio.

Encontrou o mesmo rapaz vários dias depois, o jovem com roupas caras caminhava entre o vilarejo, não andava do jeito esnobe que todos os outros nobres tinham, mas ainda sim causava raiva naqueles ratos.

Jason o viu se aproximar de um beco, e claro que teria aquilo que não pode pegar da outra vez, não perdeu tempo.

A vida ali não podia dar tempo.

Mas assim que chegou ao beco viu que já havia outro rato, querendo qualquer migalha que pudesse ser entregada.

Mas ele carregava um pedaço de vidro.

Geralmente, isso não seria da conta de Jason, nunca era, afinal o outro jovem estava ali porque queria, todos sabiam que nobres não caminhavam entre os esquecidos e abandonados por deus.

Outra denominação dada aqueles do vilarejo.

De qualquer jeito, geralmente ele não teria feito o que fez. Mas fez.

Ele gritou, gritou alto para que o jovem possivelmente nobre escutasse, para que o outro rato tivesse medo e para que si mesmo se escutasse.

O jovem se virou, segurou a mão que contornava o pedaço de vidro e a empurrou para a parede mais próxima. O outro ladrão em choque não sentiu o vidro cortar suas mãos pelas laterais, só notou quando o sangue manchou o chão podre. Estava assustado e por isso correu.

Apenas o jovem e Jason ficaram ali.

Ele se aproximou e o rato ficou em alerta.

Possuía cabelos relativamente médios, lisos e negros, a pele beijada pelo sol, formando um contraste único com seus olhos, azul meia-noite.

De repente Jason lembrou onde o havia visto.

Era o garoto adotado por um dos outros nobres.

Desde pequeno estudava em uma escola fora daquele reino podre, mas pelo visto, ele voltava às vezes.

Se apresentou estendendo a mão, seu nome era Richard Grayson, como dissera, mas Jason o poderia chamar de Dick.

Porém Jason não o queria chamar de nada.

Mas Richard saiu de seus lábios quando o rato pediu o que o mesmo fazia ali.

E a resposta o chocara, Dick estava a sua procura.

“ Teus olhos, vi pouco deles, mas o brilho que vi me fez ansiar por te ver."

E aquilo fez com que Jason gargalhasse. Dick possuía brilho nos olhos, Jason não.

Mas nobre pediu qual era a graça.

Ali, naquele momento, o jovem ladrãozinho, rato, como quiser o chamar, sentiu algo.

O nobre retornou a sarjeta várias vezes depois daquele dia, procurando em todas por Jason.

Era raro o encontrar, e quando fazia o rapaz não conversava, nenhum dos dois falava nada, Richard apenas o encarava nos olhos por alguns segundos e se ia.

Em uma dessas visitas, Jason se aborreceu e com toda a falta de educação possível pediu para o nobre o que tanto olhava.

“ O brilho de teus olhos, não são tão reluzentes, mas se eu me mexer, os vejo." Respondeu Richard, e aquilo fez Jason rir.

Não havia brilho, Jason não era bondoso.

Mas Dick era. E era muito bondoso.

Todas as vezes que achava o rapaz o comprava comida.

Uma vez ou outra lhe dava mudas de roupas novas.

Chegou até mesmo a dar dinheiro.

O brilho nos olhos de Dick era imenso, era caloroso.

Jason estava assustado, não conseguia encara as orbes azuis da cor meia-noite.

O brilho era tão intenso que ele podia se ver.

Aquilo o traumatizou tanto que ou se olhar enquanto lavava o rosto no rio, Jason viu.

Um risco reluzente em seus olhos.

Ele gritou.

Ele não era bondoso.

Mas depois de ver o nobre ser bondoso Jason começava a agir um pouco parecido.

Ele não chutava mais as latas de moedinhas que alguns dos mendigos tinha, ou roubava elas.

Também não estava mais conseguindo tirar o pau das mãos das criancinhas.

E mais uma vez estava assustado.

Porque acima de tudo, ele não queria parar.

E o motivo era tão banal.

Richard um dia o viu, deixando que uma criança roubasse seu pedaço minúsculo de pão.

Nesse mesmo dia o nobre o comprou um pão inteiro e o elogiou.

E ali, naquele instante, os olhos azul meia-noite brilharam, de forma tão aconchegante e tão quente que o rato se aproximou sem perceber, procurando abrigo do frio que ele nunca notara, mas sempre esteve presente.

Os olhos do nobre encantavam tanto Jason, aquela cor que sabia que nunca poderia se reproduzida em tais tons tão certeiros, aquele frio ao perceber que o brilho em seus olhos aumentava a cada dia e sua bondade transbordava seu sorriso, tudo aquilo fazia com que o jovem rato ficasse assustado.

E ao mesmo tempo fazia com que seu coração palpitasse.

Ele estava obcecado e de alguma forma queria demonstra a adoração por aqueles olhos tão caridosos.

Queria o presentear com algo da mesma cor, mas era tão difícil achar algo que chegasse a seu tom.

Até que um dia, andando por uma outra parte, não tão nobre mas de certa forma não pobre, achou um canteiro.

Eram tão lindas, se igualavam aqueles olhos bondosos.

Não pensou muito e logo as arrancou, formou um buquê, tirou todos os espinhos e machucou as mãos no processo. Mas logo elas estavam perfeitas.

Flores.

Quando viu Richard novamente não demorou e o entregou o buquê. O nobre ficou tão lisonjeado e repetiu que Jason possuía um brilho no olhar.

Aquilo o deixou triste, e logo um nó em sua garganta se formou. Ele não era bondoso, e a prova era as flores, que havia roubado.

Com aquilo o incomodando como nunca,no outro dia que Dick o encontrou, Jason confessou, as flores eram roubadas.

Mas o nobre apenas gargalhou e lhe beijou a bochecha.

“ És um ladrão de flores e corações."

E mais uma vez o coração de Jason palpitou. Tão forte que ficou com medo que o outro pudesse ver.

Mas tudo que Richard enxergou foi o brilho no olhar do jovem.

“ Eu não sou bom" Disse Jason baixo, um murmúrio quase sem mover os lábios.

“ Podes não ter brilho em teus olhos, mas tens em tua alma. " Richard lhe segurou os ombros. “ Diz que não és bom, mas pode se tornar. Sempre há escolhas.”

E aquilo ficou na cabeça do rato.

Nunca houve nada que o fizesse querer ser melhor, nunca acreditou que pudesse mudar quem era.

Mas agora existia algo que o fez se olhar na vidraçaria quebrada de uma casa caindo aos pedaços, o fez lembrar das flores que começavam a morrer em uma jarra de água tão bem posicionada para o sol, mas que mesmo assim não era o suficiente para deixar as pétalas inteira.
Existia agora os olhos azuis tão brilhantes e quentes, que sempre os enxergaram com paixão e nunca com nojo ou julgamento.

Existia algo agora que o fez proferir para si mesmo:

“ Eu serei bom."

Eu serei um homem melhor hoje.

Fim.

— DoceDellu.

5 de Novembro de 2020 às 00:20 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

DoceDellu Apenas uma tentativa de escritora Jaydick, Timkon, Damijon e Larry shipper ( entre outros)

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