Darya estava sentada na areia da praia. Ela amava aquela sensação. O sol, o céu azul, o mar verde e a calmaria. Ela já tinha viajado por todo o nordeste do Brasil, mas as águas de Porto de Galinhas a faziam se sentir diferente, como se a convidassem para ir até elas.
Desde que Darya se lembra, a sua relação com o mar sempre foi muito forte. O seu próprio nome significa “mar”, embora ela nunca tenha entendido o que fez a sua mãe escolher esse nome. E não poderia perguntar, já que esta morreu após o seu parto.
Assim, pelo menos uma vez ao mês, ia até a praia e imaginava a sua mãe com ela. Era o seu jeito de honrá-la por ter lhe dado a vida. Ao mesmo tempo que sentia o vento em sua pele, a água morna em seus pés e a doce esperança de revê-la.
Ela imaginava o que tinha visto nas fotos que o seu pai guardava. Uma mulher baixa, por volta dos 30 anos, com longos cabelos pretos — que lhe davam um ar majestoso —, olhos verdes e um corpo cheio de curvas.
Já Darya, parecia muito com o seu pai. Tinha a pele negra, os olhos cor de mel e os cabelos envoltos em longos dreads. Era baixa como a mãe e os seus lábios harmoniosos lembravam os dela.
Ela gostava de pensar que a voz de sua mãe era parecida com a de Catherine Willows de CSI Las Vegas. Era o seu seriado preferido e fantasiar que a sua mãe tinha uma voz tão doce e materna trazia um sentimento de paz.
Estava no final da manhã e ela se preparada para ir embora. Não sabia se a grande exposição ao sol a estava fazendo ouvir coisas, mas começou a escutar uma voz lhe chamando. Não parecia a de Catherine Willows, mas conseguia ser ainda mais doce e maternal. Parecia de uma mulher afetuosa, mas ela não a reconhecia.
— Darya, querida, se aproxime.
A garota olhava para os lados na tentativa de identificar a voz, mas sem sucesso. Haviam pessoas no local, mas nenhuma parecia dirigir alguma palavra a ela.
— Não tenha medo, meu amor. Venha até mim.
Ela pensava ser loucura. Ir até aonde? Ela nem conseguia reconhecer a dona da voz, quem dirá segui-la.
— Eu sou sua mãe, Darya. Venha até o mar.
O que? Como assim? Ela não conseguia raciocinar direito. Seu desejo tinha virado realidade após 20 anos de insistência?
Movida pela curiosidade, levantou do chão coberto de areia e se aproximou do mar.
— Isso, minha doce filha, aproxime-se.
A voz ficava cada vez mais audível e a perceber pela expressão das pessoas ao seu redor, ninguém escutava a não ser ela.
— Como que eu chego até aí? — ela perguntou em voz alta.
— Caminhe sobre as águas.
— O que? — gritou.
Os turistas que se encontravam próximos lhe lançaram um olhar interrogativo, mas não obtendo respostas se dispersaram.
— Você tem meu sangue. Você pode.
O que ela estava dizendo? Isso não era humanamente possível.
— Tente. Vamos lá, é só se visualizar fazendo.
Darya mordeu o lábio inferior, intrigada. Então, deu o primeiro passo e visualizou a si mesma sobre as águas. Ela não estava se movendo sozinha, como pensava que aconteceria. Na verdade, os seus pés a obedeciam como um caminhar na terra, mas ao contrário do chão seco, o mar tinha um toque sensível por baixo dos seus pés nus.
— Eu estou conseguindo! — exclamou alegremente.
Ela olhava para trás algumas vezes, mas as pessoas pareciam cegas pelas suas próprias vidas.
— Elas não conseguem lhe ver. Continue andando.
Na medida que a menina ia se distanciando da margem da praia, ia ficando mais próxima do seu destino. O seu coração palpitava como nunca antes, suas mãos suavam de nervoso e ela respirava fundo, tentando se acalmar.
Já longe da margem, Darya se encontrava no meio do oceano, mas agora, com uma figura admirável a sua frente. Ela era exatamente como na foto, porém, seus cabelos longos balançavam com o forte vento. Vestia um manto dourado e uma coroa de ouro que continha desenhos de oito raios e dezenas de estrelas.
— Oi, mãe. — ela disse emocionada.
— Oi, amor. — Anahita, como era chamada, abraçou a sua filha depois de 20 anos de distanciamento.
— Eu senti sua falta. — confessou.
— Você não faz ideia do quanto eu também senti. — Anahita acariciou os cabelos da filha.
As duas não queriam se desvencilhar, mas havia pouco tempo.
— O que está acontecendo? E-e-eu andei sobre as águas! Eu conheci minha mãe! — Ela passou as mãos pelo rosto nervosamente. — Como?
Anahita tocou nos braços da filha, passando tranquilidade. — Meu nome significa “senhora das águas”, eu sou uma Deusa da Antiga Pérsia. E embora estejamos no Brasil, o meu poder excede territórios.
— Se é assim porque nunca usou o seu poder para ficar comigo? — choramingou.
Com um olhar entristecido, respondeu:
— Eu não pude. Ser uma Deusa requer sacrifícios. Se estou na forma humana, sou inteiramente vulnerável, sem poderes. Sei da existência deles, mas não posso usá-los. E foi assim que morri. Mas quando assumo meu lugar de origem, tenho todos os poderes, mas não posso visitar a terra e nem ter contato com os humanos...e nem com você. Apenas hoje que eu pude revê-la porque o seu poder cresceu, destravando antigas barreiras.
— Meu poder?
— Você é uma semideusa. O que quer dizer que o meu poder corre em suas veias. Mas só você pode decidir o que fará com ele. Use-o sabiamente, minha criança.
— Eu irei...
Mãe e filha se abraçaram uma última vez. Darya fechou os olhos afundada naquelas sensações. E quando os abriu, estava de volta a areia.
Mas algo tinha mudado. Ela sentia. E dali em diante, sua vida nunca mais seria a mesma.
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