moonna Lua Baldonado

Lisa se vê perdida com determinados acontecimentos que mudarão a trajetória de sua vida, ao ser submetida a ir de encontro com uma realidade que jamais imaginaria.


Drama Para maiores de 18 apenas.

#teen #adolescente #ficção #fiction #drama #gatilho
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Inacabado

Me sentia sozinha e o nó em minha garganta se tornava mais firme, a angústia aumentava conforme os dias. Entretanto, uma vez ou outra, eu era recepcionada pelo desespero e a ansiedade. Meu corpo tremia e eu sentia frio, minhas mãos suavam e meu estômago estava tão comprometido que eu sentia a azia subir até a garganta. O coração acelerado com suas batidas rápidas se tornaram audíveis; a dor assolava o meu peito mais uma vez. "Eu já passei por isso antes, só preciso respirar com calma", pensei comigo mesma, porém, a dor continuava ali. Latejante e incômoda. Meus pensamentos eram rápidos e revisitavam cada momento dilacerante da última semana.

"Eu só quero paz…" implorei e chorei, apertei a mão esquerda contra o peito com o intuito de cessar todo o meu sofrimento. Eu sempre imaginei que chegaria um dia onde meu coração simplesmente não aguentaria mais e eu morreria. Fácil, não? Mas ninguém morre de ansiedade e eu realmente lamentava por isso.

Meu quarto estava escuro e eu me encontrava mais uma vez deitada em minha cama. Não senti fome durante o dia e, ao tentar comer algo, meu estômago se rebelou e fui obrigada a vomitar o que conseguira ingerir. Me olhei no espelho e não me reconheci, meus cabelos estavam desgrenhados e secos, enormes olheiras contornavam os meus olhos e minha pele estava oleosa e sem vida. Lavei as mãos e a boca e voltei para o quarto, onde me encontrava desde então.

Me virei para o outro lado e encarei minha estante de livros, corri os olhos por alguns títulos que eu não tinha a esperança de ler um dia. Respirei fundo para aliviar o incômodo crescente em meu peito, eu sempre tinha a impressão de que sufocaria. Tornei a olhá-los e eles pareciam me encarar de volta, como se estivessem se queixando pelas histórias que guardavam e que não tiveram a oportunidade de serem lidas por mim.

— Eu sinto muito — disse e me encolhi nas cobertas. —Mas eu não tenho mais forças para nada.

Olhei na direção da janela e enxuguei os olhos com o dorso da mão, desejei que estivesse aberta para que eu pudesse admirar a lua. Porém, o meu corpo não desejava se levantar somente para realizar aquela ação. Bufei e desejei somente me ver livre daquela situação e, imediatamente, os meus pensamentos se voltaram para ele. Ele. Meus olhos lacrimejaram e eu tornei a chorar silenciosamente, eu não aguentava mais sentir tanta saudade.

Meus olhos estavam inchados e eu sentia a minha boca seca, vários minutos se passaram e o choro não cessou. Senti vontade de gritar e a raiva queimou o meu peito. "Eu espero que ele se foda de todas as formas possíveis", pensei. A fúria no meu peito era tanta que me levantei, acendi as luzes e finalmente abri a janela. Pelo menos algo me acalmaria naquela situação.

Sentei em minha cama e o céu estava cinza, a lua estava encoberta pelas nuvens e somente consegui visualizar a sua vasta claridade. Ouvi o farfalhar das árvores e a paz momentânea percorreu o meu corpo. Sorri e fechei os olhos, desejei estar na praia na companhia de amigos, mas eu decidi me isolar de todos por um tempo para lidar com a minha dor sozinha.

Comecei a me sentir sonolenta e decidi levantar, apaguei as luzes e me deitei. Ao me cobrir e fechar os olhos, desejei mais uma vez não acordar. Eu não suportava mais ser bombardeada todos os dias pelos mesmos pensamentos ruins, pelas mesmas memórias dolorosas. Me sentia exausta e logo adormeci.

22 de Outubro de 2020 às 21:04 1 Denunciar Insira 1
Fim

Conheça o autor

Lua Baldonado Sou a Lua e sou estudante de Letras pela UNIFESP. Sou escritora, canto, toco e amo artes no geral. Espero que aprecie o que escrevo.

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Gabriel Amaro Gabriel Amaro
Oi, Luana! Como você já sabe, tô participando da Copa dos Autores e decidi que revisaria sua história como parte de um desafio. Vou começar elogiando sua escolha de nome para a história, acho que dá uma sensação de pureza e leveza que tornam a atmosfera um pouco mais especial. Sobre o texto em si, posso dizer com certeza que é um dos relatos mais fiéis que eu já li sobre uma crise de ansiedade. Sua descrição de como alguém com transtornos mentais age, pensa e se sente é muito crua e honesta; a dor e o desespero se tornam extremamente palpáveis. Além disso, o modo como você conduz a cena também contribui pra sensação de asfixiamento que deixa de ser exclusivo da personagem e passa a nos acometer também. Apesar do texto ser propositalmente pesado e duro, valorizo muito a importância de abordar temas assim com uma postura tão franca quanto a sua. A glamourização dos transtornos mentais na mídia acabou influenciando a arte em certos níveis, mas esse não é um problema na sua história, pelo contrário: a tortura imposta pelo transtorno é retratada como um problema, como um mal que aflige a protagonista e que com certeza será um mecanismo importante em seu desenvolvimento como personagem. Em relação ao que pode ser melhorado, sugiro que se mantenha atenta ao espaçamento, principalmente nos travessões, mas reconheço que esse é um problema comum dependendo de qual ferramenta você usa para escrever. Espero acompanhar de perto o desenrolar da sua história, parabéns pelo trabalho!
October 25, 2020, 11:36
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