kszoliver KSZ Oliver

“Sonhos são a realização dos desejos.” (Sigmund Freud ) Paradoxos, um complexo e instigante tema que sempre despertou nossa curiosidade e promete dar nó no nosso cérebro... SINOPSE: Acompanhe a frenética e tensa trajetória de Denny, e seu Alter ego, um jovem que trabalha para a polícia de Murity, uma pequena cidade do Recôncavo baiano, e que se descobre apaixonado e tendo estranhos sonhos eróticos com uma bela estudante e violoncelista, Emmanuelle Machado — paradoxalmente sequestrada e morta 20 anos atrás por um serial killer. S.Z OLIVER TENHA UMA BOA LEITURA!


Romance Suspense romântico Para maiores de 18 apenas. © Copyright © 2020 K.S.Z Oliver All Rights Reserved

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Déjà Vu

A madeira em brasa crepitava enquanto o fogo iluminava aquela sombria e gélida noite no Recôncavo. Ele se encontrava sentado, recostado no tronco de uma árvore. Atrás dele, enormes chamas do que parecia ser um incêndio. Uma bela garota de cabelos longos e vestido preto estava com a parte superior do corpo em seu colo. O calor aquecia o ambiente e à ele. A moça não apresentava qualquer reação.

Havia bastante fumaça no ar. Mas seus olhos lacrimejavam pela dor da perda. O rapaz segurava seu corpo pequeno e frio com um braço, enquanto olhava para o que parecia ser um celular no chão, ao lado: o aparelho tinha um vídeo pausado no display. Seu nariz coçava e sentia uma grande vontade de espirrar devido a rinite. Todavia, ignorava.

Enquanto acariciava o cabelo dela, admirava sua pequena e linda face. Em seu coração, experimentava um misto de revolta e culpa. Lembrava-se do sorriso que ele conhecia e amava naquele rosto — no momento sem vida. Mesmo sabendo o que devia ser feito, ainda relutava. Porém, concluiu que não tinha escolha. Tomou uma decisão: num ímpeto, pegou o dispositivo e deu play na gravação em pausa, pressionando prolongadamente um dos botões do aparelho em seguida...


((((((((((((( • )))))))))))))


O celular vibrou intensamente em sua mão...

— Ugh! — Denison “despertou” num sobressalto, soltando o aparelho que segurava. — Uou, uou, uou!... — exclamou, pegando rapidamente o smartphone, que só não foi ao chão com ímpeto porque, antes de cair, num ato de reflexo tinha fechado as pernas fazendo-o parar em seu colo. — Cacetada!... Quase!...

Pegando o celular de volta, verificou que não houve nele nenhum dano. Notou que o aparelho apenas tinha apagado, sem energia. — Caramba!... Eu cochilei, foi?!... — se perguntou meio desnorteado, sem saber ao certo o que houve com sua pessoa. — Caracas!... Que sonho esquisito!...

Após o susto com a vibração inesperada, notou um detalhe intrigante: tudo estava absurdamente silencioso — quase como um vácuo. "Mas não era um vácuo: ele respirava!”, percebeu.

Não que aquele estado de calmaria fosse exatamente uma novidade ali. Ele estava no subsolo do prédio, e lá o ambiente era tranquilo por natureza. Entretanto, presumiu que havia algo mais do que simplesmente tranquilidade. Aquilo parecia ir além de um simples silêncio: “O ambiente demonstrava estar 'parado' — ou 'paralisado'...”, ele observou.

Imediatamente, também sentiu algum tipo de ‘zumbido oco’ no ar... A sensação lembrava quando se põe uma concha no ouvido, ou se estava debaixo d'água. Pensou que se tratasse apenas daquelas situações onde é necessário bocejar para equilibrar a pressão nos ouvidos.


— Eu não tô ficando meio surdo não, né?... — se perguntou preocupado, coçando a orelha com o dedo mínimo, mas logo se dando conta que escutava sua própria voz. Após ficar um pouco mais aliviado por não estar surdo, não seria somente a falta de som no local que chamaria sua atenção...

Levantando-se, ficou impressionado com mais alguns detalhes que presenciou: O ventilador de teto e o circulador de ar na parede pareciam ter emperrado de repente. E achava que as luzes das lâmpadas estavam meio 'fracas'. “Talvez, tenha sido algum tipo de queda de energia...”, supôs. Não soube se era apenas na sua cabeça, mas também notava um certo cheiro de fumaça no ar. Por conta daquilo, tinha vontade de espirrar. Cheirando suas roupas, todavia não notou odor algum. Achou que estava apenas em sua mente, mesmo.

Por fim, acreditou que tudo aquilo se tratava de efeitos do sono e cansaço que percebia experimentar naquela noite.


Seus olhos estavam meio turvos e lacrimejantes. Ao esfregá-los...

— Oh, merda!... — reagiu, ao sentir que uma das lentes saiu dos olhos. Ainda não estava totalmente habituado ao uso contínuo delas. As vezes, esquecia que usava. Enquanto tentava pôr a lente de volta, planejava subir até o térreo por um instante para aliviar aquela coceira no nariz e enorme vontade quase compulsiva de espirrar.

Naquele momento, mesmo com um dos olhos embaçados, lhe pareceu estar diante de algum tipo de película transparente à sua frente. Olhando para cima, viu que ela se estendia sobre e em volta dele, como uma espécie de "bolha azulada” — ou era uma cúpula translúcida com ele dentro. Ao colocar a lente de contato de volta, pretendia checar se aquilo era real ou efeito da sua visão míope embaçada. Porém, após as lentes não mais a percebeu ali: "Notou apenas uma leve brisa ou deslocamento de ar o atingindo..."

Naquela hora, sentiu também a claridade do ambiente chegar aos seus olhos. Foi como se, de uma hora para outra, as lâmpadas tivessem voltado a irradiar toda sua luz, como se antes estivesse ‘presa’ — como prende a gravidade do Sol sua energia, no primeiro momento em que a produz. Também notou ruídos de hélices girando: foram os ventiladores que voltaram a funcionar.

Entretanto, não foi apenas aquele barulho que escutou...


Mmm Mmm Mmm Mmm... ( som musical vocal)


— Ai, cacilda!... — quer me matar do coração, é?!... — reclamou, pondo a mão no peito e se segurando num dos armários. — Não tem nenhum fantasma aqui não, né?!... — brincou ele com o ocorrido para aliviar a tensão do susto. Ele ficou surpreso ao ouvir de repente, vindo do computador em sua mesa, parte da música "Mmm Mmm Mmm Mmm" de Crash Test Dummies. Com o coração batendo forte de surpresa, ele escutou o restante daquela que era uma de suas músicas favoritas dos anos 90...


"Cause then there was this boy

Parents made him

Came directly home right after school

And when went to their church..."


— Esquisito... — disse, analisando o que havia acontecido lá.

Depois de desligar a música, Denny ficou intrigado que, ao ouvir essa melodia, por instante ele teve a leve impressão de já ter vivido aquilo antes... Para ele, exceto por esses fenômenos estranhos, tudo parecia recordar semanas ou dias atrás: "Então, por que estava ali, fazendo as mesmas tarefas naquela noite, novamente?", se perguntou.

Olhando para o calendário, viu que estava marcando 13 de julho de 2019...

— 13 de julho?!! Não!... Jura?!... — ficou intrigado e confuso, ainda tentando se situar, como se tivesse despertado em estado de confusão.

Em vista dessa incerteza sobre a noção exata de tempo e lugar, ele "escutou":

— “Você sabe que isso é ridículo, certo? Duvidando da própria realidade que está vendo?... Se você não percebeu, está quase dormindo em pé naquele lugar, de tão cansado..." — o lembrou seu Alter ego.

— Hummm...! Acho que tem razão. — disse ele, concordando, reconhecendo seu estado físico naquela hora. — Isso tudo não passa de efeitos do sono. “Por quanto tempo eu cochilei mesmo, hein?!... Parece que por semanas!...”, pensou Denny, mais uma vez tendo a impressão de haver uma espécie de lapso de tempo em sua memória.

Após reconhecer que, estranhamente, seu estado físico não estava dos melhores, ele já procurava encerrar suas horas extras naquele fim de semana....

Apesar de ter ficado muito intrigado com todos aqueles acontecimentos, como não soube explicá-los, “deixou pra lá": "Estava estranhamente mui desanimado para lidar com aquilo tudo naquela noite… — argumentou. — Além do mais: quem garantiria que foram reais tudo que ele achou ter visto? Afinal, estava arriado de sono e cansaço!”, justificou ele os esquisitos e supostos acontecimentos naquele lugar.  



DANNY


Denison Assunção, ou Denny, como o chamavam, tinha 29 anos e trabalhava no Departamento de polícia do Recôncavo, sediada em Murity, uma cidade do litoral baiano, também conhecida como a terra do poeta negreiro, Castro Alves.

Com cerca de 40 mil habitantes, distava 120 km da capital, Salvador, e se encontrava uns meio km acima do nível do mar. Portanto, era uma cidadezinha do interior bastante fria no inverno.

Denny era um jovem de estatura média, fisionomia normal e pardo. Possuía olhos apertados e cabelos castanhos escuros — características que lhe renderam o apelido de "chinês", no ensino médio. Mas esses detalhes físicos estavam mais relacionados à miopia e suas características levemente indígena, herdadas de sua mãe.

Ele atuava na parte administrativa da delegacia do município, órgão que funcionava numa espécie de complexo de serviços públicos no centro. O local tratava-se de um conjunto de prédios erguido entorno da antiga delegacia, onde havia se reunido os principais serviços públicos, como o Fórum, o cartório e as secretarias da prefeitura — além do próprio DP.


Ainda no DP...

Olhando no relógio do PC, Denison viu que já passavam das 9:20 da noite. O expediente do seu turno normal já tinha se encerrado desde às 5:00 da tarde. Entretanto, ele havia estendido suas atividades noite adentro.

Ele digitalizava documentos e arquivos antigos do município como parte de um programa nacional para criação de um banco de dados central digital. Como o projeto estava com o cronograma de trabalho atrasado, o Governo Federal pagava adicional para quem produzisse mais. Por conta daquilo, naquela noite, decidiu que faria horas extras para aumentar seus rendimentos mensais: “E também para dar uma acelerada no volume de serviço”, admitiu. No entanto, às vezes se empolgava e exagerava na carga horária.


Quase 21:30

Denny havia determinado trabalhar até às 22:00. Todavia, após aquele ocorrido envolvendo o susto com o aparelho vibrando em suas mãos, as coisas que teve a impressão de ter visto naquela sala e, principalmente, em função do estranho cansaço, resolveu antecipar sua saída: “Aquilo tudo tinha sido um claro aviso do seu estado de desgaste físico e mental,” suspeitou.

Enquanto se dirigia para pegar o veículo no pátio do DP, Denison notou que estava mais do que, simplesmente, física e mentalmente exausto...

“Não sabia onde havia gasto tanta energia naquele dia”, se surpreendeu. “Parecia ter vindo de uma guerra — ou que tivesse levado uma surra”, pensou, massageando os músculos dos ombros, doloridos. Seus braços também doíam, e sua rinite foi desencadeada de um jeito que só era comum na presença de fumaça, fazendo seu nariz coçar e desencadear coriza. Só que não havia fumaça no local.

— “Ou talvez, quem sabe, só tivesse apenas com a imunidade baixa...” — também considerou seu Alter ego.

— Bem, então acho que tô precisando comprar um suplemento vitamínico!... — decidiu ele se auto medicar, como fazia sempre.

Ele percebeu que o estado de estafa do seu corpo lembrava muito aquele em que ficava quando executava algum tipo de trabalho pesado e prolongado: "Se fosse dar um diagnóstico do próprio quadro clínico, diria que esteve sob uma grande pressão psicológica e esforço físico durante todo aquele dia. — reparou. — O que era estranho, pois só foi trabalhar a partir de meados daquela tarde de Sábado", se recordou.  



21:37 da noite



PRESSÃO INCONSCIENTE?


Denison estava à caminho de casa. Escutava e tentava acompanhar, com seu inglês picotado, uma das canções da sua playlist em seu pendrive, Under Pressure, do Queen...


"Um boom ba bay Ba ba boom ba be be

Um boom ba be Pressure!

Pushing down on me

Pressing down on you

No man asked for Under pressure…”


De repente, mudando de assunto na sua mente, lembrou-se do que supostamente sonhara durante o cochilo no DP — e do estranho episódio com a vibração inesperada do telefone celular...

“Que sonho estranho... — ele admitiu, lembrando de quem era o rosto da garota em seu colo, naquele sonho. — Provavelmente deveria estar olhando muito as fotos dela nesses arquivos... ”, reconheceu enquanto mantinha os olhos cansados na pista.

Enquanto dirigia, lembrou-se de quando o dispositivo vibrou em sua mão sem que ele tivesse pressionado algum botão ou recebido uma ligação. Denny até pensou que havia sofrido um choque naquele momento...

"Mas ele não se lembrava de ter dormido com o aparelho nas mãos... — pensou. — Além disso, o smartphone não estava no carregador: então também não poderia ter sido um choque elétrico” — reconsiderou. — Tudo o que lembrava, antes de supostamente cochilar na cadeira, foi que ele tinha pego telefone e gravado um vídeo quando ligou a câmera frontal por engano...”

“Interessante!... — pensou depois de ter se lembrado do episódio onde tinha gravado uma espécie de auto-vídeo sem querer. — Mas nada daquilo parecia uma lembrança tão recente. Era como se ele tivesse vivido há semanas, não naquela noite!...", teve ele aquela peculiar impressão.

Denison então concluiu que aquilo seria o que a ciência chama de 'Déjà vu'. No entanto, ele veria que este, "Déjà vu", não se restringia apenas aos eventos no porão daquela delegacia...


Por volta das 21:40...

Enquanto ainda dirigia pela cidade, voltou a experimentar o mesmo sentimento do porão...

Daquela vez, a leve sensação de já ter passado por aqueles locais, antes. Não apenas de haver simplesmente passado por aqueles lugares: “Mas de também já ter vivenciado e, inclusive, pensado sobre o fato de achar já ter vivido tudo aquilo anteriormente”, estranhamente percebeu.

— O que é isso? Algum tipo de “Déjà vu de Déjà vus”?!... — se perguntou brincando, porém um tanto quanto impressionado. Lembrou-se também que, no subsolo do Departamento, a impressão que teve ao despertar foi a de que esteve — ou estava — em algum outro lugar, segundos antes de acordar ali.

Porém, além de pensar que esses episódios pareciam estar se repetindo com ele, Denny perceberia que essas estranhas "percepções" de eventos duplos não seriam as últimas — ou as únicas.


Ao parar o veículo num semáforo, em frente a uma escola Batista, olhava as pessoas passarem ordenadamente pela faixa de pedestres... De repente, como se soubesse o que ocorreria em seguida, ele previu — ou se “lembrou” que: “Uma mulher tropeçaria nos próprios calçados e outra voltaria apressadamente para pegar um dos seus cães pinscher que tinha ficado para trás...”. E assim estranhamente ocorreu.

— Hã??!!... Mas o qu’é que é...?!... — se surpreendeu ele, olhando pra trás e pros lados, achando tudo aquilo extremamente inusitado.

Ainda sob o som de "Under Pressure" e debruçado sobre o volante, estava empolgado com aquelas supostas previsões. Então, começou a tentar prever outras possíveis ações e reações daqueles transeuntes. Contudo, sem muito sucesso daquela vez.

Denny já tinha lido, ou melhor, assistido sobre os Déjà vus no YouTube. Sabia que, segundo as explicações científicas sobre o tema: “Se tratavam de uma espécie de atraso na transmissão de imagens, em tempo real, de um lado do cérebro para o outro. E esse ‘delay' de comunicação entre os hemisférios cerebrais, geravam nas sinapses a impressão de que aquelas imagens, ou cenas, eram lembranças do passado...”

Portanto, constatou que tudo aquilo que achou ter previsto minutos antes não passou mesmo de um simples episódio de Déjà vu, pura dedução lógica, coincidência ou probabilidade matemática, mesmo.

— “É isso, ou você simplesmente está ficando maluco, imaginando coisas...” — ele escutou, vindo da projeção mental de si mesmo, com quem frequentemente conversava.

— Mais maluco que conversar com uma versão virtual de mim mesmo?... — retrucou Denny, irônico, enquanto voltava a dirigir ao som de Queen.



Próximo das 21:50, Sábado a noite



O "VAZIO”


Denny morava no subúrbio de Murity, no final de uma avenida que praticamente cortava a cidade. Sua casa era no 3º andar de um conjunto de 3 imóveis que pertenciam à sua família, e cujos aluguéis dos outros 2 ajudavam a manter sua mãe e irmã, em Salvador.

Chegando em casa, ele brincou ao entrar.


— Querida, cheguei! Mas é: eu moro sozinho... — ele lembrou. — Sem ofensa, hein Pantera. Você não era exatamente o ideal de companhia feminina que eu tinha em mente pra passar o resto da vida... — Denny disse a um animal de estimação que foi ao seu encontro, miando demorada e insistentemente.

O pet tratava-se de uma gata negra de quase 9 anos que sua mãe e irmã deixaram com ele depois de se mudarem para a cidade de Salvador. Foi doado à família junto com um irmão idêntico a ela, cujo nome também era Pantera — "Pantera 1". No entanto, ele morreu meses depois, envenenado: "Provavelmente por alguém da vizinhança que odiava gatos pretos", Denny suspeitou na época. Ele também sabia que havia muitos supersticiosos na região que demonizavam esses animais ou os usavam em rituais religiosos.


O gatinho esfregava-se nas suas pernas, aparentemente querendo algo dele...

— Eu já sei o porque todo desse chamego comigo. Você não me engana. Quer ração, né? A semelhança entre você e algumas mulheres, é que vocês só se aproximam de nós, homens, por algum interesse... — conversava Denny com a gatinha enquanto colocava comida num pratinho. — Não exatamente de mim, claro... Caras com dinheiro...", ele acrescentou.

Enquanto fazia aquilo, surpreendentemente lhe sobreveio uma atípica sensação...

De repente, Denny havia experimentado um estranho sentimento de vazio... Não apenas de um vazio no ambiente: “Foi como se, de fato, daquela vez faltasse alguma coisa — ou alguém naquele lugar”, procurou ele explicar pra si.

Igualmente, de uma maneira incomum, Denny também sentia-se exausto. Depois de alimentar seu gato, ele foi para o quarto. Lá, novamente experimentou o mesmo sentimento misterioso de vazio ou perda: "Parecia estar faltando um pedaço de sua vida”. Não simplesmente, 'alguma coisa'... Mas parecia um vazio específico. Ele notou a falta de 'uma pessoa', alguém em particular.

Denny estranhou tudo aquilo. Não sabia explicar. Mais uma vez, ele pôs tudo na conta do stress e cansaço que inexplicavelmente sentia.

— “Ou então, talvez, seja a chamada, ‘crise dos 3.0’. Algo que tinha chegado um pouco mais cedo para você”, brincou seu Alter ego, sugerindo aquilo ser apenas uma mera crise existencial, e algo pelo qual todo solitário e solteirão na casa dos ‘30’ passaria, eventualmente.

Pegando um mini controle em cima da mesinha de centro, Denny ligou um som da sala.


“So many lovers, to many nights

Face in the mirror that keeps you alive

Like a fool, I was waiting

Like a fool, for you to come back

Fool, I was standing alone in the rain

Like a fool, I was dreaming...”


Aquela música sempre o lembrava do quanto havia sido um tolo no passado.


Era cerca de 23:00


A PASTA


Após um banho e comer a única coisa que sabia preparar, macarrão instantâneo no micro-ondas, procurou por seu velho celular e o pôs pra recarregar. Depois de algum tempo no carregador, notou que o aparelho estava anormalmente quente. Mesmo assim, conseguiu ligá-lo. Olhando as horas, viu que já eram quase 11:00 horas da noite.

O velho dispositivo parecia engasgar e travar bastante no processamento dos comandos de tela. E o touch screen as vezes ficava demasiadamente resistivo. Ele presumiu que aquele fato se dava por ser um aparelho relativamente antigo e possuir pouca memória RAM. Por conta daquilo, cansou de esperar o App do WhatsApp, abrir. Já estressado, jogou o celular no criado mudo...

— Banana de celular!... — exclamou, sentindo os olhos já cansados.

Sabia que, se não dormisse logo, amanheceria com os olhos roxos e semblante cansado: “Teria um dia horrível se acordasse indisposto. Como se a própria segunda-feira já não fosse o ‘dia internacional da preguiça’!...”, ele brincou. No entanto, imediatamente se deu conta de algo:

— Ah, é: amanhã é domingo... — se lembrou aliviado, já que tiraria todo o dia para descansar.

Após ter arremessado o smartphone no criado mudo, percebeu que o display estava aceso e uma janela de comandos tinha se aberto na tela. A mensagem perguntava: “Se o usuário desejava reiniciar o sistema”. Denny clicou em “OK” e deixou o dispositivo onde se encontrava. Sabia que, quando reiniciasse, o aparelho provavelmente melhoraria seu funcionamento e desempenho.


Cerca de 23:45 da noite...

Na cabeceira da cama, havia uma pasta contendo cópias de arquivos de um antigo e não solucionado caso policial. O inquérito envolvia um misterioso assassino em série que agiu na região do Recôncavo, cerca de 20 anos antes — e uma jovem vítima, uma estudante local.

Era uma pasta de documentos padrão, amarela — ou era cor de abóbora. Estava um pouco encardida de tanto ser manuseada. Na parte de dentro da capa, na borda superior e presa com um clipe de metal parcialmente enferrujado, havia a fotografia de uma bela e sorridente jovem. A etiqueta dizia: “Vítima de sequestro seguido de assassinato — 1999...”. Começou a folheá-la mais uma vez...

Enquanto aquilo, sem que ele prestasse atenção, o display do aparelho ainda aceso indicava que seguia em processo contínuo de reinicialização. Parecia se encontrar num estado conhecido como ‘Loop infinito do Sistema'.

Depois de algum tempo, ao se dá conta daquela situação, pegou o smartphone. Lembrou-se que aquele celular vinha apresentando mau funcionamento desde que tentou fazer 'Root' no seu novo Sistema Operacional. Também notou que o aparelho ainda estava bastante quente. Presumiu que se devia ao fato dele está conectado à tomada, carregando: “Segunda, o levaria como sem falta pro Minhoca dar uma olhada”, planejou.

Denison ainda tentou prosseguir analisando os documentos. Não conseguiu de tão exausto. Cochilava e despertava com a pasta nas mãos. Depois de alguns minutos, ele viu que o aparelho finalmente tinha reiniciado. Naquela hora, também percebeu sua gata subir na cama, por cima do lençol e se aninhar aos seus pés, prendendo a ponta do cobertor. Meio sonolento, ainda notou uma ‘Logo' desconhecida “piscando” na tela inicial do smartphone antes do sistema abrir completamente. Seus olhos estavam carregados de sono, mas conseguiu vê-la bem antes de sumir. Reparou que era uma imagem formada por cinco letras em caixa alta e em 3D, separadas por pontos.


— “VIBER?!”... — estranhou Denison.

— “Ou será que se pronunciava ‘Vaiber'?...” — sugeriu sua Contraparte mental, antes dele apagar completamente no sono.

Denny não estava mais consciente. Por essa razão, não presenciou quando algo, como ondas de choque, se expandiu além daquele quarto — como numa explosão silenciosa tendo o aparelho como epicentro. Ao se propagar, aquelas emanações não sônicas acabaram assustando a gata que pulou da cama, mas misteriosamente não caiu no chão, nem em canto algum dali. Logo após aquele rápido fenômeno, todo o tecido da realidade ondulava como perturbações provocadas numa superfície dum rio, até se estabilizar e retornar ao normal.

Contudo, Denison prosseguia dormindo profundamente como “uma pedra...

4 de Outubro de 2020 às 19:44 0 Denunciar Insira Seguir história
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