dcsales Danieli Cavalcanti

Algumas memórias é melhor que sejam esquecidas, mas talvez precisemos delas para conseguir seguir em frente.


Conto Impróprio para crianças menores de 13 anos.

#surreal #terrorpsicologico #intrigante #378 #busca #mistério #terror #medo #ummundoparalelo #jornada #monstro #suspense #segredo #família #amizade #drama #pesadelo #macabro
4
9.3mil VISUALIZAÇÕES
Completa
tempo de leitura
AA Compartilhar

Parte I

O mundo é um lugar pequeno. Ao menos o meu mundo. Passei metade da minha vida trancada dentro de um quarto sem janelas ou esperanças e a outra metade não tinha qualquer lembrança de como era o mundo lá fora.

Tudo o que sabia era que o mundo lá fora foi devastado por um vírus que devastou metade da humanidade, e quando sofreu a mutação, a outra metade também se foi. Essa mutação afetava principalmente as crianças que precisavam ficar trancadas dentro de suas casas sem acesso a janelas, pois a luz do sol se tornou fatal. O tempo se passou e já não era mais apenas uma criança. Eu não sabia quanto tempo havia se passado, mas o meu corpo infantil agora tinha traços da puberdade, ainda que a falta do sol não me fez desenvolver como deveria.

Sem saber se era dia ou noite, abri meus olhos cinzentos em meu quarto quase infantil, eu sabia que havia algo diferente. Eu ouvia um som distante, uma memória afetiva de tempos que eu não me lembrava mais. A porta estava aberta, e não trancada como todos os dias, por isso passei por ela.

Na sala: livros, um porta-retrato vazio com o vidro quebrado no chão onde jazia memórias esquecidas de um tempo em que eram felizes, mas a música não vinha dali.

No quarto daqueles que pareciam ser meus pais, no canto entre duas paredes uma cadeira auxiliou que ele usasse a corda no pescoço. Em cima da cadeira de madeira, um bilhete onde ele devia contar sua história, sua justificativa e seu remorso, mas eu não sabia ler.

O vento vindo de lugar nenhum, talvez da minha imaginação ou da minha loucura levou a carta sem que eu me importasse.

A penteadeira abrigava a antiga caixinha de música de onde vinha o som da minha infância, ao me aproximar dela encontrei uma chave.

Encontrar a porta que aquela chave abrisse, talvez preenchesse os buracos em minha memória, muito mais do que as palavras de uma carta suicida.

Eu me voltei para a cozinha e vi uma porta que não levava a lugar algum, pois ao forçar a fechadura com a chave, a porta não se abriu.

A caixa de música voltou a tocar, dessa vez acompanhada por doce voz que cantava a canção da caixinha de música.

Uma vez
Outra vez
Cada vez

Era uma vez
Era outra vez
Era cada vez

Uma vez
Outra vez
Cada vez

Uma nova vez.
Chegou sua vez...

Eu conheci aquela voz. Uma mulher de pernas cumpridas, meias coloridas, de rosto maquiado de bochechas vermelhas estava sentada na cadeira de balanço e cantando a triste canção.

Carmem Julia.

A princípio, eu me assustei com a figura, mas olhei bem em seu rosto e senti certa familiaridade. Sua aparência era exatamente como da boneca que meus pais me deram com um significado especial. Eu não tinha lembrança de como eles eram, mas me lembro das palavras de minha mãe:

— Um presente para passar por tempos difíceis, Aurora.

Em minhas lembranças, meus pais me chamavam de Aurora, então conclui que esse fosse meu nome. A boneca seria a minha melhor amiga, mas minha irmã achou que eu não tinha mais idade para brincar e levou a Carmen Julia. Incapaz de esquecer a lembrança da minha única amiga se personificou.

Carmem Julia continuou cantando até que eu me aproximasse novamente da caixa de música. Ela sorriu quase fechando seus olhos grandes e me disse com um sorriso nos lábios.

— Olá Aurora!

— Maria me disse que você não existe. É apenas uma amiga imaginária. Vá embora! Antes que eles me prendam novamente.

— Tempos difíceis se aproximam, Aurora. — Eu conhecia essa frase. — Tudo o que você sabe é mentira.

A caixinha de música que ainda tocava, parou. Me aproximei novamente da penteadeira.

— Se você escolher apertar o botão vermelho, encontrará a porta que essa chave abre e se lembrará de quem é.

— Não vejo nenhum botão vermelho.

— Olhe com atenção.

Afastei a caixa de música e um botão vermelho surgiu.

— Chegou a hora de você descobrir a verdade e sei que não será fácil seguir esses passos sozinha.

As cartas de despedida não necessariamente dizem a verdade.

Ainda assim, apertei o botão vermelho, a cômoda se moveu rangendo como se fosse uma porta. Uma escada surgiu e um caminho a percorrer.

1 de Outubro de 2022 às 18:03 0 Denunciar Insira Seguir história
1
Leia o próximo capítulo Parte II

Comente algo

Publique!
Nenhum comentário ainda. Seja o primeiro a dizer alguma coisa!
~

Você está gostando da leitura?

Ei! Ainda faltam 5 capítulos restantes nesta história.
Para continuar lendo, por favor, faça login ou cadastre-se. É grátis!

Histórias relacionadas