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Para ele, eu era feito uma casa de veraneio. Ele se lembrava de mim em momentos, apenas o servia nos mais quentes.


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Ciclo

Sentada próxima a cama, eu lia um amontoado de palavras pertencentes a livros e cadernos. As tentativas de interpretações terminavam frustradas em todas as vezes, então eu rolava os olhos e centrava-os no início do parágrafo novamente.

O ato era repetido, repetido e repetido de novo, pois as tentativas de concentrar insistiam em ser falhas. Uma, duas vezes e mais algumas outras.

Até que eu tomasse impulso e empurrasse a cadeira de rodinhas para afastar-me de inúmeros papéis e informações que não penetravam o escudo que minha mente havia formado. Dentro de tal barreira protegida encontrava-se apenas três coisas predominantemente: um sentimento de ansiedade, ele e a ausência de suas mensagens.

Via o telemóvel largado sobre lençóis bem arrumados, o qual não vibrava, não tocava, não recebia notícias do meu namorado e não alertava a chegada de qualquer notificação.

Há meses, eu tinha o peito espremido por amargura cristalina.

Desde o início do relacionamento, percebi que meu bem não era muito de dizer um olá em qualquer hora do dia, nem de discar meu número para compartilhar qualquer bobagem ocorrida, muito menos de parar na minha porta para uma visita surpresa.

Entretanto, quando lágrimas. ferventes e audaciosas ousavam percorrer a face dele, sofrido, ele corria para meus braços. Arremessava em mim tudo de difícil pelo que passava. Cobrava-me conforto, dizia o quanto estava carente disto.

Porque seu amor por mim era feito uma casa de veraneio. Ele se lembrava de mim em momentos, apenas o servia nos mais quentes.

Quando batia um forte vento ou quando o ar revelava-se úmido e a (minha) estrutura básica não mais fornecia o necessário, ele passava a fazer pouca questão de se demorar por cá.

Se não mais precisasse de um descanso, nem de um ambiente leve devido ao calor presente, não voltaria a olhar para os olhos de quem o deu conforto necessário.

E assim passava-se uma, duas, três estações.

Até que, na porta do lar do meu bem, batesse o verão. Aí ele correria para a casinha construída propriamente para o período.

Num ciclo que perdurava. Repetia-se, repetia-se e repetia-se mais uma vez.

26 de Maio de 2020 às 15:13 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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