Os livros possuem um poder estranho, o de levar cada um dos seus leitores para um mundo totalmente diferente. E eu, Elizabeth Reins, tenho o dever de levar esses livros para as prateleiras. Como presidente da Editora Sweet Dreams, devo supervisionar e cuidar de cada um dos escritores da empresa.
Contudo, desde que o nosso escritor mais popular, David Aldena, deixou que uma mulher desconhecida morasse em sua casa, o nível de seus livros tornou-se instáveis. Capítulos bons vinham seguidos de capítulos ruins, a trajetória tornou-se descontínuo, além de chegarem atrasados, coisa que ele nunca permitia.
Para deixar claro, eu não amo David. Ele é apenas um dos escritores mais famosos da empresa e não posso permitir que o seu nível de escrita caia. Sua fama era por escrever estórias de ficção científica, mas por causa dessa mulher, Alice Heartson, ele começou a colocar romance.
Hoje é o dia em que a empresa irá fazer uma festa para parabenizar o David pelo prêmio de melhor livro de ficção do ano. Sempre que um dos escritores ganha um prêmio, a empresa faz uma festa para comemorar e assim juntar os escritores e seus editores para relaxarem.
-Chris. – chamo o meu secretário e braço-direito. – Chame o David e diga que logo irá começar a festa.
Atualmente alugamos um salão de festas do hotel mais famoso na cidade e para quem mora muito longe, foi feito a estadia aqui mesmo, permitida pelo senhor Walks.
De longe vejo a senhorita Heartson caminhando até o salão. Sei que não é a hora mais apropriada e de longe é o melhor lugar. Contudo se for a única chance que tenho, não posso desperdiçar.
-Senhorita Heartson. É um prazer conhece-la. – cumprimento com educação. – Eu sou Elizabeth Reins, atual presidente da Editora Sweet Dreams.
-É um prazer conhece-la. – o tom foi baixo, mas consegui entender perfeitamente. Talvez ela não seja realmente alguma aproveitadora, mas como nos romances talvez a aparência dela esteja enganando cada um de nós.
-Gostaria de falar em particular com você. Poderia me seguir? – digo indo para fora do salão e segui para um dos corredores do hotel.
Como uma boa garota ela me seguiu quieta e obedientemente. Por acaso ela é um cão doméstico? Sem reclamar ou suspeitar. Ela já ao menos leu algum romance, mangá ou light novel daquelas séries coreanas? Pode ser até as novelas mexicanas onde a protagonista segue quietinha e é ferrada, será que ela possui noção de sobrevivência?
-O que você gostaria de falar comigo? – perguntou depois de um tempo em silêncio entre nós.
-Bom, serei direta. Gostaria que você terminasse o relacionamento com o David e saísse daquela casa. – será que foi muito frio? Odeio ficar enrolando para falar, mas acho que ser direta demais também não é bom.
-O quê? Nós n-não estamos namorando, nem nada. Ele apenas me ajudou quando eu estava com problemas. – não estavam? Essa é uma surpresa, um playboy como o David não tocou na garota.
-Se não possuem um relacionamento, então não há motivos para morar com ele. Você está atrapalhando o David e por isso ele não está escrevendo nada. Se não possui uma casa, posso alugar um apartamento barato e depois você me paga.
-Eu estou atrapalhando-o? – sério que ela só ouviu essa parte? – Mas... – parece que ela ouviu tudo. – Mas eu não posso sair de lá. Eu tenho uma dívida com ele.
-Dívida? Eu pago. Não precisa devolver o dinheiro. – ela realmente é teimosa.
-Ele salvou a minha vida. Não posso sair do lado dele até cumprir com a minha promessa.
-Então você está interessada no David. Realmente é difícil não gostar dele, um homem bonito, talentoso e carismático, além de ser um bônus para você ele ser rico, não é? – uma garota interesseira não falta ao redor dele.
-Você está enganada. Eu não estou atrás dele, apenas... Eu apenas quero pagar as minhas dívidas com ele. – agora ela começou a agir como uma pessoa inocente? O prêmio de melhor atuação vai para ela.
-E se eu disser que eu estou atrás dele? Você mudaria de casa? Ou ficaria entre nós? – obvio que não gosto dele, apenas quero ver o que ela faria. – Nós dois fazemos um casal muito melhor, eu amo-o desde que o conheci. – amo apenas os seus livros. Suas estórias são as únicas coisas cativante, já que a personalidade é uma merda. – As pessoas devem ficar com aqueles da mesma classe social. – obviamente não acredito nisso, sou uma pessoa romântica do século XXI. – Então, você desistiria de sua promessa por mim?
-O quê? Eu... Eu posso... – por que ela está falhando ao falar? Acho que pela primeira vez desde que começamos a conversar, consigo ver seus olhos. Ah... É isso que dizem que sabemos ver a verdade somente olhando para os olhos? – Eu posso sair. – ela realmente está se forçando a dizer isso. – Se você ama ele.
-Promete que vai desistir. – pergunto enquanto pego a minha carteira e abro-a.
-Eu prometo. – mentirosa. Você acha mesmo que sou tão fácil de enganar? Eu pego um espelho de mão que tenho na carteira e mostro para ela.
-Então porque está com uma cara tão feia? – acho que perdi essa batalha. Não, eu tenho certeza. – A festa vai começar daqui a pouco. Pode ir o meu quarto arrumar a maquiagem.
Depois de leva-la ao banheiro do meu quarto, eu saí e fiquei no corredor, esperando pela garota. Acho que descobri o motivo da instabilidade do David. Realmente, um playboy idiota como ele consegue ficar tão instável somente com uma garota, não pensei que viveria para ver isso.
-Você acha mesmo que pessoas de classes diferentes não podem ficar juntos? – fui pega de surpresa. Chris Jeanes, o meu braço-direito estava me espionando. E agora estava na minha frente fazendo esse tipo de pergunta.
-Você me conhece tão bem que precisa perguntar esses tipos de coisa? – nos conhecemos há 5 anos. Ele sempre foi dedicado e atencioso, não só comigo mas com os escritores também.
-Você sabe que se demonstrar esse tipo de personalidade, vai perder mais seguidores do que ganhar, além de ter vários jornalistas aqui escondidos apenas para pegar algum fraga.
-Você está preocupado mesmo com a minha reputação? Isso eu posso ganhar de volta rapidinho. – obviamente não era rápido, mas era fácil. Afinal, no mundo tecnológico que vivemos hoje, tudo é facilmente guardado.
-Você sabe que estou. – ele disse batendo com os dois braços na parede, me encurralando. – Você não pensou no quão chateado eu posso ter ficado ao pensar que você pensava sobre as classes? Ou o quão enciumado fiquei ao ouvir que você gosta daquele cara?
-E você? Todo gentil com aquelas escritoras e com as editoras. Você só pode ser gentil comigo. – odeio. Odeio esse meu lado ciumento e irracional. Esse é o trabalho dele. Eu que falei para ele ser gentil com elas. Eu que falei para ele conversar com elas.
-Você acha que irei obedecer só porque você pediu? – como ele ousa falar tão próximo do meu ouvido? Ele sabe que sou sensível nessa área. – Não vai falar nada. – ele falou antes de lamber, beijar e brincar com o meu pescoço.
-Hum... Seu... Ahh... Sádico idiota. – respondi depois de recuperar-me um pouco. – A festa. Temos que ir. – falei tentando olhar para todos os lados, menos para o rosto dele.
-Verdade, é uma festa importante. Não é, senhorita Alice? – o quê? Com quem ele falou?
Depois de um tempinho, a porta do apartamento se abriu e de lá saiu a senhorita Heartson. Ela estava corada e aposto que eu estava do mesmo jeito. Droga ela está mexendo a boca mas meu coração está batendo tão forte e rápido que não consigo prestar atenção.
-Então vamos. – falou o Chris pegando a minha mão e me guiando para o salão.
E lá estávamos nós. Conversando com os escritores, editores e alguns jornalistas. E por algum motivo eles estavam me olhando bastante, talvez curiosos com alguma coisa? Toda vez que algum jornalista vinha falar comigo, Chris aparecia para puxar assunto. O protagonista da festa é o David, por que todo mundo quer vir falar comigo?
Depois de um tempo em pé, fui para uma mesa descansar e coincidentemente, por alguma maldade do universo, a única cadeira livre era para sentar junto a Alice. Mas estava tão cansada que poderia fazer esse favor a ela.
-Eu não irei pedir desculpas. – falei depois de puxar a cadeira e sentar com ela. – Eu não me arrependo do que eu fiz.
-Tudo bem, acho que depois de ver essa festa consegui entender o motivo de você ter feito aquilo. O povo daqui é maldoso, começaram a fazer um monte de perguntas indiscretas e eu não pude nem revidar. – pelo visto ela foi massacrada pela mídia.
-Por favor, não coloque asas e auréolas aonde não há. Eu fiz por mim. Eu não menti quando disse que o David está instável e que isso prejudica os capítulos lançados. – olhei para ela e a garota parecia realmente triste por ele. – Mas menti quando disse que o amava. Tenho interesse apenas no que ele escreve, para mim a personalidade dele é o pior e o seu talento e beleza apenas piora isso.
-Você está namorando o senhor Jeanes? – depois de ouvir tudo aquilo atrás da porta ela ainda tem dúvidas?
- Por três anos. – confirmei. Obvio que as informações iriam parar por aqui. – Mas isso é segredo, concordamos que não iríamos falar para ninguém.
- Isso é segredo? – por que da surpresa?
-Sim, por quê? – então ela rapidamente se levantou e me puxou para o banheiro. – Espera, eu estou de salto.
-Aqui, olhe no espelho.
Depois de me perguntar o que era para olhar, finalmente pude ver o que ela queria me mostrar. Uma marca. Uma marca avermelhada.
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