Esquadrão da Revisão Seguir blog

embaixadabr Inkspired Brasil Os autores estão indecisos, escondidos, com medo: a Gramática os ameaça de todas as formas. É neste cenário caótico que um esquadrão se formou: soldados competentes em busca de justiça, recrutando mercenários para lutarem ao seu lado e, juntos, combaterem o Obscurantismo. Assim, o Esquadrão da Revisão ergue-se contra a tirania da Gramatica para submetê-la aos autores. Entender como funciona a gramática normativa é a base de qualquer escritor. Passar a ideia da cabeça para o papel de forma harmônica é a maior dificuldade de muitos literatos. Nós queremos, neste blog, mostrar a vocês que a gramática não é uma tirana; ela não passa de uma ferramenta que serve para ajudá-los. Juntem-se ao nosso esquadrão para desvendar os mistérios da Gramática e de suas normas.

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Dois pontos e aspas, como e quando usar?

Olá, pessoas! Tudo certo?

Bom, eu já estava com saudades de escrever pra vocês, então não vou poupar esses lombinhos, hein. Preparem-se!

Tá-dá-dá-dá… Como podem ver, vamos dar continuidade aos textos anteriores sobre pontuação e, para começar, quero já trazer os dois pontos pra vocês. Escolhi eles para virem primeiro justamente porque eu percebo que, entre os dois, eles causam maior confusão, então fique atento, prepare o cafézinho e vamos lá!

Segundo Cunha e Cintra, os dois pontos marcam, na escrita, uma suspensão da voz na melodia de uma frase. Por isso, inclusive, que essa pontuação entra para as pontuações melódicas das quais comentamos no texto anterior. O que isso quer dizer? Quer dizer que, todas as vezes que você os usa, o seu leitor, enquanto está devorando seu livro, inconscientemente faz uma pausa diferente ao ler a frase que os contém. Portanto, se você os utilizar de maneira inadequada, o seu leitor vai sentir isso com um grande impacto.

Para perceber a pausa de que estou falando, leia esta frase:


João estava confuso demais com aquela situação, mas ainda tinha certeza de duas coisas: a primeira era que Maria era sua aliada, a segunda era que não podia confiar em mais ninguém além dela se quisesse sobreviver.


Conseguiu sentir a pausa que disse? Sim, sim, sim, aposto! Então imagine você um texto cheio de dois pontos usados de forma equivocada? Vamos estar o tempo todo em um estado de suspense.

Entretanto a cavalaria está aqui para te ajudar, então veja só quando e como você pode usar os dois pontos no seu texto:


1. Os dois pontos podem ser usados para marcar enumeração.

Ex.: Ana comprou duas frutas: melão e banana.


2. Em expressões que seguem verbos dicendi, como “dizer”, “falar”, “contar”, etc.

Ex.: Angelina não parava de murmurar:

— Ela me paga. Me paga!


3. Em um esclarecimento, síntese ou uma consequência do que foi enunciado.

Ex.: Aquilo não era cansaço: era desapontamento profundo.


A vida é isto: persistência.


4. Nas expressões que representam quebra de sequência das ideias.

Ex.: Ia gritar com ela naquele instante: não consegui, mordi a língua.


5. Para introduzir um exemplo, uma nota ou uma informação importante.

Ex.: Atenção: esta área é restrita a funcionários.


Eu sei que à primeira vista todos esses exemplos podem parecer um pouco vagos. Mas você pode mudar isso fazendo pequenos exercícios, e já vou até recomendar um: desafie-se a formular frases com dois pontos, sempre levando em conta as dicas deixadas aqui. Compare suas frases com as frases que estão nos exemplos e veja se está tudo certo. Leia-as em voz alta, sinta a sonoridade delas. Você vai ver, logo vai estar craque.

Outra coisa que acho muito, muito importante falar — e que vejo o pessoal errar bastante — é que, depois de dois pontos, não se usa inicial maiúscula (a não ser que depois dele venha nome próprio). Isso acontece porque os dois pontos são o que chamamos de pontuação interna de uma frase — ela está ali para demarcar algo ao mesmo tempo que dá continuação ao que é dito. Sendo assim, se começássemos a palavra que vem depois dele com maiúscula, seria o mesmo que se estivéssemos começando uma sentença completamente nova, o que não é o caso. Ela não termina a frase, apenas acrescenta algo a ela.


Bom, mas agora que você já sabe tudo sobre os dois pontos está na hora de irmos para o uso das aspas.

Antes de qualquer coisa, devo dizer que o uso das aspas na vida cotidiana — ao escrever cartas, um artigo científico, um documento, etc. — pode ser ligeiramente diferente de quando o usamos para escrever uma história — seja ficcional ou não. E isso acontece por causa de uma coisinha que chamamos de licença poética. Porém, e muitíssimo importante, você precisa compreender que só é possível usar corretamente uma licença poética se você souber o que está fazendo. Algumas pessoas, por exemplo, dizem ignorar algumas vírgulas obrigatórias por licença poética, mas isso só é verdade quando a pessoa sabe todas as regras gramaticais e entende que, por exemplo, pode dar um sentido ambíguo a uma frase se não colocar uma vírgula em determinadas frases. Quando é possível perceber esse saber enquanto lemos uma história, então entendemos que o autor fez por querer. Mas, quando é sem querer, fica bastante claro pra quem conhece as regras gramaticais. Então atenção sempre, viu!

As aspas devem ser empregadas quando, afinal de contas? Primeiro vou falar sobre o emprego dela de acordo com as regras normativas da nossa língua, então fique ligadinho!


1. As aspas devem ser usadas ao início e fim de uma citação.

Ex.: Pedro sabia bem que impactaria a todos com aquelas palavras: “Você foi o culpado. E eu posso provar.”


2. Podem ser usadas para demarcar estrangeirismos, arcaísmos, vulgarismos, neologismos, gírias, etc.

Ex.: Ela estava tão “annoying” naquele dia.


3. Para acentuar o valor de uma palavra ou expressão.

Ex.: A palavra “concomitante” pode ser usada para falar sobre algo que está acontecendo simultâneo a outra coisa.


4. Para realçar de forma irônica uma palavra ou expressão.

Ex.: Helena era um “anjinho” de pessoa. Adorava coletar segredos alheios.

Nesse caso, fica bem fácil perceber que “anjinho” se trata de uma ironia para descrever Helena. Até porque ela deve ser completamente o contrário se gosta tanto de coletar segredos dos outros.


5. Pode ser usado para indicar o título de uma obra.

Ex.: João estava lendo “Dragões de Éter” quando cheguei na casa dele.


6. As aspas também podem ser usadas para demarcar pensamento de personagens em uma narrativa ou então para demarcar as falas dos personagens. E aqui é importante entender que, se você escolher demarcar as falas com o uso de aspas, então é imprescindível que escolha outra forma de marcação para os pensamentos, e vice-versa, do contrário seu leitor vai ficar muito confuso.

Ex. de uso para diálogos: Eles passeavam pelo jardim por quase cinco minutos, quando ela finalmente criou coragem para perguntar:

“Você gostaria de ir comigo ao parque?”


Ex. de uso para pensamentos: Vitória bateu a porta do carro com força demais, apoiou-se no volante e prendeu o choro como pôde. “Não vale gastar uma lágrima sequer com aquele crápula”, pensou.


Além disso, é bastante importante falar sobre como usar a pontuação após o uso de aspas: se a citação iniciar e terminar com o uso das aspas, o ponto final é colocado antes das aspas. Agora, se a citação não inicia, mas encerra a frase, o ponto final fica depois das aspas.


Lembrando que ainda vamos falar sobre a pontuação das aspas quando usada para diálogos e pensamentos, então não pense sobre isso por enquanto.


Agora, lembra que eu disse, no comecinho de tudo, que as aspas podem ser usadas de forma diferenciada em histórias? Pois é. Em uma redação, por exemplo, se quisermos usar uma gíria, é necessário que a coloquemos entre aspas. No entanto, quando estamos escrevendo uma história, isso se torna desnecessário, a não ser que você queria enfatizar alguma coisa ali. O meu conselho pra você é: se o seu personagem precisa dizer “qual é, mané?”, então ele pode dizer isso sem medo. Por que colocar aspas no seu texto se está explícita a necessidade de ele dizer aquilo e o fato de que se trata de uma gíria? Se você vê a necessidade de colocar aspas em uma palavra, então talvez seja melhor repensar se vale mesmo a pena utilizá-la no seu livro. Lembre-se: por ser um recurso que traz uma estética diferente e que influencia na entonação da frase, as aspas podem te ajudar a engrandecer determinadas passagens do seu livro, mas podem também poluí-lo. Então todo cuidado é pouco.

Se quiser saber mais sobre esse tema, não se esqueça de pesquisar. Existem muitos livros sobre literatura que falam um pouquinho sobre isso.

Bom, por hoje é só isso! Espero que tenha gostado do tema e que tenha conseguido absorver o máximo de informações possíveis.

Até o próximo texto!


Texto por: karimy


Referências:

  • CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Breve gramática do português contemporâneo. João Sá da Costa, abril de 1998
  • Bechara, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37.a Edição. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, Editora Lucerna, 2019.
31 de Agosto de 2021 às 00:00 0 Denunciar Insira 1

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