À luz bruxuleante da piscina verde-água, cuja superfície ondulava com a brisa fria da noite, Gabi e Pedro se encontraram. As batidas de seus corações falhavam a cada passo que os aproximava, e Pedro já sentia a boca seca, mas ia reunindo sua coragem. Ficaram diante um do outro, um sorriso tímido tremendo nos lábios. Pedro pensou em tudo que gostaria de dizer, naquilo que transbordava em seu coração, mas só conseguiu murmurar, "Você está muito linda, Gabi. Você é muito linda," enfatizou.

Pare o que está fazendo agora. Pense em algo que te deixe feliz, e então: sorria. Faça acender a centelha de felicidade que será seu guia em tempos sombrios. Não se permita abater pela escuridão que ameaça te engolir. Pense, sinta, e então sorria.

Dos teus lábios sinuosos escapam mentiras, e quando os beijo posso sentir a amargura que se resguarda em cada uma delas. Amargo, pois reconheço a verdade que não ousa proferir, e insisto em fingir que acredito em suas palavras vazias. Se verdadeiramente não me ama mais, o que eu seria incapaz de suportar, continue mentindo.

Como o sol a brilhar nos céus, o amarelo que te envolve renova teu espírito fulgente de alegria e doçura. Enquanto esbanjando a pureza de seu coração, não há quem não seja conquistado pela tua amizade leal e sincera. Que as más línguas falem à vontade, pois não são capazes de compreender que não há conquista maior do que a imaculada integridade que pertence a ti, lufano.

O beijo era tão frio quanto tinha um gosto doce; o doce das memórias longínquas que agora regressavam ao pensamento. Cada flash do passado era acalentador, se agarrava a eles esquecendo-se que agora era envolvido pelos braços finos e pálidos, aninhado feito a criança que sua mãe ninou ao sono décadas atrás. Um suspiro escapou dos lábios secos entreabertos, o que viria a ser o último, e os olhos semicerrados enfim fecharam-se, encontrando a eterna escuridão.

O deck emanava poder, e as cartas pareciam vibrar conforme as dispunha sobre a mesa circular; seus guias a estavam esperando tão ansiosamente quanto ela. As últimas semanas foram turbulentas, deixaram-na zonza com tantos empecilhos, mas ao virar a primeira carta sentiu o calor se espalhar por seu corpo, um sorriso se alastrando em seus lábios: a Rainha de Espadas lhe encarou de volta, e seu propósito ficou claro como o céu no verão.

Debruçava-se sobre a mesa de carvalho, molhando a ponta afiada da pena no tinteiro antes de prosseguir com as linhas do bestiário. Havia visto e enfrentado todo o tipo de criatura nefasta imaginável, detinha conhecimentos ancestrais e portava todos os artefatos e amuletos dos quais se tinha conhecimento. Ainda assim... olhou para trás e sobressaltou-se. Ali, refletido no espelho, estava o verdadeiro diabo daquele mundo; um demônio que jamais conseguiria derrotar.

Doeu. Muito. Feito uma lâmina que perfura a pele e atravessa o peito, impiedosa... excruciante, de arrancar o ar dos pulmões. Mas um dia enfim, não doía mais.

Repetiu para si mesmo que aquilo que não significava nada ━ bastava mentir o suficiente para que se tornasse verdade.

Todo mundo sabe o que é amor, até amar pela primeira vez.

Desvaneceu gradualmente, como fumaça se dissipando no ar. Era doloroso observar mais uma parte de sua essência partir, ver aquilo que a tornava tão única perder-se na infinidade do vazio. Desfez-se outra vez, para se encaixar onde acreditava pertencer. A que custo, afinal?

Afeiçoou-se às histórias de almas gêmeas, sonhando com o dia em que encontraria sua cara metade. Sentia como se tivesse perdido uma parte de si há muito, e centrava todos seus esforços em encontrá-la: cada novo conhecido era uma esperança, uma chance de se sentir completa outra vez; uma frustração a ser adicionada à coleção. Mal sabia esse tempo todo que podia encontrar o pedaço que lhe faltava sem muita dificuldade: estava ali o tempo todo, bastava se olhar no espelho.

Buscava incansavelmente em outros aquilo que não era capaz de encontrar em si mesmo.

Suspirando, Remus sabia que uma visita à madame Pomfrey era a única forma de conseguir consertar o estrago da lua cheia. Só precisaria despistar os rapazes, pulando o café da manhã para visitar a enfermaria. Arrumou a franja mais uma vez, sentindo um aperto sufocante no peito. Detestava mentir para os amigos, mas que alternativa lhe restava? Saiu do banheiro de cabeça baixa, mas não o suficiente para não enxergar o brasão da Grifinória estampado no uniforme do colega com quem topou no corredor.

Olhou para a imagem refletida no espelho, e de seus lábios escapou um lamento sôfrego. Uma nova cicatriz, outra lembrança da criatura repugnante que tornou-se desde o fatídico dia em que fora mordido. Remus Lupin tentou arrumar a franja de modo a cobrir a marca de garras que entrecortava a pele de seu rosto, maculando-a com fundas e irregulares linhas vermelhas. Queria, com tal facilidade, esconder quem era. Mas com a vinda de cada lua cheia, sua situação apenas fazia piorar. O que faria agora?

Se não fosse a sensação inebriante, decerto teria molhado as calças de medo. Era linda... e como era! Vestida em branco de uma pureza imaculada que condizia com a beleza angelical. Intocada, para alguém que vagava por um cemitério. "Beije-me," pediu a senhorita, sem pudor. E ele o fez, incapaz de resistir ao seu encanto sobrenatural. Branco agora era escarlate, e o que era puro tornou-se lúgubre.

Seus olhos perscrutaram a escuridão, mas mal enxergava um palmo a frente do nariz. Contudo, ela ouvia os passos pesados arrastando-se em sua direção pelo corredor, cada vez mais próximos. O medo a deixou paralisada, tão rígida e pálida quanto mármore branco, encolhida a um canto da parede, o coração prestes a saltar pela garganta. Devia ter ouvido Mamãe, devia ter ficado na cama... mas já era tarde demais. "Achei você," sussurrou a voz, deslizando a mão fria por seu ombro.

Às vezes é tristeza que perfura o peito, raiva que queima as entranhas, luxúria que incendeia o corpo... amor nunca é, puramente, amor.

O espectro bruxuleava à sua frente com um meio sorriso piedoso que o deixava frustrado. Tragou o cigarro e a fumaça espessa que saiu de seu nariz atravessou o fantasma da jovem moça; que permaneceu impassível. "Então... como é estar morta?" perguntou, vendo seu sorriso vacilar. "Posso garantir que não dói tanto quanto estar viva."

Frágil garota de porcelana, quebrantada tantas vezes que rachou. A rachadura fazia visível o quão era fraca, então revestiu-se de marfim na esperança de se fortalecer, mas surpreendeu-se ao notar que ainda podiam lhe atroçoar. Tinha de ser uma fortaleza que resguardasse seu espírito do açoite, e então tornou-se sólida e fria feito o aço; enfim, era impenetrável.

Porque você é uma gatinha manhosa, se esfregando nos meus calcanhares para tentar captar minha essência em seu pelo. Me pergunto o quão lhe deve ser cansativo, viver fingindo ser alguém que não é.