NOTAS:
Olá, seres humanos, essa fanfic foi feita para o aniversário do Bakugou e, eu, atrasada como sempre, estou aqui postando nos 45minutos do segundo tempo. Mas não importa. Um Após O Outro nasceu da necessidade de produzir alguma coisa KiriBaku, então eu espero que vocês gostem. Beijos e boa leitura.
***
Katsuki Bakugou estava puto.
Tudo que planejava fazer estava dando errado. Os treinos, as aulas, até mesmo as escapadas para ir àquela lojinha estranha, duas quadras da escola. Nada estava dando certo naquele maldito dia! E, para completar, ele tinha esquecido a chave de casa em seu quarto, o que significava que estava da porta para fora. Sua mãe pegaria plantão naquele dia e seu pai ainda estava na casa de sua avó, na cidade vizinha.
Ele sabia que aquele dia não seria bom no momento em que acordou e encontrou a figura de ação do All Might, seu herói favorito, caída no chão do quarto — provavelmente obra de sua gata, em uma de suas tão gloriosas aventuras por suas prateleiras. Naquele mesmo dia, o creme dental já havia caído em seu kimono, o dojou estava fechado por causa do alagamento, resultado da chuva na noite anterior; Hizashi ainda havia passado uma prova surpresa e Aizawa zerou os trabalhos da turma inteira por falta de comportamento. E, agora, ele estava ali, diante da porta de sua casa, sem chaves.
Chutou a porta sem qualquer hesitação, só para segurar a própria perna segundos depois, urrando de dor. Os grunhidos que saíram de sua boca serviram apenas para chamar a atenção da felina de pelugem alaranjada que passava em toda a sua pompa pela calçada, ela miou duas vezes, olhando-o nos olhos como se soubesse realmente o que estava acontecendo. Bakugou semicerrou os olhos, reconhecendo aquela soberba singular que a bichana sempre esbanjava por aí. Esfregou um dedo no outro, chamando-a para perto sem fazer barulho. Ele, agora sentado nos degraus da escada, esperou pacientemente para que ela o desse a honra de vê-la. Mas a gata não esperou muito para que ele conseguisse pegá-la, logo estava sobre seu colo, cheirando a sua cara suada como se procurasse vestígios do que havia feito no dia.
— O que você tá fazendo aqui fora, hein? — ele falou num tom bravo, afagando a sua cabeça para tocar no focinho em seguida.
A felina jogou a cabeça para o lado, miando em resposta, e Katsuki revirou os olhos, segurando-a no ar.
— Miau é o caralho — resmungou, enquanto ela tentava inutilmente sair de seu agarre. — Era pra você estar lá dentro, não andando pela rua a essa hora, mocinha.
A gata não respondeu dessa vez, mas ele não a soltou, apenas olhava para ele, como se estivesse entediada — se é que sabia o que era estar entediada. Bakugou fazia caretas aleatórias, percebendo o escurecer gradual do espaço, o Sol já havia se posto e ele não sabia o que poderia fazer. Ligar para Mitsuki estava fora de cogitação, ela mal ficava próxima ao celular naquelas situações e ele apostava que, mesmo se ligasse, ela não atenderia. Talvez pudesse recorrer ao último de seus contatos de emergência. Katsuki até chegou a pegar o celular, vasculhou por uns segundos a agenda, passando o polegar sobre os principais contatos e... desistiu. Não ligaria para Inko àquela hora, com certeza não. Tinha certeza que ouvira Deku conversar com Todoroki mais cedo. Sabia que eles dois estariam lá, juntos. E não queria ficar de vela, mesmo que fosse uma ótima ideia em sua mente atrapalhar o momento casal dos dois.
Mas a vida não era um mar de rosas e o adolescente de cabelos loiros não tinha muitas saídas. Suas opções estavam acabando à medida que a noite chegava. E ele começava a se perguntar se Murphy o odiava tanto assim. Malditas leis de merda! Se era para ele se foder, que avisasse antes.
— É, Gata, parece que teremos que ir para a casa da tia Tilda — ele revelou com certo desgosto. A tia Tilda era uma mulher baixinha de 67 anos de idade, irmã de sua avó que sempre aparecia em sua casa no último domingo do mês — um costume bem estranho, diga-se de passagem — para falar com a sua mãe sobre qualquer coisa que não lhe despertava o mínimo interesse. Inclusive, era essa mesma tia que havia o repreendido tantas vezes por ter os amigos que tinha. Em suma, uma chata.
Ele se sentia desgastado naquele momento, com a mochila contra as costas e o degrau superior batendo em sua lombar. Katsuki guardou o celular no bolso, pegando Gata novamente para tentar levantar. Era a hora de correr por três quadras para chegar até a casa de sua tia. Essa era a única opção que tinha, afinal. Quer dizer, era até que viu os tênis vermelho encontrarem nos seus. Bakugou levantou o olhar, deparando-se com aquele sorriso bobo que seu amigo sempre exibia.
— Ficou do lado de fora de novo? — ele questionou, com os braços cruzados ante o peito. — Isso tá virando recorrente.
— Cala a boca, Cabelo de Merda — vociferou, já impaciente.
Kirishima estava estático, sem mover um músculo em qualquer direção. Ele retorcia os lábios um contra o outro. E aquilo fazia com que Bakugou percebesse como ele parecia esquecer de usar o hidratante que ele mesmo havia dado. Os lábios de Eijirou eram secos, machucados, mais por falta de cuidado do que tudo. Mas também eram bonitos, grossos, mesmo que desse para ver as pequenas feridas sendo repuxadas quando ele sorria.
Ele eventualmente sentia vontade de tocá-los, deixar que os dedos flutuassem sobre a pele machucada, que navegassem até o pescoço e a nuca... algo que fazia o adolescente de olhos castanhos, quase avermelhados, quisesse fazer aquilo ali, naquele momento. Coisa que ele supriu muito bem ao levantar, limpando a calça de moletom que usava. Katsuki desviou a atenção do outro garoto para pegar sua mochila, precisava ir embora, estava sujo e cansado, precisava de um banho.
Preparou-se para pegar seu caminho e ele realmente iria, se não fosse a mão de Kirishima em seu ombro. Bakugou o observou por alguns instantes, as bochechas infladas, o leve rubor que lhe tomava a face, tudo aquilo fez com que um sorriso pequeno brotasse em seus lábios.
— Você não quer... — ele começou, inquieto. — ... ir para minha casa?
E Katsuki mal pensou antes de assentir e puxá-lo pela mão até o outro lado da rua. Poderia avisar a Mistuki depois.
***
Katsuki Bakugou odiava bagunça.
Assim como odiava muitas coisas em sua vida, junto ao alho, pimentão, deveres de casa e toques casuais. Para ele, as coisas existiam para ficar em seus devidos lugares, como livros em estantes e toalhas em armários. Tamanho foi o desconforto que lhe atingiu o peito quando ele entrou na casa de Kirishima e viu aquele amontoado de coisas sobre a mesa de centro. Sabia que as mães dele não estavam na cidade, o que queria dizer que Eijirou havia feito aquilo tudo por si só. E o único pensamento que insistia em saltar na cabeça de Katsuki era “como caralhos uma pessoa pode fazer tanta bagunça assim?” Porque lhe parecia impossível haver tantos livros em uma mesinha com menos de um metro de altura.
Olhou para Kirishima, espantado demais para falar qualquer coisa e viu o garoto sorrir culpado, com o rosto dois tons mais vermelho que anteriormente. Indignado, ele soltou a mão cálida de seu acompanhante, deixando a mochila cair ao lado do sofá. Um desespero grotesco surgiu dentro de seu estômago e Katsuki tentou não observar a quantidade de lixo espalhado pelo chão.
— Meu Santo All Might. — Suspirou, surpreso. — Passou um furacão por essa sala ou o quê?
Kirishima bateu a porta, evitando olhar para Bakugou enquanto pegava sua mochila. A verdade era que ele havia passado os últimos tentando estudar para as provas que aconteceriam na semana seguinte, mas a única coisa que ganhou com isso foi toda aquela mistura de coisas espalhadas pela sala. Estava envergonhado demais, não queria que o outro visse aquilo.
— Se você tá reclamando disso, imagine quando ver meu quarto... — comentou, uma das mãos tocando o próprio pescoço, um gesto de nervosismo.
O garoto loiro se jogou no sofá, olhando para o teto enquanto resmungava palavras quase inaudíveis. E Eijirou sabia que não ia querer ouvir o que ele estava dizendo, então apenas ficou feliz com o tom baixo. Subitamente, Katsuki levantou a cabeça, voltando-se para ele. E talvez, só talvez, Kirishima tivesse ficado nervoso com aquele olhar.
Impaciente, ele levantou do sofá, andando a passos largos até jovem de cabelos ruivos. Suspirando, roubou sua mochila do ombro dele e sorriu, fraco.
— Então, por onde começamos a limpar?
***
Eijirou Kirishima amava dragões.
Bakugou sabia disso, com certeza. Ouvira duas ou três conversas entre Mitsuki e Yumi, uma das mães de seu amigo, e havia descoberto que o garoto havia acumulado uma quantidade considerável de produtos relacionados àquelas criaturas. Katsuki achava aquele costume extremamente fofo, até chegar no quarto de Kirishima e entender realmente o conceito de vício. A quantidade de objetos, fossem pelúcias, fossem brinquedos ou até mesmo a roupa de cama, tudo, tudo mesmo, era relacionado a dragões.
Ele já havia analisado os quadros na parede nas vezes anteriores que esteve ali, mas nunca conseguiu se acostumar com a visão. O garoto se encontrava deitado sobre a cama naquele momento, após uma sessão de limpeza que demorou mais tempo do que esperava. No fim, eles mal conseguiram conversar. Não fosse o leve barulho do descartar das coisas, o silêncio cortante poderia empestear o ar e sufocar ambos antes mesmo que pudessem acabar com a limpeza. Em algum momento, Eijirou colocou alguma música para tocar e Bakugou agradeceu mentalmente, enquanto separava todas as mil e quinhentas peças do quebra cabeça que estavam misturadas ao monte de tralhas que estavam no chão do quarto.
Agora, Katsuki já podia suspirar aliviado, após um dia cansativo. Sentia o corpo fresco após o banho. Ele viu Eijirou entrar pela porta com uma bandeja, duas xícaras e provavelmente alguns biscoitos.
— Trouxe o nosso jantar — ele falou, sorridente. — Não tinha muita coisa, porque minhas mães não chegaram ainda. Então, é só isso mesmo.
Bakugou aceitou a xícara de chocolate quente oferecida, esperando o outro garoto subir no colchão.
— Sabe, eu tava me perguntando... — Tomou um gole da bebida. — Por que caralhos tanta coisa de dragão?
Kirishima ficou paralisado por um instante, mas logo começou a bebericar o chocolate quente, mordiscando os biscoitos. Ele deixou a cabeça encostar na parede, parecia estar lembrando de algo. E, depois, ele olhou para si com um sorriso, as pontas de sua boca estavam esticadas, o que fazia com que as covinhas bonitas aparecessem. Katsuki sentiu o coração descompassar nas batidas por um instante. Por isso, enfiou um biscoito na boca, sem perguntar mais nada.
— Eu vou contar, então não ria de mim, okay? — Bagunçou os cabelos molhados e se ajeitou na cama, procurando uma posição mais confortável. — Quando eu era criança, eu tive um sonho muito legal, acho que minha imaginação era fértil demais, porque realmente foi um bom sonho.
— Desembucha logo, Eiji.
Kirishima riu, tentando ignorar a forma gostosa como seu apelido saída da boca de Bakugou.
— Era um ataque, uma cidade perdida. Todos corriam, muito, mas não nem todos conseguiram fugir. Não lembro bem, acho que tinha algo a ver com um rei tirando ou algo assim. Então, os dragões vieram e os salvaram. Afastaram aqueles que eram maus e guardaram a cidade para sempre...
Katsuki o observava, atento. E, sem fazer comentários, ele escutou, cada palavra, bebeu de todas as expressões que Kirishima fazia ao contar-lhe histórias sobre dias austeros de um passado que nunca existiu. Ele conseguia ver a diversão nos outros do outro. Conseguia perceber como tudo aquilo o deixava animado e não pode evitar de deixar que seus lábios deslizassem em sua face, em um sorriso leve, que só Eijirou conseguia arrancar dele.
A tagarelice continuou por bons minutos, até depois de Bakugou deixar sua cabeça cair sobre o ombro do outro. Uma de suas mãos se infiltrou entre as pernas dos dois, procurando a mão de Kirishima. E quando a agarrou, sentiu a calidez tomar o espaço da frieza em seus dedos. Não conseguiu não pensar em como aquilo refletia tudo o que o adolescente sorridente ao seu lado o fazia sentir. Aquela quentura crescente, aquela sensação latente no peito. Ele levou o nariz até o pescoço arranhado de Eiji, sentindo um pouco do perfume deixado pelo sabonete na pele macia. Depositou ali um beijo, e outro na bochecha, e outro na têmpora, e outro em suas mãos, unidas, agarradas, presas uma a outra.
— Eiji. — Foi a única coisa que disse antes de Kirishima puxá-lo para perto, antes de Katsuki sentar-se em seu colo. Antes de seus lábios se encostarem em meio a quietude daquele espaço. A mão de Eiji invadiu os cabelos loiros e o jovem de olhos castanhos soltou um som que servia como música para os ouvidos do outro adolescente, mas antes que pudesse continuar, Bakugou se afastou repentinamente, engolindo o ar, sem fôlego. — Pera. Onde tá a Gata? — interrompeu.
— No sofá, dormindo — resmungou Eijirou, arrastando os dedos até suas costas, abraçando-o levemente.
Katsuki riu com a expressão desgostosa e não esperou muito para puxar o cabelo avermelhado para trás, ele passou poucos segundos olhando para a face de Kirishima. Ele gostava daquilo. Da pequena cicatriz em seu olho, os ossos protuberantes em suas bochechas, as pequenas marcas de antigas espinhas. Ele gostava de tudo aquilo. Do toque, da pele, do sorriso. Cada pedaço de Eiji que se montava, como em um quebra cabeça gigante, que ele fazia questão de desmascarar peça por peça.
Ele parou de pensar no momento em que o beijou novamente. E deixou todos os pensamentos calados enquanto dava um beijo após o outro, e outro, e mais outro, e mais outro. Até que pudessem cansar em algum momento.
Mas, nah, Bakugou acreditava que aquilo não fosse acontecer. Beijá-lo era a coisa que ele definitivamente não odiava.
Merci pour la lecture!
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