Era apenas mais um dia como outro qualquer e nada de especial tinha acontecido na escola. Não é que eu não goste de estudar. Na verdade, modéstia à parte os professores dizem para minha mãe que eu sou uma excelente aluna durante as reuniões. O meu problema também não é com a escola que, por sinal, é muito bem cuidada. Dá para ver da esquina, ela tem três prédios, mas não se destaca muito por causa dos outros prédios comerciais que existem por perto.
Eu só não gosto muito das pessoas que frequentam a escola. Sério! Tem gente consegue me irritar e sem fazer muitos esforços... Estou no nono ano e estudo nessa escola desde o sexto, na Turma A. Posso dizer que tenho um número razoável de amigos e amigas na minha sala e tenho amizade com o pessoal das outras turmas também.
Se ser uma boa aluna já é difícil por causa do bullying, imagine sendo diferente da maioria... É uma dose diária de provocações da galera toda. Começa pelo fato de que nasci com cabelos ruivos naturais e por isso sempre ganhei um monte de apelidos como: cenourinha, pimentinha, cabelos de fogo, água de salsicha, ferrugem, laranjinha, cabeça de caqui, tomatinho, palito de fósforo, pica-pau, Chapolim e até mesmo Feriado (só porque é vermelho
no calendário!).
Tá, você pode achar que eu tô exagerando só porque sou chamada assim todos os dias, mas aguenta porque tem mais uma coisinha que ainda não contei: o mundo conspira contra mim por ser canhota. Na minha escola as
carteiras são daquelas que só tem o apoio de braço em um dos lados e eu surto toda vez que eu tenho que ficar procurando porque a turma do outro período muda ela de lugar todos os dias, já virou um ritual; é a primeira coisa que eu faço quando entro na classe e até alguns professores me ajudam na busca. Então tudo fica tranquilo quando eu acho a carteira, só que não...
É literalmente doloroso copiar a tarefa quando a espiral fica machucando meu braço, e isso, sem contar a sujeira que fica na minha mão quando eu escrevo. Isso vale tanto para a caneta quanto a lápis. Outro dia a professora de matemática nos deu uma lista de exercícios para fazer em casa e quando eu terminei a tarefa minha mãe riu de mim dizendo que eu estava parecendo uma estátua viva, igual aquelas de rua. E no trabalho de Artes, então... Ah, como eu passo raiva quando tenho que recortar algo e a desgraçada da tesoura fica mastigando o papel.
Apesar desses pequenos detalhes, o dia estava normal até eu chegar e ver um caminhão em frente à minha casa e alguns homens entrando e saindo dela. Entrei correndo e perguntei para minha mãe o que estava acontecendo, então dona Amanda me deu “A Notícia”:
— Filha, me ajude a arrumar as coisas, nós vamos nos mudar!
— Como assim, nos mudar, eu não tô entendendo nada! E por que isso tão de repente?
— Eu sei que deve ser difícil, mas é para o nosso próprio bem.
— Como isso pode ser para o nosso bem? A gente ganhou na loteria e eu não tô sabendo?
— Não é bem isso, mas eu e seu pai conseguimos encontrar os empregos que a gente tanto queria. Você sabe que faz algum tempo que estou sem trabalhar e que seu pai também estava numa empresa há alguns anos numa vaga diferente daquilo que se formou. A gente fez vários concursos e ambos fomos chamados.
— Tá mãe, acho que não tem nada que eu possa fazer sobre isso... mas se for para fazer vocês dois ficarem felizes, tudo bem.
Amanda deixa cair algumas lágrimas e sorri enquanto leva a caixa com parte da mudança até o caminhão.
Subo a escada e vou para o meu quarto e descubro que mamãe deixou quase tudo separado em caixas. Roupas, livros, tudo. Olho perdidamente pela janela, talvez pela última vez sem saber para onde vamos.
Merci pour la lecture!
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