sasasangria Safira Rúbia

"Garrafas no chão, cocaína sobre a mesa. A que ponto cheguei? Como faço para voltar a ser o menino único e direito que sempre fui? Hoje sou esse assassino viciado de merda que corta os pulsos porque não aguenta mais ser refém de uma vida de pecados. Só um milagre pode me salvar. Teria Deus piedade de mim, a me mandar um anjo para guiar-me de volta ao caminho cristão?" ATENÇÃO: Este romance dark de horror distópico ainda está sendo escrito e está sob processo de revisão. Por enquanto disponibilizarei apenas o primeiro capítulo aqui no Inkspired, visando alcançar leitores e, principalmente, obter feedback. Não deixe de me contar a sua opinião! O meu objetivo principal é obter retorno dos leitores, seja ele positivo ou negativo. Estarei constantemente fazendo mudanças na história e uma delas pode ser baseada em sua crítica/sugestão. Não tenha medo de comentar, responderei tudo. E não se esqueça de compartilhar com todo mundo! | Escrito por: Safira Rúbia | Instagram: @sasasangria | Email: [email protected]


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A Chegada

DIÁRIO: 13/02/2020

A mesa marrom é decorada com fileiras brancas. A cesta de frutas não contém frutas, mas maços e um pequeno saco plástico. O chão é coberto por um tapete de garrafas vazias. E o que é aquilo? Daria um belo quadro de arte abstrata. "O Encontro do Vômito com o Esperma", óleo sobre tela. Repare no detalhe sutil dos respingos de sangue e urina. A sensibilidade do artista! Artista, esse, que jaz no chão vomitado, mijado e gozado, com o pulso todo rabiscado e o nariz branco em contraste com o rosto negro. Não morto por pouco. Mesmo que a cena seja digna do prêmio "melhor suicídio". Porque não chegou a ser suicídio de verdade. O Senhor não poupa os pecadores do sofrimento, nem quando o sofrimento é viver.
Essa cena grotesca aconteceu ontem. O protagonista dela sou eu. No momento escrevo no primeiro pedaço de papel que minha namorada encontrou na bolsa. Ela que me levou pro hospital, veio correndo até a minha casa quando a mandei uma mensagem dizendo que ia me matar. A filha da puta me conhece já faz 13 anos, sabe que quando eu digo que vou fazer, eu faço.
Não sei ao certo dizer como esse inferno particular começou. De repente eu me senti fraco e impotente, incapaz de ser eu mesmo. Como havia chegado a esse ponto? Não devia ter deixado o mundo me engolir de forma tão aterradora. Eu pensava ser capaz de controlar o meu ego, mas foi ele quem acabou me controlando. Hoje sou vazio e inútil. Quer dizer, vazio não. Preenchido pela dor.
E o que é a dor? Não é algo que se possa explicar quando vem de dentro da cabeça – da alma. A dor psicológica é impalpável e, apesar de ser tão comum e tão familiar para todos, ainda é difícil de ser explicada. Ela é temida mais do que qualquer perigo eminente. A dor é como o medo. Talvez ela seja o próprio medo.
Tudo era diferente quando eu era moleque. Eu observava as pessoas de perto, mas ainda assim tão de longe. Pareciam estar em outra dimensão, indiferentes a mim e a si próprias. Possuíam cores, tamanhos, gestos e traços únicos e especiais em suas singularidades. No entanto, tudo isso era visto por debaixo de muitas camadas de maquiagem, literais e metafóricas.
As pessoas gostam de se forçar a ser todas um único tom, mesmo sabendo ter, cada uma, um tom único. Elas não enxergam o espectro todo, miram os olhos naquilo que sempre lhes foi dito ser o certo. Eu não entendia esse pensamento e não partilhava de tais atitudes, preferia continuar sendo diferente. Justamente por isso sofria constantemente com os julgamentos e os comentários dos outros. Foram anos de um bullying ininterrupto, que, no entanto, não me atingia. E inúmeras tentativas de correção que nunca dei a mínima. Sempre prezei por ser um bom cristão, e ainda tento, apesar de falhar constantemente. Mas ser nerd e gostar de ver uns filmes e ler uns livros meio esquisitos não é nenhum pecado. Apesar de todo o fuzuê da minha família e da tiração de sarro das crianças, sempre gostei de ser como era e me orgulhava disso.
Contudo, conforme você cresce, algumas coisas dentro de você diminuem. E quando a puberdade chega, os hormônios se tornam sinônimo de "os demônios". Foi aí que eu passei a me questionar se todos não estavam certos, afinal. Seria eu realmente maluco? Se eles ao meu redor pensavam da mesma forma e eu não, havia algo de errado. E eu estava certo sobre isso. O meu erro foi concluir que o “algo errado” era eu.
A culpa veio primeiro. Culpa de não ter dado ouvidos à “voz da razão”. Depois fui acometido pela insegurança, algo que nunca havia sentido até então. A insegurança é um monstro feio e foi quem trouxe à tona a vergonha. Hoje eu me pergunto: vergonha de quê?
Comecei a estreitar minha visão, antes ampla e curiosa. Segui os passos de quem visava aquele único tom e tentei, como eles e elas, mudar-me para alcançar aquele ideal. Mudei o meu jeito de vestir; de falar; de andar; de comer; de pensar; de viver. Tentei parecer "menos nerd" e "menos esquisito".
Eu pensava que fosse me sentir melhor dessa forma, mas aconteceu o contrário. A culpa, a insegurança e a vergonha só aumentaram dentro de mim e chegaram a ficar tão grandes que engoliram o meu ser. Além do mais, ninguém passou a me achar maneiro por causa desse personagem que passei a interpretar. Só saí do meu barraco aos 19 anos. Naquela época de escola eu ainda dormia no quarto em que o meu berço um dia ficou. Todo mundo me conhecia muito bem e eles não iam acreditar que mudei da água pro vinho só porque começaram a nascer pelos no meu sovaco e a minha voz começou a engrossar. Ao invés disso, o bullying só piorou.
E foi assim que o mundo me engoliu. Eu não estava bem e não entendia por quê. Ou não queria entender. Tentava não pensar sobre os sentimentos ruins, porque o pânico logo me tomava ao me dar conta da infelicidade que a minha vida se tornara e de como eu não sabia o modo de consertar isso. Então eu vivia assim, de olhos fechados para o real problema. Eu não entendia que o meu verdadeiro inimigo era eu mesmo. Decidi culpar os projeto-de-traficante da escola, as tiazinhas fofoqueiras, os professores intrometidos e os meus pais.
Fiquei nesse estado anestesiado durante um bom tempo. Agora, porém, o efeito do anestésico passou e tudo veio à tona. Não sei se era melhor antes, porque na época existia sim a dor, mas ela estava escondida pelas camadas de maquiagem. Hoje estou desnudo do que costumava usar para me esconder e isso fez a dor sair de suas algemas impostas por mim. E ela dói como nunca. Existe de forma consciente. Faz-me cortar essas porras desses pulsos. Faz-me beber essa cachaça barata e cheirar esse pó de quinta até não ter mais forças pra abrir outra garrafa e fazer outra fileira na mesa.
Acabei aqui, nesse escuro silencioso e sufocante da vida suicida. Sem saber como voltar a ser quem eu era – quem eu realmente sou.
Garrafas no chão, cocaína sobre a mesa. A que ponto cheguei? Como faço para voltar a ser o menino único e direito que sempre fui? Hoje sou esse assassino viciado de merda que corta os pulsos porque não aguenta mais ser refém de uma vida de pecados. Só um milagre pode me salvar.

14 Janvier 2020 09:52 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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A propos de l’auteur

Safira Rúbia Safira Rúbia tem 19 anos, mora no Rio de Janeiro e terminou o Ensino Médio em novembro de 2019. Lutou para conseguir esse diploma, e ainda no supletivo. Fez o vestibular da PUC em outubro e passou em Letras, mas não se inscreveu no curso por não ter recursos para entrar sem bolsa. Nunca fez qualquer curso externo a isso e não possui outro diploma senão o do Ensino Médio. Todavia, a falta de um diploma superior ou de um histórico escolar mais atraente não é um empecilho para ela. Começou a escrever muito cedo, redigindo pequenos livretos ainda durante a alfabetização. Sua jornada na poesia se iniciou aos 12 anos e, desde então, só fez crescer. Hoje é poetisa apaixonada pelo ofício e orgulhosa de seus trabalhos, que, contrariando as expectativas gerais, são obras de muita qualidade. Além dos poemas, escreve contos e eventuais crônicas e, no momento, está trabalhando na produção do seu primeiro romance dark, "Código: DNA". | Instagram: @mandachuva_poesias | Email: [email protected] | Whatsapp: (21) 97229-1891

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