asheviere Marianna Ramalho

[Universo Alternativo: Apocalipse Zumbi] Sherlock e John estavam indo bem. Não exatamente "bem", mas estavam sobrevivendo. Mas descuidos acontecem, e agora Sherlock enfrenta seus últimos momentos


Fanfiction Série/ Doramas/Opéras de savon Déconseillé aux moins de 13 ans.

#sherlock #universo-alternativo #death-fic #zumbis #apocalipse-zumbi #conto #oneshot
Histoire courte
0
5.8mille VUES
Terminé
temps de lecture
AA Partager

Como Nunca Antes.

John fazia o seu melhor. Ele reprimia todos aqueles sentimentos de angústia e revolta e tentava parecer calmo na frente de Sherlock, mas o aperto sufocante em seu peito era suficiente para fazê-lo desabar quando estava sozinho. Mesmo agora, evitava pensar em qualquer coisa. Sherlock dormia no banco do carona, ao seu lado, e John não queria acordá-lo. Ele precisava descansar, mesmo que a febre tornasse seu sono turbulento.

A estrada estava bloqueada, como era comum naqueles dias. John estranharia encontrar uma única estrada que não estivesse abarrotada de carros abandonados em meio ao pânico. O carro que dirigiam também tinha sido encontrado abandonado, pois nem John nem Sherlock possuíam carro, preferindo levar a vida alternando entre táxis e metrôs. Mas quando o perigo começou, eles perceberam a praticidade de um veículo, e também não conseguiriam alcançar o lugar seguro à pé.

Lugar seguro. Agora essas palavras pareciam uma piada de mal gosto. John parou o carro, pegou o pé-de-cabra que estava usando como arma nos últimos dias e saiu silenciosamente, deixando Sherlock sozinho. Ele tinha uma arma, mas, se suas contas estavam corretas, a munição estava para acabar, restando apenas um tiro. E essa bala que sobrara já estava reservada, não podia ser desperdiçada.

John segurava a barra de ferro com mãos firmes, todos os seus músculos estavam tensos, e ele estava atento ao mínimo ruído, como se os instintos perdidos da humanidade estivessem apenas adormecidos, esperando um momento de necessidade para despertarem. Tudo parecia em ordem, exceto por um daqueles desgarrados que se aproximava, ainda distante, porém implacável. O andar arrastado não era interrompido pelos obstáculos, mas John achava que teria tempo suficiente para liberar a pista antes daquela criatura não-morta se aproximar. Como era normal nos veículos abandonados às pressas, as chaves ainda estavam na ignição. John moveu o carro para o acostamento, abrindo o caminho. Achou que poderia evitar o outro carro, que apenas tomava metade da pista, sem precisar movê-lo.

John estava para voltar para o seu próprio carro quando parou subitamente. O vento mudara de direção, e o odor repugnante de carne apodrecida o alcançou. John ouvia o ruído baixo de dentes rangendo e grunhidos guturais, acompanhados do baque surdo de passos instáveis cada vez mais próximo. John não precisava enfrentá-lo. Ele não estava assim tão próximo ainda, e John podia apenas voltar tranquilamente para o carro e seguir seu caminho com Sherlock. Mas ele escolheu não fazer isso. Inspirou profundamente, a despeito do cheiro podre, sentindo um misto de amargura e frustração. Aqueles sentimentos que vinha tentando esconder. John virou-se sem sair do lugar, encarando a criatura. Aquilo já fora uma pessoa. O estado miserável daquilo era digno de pena, mas John só sentia asco e raiva. Seus pés moveram-se rápido, diminuindo em segundos a distância que ainda os separava, e brandindo o pé-de-cabra com punhos firmes, John desferiu um golpe certeiro na cabeça do corpo ambulante, derrubando-o ao chão. Aquilo ainda se movia, em meio aos grunhidos ansiosos, não parecia ter sentido nada com o golpe. John não esperou, continuou acertando a criatura com fúria até que a barra de ferro afundou no crânio. John não percebeu que estava acabado, pois as lágrimas que já inundavam seu rosto turvavam sua visão, então continuou, cerrando os dentes a cada movimento, impedindo-se de gritar seu desgosto, por receio de atrair mais daquelas coisas.

Como tudo chegara àquele ponto? Meses atrás, a vida ainda era normal. Ou tão normal quanto era a vida deles, pulando de caso em caso e resolvendo crimes estranhos. John daria tudo para fazer voltar o tempo. Só queria que tudo fosse um pesadelo, do qual Sherlock o acordaria com animação, falando de uma ligação de Lestrade pedindo a ajuda deles. John não lembrava quando Sherlock parara de dizer “minha ajuda” e começara a usar “nossa ajuda”, mas essa mudança o deixara bastante satisfeito. Sherlock era uma pessoa difícil desde o começo, mas John sempre sentiu que eram amigos. De repente, Sherlock confirmava isso, reconhecendo que eram uma equipe. Era tão incomum que mesmo os outros perceberam. Mas a relação de ambos não estacionara na parceria, tampouco na amizade. Ela evoluía a cada dia para algo mais forte e mais íntimo. John não conseguia mais imaginar a vida sem Sherlock, e subitamente um apocalipse digno de cinema trash aconteceu, confrontando-o diariamente com a possibilidade de perderem um ao outro. E eles estavam indo tão bem durante aqueles meses… Tomavam todos as precauções, e por isso eram os únicos que restavam. Lestrade, Molly, Sra. Hudson, Mycroft, nenhum estava mais ali. Mas Sherlock e John estavam, pois eles sobreviviam juntos.

Antes de entrar novamente no carro, John certificou-se de limpar as lágrimas, mas os olhos inchados seriam difíceis de disfarçar. Por fim, desistiu. Sherlock saberia de qualquer maneira. Sherlock ainda estava na mesma posição, a cabeça apoiada no vidro da janela e de olhos fechados. Os cabelos escuros estavam ainda mais desgrenhados que o normal, e haviam crescido um pouco, assim como os de John. A pele estava pálida, coberta de suor, mas ainda assim Sherlock se agarrava a um cobertor para evitar o frio. Sua respiração estava mais ruidosa que antes, pesada, devido a dor que estava sentindo. Isso o denunciou.

— Precisa de algo, Sherlock? – perguntou, depois de um tempo em silêncio, pois ele poderia estar tentando dormir novamente. – Sei que está fingindo.

Sem esperar resposta, John tateou ao lado do banco em busca da garrafa de água, sem conseguir encontrá-la. Sherlock abriu os olhos e virou o rosto para John, apenas por um momento, desviando o rosto assim que John o olhou de volta. Sherlock voltou a olhar pela janela, soltando um suspiro debilitado. John engoliu em seco, controlando a angústia. A maneira como Sherlock fugira do seu olhar, como se sentisse culpa, era um corte gelado em seu peito. Ele estava calado há horas, perdido em sua própria mente. Conhecendo Sherlock, John sabia que aquele era o pior lugar para deixá-lo se esconder. A brilhante mente de Sherlock geralmente era seu maior trunfo, mas também podia ser bastante cruel para ele mesmo. Nesse momento, Sherlock provavelmente era acometido por uma torrente de pensamentos simultâneos sobre tudo o que poderiam ter feito diferente, e sobre como suas ações guiaram até aquele resultado. E Sherlock era capaz de focar em todos eles. Mas John sabia que aqueles pensamentos estavam todos errados. Havia sido sua culpa, não de Sherlock.

— Por favor, Sherlock… – implorou. – Eu preciso ouvir sua voz. Você precisa de algo? Quer parar aqui um pouco, tomar um ar?

Sherlock abriu um sorriso abatido. Sabia que John estava sofrendo tanto quanto ele, mas escondia com todas as forças, preocupando-se unicamente em ser prestativo e deixá-lo confortável. De certa maneira, isso fazia Sherlock se sentir ainda pior.

— Eu estou bem, não se preocupe – respondeu, por fim. A voz rouca saiu quase inaudível, como um sussurro fraco. John conseguiu encontrar a garrafa de água e a ofereceu para Sherlock, que aceitou sem rodeios. Após longos goles de água, Sherlock voltou a falar, dessa vez com mais firmeza na voz. – Mas eu gostaria que você não escondesse seus pensamentos de mim.

John piscou para afastar as lágrimas que ameaçaram voltar, conseguindo manter-se calmo, ou pelo menos parecer calmo. Sherlock agora o encarava, esperando que John dissesse algo. John segurou o volante com mais força, até sentir seus dedos doerem.

— É que… – John começou, mas sua voz estava vacilante, assim como seus pensamentos. Ele não tinha certeza do que o incomodava, além, é claro, do estado de saúde de Sherlock. Gastou alguns segundos tentando organizar sua mente antes de continuar falando. – Eu só… Eu não entendo… Por que ainda estamos indo para aquela maldita casa na floresta?

— Porque é um lugar seguro… Mais do que qualquer lugar na cidade.

— Seguro, Sherlock? Do que adianta?! – perguntou, sentindo sua voz sair de controle. Inspirou profundamente, com receio de que Sherlock achasse que estava gritando com ele. Sherlock, por outro lado, permaneceu o mesmo. – De que adianta um lugar seguro agora? Você já se feriu…

Sherlock sorriu novamente, com um semblante cansado.

— Eu gostaria de ver você em um lugar seguro, John… Me sentiria melhor.

— Sherlock, por favor, não fale assim. Não fale como...

— Como se eu fosse morrer?

A impressão era que o ambiente tornara-se mais frio. John não respondeu imediatamente. Quando ia finalmente falar alguma coisa, Sherlock se curvou bruscamente, arquejando pela dor. Com a mão direita ele se apoiava no painel do carro, e com a esquerda pressionava o ombro ferido. Ocasionalmente, seu corpo inteiro era acometido por tremores. Era uma cena detestável, principalmente quando John pensava na vivacidade que Sherlock outrora apresentava.

— Sherlock? – John chamou, preocupado. Por um momento, Sherlock não foi capaz de responder. John parou o carro e aguardou até que aquilo passasse. Mesmo depois dos tremores, da respiração ofegante e os indícios da violenta dor que estava sentindo, Sherlock permaneceu de cabeça baixa por um tempo. – Deixe-me ver o seu ombro.

John puxou a aba rasgada da camisa, deixando à mostra a tentativa de curativo que ele havia feito. Então Sherlock levantou a cabeça, voltando a posição inicial. Por um momento, John viu em seus olhos uma verdade dolorosa. Uma vez, há muito tempo, Sherlock lhe dissera que as pessoas que morriam tinham sorte. A morte acaba com qualquer sofrimento para elas, a beleza da não existência. Apenas aqueles que ficam vivos sofrem com a morte. Mas naquele momento, Sherlock não precisava dizer nada. John viu o olhar de uma pessoa que não queria morrer. Ele reconhecia aquele olhar, tinha visto muitas vezes em rostos diferentes quando serviu ao exército. Era aterrorizante saber que não podia fazer nada por Sherlock. Ofereceu novamente remédios para a dor, mas Sherlock negou.

— Poupe seus serviços, doutor. Não desperdice seus remédios.

Por algum motivo, a ferida não coagulava. A mordida daquelas criaturas não parava de sangrar, e nem era em uma região que normalmente sangraria muito. John limpou a ferida e trocou o curativo com todo o cuidado e delicadeza, sabendo que qualquer força sobre a região faria Sherlock estremecer de dor. Novamente, John tentava ser prestativo, ainda que não adiantasse de nada. Ele não sabia o que mais podia fazer. Nunca antes ele se sentira tão inútil.

— Desculpe… – falou, sem pensar. Sherlock franziu as sobrancelhas, intrigado.

— Está tudo bem.

— Não está, eu não sei o que fazer! Eu não sei como eu posso ajudar você!

Sherlock apertou sua mão, um aperto fraco, sem a mesma força de antes.

— Apenas continue dirigindo, John. Vamos chegar ao lugar seguro. Isso basta para mim.

“Mas não basta para mim,” John pensou, mas aceitou, voltou a dirigir.

A pior parte de tudo isso era a demora. Era aterrorizante esperar pela morte de Sherlock. John nunca se sentiu tão desesperado, e não conseguia afastar o pensamento de que cada minuto que se passava o aproximava do momento em que o perderia. E como deveria ser para Sherlock? Estar na pele dele, passando por cada aflição e ainda consciente de que haviam iniciado um temporizador para seu fim, e que, se antes tinha uma expectativa de anos, agora já não passaria de 24 horas.

E não importava o que Sherlock dissesse, John sabia que a culpa era dele. Eles estavam sobrevivendo juntos todo esse tempo, era por isso que ainda estavam ali, diferente dos outros, que se foram um a um. Então por que John sugeriu que se separassem quando entraram naquele supermercado? Por que John não verificou todas as entradas, como sempre fazia? Por que John se permitiu relaxar, sabendo que qualquer sensação de segurança nesse mundo é apenas uma frágil ilusão?

E por que John não poupava Sherlock de passar por tudo isso, usando a bala solitária em sua arma? Talvez estivesse sendo egoísta, mas John não conseguiria fazer isso nem se Sherlock lhe pedisse. Com certeza faria depois, não deixaria Sherlock se tornar uma daquelas coisas, mas não era capaz de abreviar a vida de Sherlock um minuto sequer.

— Chegamos – anunciou.

Era uma casa perdida no interior da floresta, só a encontraria quem realmente a estivesse procurando. Com certeza era menos perigoso que perto da cidade. O plano era viverem ali em segurança. John e Sherlock instalariam arames com sinos na área em volta da casa, fazendo um simples sistema de alarme para quando as criaturas se aproximassem. Eles sobreviveriam até que a situação se resolvesse. Mas o plano já era. Sherlock não estava em segurança, eles não sobreviveriam juntos ali ou em lugar algum.

Sherlock estava conseguindo disfarçar seu estado, mas ele mal conseguia se manter de pé. John o apoiou até entrarem na casa. Não havia móveis, mas havia um largo colchão que fora trazido por Sherlock dias antes, enquanto limpavam o lugar. John o ajudou a se deitar, e em seguida fechou a porta. O coração de John palpitava quando ele se sentou ao lado do colchão.

— Você precisa de algo? – perguntou, quase em um murmúrio.

— John. Pare. Não foi culpa sua.

John não respondeu. Não discutiria com Sherlock sobre isso. O ambiente ficou silencioso. Que deviam fazer? John não suportaria uma despedida melancólica, e tampouco Sherlock gostaria de uma. Deveriam agir como se nada estivesse acontecendo, até que tudo acabasse?

— Eu não estou pronto – John falou, por impulso, e se arrependeu imediatamente. Que coisa mais egoísta de dizer, como se ele fosse a pessoa sofrendo, e não Sherlock!

Mas Sherlock não se atentou para isso. Apenas murmurou, sobre a respiração pesada:

— Eu também não.

John também se deitou no colchão, apoiando a cabeça no ombro bom de Sherlock e passando o braço em volta dele, a fim de senti-lo perto de si mais uma vez. Sherlock pôs o seu braço ferido, que mal podia mover, sobre o de John. Assim ficaram por algum tempo. Era um alívio momentâneo para John sentir o movimento, mesmo que fraco, do peito de Sherlock enquanto ele respirava. Naquele momento, não houve mais lágrimas ou frustração. A quietude era agradável, e John queria mantê-la.

— John… – Sherlock chamou. – Eu preciso confessar… Sua irmã não veio para o Natal porque eu pedi para a Sra. Hudson dizer que o apartamento foi incendiado.

John não conseguiu evitar um riso fraco.

— Isso explica a conversa estranha no Ano Novo, quando a Harry perguntou se “tínhamos perdido muita coisa”. Por que você não queria que ela aparecesse?

— Harriet deixa você desconfortável… – falou, como se desse de ombros.

— Obrigado, Sherlock. – John ergueu o olhar para seu rosto, e, percebendo a incapacidade de Sherlock de manter os olhos abertos, John o tranquilizou. – Você pode dormir agora. Feche os olhos, Sherlock, eu estarei aqui com você. Estarei aqui até o fim. – Nesse ponto, já não sabia se ele ainda o escutava.

John permaneceu na mesma posição. Não estava mais assustado. No momento, só queria que Sherlock não sofresse mais. Seria algo pacífico, já que ele não estava mais consciente e as dores não mais o afligiam como antes. John permaneceu naquele abraço acolhedor e melancólico, até que o peito de Sherlock tranquilamente parou de se mover.

John ficou de joelhos, olhando para Sherlock, completamente imóvel. Pela primeira vez, suas mãos tremiam ao segurar uma arma. Com a mão esquerda, John permanecia segurando a mão de Sherlock, e com a direita aproximou o cano da arma da têmpora dele. Aquela cena parecia tão errada… Mas John evitou os pensamentos, não podia permitir que Sherlock voltasse como uma daquelas criaturas. O estouro pareceu despertar as lágrimas que não haviam surgido antes, e John lamentou como nunca lamentara a perda de ninguém.

E novamente, John estava sozinho.

23 Novembre 2019 14:30 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
0
La fin

A propos de l’auteur

Marianna Ramalho Também posto no Nyah, no Spirit e no Wattpad sob o nome de Jupiter L. Se houver interesse pela minha escrita de forma "integral", sugiro acompanhar pelo Nyah ou Inkspired. Nem todas as histórias são postadas no Spirit e no Wattpad.

Commentez quelque chose

Publier!
Il n’y a aucun commentaire pour le moment. Soyez le premier à donner votre avis!
~