loremkmorais Lorem K Morais

Quando criança eu tinha medo de dormir e nunca mais acordar. Vagava pela casa na madrugada, mirando as paredes e tentando encontrar o quarto dos meus pais. Nesses momentos eu nunca tinha certeza se estava dormindo ou não. Até hoje eu não tenho. [Diário dos meus sonhos mais bizarros dos últimos anos, a maioria deles foi publicado anteriormente em meu blog.]


Fantaisie Tout public.

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O chamado do lobo

[25-08-2010]

Não sabia ao certo há quantas já estava o dia. O céu estava fechado por uma densa camada de nuvens escuras e relâmpagos iluminavam frequentemente a inóspita paisagem.

A estrada era margeada por um floresta de pinheiros verdejantes, mas os faróis só me permitiam enxergar pouco a frente do caminho asfaltado que parecia não ter fim.

Preocupava-me algo, talvez o fato de dirigir sem habilitação ou mesmo idade apropriada. Havia um incômoda lacuna, mas sabia que tinha que chegar a qualquer custo a uma cidade antes que desabasse a tempestade iminente. A caminhonete preta de ano desconhecido não era tão rápida, mas ainda assim o vento entrava pelas janelas abertas aliviando o desconforto do tempo abafado.

Liguei o rádio do carro, sintonizado em uma rádio qualquer. Quando ergui os olhos do rádio, a luz dos faróis incidiu na figura e estremeci de susto: um lobo cinzento me fitava com grandes olhos azuis no meio do caminho.

Desviei do animal e o carro rodou chocando-se com uma árvore da margem.

Sai do carro surpreendentemente ilesa, com as gotas grossas me ensopando instantaneamente.

O lobo encarava-me no mesmo lugar, ele não havia recuado um único centímetro, mesmo diante do quase impacto que havia ocorrido.

Ele me fitou de uma maneira estranha e virou-se adentrando na floresta do outro lado, não sem antes olhar-me mais uma vez. Eu sabia que ele queria que o seguisse.

E aquilo estranhamente não me pareceu anormal.

O fiz.

Durante nossa caminhada, o lobo por diversas vezes virava-se para ter certeza de que o seguia. Chovia já torrencialmente fora da floresta, mas dentro as árvores diminuem o fluxo das gotas que caiam.

Quando o lobo cinzento adentrou em uma caverna, mais uma depressão no meio das rochas do que qualquer coisa, eu pude ouvir. Claramente.

Era um som de violino vindo de dentro da depressão.

Logo ao enxergar a entrada, vi a grande matilha.

Havia pelo menos dez lobos por toda a parte, sentados enquanto fitavam a chuva e a entrada, mas nem sequer me olharam quando passei em meio a eles.

Vi o fogo que crepitava no meio das pedras, pude distinguir uma silhueta em pé de frente a ele. Era o violinista. Não pude ver-lhe a face, mas notei o sinal que fez para que me sentasse perto do fogo. Minhas roupas estavam ensopadas e notei que tremia. Sentei-me grata e ele prosseguiu com a canção sem nada dizer.

O lobo cinzento que havia me guiado se postou ao meu lado e passei a mão em seu pelo fofo e quente. Ele sentou-se perto, me esquentando enquanto os olhos azuis brilhavam de maneira enigmática diante do fogo.

Ouvíamos a música que parecia retumbar nas paredes. E que depois de um tempo cessou repentinamente. O violinista abaixou o instrumento e senti que me prescrutavam da escuridão. O corpo quente e felpudo ao meu lado ficou tenso e ergue-se.

Havia algo familiar ali, naquele homem, mas não pude distinguir e isso me desagradava.

"Acautele-se." Ele falou de repente, com uma voz familiar e rouca. A frase era estranha, absurda para mim.

"Acautele-se." Ele repetiu e então ouvi os rosnados atrás de mim. Virei-me em tempo de ver a matilha avançar pela caverna, com suas presas afiadas e caninos expostos na minha direção.

O lobo cinzento se postou de maneira protetora à minha frente, também rosnando, protegendo-me dos demais. O homem continuava parado, apenas assistindo.

"Cuidado ao andar com lobos." Falou de maneira agourenta.

Os rosnados estavam perto e altos, ensurdecedores e eu sequer conseguia dar um passo para fugir.

"É melhor você ir agora."

Assustei-me, não era mais o homem que falava, mas meu lobo cinzento. Ele estava em posição de ataque enquanto um outro lobo branco avançava rapidamente e pulava pronto para agarrar em minha jugular.

"Acorde!"

O lobo cinzento gritou.

No momento em que os animais se chocaram, acordei no chão.

Havia caído da cama durante o sono.

Levei a mão ao pescoço automaticamente e procurei pelos rosnados ao redor.

Não consegui mais dormir naquela noite.

Não era a primeira vez que sonhava com lobos, mas mesmo assim aquilo me abalou. Tudo havia se passado em menos de quinze minutos desde a hora que havia me deitado. Pareceram horas.

2 Novembre 2019 16:54 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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