E de repente o meu céu se tornou um inferno. Estava tudo no seu devido lugar, tudo intocado, tudo... intacto. A luz pulsava da forma mais brilhante possível. Mas, naquele momento, tudo virou de cabeça para baixo.
Me apaixonei por ele, justamente por ele, Denver, um mero mortal que estava em apuros e então eu o resgatei dos seus quase últimos segundos de vida, mais um instante e ele teria sido atropelado por aquele caminhão. Foi tudo muito rápido. A forma como nos aproximamos mais ainda. Logo, estávamos nas sombras de um beco.
- Quem é você? - perguntou ele.
- Ninguém. - tentei voar para longe, mas ele segurou o meu braço antes de eu bater as asas.
- Espere. - disse, nossos olhos se encontraram - Você é...
- Um anjo? - atirei dando uma olhada para minhas grandes asas brancas - Sim, eu sou. - não tinha como esconder, afinal, minha forma estava exposta.
- Eu iria dizer bonita. - esclareceu.
- Ah. - minhas bochechas coraram.
Parecia tudo um mar de rosas, um delírio, um sonho, mas a queda foi grande. Literalmente. No céu, nosso romance foi descoberto. Se apaixonar por um mortal era terminantemente proibido, sem falar que isso bagunçaria muito as coisas na terra. Fui expulsa do andar de cima. Vaguei por toda a cidade de Los Angeles em meio a chuva. As asas passaram de branco para preto. Isso era sinal de raiva, exclusão, tristeza ou, até mesmo, a presença de algum pecado interior.
Denver me encontrou perambulando pelas calçadas.
- As pessoas não disseram nada sobre suas asas? - questionou ele olhando para elas.
- Depois que eu disse que vim de uma festa a fantasia pararam de cochichar. - esclareci.
Ele estava de carro e me ofereceu carona para o seu apartamento. Fui ao beco mais próximo para esconder minhas asas e enfim entrar no carro para sair daquele cenário de dramaturgia. Uma luz saiu de minhas costas e as asas negras sumiram, mas ainda assim estavam lá, eu poderia usá-las quando quisesse. Arranjei um emprego simples para poder ganhar dinheiro e dar conta de mim mesma. O tempo foi passando e minha barriga foi crescendo. Sim, eu estava grávida. Isso aconteceu antes de nosso caso ter sido descoberto.
Eram dois bebês. Duas meninas. Quando nascessem seriam metade anjo e metade mortal. Mas em certa idade elas teriam de escolher entre a parte angelical e a humana.
Contei tudo a Denver. Tudo mesmo. Todas as razões e os porquês de tudo aquilo ter acontecido. Deixei-o logo que percebi que aquilo poderia afetá-lo. Poderiam vir atrás dele. O andar de baixo é traiçoeiro. Comprei uma mansão no centro da cidade, onde passei a morar sozinha. O apartamento de Denver ficava muito distante. Se ele quisesse me visitar, teria de cruzar toda Los Angeles. Insisti para que ele nunca ousasse fazer uma proeza dessas. Não o vi desde então.
9 meses se passaram e lá estava eu no primeiro andar olhando a bela vista.
- Ai! - levei as mãos a barriga - Oh Deus!
Estava na hora.
- Alguém chame uma ambulância! - gritou uma empregada.
A hora de dar a luz a minhas meninas chegou e cuidar delas nesse mundo mortal seria uma tarefa difícil.
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