aquelesousa Weslley De Sousa

Uma noite. Uma luz. Um beco. Dois corpos ligados a um momento e a dois sentimentos. Toques, olhares e não-olhares. Duas crianças experimentavam a singela capacidade da troca de carinhos labiais em um curto espaço, representando os seus corações pequenos que inseguros buscavam algo novo.


Romance Tout public.

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Capítulo Único

Os corredores eram finos, o bastante para caber não mais do que três pessoas encostadas uma na outra em uma tentativa brusca de se esgueirar pelas passagens permitidas. Poucas frestas que permitiam luzes baterem contra as finas paredes arranhadas por uma massa corrida mal colocada, ou quem sabe dois corpos encostados em uma parede que segurava seus ombros e o sutil ar ofegante que saia de suas bocas ao terem realizado o prometido primeiro beijo de ambas as partes. Seus braços entrelaçados em torno das cinturas finas um do outro, suspiros lentos entre as trocas de salivas e um doce toque gentil que os dedos de cada um escolhia realizar em regiões superiores dos pescoços individuais do parceiro.


— Seu beijo é doce. - quase inconsciente, banhado no chafariz do prazer de ter tido a oportunidade de beijar aqueles lábios que tanto desejou, suas palavras eram proferidas sem ele sequer ter consciência do que estava dizendo.


— Seu também. - seu olhar encantou o rapaz, os toques da garota a sua frente lhe enfeitiça e o milissegundo da resposta entregue havia sumido de sua mente, quem dirá o não-olhar presente naquela troca de carinhos.


As gotas gélidas que caem do telhado durante aquela calorosa noite mal podiam ser sentidas, aquelas crianças não se importavam com o seu redor durante aqueles curtos minutos, que enquanto na cabeça de uma parecia durar longos minutos, quanto na cabeça de outro que mesmo curtos, se tornavam os melhores. A Lua se movimentava em despedida da terra mais uma noite, enojada de sua falsa estadia naquele apertado céu que nunca quis recebê-la em seus braços para que abrigasse mais uma vez o ilusório e caloroso Sol.


Seu corpo estava tão leve. Ah, era um calor agradável que arrepiava cada parte deste corpo pequeno e cheio de energia durante uma manhã que em primeira instância seria como todas as outras. Mas esta? Era especial. Olhando em retrospecto, duas vezes especiais. Duas camadas tornavam aquele dia algo especial, quase como um delicioso prato de carnes brancas onde a cada toque desferido pela sua carinhosa pele, unicamente para que identificasse as áreas que passaria sua faca posteriormente, fosse como sentir o próprio divino em suas salivas que molhavam a boca apenas com o poder do imaginar. Porém, por baixo do que esta camada suculenta escondia, nada passava do que uma junção podre do mais eloquente visco que uma vez atravessou o coração de Baldr, como contavam as lendas.


— Não, pô. Como assim? - Sua manhã havia sido, essencialmente, a coleta das mais positivas energias que sua mente poderia apontar na caminhada pela sua casa. Sua mãe estranhava o comportamento do filho, mas não deixava o sorriso no rosto e o peito estufado de felicidade serem comprometidos. Afinal de contas: crianças, certo? — Ela não faria isso, né? - Adentrou o carro de sua mãe ao ser convidado para visitar seu trabalho novamente. Um pedido este que envolvia mais estar próximo a mãe, ao invés de propriamente visitá-la em seu trabalho. Seu interesse estava na rua onde residia seu local de trabalho. Em um dos becos contidos naquela comunidade estava presente o fatídico lugar onde por debaixo do mesmo feixe de luz, beijos ocorreram.


— Aconteceu logo depois que você saiu. - Seus ombros caíram, mas com o peso de quem acabava de colocar sobre elas uma tonelada de sentimentos incapazes de suportar.


— Com quem? - Não podia, sua masculinidade não permitia. Não podia, as masculinidades ao seu redor não aceitariam. Não podia, pois jamais possuiria sua masculinidade novamente. “Talvez tenha sido por falta dela.” pensava. “Talvez eu devesse ter tido uma puxada mais quente.” pensava.


— O Walton, da escola dela. Lembra do menino que jogou bola com a gente na quadra semana retrasada? - Ah. — Então, foi com ele. As risadas de deboche surgiriam em seus rostos eventualmente, a criança apenas contava os segundos para ela acontecer, mas não é como se desejasse-as.


Agora, leitor, você deve entender porque esse dia foi marcado como uma camada dupla de sentimentos especiais. Porque essa seria a primeira de um largo ciclo vicioso de erros que aconteceriam na vida desta criança.


— Ela falou alguma coisa? Tipo… o que faltou em mim e essas parada, ‘tá ligado? - A Cabeça em seu movimento negativo não surpreendia o menino, mas apertava o seu coração em uma dor semelhante às de uma flechada abstrata que perfura o mais viscoso dos corações ilusórios.


— Esquece essa mina, ‘tio. Ela é problema, tem outras. - Enquanto caminhava com seus colegas para a mesma quadra comentada segundos atrás, lembrava-se das palavras que dirigia para a garota que acreditou estar do seu lado.


O que o amor cego não é capaz de fazer? Desfaz a sua cabeça e a transforma em fragmentos incontáveis de diversas insignificâncias alheias. Jamais sendo capaz de reuni-las ou jamais de, sequer, ser compreendidas e correspondidas. Afinal de contas, o que se trata a fidelidade no olhar de uma criança?


— Você está mesmo pedindo isso para uma galinha como ela? - Se localizava sentado na cadeira da sala, de frente para o quarto da desejada enquanto sua melhor amiga segurava o pedaço de papel preenchido com as mais belíssimas e poéticas palavras que um coração acorrentado poderia ser capaz de discorrer com uma caneta. — Você tem ideia de com quanta gente ela já ficou?


— Ah, mas… - suas bochechas estavam ruborizadas. Seu olhar dificilmente conseguia se manter reto na direção das meninas. - Quem sabe, dessa vez não pode ser sério, saca.


‘tá vendo, né, Liane. - Sua melhor amiga entregava a carta gentilmente para esta, enquanto ela guardava a própria em uma das gavetas da pequena cômoda ao lado de sua cama.


— Ignora ela, Neo. - Caminhou em sua direção, segurando sua mão e despejando um beijo em sua testa, um beijo lento, um beijo demorado e carregado da mais descompromissada vontade de estar em qualquer outro lugar além dali.


Foi o que ele pensou.

16 Septembre 2019 06:38 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

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