Eu vejo um corredor de tijolos alaranjados, uma formação quadrada e fria guarda a vida de um casal a espera da notícia.
O que se faz quando a criança vinga? Vai ter vida, fome e necessidades?
Vai ter que educar? Para que?
Para sobreviver ao opróbrio do descaso?
Já com tantos outros filhos pequenos que correm pelo polígono disforme e gélido, vejo que eles só brincam no meio fio do desespero.
Meu coração bate, ele anseia pela notícia e assim vem a profeta, sem criança nenhuma, só palavras de consolo e algumas lágrimas.
Eles choram, eu brinco. Me retardo com os esfomeados, faço o desafio de correr até o chão seco, rachado e desnutrido, meu quintal é meu sertão, só tem cacto e lagartixa.
Eu me escondo entre os espinhos e os famintos me perseguem.
Eu rio, sinto alívio, “lá se vai um peso a mais.”
Quem iria te sustentar?
Aquelas tetas secas?
Que leite teria para ti pobre criatura? Vais tarde pequena borboleta, troque sete dias por sete horas, troque sua vida por uns centavos no sinal.
Então o cortejo fúnebre interrompe meu desabafo e com ele lá vem as mulheres enxeridas e chorosas, no canto do rosto tem aquele sorriso safado, estampando o gosto pelo sofrer.
Os pais levam seu pequeno feto morto num saco, um saco… um saco… com uma pequena cruz, é só isso.
Quão poderosa é a empatia da morte. Me vejo jorrar de dor e pena, me vejo seguindo o cortejo acompanhada dos meus demônios famintos, embora já com suas barrigas cheias de meu remorso.
Vejo ali, enterrado o corpo de minha aflição, mandei para o fim o que me deu repúdio, sacrifiquei o que me oprimiu, beijei sua face inocente e fria pela última vez.
Jogo terra por cima do anjo inocente, cravo ali uma cruz e choro desesperadamente.
Vai com Deus pobre miserável!
Merci pour la lecture!
Nous pouvons garder Inkspired gratuitement en affichant des annonces à nos visiteurs. S’il vous plaît, soutenez-nous en ajoutant ou en désactivant AdBlocker.
Après l’avoir fait, veuillez recharger le site Web pour continuer à utiliser Inkspired normalement.