whatapanda Políbio Manieri

Dos nove anjos caídos, três foram expulsos por grandes ambições, dois por terem auxiliado Lúcifer na obtenção do poder e dois, por amar


Fanfiction Anime/Manga Interdit aux moins de 18 ans.

#naruto #nejihina #anjos-e-demonios-AU #Divergência-bíblica #angústia #darkfic
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Bendito seja o homem que resiste à tentação

Notas iniciais:

À minha querida amiga Ray, que viu a ideia nascer e se modificar, mas não consegui que a visse depois de pronta.


TW: Tortura. Heresia. Tormento. Incesto. Morte.

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"Pai, perdoa-me, pois eu pequei..."

Abre teus olhos.

Ela obedeceu, descobrindo as pálpebras. O que enxergou foi borrões, ardência e luz, muita luz... aos poucos, a visão acostumar-se-ia.

O que sentes é chamado dor.

Voltou-se para a fonte daquela voz e seus olhos focaram a figura diante de si. Grandiosas asas possuíam-lhe as costas, fios dourados destoantes por entre o branco imaculado das penas do anjo de alto escalão.

A partir deste momento, sangrarás sempre que te machucar.

Uma movimentação incomum chamou sua atenção para baixo e ela voltou o olhar para o próprio corpo. Descobriu-se com pernas.

Fitou suas mãos, agora com palmas, como quem acabara de encontrar um tesouro escondido e o grande anjo lhe sorriu quando ela tocou-lhe, em curiosidade, as compridas madeixas castanhas que deslizavam pelos seus ombros. Ele ajoelhou-se ao mesmo nível da criatura sentada ao chão.

Do mesmo modo tu os tem. Vês? – E passou-lhe os dedos pelos prematuros fios negros sob sua cabeça, seguido por olhos atenciosos a todas as suas movimentações. – Precisas de um nome.

Ela percebeu-se com boca e então abriu-a, dando passagem ao som leve, dificultoso.

P...Por... que?

Todas as criaturas vivas necessitam ser nomeadas.

Criaturas vivas.

N... não. – ela balançou a cabeça negativamente e respirou fundo, concentrando-se naquela mais recente habilidade – Por... que? Como... tornei-me viva?

De todos os presentes que ganhou com a vida, descobriu-se com memória.

instantes não era muito além de um espírito de vida frágil. O pedaço de cosmos entre o céu e terra, matéria-prima angelical, vazia e enfadonha. Escolhida entre milhares castrados que vivem e morrem sem sequer perceberem a própria existência infeliz.

Mesmo anjos insignificantes sentem dor. – ele respondeu, apenas.

A mão tocou o rosto feminino em uma carícia terna que fez sua face relaxar, a despeito de não compreender, ao certo, parte dos motivos.

O Pai... Ele agora me escuta?

Aquele enorme ser de luz transmitia tranquilidade e, embora o curvar de lábios anterior tenha se dissipado, a observou com uma expressão suave estampada em olhos límpidos e claros.

Escuta. É só o que sabe fazer.

E só então ela reparou, diante a amargura da resposta, marcado com ferro em brasa, o símbolo da desobediência que despontava na testa à sua frente. Descoberto. Incólume.

Fiz-te nariz para que aprecies o aroma das flores. Dei-te pele para sentir o calor do sol. Abri teus olhos para que possa apreciar todas as cores do teu extenso jardim. Elaborei-te cabelos para que possa divertir-se molhando-os no orvalho da manhã. E ergueu-se, ereto – Levanta-te anjo da terra, pois tu estás viva.

[...]

Uma.

O silvo sibilou pela parede vazia, fria de pedra e de remissão, como uma serpente agonizando no leito de morte. Sua mão, tão apertada em torno do cabo encouraçado, tremia sem capacidade de discernir a vergonha do desespero, a dor do alívio, a crueza do dever.

Pois mentiria ele diante o altar caso dissesse que o que fincou em seu peito não era mais do que posse. Mais do que raiva. Mais do que medo.

Anjos não mentem.

Infectado em fúria desmedida, seu braço despencou novamente e o estalar do chicote que deveria revelar perversidade, não passou de um reverberar tosco da sua aflição.

Duas.

Aquilo ardeu-lhe fundo na pele. Tal qual o flagelo tornado em rubro na pele pálida das costas à sua frente, elucidando e zombando de tudo aquilo que restara dele. O monstro abominável que se tornara.

Que ela o tornara.

[...]

Veja, irmão! – as mãos sujas de terra estenderam-lhe a coroa com graciosidade e entusiasmo. – Fiz para ti.

O aro era feito de flores da pétala em puro ouro. Tolhidas no caule e entrelaçadas entre si por dedos habilidosos, em que a pressa por fazer restava evidente no acabamento desajeitado.

Ele sorriu diante o esforço sob as pontas dos pés que ela fazia para pousar o presente em sua cabeça.

É para enfeitar teus cabelos e combinar com o dourado das tuas asas. – e apontou, sorrindo com orgulho – É primavera.

Dona de uma felicidade genuína, ela balançava-se em seus calcanhares e encarava sua frieza com grandes olhos brancos, expectativos, o discreto tom rosáceo que coloria suas bochechas dando vida àquele rosto de boneca de louça.

O grande anjo afastou-lhe a franja dos olhos com uma das mãos e os dedos deslizaram lentamente por toda a extensão do negror de seus cabelos.

Eu agradeço, Hinata.

[...]

Cinco.

O tecido fino em torno do tronco tingiu-se de vermelho.

Foi quando, em sua petulância, decidiu-se como criador. Foi quando, em desesperança e abandono elevou-se aos Céus, sem asas, mas com pincel e tinta, rasgando o branco ao respingar as cerdas, e assim outro anjo fez.

Ele dissolveu o nada em um ser orgânico, banhado de lua e sol. Ela era toda sorrisos e cores, valsas e dissabores. Sua última e única criação bem-sucedida. A protegeu desde o momento que a vira. A amou desde o momento que a concebera.

Mas Deus está morto, e o tudo o que resta é este sentimento distorcido a lhe romper fendas pelas costas e lágrimas pelo coração.

Sete.

Estendido sob as pedras, o corpo dela encolhia-se a cada contagem.

Quem sabe os pensamentos que permeava a mente do anjo tolo, quando a imaginava afogada sob seus cabelos castanhos? Derramada em seu suor, absorvida em seu sangue, em sua dor, neste ardor familiar que os envolve, os machuca e os faz ansiar pela cura que não há de existir.

Oito.

Era uma vez, em um tempo longínquo. Antes mesmo do início de tudo e certamente antes do fim. Uma batalha estremeceu o terceiro céu, em busca da insossa liberdade. A revoada ingloriosa das criaturas contra o Criador.

Quando soaram as trombetas e o paraíso tingiu-se carmesim, a espada de fogo impiedosa decepou as asas dos insurgentes. Perante a Assembleia do Altíssimo, toda a legião de anjos rebeldes fora sentenciada à escuridão do Tártaro. A Grande Queda*.

O chão partiu ao meio e então suas almas pecadoras caíram junto do dragão. Acorrentados em meio ao fogo, os corpos aguardariam mil anos pelo julgamento final.

E foi precipitado o grande dragão,
a antiga serpente, chamada o Diabo, e
Satanás, que engana todo o mundo;
ele foi precipitado na terra,
e os seus anjos foram lançados com ele
(Apocalipse 12: 9)

Nenhuma glória foi devida aos anjos que triunfaram ao lado de Miguel e nenhuma piedade foi oferecida àqueles que não escolheram seus partidos na grande guerra celestial. Ainda que não sucumbissem ao mesmo peso da traição dos ingloriosos, o lavar das mãos lhe custariam caro e sob estes recaiu um selamento. O controle dos infiéis. Pois às criaturas divinas não foi dada a dádiva do livre arbítrio.

Assim contrastava agora, sem graça, marcado em sua testa, o Selo dos Isentos.

E ele sabia, e todo o reino dos céus sabia. A criatura jamais seria capaz de rebelar-se contra o seu criador. Aquele selo sentenciava a desobediência com morte. A chance de lutar, amar e viver, por sua autonomia, esvaíra-se como que poeira no ar. Para sempre.

Para que a justiça da lei
se cumprisse em nós,
que não andamos segundo a
carne, mas segundo o Espírito.
Porque os que são segundo a carne
inclinam-se para as coisas da carne;
mas os que são segundo o Espírito
para as coisas do Espírito.
Porque a inclinação da carne é morte;
mas a inclinação do Espírito é vida e paz.
Porquanto a inclinação da carne
é inimizade contra Deus,
pois não é sujeita à lei de Deus,
nem, em verdade, o pode ser.
(Romanos 8:4-7)

[...]

Irmão, Neji... – ela puxava timidamente suas vestes, com o rosto para a direção de um humano no espelho da terra. Como é a vida fora dos portões?

Ao reconhecer o vislumbre que ela lhe apontava com fascínio e receio, sua plácida expressão deformou-se em carranca.

Não é tipo vida. É a única vida. Não era permitido. Era odioso. Era, acima de tudo, decadente.

Escuta-me bem, Hinata, para que não haja dúvida. Não te aproximarás jamais da Terra, entendeste?

[...]

O tempo corroeu sua gravura. O vento dissecou cada pigmento sagrado colorido e as bactérias se encarregam em destruir até o último tecido do anjo pintor, sem nunca ter dado a chance de descobrir que sua bela Querubim mirava bem mais que o infinito.

Seria exagero, quando não houvesse espaço para a ingenuidade, alimentar a centelha que lhe brotou. O desejo cru de tolher a independência daquele anjo gêmeo que, ironicamente, lhe era reflexo da própria inconformidade.

Amor é sentimento desprovido de perfeição. É egoísta, pecaminoso, humano. É desejo, carne, ruína. Não é digno das criaturas mais perfeitas do Senhor. Anjos sucumbentes a tentações humanas tornar-se-ão nada além de miséria.

Portanto não há mais atormentada alma que a do anjo apaixonado.

Doze.

Ainda que não pudesse usufruir daquele amor, com todas as forças que lhe restassem, a manteria longe da decadência. Quebraria todas as leis que proibissem os anjos de hierarquia acima de descerem à terra, ainda que a desobediência lhe queimasse a pele e sanasse a vida, mais adiante.

Mas as fugas dela tornaram-se frequência. E o silêncio daquela boca, cada vez comum. Olhos manchados pela inocência escureceram e já não o admiravam, tão ansiosos para partir. E quando a pele de nevoeiro deixasse de corar em frivolidades, ficou evidente ali que ela caíra.

[...]

O que é? – ela referia-se ao símbolo em sua testa.

Ele responderia sem ao menos titubear.

Penitência. – Percebendo a insatisfação da face pela brevidade da réplica, continuou. – Para que não esqueça o meu lugar.

O silêncio que se seguiu era moldado apenas pelo suave vinco que se marcou entre as sobrancelhas finas.

Algo a incomoda?

Um contorcer de lábios.

Diz-me, irmão... Qual o meu lugar?

[...]

Das fugas ela tornava cada vez mais impregnada na pele por um ranço familiar. Aquele cheiro que, misturado à carne, retornava pálido como fantasma a escarnecer de sua humilhação. Marca forte eternamente cravando-se sob aquilo que jamais seria seu.

Quinze.

A cada choque, a cada crepitada desferida pelo chicote com violência, assistia a pele se contrair e as costas recuarem. Os pulsos finos, imobilizados pelo frio sólido das correntes em bronze, avermelhavam-se à medida que ela sustentava todo o peso do corpo em seus apoios, deixando-se pender como que carne em açougue.

Que gritasse em dor, que corroesse em agonia.

Ele engoliria a tudo que mais ama e no metálico se afogaria, livre daquela ilusão, livre daquelas memórias.

[...]

Deus tenha misericórdia de minha alma, irmão.

Hinata, o que tu fizestes?

Eu me apaixonei.

[...]

O julgamento fora impiedoso.

O Altíssimo impetuoso.

Condenados gritariam por misericórdia. Contorceriam seus corpos em desespero, podendo-se ouvir ao longe seus lamentos por tão severo e doloroso castigo. Mas não ela, a pecadora. Que abraçava sua sentença com o peso da resignação.

Implorou-lhe, apenas, para que diga ao Criador suas preces. Preces de anjos. Mil vezes mais sagradas que qualquer outra criatura dos três Reinos por não saberem que Deus criou seus filhos mais próximos apenas para observar mais de perto enquanto caem.

Nele recaiu a incumbência. Pois aquele sacrilégio também era o seu.

Com os joelhos machucados pela brutalidade do chão de pedra, sob o égide violento daquele que mais a amava no mundo, seu algoz, ela apenas chorava baixinho.

Ele foi oprimido e afligido,
mas não abriu a sua boca;
como um cordeiro foi
levado ao matadouro,
e como a ovelha muda
perante os seus tosquiadores,
assim ele não abriu a sua boca.
(Isaías 53:7)

Dezoito.

Nem anjo nem diabo, milagre ou pecado.

Dezenove.

Seu céu, seu inferno, seu sonho em pesadelo.

Vinte.

Anjo decaído em belo espírito demoníaco num futuro em que é vício e violência, mas ainda pureza. Faz sorrir e chorar, orar e pecar. Entorpece e cura, vê sem olhar.

Porque você erra, e se faz vencedor.

Vinte e dois.

E assim você se perde na escuridão. Muito antes de encontrar as respostas que nunca quis.

Vinte e três.

Ele sentia o salgado gotejar-lhe pelo queixo e no vazio o único som daquele recinto se misturava ao de sua prantina. Porque o salgado que lhe escorria a face não era suor.

A marca esverdeada em sua testa vibrou em discórdia quando ergueu em mãos sujas aquele rosto bonito e molhado.

– Por que, Hinata?

Por que não eu?

O encontro com os olhos de luas, tão sagrados quanto os seus próprios, tão amaldiçoados quanto os seus próprios, selou o seu calvário. Naquela sala de penitências ele soube que havia caído junto dela.

– Perdoa-me, irmão.

Corrói o chamamento fraterno. Dor o suficiente para que perceba que não é correspondido e que é imundo.

Tirou-lhe a franja úmida dos olhos e delicadamente tomou os lábios contra os seus, sentindo-os rachar. O mel que tanto desejara, no fim, tinha gosto de sangue.

Malditas fossem todas as criaturas de Deus infortunadas como ele, que apenas desejavam enlouquecer de amor.

Tanto na terra como no céu, todos eram parecidos.

"Senhor, tende piedade de nós"

O grande anjo desapareceu lentamente em puros fragmentos de luz, como se tivesse sido miragem desde o primeiro instante. Nos lábios outrora beijados restou apenas poeira de ouro.

"Cristo, tende piedade de nós."

E ela estava só, com seus grilhões, seus pecados e suas lamentações.

Pois Deus está morto.

"Cordeiro de Deus, tende piedade de nós."

No fim, os demônios são mais livres.


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Notas finais:

* Se refere à rebelião do Anjo Lúcifer, também conhecida como a Queda ou o Banimento, foi uma grande guerra que aconteceu nos Sete Céus, quando o arcanjo Lúcifer quis dominar o paraíso e se tornar maior que Deus.

5 Février 2022 02:05 2 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

A propos de l’auteur

Políbio Manieri Being alive...

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Rita Gomez Rita Gomez
Uau! Que denso! Não sei o que dizer na verdade, apenas que amei. Parabéns pelo enredo incrível, sou completamente apaixonada por essa temática. Fiquei sem palavras, sério. Parabéns!
February 13, 2022, 17:35

  • Políbio Manieri Políbio Manieri
    Obrigado meu amooooor Essa fic é meio pesada mesmo, hoje em dia nao sei mais se tenho mais tanta dedicação mas to satisfeita hsysh fico muito feliz que voce gostou, muito obrigado pelo comentinho ♡ March 10, 2022, 00:07
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