lara-one Lara One

O que Krycek estaria fazendo na cama com Scully? Apenas um sonho? Ou Mulder poderia estar tramando uma vingança sinistra contra o inimigo, usando sua própria parceira? Fic escrita em parceria: One & Silvia Penhabel


Fanfiction Série/ Doramas/Opéras de savon Interdit aux moins de 21 ans.

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S04#19 - INCUBUS

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

[Som: Enae Volare Mezzo – Era]

Fade in (tela escura abrindo-se)

Scully desperta, sentindo o corpo másculo e vigoroso em cima do seu. Molhado de suor. Ela sente o suor dela correndo também por seu rosto, seu corpo. Ele permanece com o rosto recostado no pescoço dela. Ofegante.

Ela afaga seus cabelos, como quem não sabe quando e como aquilo aconteceu. Mas ainda em estado de êxtase. Desliza as mãos pelas costas nuas dele, pra baixo do lençol, acariciando-o por completo. Sensações estranhas, confusão completa. Ela sente a língua dele percorrendo seu pescoço, sugando-a com um desejo enorme. Ela se entrega completamente, fechando os olhos, virando o rosto no travesseiro. Sente-o dentro dela novamente, com um vigor e desejo que ela desconhecia. Ela geme, movendo seu corpo contra o dele, com a mesma ânsia e desejo, mordendo os lábios. Abre os olhos.

Então ela vê Mulder, dormindo a seu lado, com o rosto voltado pra ela.

Scully arregala os olhos e rapidamente empurra o corpo sobre o seu, pelos ombros largos e macios. Esboça um olhar de pavor e de quem não entende nada.

Krycek apenas lhe dá um sorriso. Ela desmaia, aterrorizada.

VINHETA DE ABERTURA


BLOCO 1:

Arquivos X – 8:19 A.M.

Mulder brinca com os lápis. Scully está distante, nervosa. Não olha pra ele. Mulder percebe que ela está diferente.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully, está acontecendo alguma coisa estranha?

Ela olha pra ele com o medo nos olhos.

SCULLY: - Não, nada.

MULDER: - Você se levantou correndo, não me deu um beijo, não disse nada até agora...

SCULLY: - Estou com dor de cabeça, só isso.

Mulder levanta-se.

MULDER: - Vou sair. Volto logo.

SCULLY: - Tá.

Ele sai. Ela põe as mãos no rosto, completamente confusa.

SCULLY (OFF): - Meu Deus! ... Foi sonho? Não, parecia real demais... E-eu... Eu não consigo entender... O que aconteceu? Aquele homem asqueroso que eu queria ver morto... (CULPADA) Deus!... De todas as traições possíveis esta foi a pior que eu poderia ter feito ao Mulder... Eu... Eu estava ali, ao lado dele, fazendo sexo com o seu maior inimigo...

Ela abaixa a cabeça, derrubando lágrimas nervosas de culpa.


Apartamento de Mulder - 9:25 P.M.

Mulder senta-se na cama. Scully está deitada de costas. Mulder olha pra ela, mas não fala nada. Ajeita o travesseiro. Deita-se.

MULDER: - ... Sabe que eu sou seu amigo. E gostaria de saber o que está te assustando.

SCULLY: - (NERVOSA/ MORDENDO O POLEGAR) Não tem nada me assustando.

MULDER: - ... Tudo bem. Quando quiser conversar, me acorde.

Ele vira-se de costas pra ela. Fecha os olhos. Ela continua com os olhos abertos, o pavor estampado nos olhos azuis.

SCULLY: - … Mulder...

MULDER: - Fala.

SCULLY: - ... O que fizemos ontem à noite?

MULDER: - (SORRI) Como assim?

SCULLY: - ...

MULDER: - Eu apenas realizei uma fantasia sexual sua. E posso realizá-la todas as vezes que quiser.

Ela fecha os olhos, incrédula. Sente o medo tomar conta de si mesma.

SCULLY (OFF): - ... O que ele quis dizer com isso? ... E se realmente não foi sonho e ... Oh, Deus, eu... eu estou confusa, completamente confusa. Não posso perguntar nada pra ele... E se for um sonho? Ele ficaria furioso comigo... Mas... Não, Mulder jamais permitiria que algum homem me tocasse... Principalmente aquele homem...

MULDER: - Gostou?

Ela vira-se pra ele.

SCULLY: - Mulder...

Ele vira-se pra ela. Sorri. Ela embaraçada por completo. Fita-o, séria e assustada.

SCULLY (OFF): - Algumas vezes tenho medo dele. Não sei até aonde vai seu desejo de vingança. Sinto que existem segredos sobre Mulder que nem eu mesma sei... E se por causa desses planos loucos dele, ele tivesse resolvido...

MULDER: - Scully?

SCULLY: - Ahn?

MULDER: - Gostou?

SCULLY: - ... Do quê?

MULDER: - Do que aconteceu ontem. Você sempre disse que tinha essa fantasia sexual.

Ela fecha os olhos.

SCULLY (OFF): - Não... E-ele não faria isso comigo. Ele sabe o quanto odeio aquele homem...

MULDER: - Scully?

SCULLY: - (RECEOSA) ... Gostei, Mulder.

Ela vira-se de costas pra ele. Perde os olhos no nada, confusa, desatinada.

SCULLY (OFF): - Krycek matou minha irmã, Bill Mulder, tentou matar Mulder... Queria tomar nosso filho... Não, Mulder não faria isso... Ou faria?

Ela levanta-se da cama. Veste um robe.

MULDER: - Aonde vai?

SCULLY: - Vou fazer um chá.

MULDER: - (INCRÉDULO) Chá???

Ela sai do quarto.

Close nos pequenos e descalços pés atravessando a sala e no longo robe que esvoaça. Ela caminha a passos largos e nervosos até a cozinha.

Close de Scully. Ela põe a chaleira no fogão, enquanto fica divagando.

SCULLY (OFF): - Mulder é completamente instável psicologicamente... Mas...

Scully apoia-se no fogão, completamente perturbada.


1:21 A.M.

Sentada no sofá, com os olhos pesados de sono, ela segura uma caneca contra os lábios. Reluta em dormir. O pânico toma conta dela.

SCULLY (OFF): - (ÓDIO) Alex Krycek... Você matou minha irmã… Me mataria se preciso fosse. Quer matar meu filho… ajudou aquela gente a tira-lo de mim... Os ajudou a me abduzirem... Você já tentou diversas vezes me destruir. E destruir o que tenho... E eu te odeio...

Ela inclina a cabeça pra trás.

SCULLY (OFF): - Oh, Deus, o que está acontecendo comigo? Por que eu retribuí aquilo? Por que eu desejei o canalha, eu o odeio! Eu não posso ser tão insana a ponto de sentir desejo por alguém que eu odeio...

Scully levanta-se. Caminha até o quarto. Revira uma das caixas de livros de Mulder. Olha pra ele. Mulder dorme profundamente.


1:37 A.M.

Scully, sentada no sofá, lendo um livro.

SCULLY (OFF): - Algumas vítimas apresentam confusão mental ao sentirem-se atraídas por seus agressores. Milhares de casos já foram constatados por psicólogos no mundo todo, onde a vítima, geralmente de um sequestro, acaba se apaixonando por seu opressor.

Scully morde os lábios, angustiada.

SCULLY (OFF): - A tensão surgida e o medo decorrente disso afetam a psique da vítima. Alguns relatos nos fazem discorrer em cima de algumas hipóteses: O medo decorrente do processo de violência, está alojado na psique da vítima. Ela espera por isso. Mas quando o agressor não o faz, quebra sua expectativa e ela sente-se agradecida por não ter sofrido o que esperava. Confunde sentimentos dentro de si, causados por essa quebra de expectativa. Teríamos de entrar na questão da relação amor-ódio humana. Esses dois sentimentos têm apenas uma linha divisória muito fina, o que explica os crimes passionais cometidos por pessoas que não mais percebem essa fina linha traçada.

Scully vira a página do livro, lendo com atenção.

SCULLY (OFF): - Não é de se estranhar, portanto, pacientes que apresentem compulsão emotiva ou sexual por seus agressores. Ao mesmo tempo em que os repelem com ódio, elas o desejam com amor.

Scully fecha o livro em pânico. Coloca sobre a mesa de centro. Põe as mãos no rosto, angustiada.


3:21 A.M.

[Som: Enae Volare Mezzo – Era]

Scully acorda sentindo a pressão de um corpo sobre o seu. Não pode ser um sonho, nenhum sonho provoca sensações tão reais. Mas não pode ser real, pois ela sente-se inebriada, estranha, como se estivesse em outro tempo e espaço. Um medo irracional toma conta de si. Ainda de olhos fechados, estende a mão, tateando, tentando encontrar o corpo adormecido de Mulder mas um toque suave, e ao mesmo tempo exigente traz sua mão até o corpo forte que pressiona o seu contra o colchão macio. A boca máscula toma a sua e é impossível não corresponder ao beijo profundo e exigente. Quando se separam, ela finalmente abre os olhos e encontra os dele brilhando em antecipação. Seu próprio corpo caminha para uma excitação crescente e incontrolável. Culpa e desejo se mesclam dentro dela e, em uma tentativa desesperada de acabar com aquela insanidade, ela começa a se debater, tentando afastar sem sucesso, o corpo tentador do seu. Ele apenas sorri e novamente toma seus lábios entre os dele enquanto a resistência dela vai diminuindo. Scully fecha os olhos e se entrega às sensações deliciosas que a embriagam e a carregam para a inconsciência.


7:03 A.M.

Scully acorda num sobressalto ouvindo a porta bater. Olha pro lado. A cama revirada. Mulder não está.

SCULLY: - Mulder?

Ele entra no quarto, com um sorriso e o jornal na mão.

MULDER: - Bom dia!

SCULLY: - (NERVOSA) ... Quem era?

MULDER: - Do que está falando?

SCULLY: - (NEURÓTICA) Ouvi a porta...

MULDER: - Ah, ninguém importante.

Ele sai do quarto. Ela fica com um olhar de desconfiança completo. Levanta-se subitamente e veste seu robe. Caminha até a sala. Mulder bebe café enquanto lê o jornal.

SCULLY: - (NERVOSA) Quem estava aqui além de nós dois?

Ele ergue a cabeça olhando-a com surpresa.

MULDER: - Como assim? Não sabe?

Ela emudece. As pernas tremem. O corpo parece querer desabar a qualquer momento. Mulder volta os olhos para o jornal. Ela olha-o com nojo e ao mesmo tempo atraída.

SCULLY: - Mulder... Eu disse que concordaria com tudo que você fizesse pra conseguir sua vitória sobre eles. Mas eu não pensei que chegasse a um ponto tão baixo, o de me usar pra fazer isso.

Ela vai pra cozinha, completamente magoada. Ele levanta-se, vai atrás dela.

MULDER: - Se não concorda, por que aceita?

Ela vira-se pra ele, atirando a xícara em Mulder, que desvia rapidamente.

SCULLY: - (ÓDIO) Eu... Eu odeio você...

Ela sai da cozinha e caminha pro quarto, a passos largos. Mulder fica parado, olhando pro nada. Batidas na porta. Mulder atende. O porteiro está com Cookie.

PORTEIRO: - Vim devolve-lo. Ele é rápido. Conseguiu localizar o maldito rato em segundos!

Mulder dá um sorriso. Cookie vai pro sofá. Mulder bate a porta. Fica desconfiado. Olha pra mesa de centro e vê o livro. Pega-o. Lança um olhar de desconfiança completo.


Arquivos X – 9:11 A.M.

Mulder a observa. Scully está longe. Mulder inclina-se pra frente, apoiando os braços na escrivaninha.

MULDER: - Alguma coisa errada?

Ela o fita com raiva.

SCULLY: - Sabe bem o que há de errado, Mulder. Você devia me consultar antes de me usar pra seus planos sinistros de...

MULDER: - (INTERROMPE) Psiu!!!!!!

Ele aponta pro alto, indicando que pode haver escutas ou câmeras. Ela suspira.

SCULLY: - Mulder, isto não vai de acordo com o que combinamos!

MULDER: - Scully, pára, tá? O que eu te falei sobre comentários aqui dentro?

Ela cala-se. Olha com raiva pro teto. Abaixa a cabeça.

SCULLY: - Você... Você concorda com isso?

MULDER: - ...

SCULLY: - (INCRÉDULA) Como pode aceitar uma coisa dessas?

Ele levanta-se. Abre a porta com raiva. Aponta pra fora.

MULDER: - (IRRITADO) Quer falar?

Ela levanta-se indignada e sai. Ele fecha a porta atrás de si. Ela o olha com raiva.

MULDER: - (FURIOSO) O que está acontecendo com você? Quer nos expor?

SCULLY: - (INDIGNADA) Eu é que pergunto como pode se sentir bem fazendo o que está fazendo?

MULDER: - Eu não me sinto bem fazendo isso. A questão é que eu preciso fazer. Isso são coisas muito diferentes, Scully.

SCULLY: - (RI DEBOCHADA) Precisa?

MULDER: - Eu já disse que se quer desistir, desista.

SCULLY: - ... Não quero desistir, embora ainda esteja na dúvida. O que questiono são os métodos que você achou pra fazer isso.

MULDER: - Não são os melhores, mas eu preciso que entenda que temos de lidar com eles do jeito deles. Responder à altura.

SCULLY: - Acha que essa sua atitude responde à altura? Ou é apenas perversão?

MULDER: - Perversão? Olha, Scully, eu vou te dizer uma coisa: Eu sinto prazer em ver o que está acontecendo. Um prazer tão grande que nem poderia imaginar.

SCULLY: - Acho que se diverte com isso, Mulder. Essa é a verdade. Mas tome cuidado. Eu posso sentir prazer também.

MULDER: - Mas é isso que eu quero. Você tem direito de sentir todo o prazer com isso. Você faz parte disso, Scully.

SCULLY: - Acho que você é louco, Mulder. Porque se aproveita da minha fraqueza e confusão mental pra tomar uma atitude dessas.

MULDER: - ???

Ela sai, furiosa. Ele a acompanha com os olhos, num olhar de questionamento.


Apartamento de Mulder – 2:21 A.M.

[Som: Enae Volare Mezzo – Era]

Mulder movimenta-se devagar, prolongando o contato entre seus corpos enquanto seus olhares se cruzam, repletos de paixão e desejo. Com um suspiro impaciente, Scully o puxa pelos cabelos com força para mais perto de si. Mulder começa a percorrer seu pescoço com a língua, devagar, como que saboreando cada centímetro dela.

Scully, de olhos fechados, se contorce de prazer.

A boca faminta toma a sua. Ela corresponde com paixão enquanto lábios macios descem por sua barriga. Seu cérebro registra vagamente o que está acontecendo mas, entorpecida pelas sensações, só percebe que há dois homens com ela na cama quando seus olhos assustados encontram o olhar esverdeado de Alex Krycek, escurecido pelo desejo.

Krycek sorri para ela, mas não com malícia, nem com a maldade que ela está acostumada a ver naquele rosto bonito. Ele a olha como Mulder costuma fazer, venerando, adorando.

Sem saber como reagir às sensações de medo e desejo, Scully permanece imóvel, com medo de pronunciar qualquer palavra ou se mover. Mulder a encara com paixão e ela percebe que ele não sabe o que está acontecendo. Ao invés de repulsa, uma incrível excitação toma conta de seu corpo e silenciosa, ela o chama para si com um sorriso.

Scully fecha os olhos enquanto sente Mulder penetrando - a devagar. Suas mãos percorrem o corpo vigoroso do homem que ama e o puxam para mais perto, unindo seus corpos numa urgência que a assusta e delicia ao mesmo tempo. Enquanto Mulder beija o lóbulo de sua orelha fazendo-a arrepiar-se, Krycek toma novamente sua boca, invadindo, explorando, despertando sensações novas, desconhecidas, deliciosas. Scully não luta mais contra estas sensações, deixa que o prazer invada seu ser em ondas gigantescas que a engolfam como um redemoinho sem fim. Ela envolve Mulder com um dos braços. Com o outro, envolve Krycek.

SCULLY (OFF): - Eu não entendo o que está acontecendo... Eu... eu tenho medo e ao mesmo tempo, não quero resistir... Estou confusa, excitada... tudo explode dentro de mim, em sentimentos confusos... Sinto vergonha de mim mesma... percebo hoje o meu lado obscuro que não conhecia... uma mulher sedenta... um lado animal, que faz com que minha racionalidade me abandone... o gosto do proibido, a sensação de ser usada por dois... de ser o mesmo objeto de desejo de dois homens diferentes... penso que agora eu devo admitir pra mim mesma, contrariando todas as minhas concepções: eu sinto prazer em ser dominada por homens fortes. De personalidade forte. Homens como eles... Minha culpa me joga na fogueira da luxúria... ambos são inimigos... ambos são belos... e eu não vou mentir pra mim, mesmo que acorde amanhã completamente transtornada: eu desejo os dois neste momento.

Scully procura os lábios de Mulder, os devorando, enquanto afaga os cabelos de Krycek, o guiando por seu seio.

SCULLY (OFF): - Desejo Mulder, amo Mulder, com todas as minhas forças... E desejo este outro agora, que me causa sensações estranhas de medo e desejo... Um por amor. Outro por ódio... Se alguém soubesse disso me crucificaria. Mas qual mulher nunca sentiu o desejo mais secreto e profundo de ser importante pra dois? De pertencer a dois? Num mundo onde você luta pra ser desejada por um, porque sempre há uma outra... Então ser desejada por dois... Ser a única neste momento pra Alex e a única eterna de Mulder... Ser tão desejada, amada, acariciada... Mulder me puxa pra si. Sinto as mãos de Krycek explorando minhas costas... estou entre eles... presa entre dois... sinto a força de seus corpos suados e másculos... eu estou enlouquecendo de prazer... minha consciência me chama de vadia. Meu corpo apenas diz: se dê ao direito de sentir prazer... hum, Deus! Eu grito, me agarro em Mulder, arranhando minhas unhas em suas costas... Eu agora sinto os dois ao mesmo tempo dentro de mim... se isto é loucura, eu não quero que acabe mais... chega de mentir pra mim mesma... eles movem-se contra mim, impactantes... eu me movo contra eles, me entregando por completo.


BLOCO 2:

Arquivos X – 10:23 A.M.

Scully entra no escritório, a expressão desanimada. Mulder está lendo compenetrado o documento de um arquivo. Levanta os olhos mas logo retorna sua atenção para as folhas em suas mãos.

MULDER: - (IRÔNICO) Que bom que decidiu trabalhar, Agente Scully. Temos um caso que precisa de nossa atenção imediata.

SCULLY: - (INDIFERENTE) E o que pode ser mais importante do que sua vingança?

MULDER: - (SUSPIRANDO IMPACIENTE) Scully, não vamos começar a brigar novamente. Eu nem sei porque você está tão furiosa, você concordou...

SCULLY: - Eu concordei? Eu nem sei mais se devia ter concordado. A verdade toda é que eu disse que pensaria a respeito e você por si mesmo, levou isso adiante sem me consultar.

Mulder a puxa pra fora da sala. Fecha a porta. Ficam no corredor.

MULDER: - Quer desistir, desista.

SCULLY: - Não é questão de desistir! Você sabe que quem sairá magoada dessa história toda serei eu! Mulder, você não consegue perceber que eu não me recuperei ainda de um choque violento chamado ‘perda do nosso filho’?

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Não, você vai ter que me ouvir, Mulder!

MULDER: - ...

SCULLY: - Eu fiquei grávida e sozinha! Sabe o que é isso? Não, você não sabe! Você não pode imaginar por um momento o que é ter de fugir pra salvar meu filho, desesperada porque não sabia onde o pai dele estava e com medo de que matassem vocês dois! Mulder, em menos de 48 horas eu tive meu filho tirado covardemente de mim, você encontrado semimorto... Já se perguntou se eu tive tempo pra sofrer? Pra chorar? Você desabou, Mulder! Tentou se matar, ficou fora de si e eu? Se pergunta onde eu estava? Ali, do seu lado, lhe dando forças que eu não tinha!

MULDER: - ...

Mulder abaixa a cabeça, calado.

SCULLY: - Portanto, Mulder, se o seu egoísmo não permite ver, eu posso mostrar pra você. Eu quero desabar, eu quero chorar! Até agora eu segurei a barra toda sozinha, Mulder! Eu também tenho o direito de cair!

Mulder ergue a cabeça e olha nos olhos dela.

MULDER: - Scully, você sabe que estou fazendo isso por você. Não pode me chamar de egoísta. Isto tudo é por você! Scully, pela primeira vez na vida estou agindo como um homem. Eu estou tentando ser homem pra você, defender você, proteger você...

SCULLY: - Se for dessa maneira, Mulder, talvez fosse melhor que continuasse a proteger a si mesmo. Eu me viro sozinha.

Ela abre a porta e entra na sala. Ele a segue. Ela olha pra ele.

SCULLY: - (SENTANDO-SE) Tudo bem, Mulder. Vamos nos concentrar no caso. O que temos aí?

Ele respira fundo. Olha pra ela.

MULDER: - Três mulheres, vítimas de estupro.

SCULLY: - Isso não é um Arquivo X, Mulder...

MULDER: - Não seria se não fosse o relato das vítimas de como aconteceu.

SCULLY: - ??

MULDER: - Todas as três contam histórias semelhantes da noite do ocorrido. Elas afirmam que foram estupradas por um fantasma.

SCULLY: - (ARREGALANDO OS OLHOS/ ASSUSTADA) O-o que você disse?

MULDER: - Bem, Scully, de acordo com os relatórios da polícia, todas as três relataram terem sido obrigadas a manterem relações com homens estranhos em suas próprias camas. Até aí poderiam ser casos normais de estupro. A diferença é que os maridos de cada uma delas estavam também em suas camas e dormiram tranquilamente durante todo o ato. Nenhum deles se lembra de nada anormal até serem acordados pelas esposas em estado de choque.

SCULLY: - (LEVANTANDO DA CADEIRA E FICANDO DE COSTAS) E você tem alguma teoria a respeito disto Mulder?

MULDER: - (SEM PERCEBER O DESCONFORTO DA PARCEIRA) Na verdade tenho uma. Mas eu quero falar com as vítimas primeiro.

SCULLY: - (COMPLETAMENTE DESCONCERTADA) ...

MULDER: - (SÓ AGORA NOTANDO O DESCONTROLE DE SCULLY) Por que você está tão perturbada com este caso Scully? Nós nem mesmo começamos as investigações. O que está acontecendo com você? Faz dois dias que você não me fala coisa com coisa. Está nervosa, briga comigo e eu não tenho ideia do que se passa na sua cabeça.

Scully começa a andar nervosa pela sala.

SCULLY (OFF): - Eu não posso falar sobre isso com Mulder. Preciso descobrir sozinha o que está acontecendo. Não sei qual seria a reação dele e...

MULDER: - Ô Scully, estou falando com você.

SCULLY: - Vá investigar sozinho, Mulder. Eu tenho coisas a fazer por aqui.

MULDER: - (DEBOCHADO/ INSTIGANDO CIÚME) Dizem que as garotas da Virgínia são muito quentes.

SCULLY: - Bom pra elas. Me ligue quando chegar.

Ela sai, batendo a porta. Mulder abaixa a cabeça, chateado, feito criança abandonada. Pega o paletó, os papéis e a chave do carro.


Apartamento de Mulder - 11:28 P.M.

Trovoadas. Scully segura uma caneca nas mãos enquanto observa em pé, a chuva que cai pela janela. As mãos tremem. Ela larga a caneca sobre a mesa de centro e pega o celular. Aperta uma tecla. Aguarda e não há resposta.

SCULLY (OFF): - (DESESPERADA) Mulder, pelo amor de Deus, atende... Não quero ficar sozinha esta noite... Ai, Deus!

Ela desliga. Caminha até o computador. Começa a teclar alguma coisa.

Close na tela: é uma página da internet sobre fantasmas. Ela procura alguma resposta, mas sua fisionomia indica que não encontrou.


4:44 A.M.

Apenas o abajur na sala está aceso. Scully bebe café, sentada no sofá. Os olhos pesados de sono. O medo de dormir é maior. Fisionomia de cansaço.


5:11 A.M.

[Som: Enae Volare Mezzo – Era]

Ela cochila sentada no sofá. As mãos fortes tocam seu rosto e os lábios aproximam-se com desejo dos seus. Num ímpeto, ela ergue a perna e chuta com força o estranho invasor que tenta seduzi-la, ao mesmo tempo em que o empurra metendo um forte tapa em seu rosto.

Um grito de dor.

[corta a música]

Mulder cai por cima da mesa de centro, virando tudo, assustado, catatônico. Ela se dá conta de que bateu no sujeito errado. Mulder continua no chão.

SCULLY: - (AFLITA) Mulder??? Oh, meu Deus, Mulder, me desculpe!

Mulder continua sem entender, olhando pra ela perplexo. Ela o ajuda a se levantar.

SCULLY: - Tá doendo?

Ele se levanta, mancando.

MULDER: - Não... Apenas mais alguns centímetros eu estaria falando fino pro resto da vida! Ai!

Ela põe as mãos no rosto, arrependida e nervosa. Ele esfrega a coxa, gemendo de dor.

MULDER: - (INCRÉDULO) Por que fez isso? O que eu te fiz pra merecer uma porrada dessas? Deixei a tampa do vaso levantada?

Ela fica nervosa e atrapalhada.

SCULLY: - Eu... Eu me assustei. Pensei que fosse outra pessoa...

MULDER: - (INCRÉDULO) Se assustou? Comigo? Quem mais beijaria você aqui dentro? O Cookie?

SCULLY: - ...

MULDER: - (DESCONFIADO) Que outra pessoa?

SCULLY: - (NERVOSA) Um invasor, sei lá.

MULDER: - Ah, e um invasor entraria aqui te beijando?

Ela vai pro quarto. Já se enrolou o suficiente por suas próprias palavras. Mulder faz uma careta de dor e vai pra cozinha mancando.


Corta para Scully sentada na cama. Ela respira aliviada.

SCULLY (OFF): - Ele não veio esta noite... Talvez não venha mais.


Arquivos X – 11:34 A.M.

Mulder observa atento os slides projetados na tela. Exibe slide por slide. Scully entra em silêncio na sala.

MULDER: - (EMPOLGADO) Scully, precisa ver isso. É incrível. Recebi de um amigo. Isso só comprova o que eu tinha em mente.

Scully olha pros slides. Põe as mãos na cintura, indignada e olha pra ele.

SCULLY: - Mulder, não acha que essa sua taradice está virando doença? Agora vai ficar aí observando slides de mulheres dormindo?

Ele sorri.

MULDER: - Presta atenção nos outros elementos, Scully. Não nas mulheres.

Ela olha pro slide.

SCULLY: - Uma foto borrada.

MULDER: - Não. Percebe a mancha atrás dela?

SCULLY: - Montagem? Falha? Filme envelhecido?

MULDER: - Não. Incubus.

SCULLY: - Ahn???

MULDER: - Um espírito, Scully. Todas essas mulheres afirmam estarem mantendo relações sexuais com espíritos.

Ela faz uma cara de medo. Mulder está empolgado.

MULDER: - Isso é impressionante! Pode imaginar a grandeza disso?

SCULLY: - ...

MULDER: - (POÉTICO) As almas ultrapassam mundos para saciarem seus desejos mais secretos... O que é a natureza, Scully? Quantas coisas o homem é capaz de fazer? O infinito da paranormalidade, a essência humana animal, a prova de que sexo nunca foi nem é pecado. Até os espíritos o fazem. É da nossa natureza. Não há como lutar contra a natureza.

SCULLY: - (CULPADA/ CALADA/ ASSOCIANDO OS FATOS)

Mulder sai de perto do projetor e abre os arquivos.

MULDER: - Tenho centenas de casos assim. E todos se encaixam com as três mulheres da Virgínia.

SCULLY: - (RECEOSA) E o que é um... incubus?

MULDER: - Uma visitação. Quando acontece de uma mulher visitar um homem, chamamos de sucubus. O oposto é denominado incubus.

SCULLY: - ...

MULDER: - Mas isto não se refere apenas a demônios, vampiros, bruxas... E suas visitações noturnas, que acabam possuindo obcecadamente a pessoa, muitas vezes sucumbindo o espírito delas a escravidão eterna do prazer, alvejando qualquer vivo que tentar tocar seu objeto de desejo...

SCULLY: - ??? (COM MEDO DE PERGUNTAR)

MULDER: - A versão masculina da Sucubus, o Incubus, age seduzindo mulheres para que deem a ele sua alma ou para terem os seus filhos. Sim, pois como nós eles se reproduzem com mortais, o que significa que todos eles nasceram de uma mortal.

As pernas de Scully amolecem. Mulder está tão empolgado que não nota o medo nos olhos dela.

MULDER: - O Skinner sabe disso, ele foi aterrorizado por uma Sucubus, lembra-se?

Mulder retira uma pasta e fecha a gaveta do arquivo. Ela o observa como um animalzinho assustado.

MULDER: - Mas temos outras teorias. Pessoas vivas podem desejar tanto uma pessoa que a chamam pra si durante a noite. Foi o caso da senhora Parker, em 1997. O vizinho dela a visitava toda a noite. (RI) Vou atentar a Madonna até ela realmente aparecer...

SCULLY: - (ENCIUMADA) Se fosse por isso, eu já teria transado com o Bryan Adams.

MULDER: - É diferente, Scully. Não é um sonho. Você pode desejar por sonhos, mas isto se manifesta num estágio anterior ao REM. Você está dormindo e acordada. Você não tem noção do que está acontecendo e nem porquê. E acredite, Scully, é bem real. Eu posso me teletransportar até o Afeganistão pra encontrar a Demi Moore. Ou você até a Inglaterra pra encontrar o Bryan Adams. Se o espírito do desejado está predisposto a receber o seu, a coisa pode ficar realmente quente. O impressionante disso é que você sente o cheiro da pessoa, o corpo da pessoa, o gosto e mesmo depois de acordada, ainda sente o perfume dela pela casa. Claro, neste estágio todos os seus bloqueios psicológicos estão fora de você. Você é você mesmo. Sua essência está ali, real e desprovida de qualquer barreira. E a alma não tem maldade. Ela também quer prazer. Claro que isto não se aplica a espíritos mais elevados... Acho.

SCULLY: - (CULPADA) ... Então a vítima atrai o incubus...

MULDER: - Algumas vezes. Na maior parte, o incubus é atraído pela vítima. Parte dele a obsessão.

Ela parece querer morrer de tanta vergonha e culpa.

MULDER: - Vou investigar. Vamos?

SCULLY: - ... Não. E-eu tenho coisas pra fazer...

MULDER: - Tá.

Mulder pega o casaco e sai. Ela corre pro computador. Senta-se na frente dele.

SCULLY (OFF): - Pesquisar incubus...


Clínica Good Dreams de Distúrbios do Sono – 3:29 P.M.

O médico examina os olhos de Scully. Ela está sentada num banco bem alto. Ele afasta-se.

DR. WILSON: - Sonhos aterrorizadores são parte da natureza humana: existem poucas pessoas que nunca tiveram um pesadelo uma vez na vida.

SCULLY: - Então posso estar sofrendo de algum distúrbio do sono?

DR. WILSON: - (SORRI) Bem, os gregos antigos pensavam que, durante o pesadelo, se era dominado por um incubus, um pequeno demônio, que se sentava no tórax do sonhador, levando-o à sensação de sufocamento, dificuldades respiratórias, e um coração pesado e acelerado. Entretanto, existe um tipo raro de fenômeno ameaçador durante o sono que não é exatamente como um pesadelo. Ele é chamado de "terror noturno" ou "Pavor Nocturnus" e é um severo distúrbio do sono, consistindo de ataques de terror agudo emergindo do sono profundo sem sonhos. É acompanhado por violentos movimentos corporais, agitação extrema, gritos, gemidos, falta de ar, suor, confusão, e em alguns casos, fuga da cama ou do quarto, comportamento destrutivo e agressão dirigida a objetos ou contra eles mesmos ou outras pessoas. Feridas, fraturas e lesões podem ocorrer em consequência.

SCULLY: - Eu... Eu não sei se isso se encaixaria no meu quadro clínico...

DR. WILSON: - O terror noturno ocorre durante a fase do sono não-REM geralmente dentro de uma hora após o sujeito ir para a cama, no estágio 4 do sono. Um episódio pode acontecer em qualquer lugar e durar de cinco a vinte minutos enquanto o sujeito ainda está sonolento. Os olhos podem se abrir. O paciente geralmente é incapaz de se lembrar de qualquer coisa após o acontecido.

SCULLY: - Eu lembro de tudo. E só acontece no quarto, quando estou na cama. É... (NERVOSA) É muito real.

DR. WILSON: - Gostaria de fazer alguns testes se permitisse. Poderia dormir e verificaríamos a sua atividade cerebral. Não posso lhe dar um diagnóstico correto, mas pode ser uma tentativa.

SCULLY: - ... Eu não sei...

DR. WILSON: - Durante o ataque de terror noturno, existe uma superativação do sistema nervoso autônomo simpático, incluindo dilatação das pupilas, sudorese, aumento nas taxas respiratória e cardíaca, e aumento na pressão arterial. A taxa do coração pode aumentar até 160 a 170 batimentos por minuto.

SCULLY: - Acima do normal de 60 a 100???

DR. WILSON: - Como vê, senhorita Scully, muito pouca importância damos ao sono. E pode perceber que uma noite mal dormida pode ser o princípio de muitas e com isso, um estresse profundo, afetando toda a vida de uma pessoa.

Scully desce do banco.

SCULLY: - Eu... Eu gostaria de fazer esse teste.

DR. WILSON: - (SORRI) Ótimo. Sente-se cansada para dormir ou gostaria de fazer isso em outro dia?

SCULLY: - Não, eu quero fazer isso agora. Realmente dormi pouco esta noite e o fato de saber que posso dormir vigiada por médico realmente me deixa mais calma.

DR. WILSON: - Por favor, vamos até a outra sala. Monitoraremos suas funções. Não há com o que se preocupar. Vamos ajuda-la a ter noites de sono normais novamente.


BLOCO 3:

Residência dos Beadles – Virgínia – 3:57 P.M.

Mulder sai do quintal da casa. Movimentos de policiais. Dois paramédicos levam um corpo numa maca. Pelo braço caído, percebe-se que se trata de uma mulher. Mulder puxa o celular do bolso e aperta uma tecla, enquanto caminha até o carro.

MULDER: - Anda, Scully, atende essa coisa...

Ele abre a porta do carro e entra. Desliga o telefone e atira no banco.

MULDER: - (INDIGNADO) Onde você está quando preciso de você?


Clínica Good Dreams de Distúrbios do Sono – 8:29 P.M.

Scully sai da sala, abotoando o blazer. Cara de quem acordou a pouco. O médico vem a seu encontro com uma tira enorme de papel enrolada.

SCULLY: - Então? Conseguiu monitorar alguma atividade estranha?

DR. WILSON: - Estou com seu eletroencefalograma. Sinto, senhorita Scully, mas os seus pesadelos são pesadelos comuns. Nenhuma atividade anormal foi encontrada.

Scully pega o exame das mãos do médico.

SCULLY: - Eu... Eu não entendo...

DR. WILSON: - Se quiser repetir o teste, talvez alguma coisa apareça da próxima vez...

SCULLY: - Não, eu... Eu agradeço sua ajuda.

Scully segura o exame nas mãos e sai da clínica. Pega o celular. Olha pro visor.

SCULLY: - Ah, não! Mulder!

Ela caminha às pressas, entrando no carro.


Academia de Quântico – Virgínia – 9:55 P.M.

Scully caminha às pressas pelo corredor. Mulder está parado na porta do necrotério. Ao vê-la, esboça um sorriso irônico.

MULDER: - Ora, ora... Finalmente tenho uma parceira trabalhando comigo novamente... Ou vai sumir sem avisar de novo?

SCULLY: - (NERVOSA) Me desculpe, Mulder eu... O que aconteceu?

MULDER: - (COMPLETAMENTE DEBOCHADO E SARCÁSTICO) Sem contar o seu atraso de seis horas pra responder meu chamado, a senhora Beadles morreu. Mas me deixa explicar, já que você nem sabe de quem se trata porque está ocupada demais com seus mistérios. Ela era uma das três mulheres da Virgínia... Lembra que falei que tínhamos um caso estranho onde três mulheres afirmavam serem estupradas por espíritos?

Ela engole em seco, ele tem razão pra ser irônico e debochado.

SCULLY: - Onde está o corpo?

MULDER: - Onde mais estaria?

Ela entra no necrotério tirando o blazer. Ele entra atrás dela. Ela se prepara pra fazer a autópsia. Ele encosta-se numa mesa e começa a comer sementes de girassol, analisando-a.

MULDER: - Onde esteve?

SCULLY: - No médico.

MULDER: - (TENSO) Está doente?

SCULLY: - Não, apenas um... um check-up de rotina.

Mulder esboça uma fisionomia de desconfiança.

MULDER: - Eu não sei porque mente pra mim, Scully. Mas gostaria de saber.

SCULLY: - Não estou mentindo.

MULDER: - Em sua testa está escrito: sou uma mentirosa, Mulder.

SCULLY: - (NERVOSA) Não estou mentindo!

MULDER: - (DEBOCHADO) Acho que está.

Ele dá um sorriso.

MULDER: - Scully, ao contrário do que pensa, depois das coisas que me fizeram, eu não sou mais um mero humano ou se esqueceu disso?

Ela olha pra ele em pânico.

MULDER: - (SÉRIO/ DESCONFIADO) Não se preocupe, ainda não posso ler mentes. Mas acredite, adoraria fazer isso neste momento.

Ele sai do necrotério, irritado. Ela segura o bisturi com as mãos trêmulas.


Apartamento de Mulder - 12:17 A.M.

Mulder deitado no sofá, observa os canais da TV que vai trocando lentamente. Emburrado. Scully entra. Tira o blazer e pendura no cabide. Aproxima-se, cruzando os braços. Ele olha pra ela.

SCULLY: - A senhora Beadles morreu de insuficiência respiratória.

Ele senta-se no sofá.

MULDER: - Na mosca! Asfixia. O incubus a matou.

SCULLY: - Mulder, pelo amor de Deus! Como pode acreditar numa bobagem dessas? Incubus não existem. São seres fantásticos, criados por mentes fantásticas.

MULDER: - Pode me provar então que não existem?

Ela fica sem reação.

SCULLY: - ... Mulder, essas pessoas devem sofrer de algum ataque de pânico noturno e asfixiam-se com o travesseiro. Há milhares de casos sobre isto! É comum!

MULDER: - O incubus era uma figura demoníaca intimamente associada ao vampiro. Era conhecida pelo hábito de invadir o quarto de uma mulher à noite, deitar-se sobre ela para que seu peso ficasse bem evidente sobre seu peito, forçando-a a fazer sexo.

SCULLY: - Por que sobre o peito? E se eles se deitarem por sobre todo o corpo?

MULDER: - Não há relatos disso. A experiência do ataque de um destes seres variava do extremo prazer ao absoluto terror. O incubus ou sucubus se parecia com um vampiro, na medida em que atacava as pessoas durante a noite enquanto dormiam. Frequentemente atacava a mesma pessoa noite após noite, como o vampiro dos ciganos, deixando suas vítimas exaustas.

SCULLY: - ... (COMEÇANDO A FICAR TENSA)

MULDER: - Entretanto era diferente do vampiro, no sentido de que não sugava sangue e não roubava a energia vital. O incubus parece ter se originado na antiga prática de incubação, onde uma pessoa ia ao templo de uma divindade e lá pousava. No decurso da noite, a pessoa teria um contato com a divindade. Muitas vezes esses contatos envolviam relações sexuais, em sonhos, ou um representante humano. Isso estava na raiz de diversas práticas religiosas, incluindo a prostituição nos templos. A religião de incubação mais bem sucedida estava ligada a Esculápio, um deus da cura que se especializara, entre outras coisas, em curar a esterilidade.

As pernas dela começam a tremer. O medo a invade. Ela não consegue mais distinguir o real do imaginário. Nada se encaixa. Não há respostas e parece que agora, é ela quem está com um Arquivo X particular e que não pode dividir com o parceiro. Ela tem medo de contar. Não sabe a reação que ele teria. Mas sabia que não gostaria de descobrir.

MULDER: - O cristianismo, que comparou as divindades pagãs aos seres demoníacos, encarava essa prática de relações com uma divindade como uma forma de atividade demoníaca.

Scully o escuta com atenção, como se quisesse sugar todas as informações dele para poder formar sua própria teoria. Não a respeito daquelas mulheres. Mas a respeito do seu próprio caso em particular.

MULDER: - Através dos séculos duas principais correntes de opinião sobre as origens dos incubus e sucubus competiam uma contra a outra. Alguns a viam como sonhos, invenções de uma vida fantasiosa da pessoa que experimentava tais visitações. Outros argumentavam a favor da existência objetiva dos espíritos malignos. No século 15 os líderes religiosos, especialmente os que estavam ligados à inquisição, preferiam esta última explicação, ligando a atividade destes seres com a bruxaria. O grande instrumento dos caçadores de bruxas, Malleus Maleficarum ou Martelo das Bruxas, supunha que todas as bruxas se submetiam voluntariamente aos incubus.

SCULLY: - Chega, eu vou dormir. Não quero mais falar sobre trabalho. Tem os resultados da autópsia que fiz em seu laptop. Deixei no carro.

Ela vai pro banheiro, angustiada.

MULDER: - Scully? Quer que eu lave suas orelhinhas?


2:48 A.M.

Scully sentada na frente do computador.

SCULLY (OFF): - Pela primeira vez, a ciência não me ajudou a encontrar uma resposta. E me sinto disposta a tentar obter a verdade através da paranormalidade... Eu nem sei mais no que acredito. Tudo se confunde cada vez mais dentro de mim... Eu só sei que tenho medo de dormir. Medo de encontrar-me com ele novamente... Poderia pedir a ajuda de Mulder, mas eu não sei como ele reagiria. E estou aflita porque preciso mentir pra ele e prometemos jamais mentir um para o outro. Eu o estou traindo! Traindo sua confiança! Deus, eu sou uma ingrata! Eu não valho nada!

Ela abaixa a cabeça, segurando as lágrimas.

SCULLY (OFF): - (DESESPERADA) Meu Deus, me ajuda! Eu não quero mentir pro Mulder. Mas ele não teria uma reação boa ao saber de quem se trata... Eu não posso contar com ele e não sei mais o que fazer. Eu não entendo nada dessas coisas... Eu simplesmente nunca imaginei que algum dia precisaria entender disso.

MULDER: - Algum problema?

Ela seca as lágrimas, assustada. Volta-se pra trás. Mulder está escorado na parede, sério, desconfiado, de braços cruzados.

SCULLY: - Não, nada.

MULDER: - Então por que não foi dormir?

Ela desliga o computador rapidamente, antes que ele veja o que havia na tela.

SCULLY: - Estava terminando um relatório.

MULDER: - ...

SCULLY: - Já irei pra cama.

MULDER: - Scully... Está com algum problema?

SCULLY: - Não, só estou angustiada...

Ele aproxima-se dela, sério.

MULDER: - Algum daqueles canalhas está chantageando você, é isso?

SCULLY: - Não.

MULDER: - Scully, se estiverem eu quero que me diga.

SCULLY: - Não, Mulder...

Ela levanta-se.

SCULLY: - Vem, vamos pra cama.

Ela vai pro quarto. Ele olha desconfiado pro computador. Mas vai pro quarto, atrás dela.


04:24 A.M.

[Som: Enae Volare Mezzo – Era]

Scully acorda já com a sensação familiar da presença dele na cama. Apavorada, não tem coragem de abrir os olhos. Sente as carícias suaves em seu corpo e tenta escapar. Nesse instante ele se deita sobre ela impedindo-a de se mover. Ela abre os olhos e encontra um mar de reflexos esmeralda parecendo querer devorá-la.

Um calafrio de medo percorre seu corpo ao mesmo tempo em que os lábios dele tomam sua boca, possessivos, exigentes. Ela se rende por alguns instantes às sensações deliciosas daquele beijo mas algo em sua consciência a faz afastá-lo de si com as duas mãos. Ele continua sorrindo, fitando-a com a certeza de que a terá de qualquer maneira, estampada em seus olhos verdes.

Apavorada, Scully tenta manter sua mente concentrada em escapar desta armadilha astuciosa mas o toque suave dos lábios dele em seu colo, a deixam sem fôlego.

Ela vira o rosto para o lado, observando Mulder dormir ao seu lado e abre a boca para chamá-lo, mas a mão de Krycek a segura pelo queixo e sua boca é coberta pela dele, arrastando novamente para um turbilhão de sensualidade e êxtase.

Sem deixar de beijar o homem em seus braços, ela estende a mão e segura entre seus dedos a mão inerte do homem adormecido.

Tomada de culpa, ela tenta puxar Mulder, mas Krycek desliza sua mão suavemente pelo braço dela, tomando a pequena mão de Scully da mão de Mulder. Beija-lhe a mão. Ela percebe que é inútil lutar contra aquilo. Agora ela não tem nenhuma explicação. Não há respostas. Ela sente-o dentro de si. E aquilo é real. Ela agarra-se às costas dele. Fecha os olhos, sentindo o movimento do corpo dele contra o seu, enquanto morde os lábios. Ela quer gritar, gemer... Mas tem medo. Suas sensações de desejo e remorso aumentam. Ela quer, e não quer. Está fora de si. Então olha nos olhos dele. Ele fecha os olhos e aproxima seus lábios suavemente até o ouvido dela.

KRYCEK: - (MURMURA)... Me ajuda.


9:11 A.M.

Mulder toma café sentado à mesa, enquanto lê o resultado da autópsia impresso. Scully entra na cozinha.

MULDER: - (SORRINDO) Bom dia, minha ruiva. Dormiu bem?

Ela olha pra ele segurando as lágrimas de remorso. Mulder percebe.

MULDER: - Scully... Esqueça a minha ideia, ok? Acho que você está sofrendo por causa disso. Eu não tenho o direito de te pedir uma coisa dessas.

SCULLY: - Não, e-eu... Eu... Eu só estou cansada.

Ela senta-se à mesa. Olha pro relógio na parede.

SCULLY: - Ai, meu Deus! Estamos atrasados!!!

Mulder sorri, olhando pra ela.

MULDER: - Scully, hoje é sábado. Não temos hora pra sair.

SCULLY: - ...

MULDER: - Você não tá legal, né?

SCULLY: - ... Mulder, eu estou...

MULDER: - Preocupada com aquelas mulheres. Eu imagino, Scully. Você, uma feminista convicta nunca admitiria estupro nem que fosse por um espírito. Também não admito. É por isso que quero descobrir logo que coisa é essa que...

SCULLY: - Mulder... E se não for estupro?

MULDER: - Como assim?

SCULLY: - E se elas desejam isso? Mulder, se elas... E se elas sentem o corpo de um outro homem conhecido... como por exemplo, a senhora Parker e seu vizinho... Vamos supor que o vizinho não sente atração alguma por ela. Nem ela pelo vizinho, os dois se odeiam. Tanto que se ela pudesse mata-lo, o mataria.

Mulder a escuta.

SCULLY: - (NERVOSA) Mas ela, dentro da sua psique confusa, entre amor e ódio e a fina linha que os separa...

MULDER: - O que está sugerindo, Scully?

SCULLY: - O que quero dizer é que... Mulder, talvez não seja o incubus, o espírito, sei lá, mas a própria mulher que o chama inconscientemente para si. Isso não seria um incubus então, porque incubus obsediam a vítima. Mas e se a vítima obsediasse esse espírito...

MULDER: - (INTRIGADO) Scully, isso pode ser bem viável. Mas no caso da senhora Parker. Essas três mulheres estiveram com um incubus, não tenho dúvidas. A senhora Parker talvez estivesse sendo vítima de uma...

Ela fecha os olhos, suspirando, como quem deseja desesperadamente que agora ele ache alguma explicação que se encaixe pra ela em 100%. Como todo recém iniciado na paranormalidade, tentando explicar um fenômeno dentro de uma lei sem variação. E nenhum fenômeno se repete, a própria ciência sabe disso. O que prova a insanidade dela pelas noites insones.

MULDER: - ... projeção astral. Já vimos várias vezes isso. A separação da consciência de uma pessoa do seu corpo, permitindo à pessoa viajar sem levar o corpo. A consciência separada pode perceber realidades físicas. Duas formas comuns são a experiência de sair do corpo, Out of Body Experience - OBE e a quase morte, que não se aplicaria aqui... Ou a menos que seja algum espírito morto ou agonizante...

SCULLY: - Mulder, pára. Estou confusa.

MULDER: - Bom, na OBE, uma pessoa inconsciente flutua sobre o seu corpo e vê o que está a passar. A consciência é uma entidade separada do corpo e que pode existir sem o corpo, pelo menos em durante curtos períodos de tempo, e que a consciência sem corpo consiga "ver", "ouvir", "sentir" e, presumo, cheirar. A crença de que a mente e o corpo podem ser entidades separadas e possam existir separadas do corpo é a base da visão ocidental tradicional da imortalidade da alma.

SCULLY: - Mulder, por favor! Imagine o que sucede com milhares de almas a fazerem viagens astrais e a voltarem para o corpo errado. Devíamos esperar que algumas mentes se perdessem e não encontrassem os corpos. Devia haver por aí corpos abandonados pelas almas. Devia haver algumas almas confusas porque se tinham enganado nos corpos. Se o dualismo fosse verdade, devíamos encontrar almas sem corpos por todo o lado!

MULDER: - Não, Scully. Por isso você tem um fino e frágil fio que liga sua alma a seu corpo.

SCULLY: - (IRRITADIÇA/ NUMA AUTONEGAÇÃO) Mulder, me parece mais do que óbvio que quando percebo algo é devido a ter sensações corpóreas como vista, audição e que são estimulados por fenômenos físicos, como radiação eletromagnética ou vibração do ar! De acordo com você, contudo, é a minha mente que está a perceber. O meu corpo é supérfluo. Um dos problemas do dualismo é tentar explicar como é possível a uma entidade espacial interagir com uma não espacial. Como se liga o corpo com a mente se são substâncias diferentes? Como pode o físico causar efeitos no não físico e vice-versa? Não há uma evidência a suportar a afirmação de que alguém pode projetar a mente ou alma ou psique ou espírito ou seja lá o que for para algum lado neste ou noutro planeta!

MULDER: - Tudo bem Scully. Não há evidência de que isto é possível. Mas você tem alguma evidência que isto não é possível?

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully, há uma distinção para os puristas entre OBE e projeção astral. A primeira envolve a crença em diferentes corpos, um dos quais é o corpo astral. O corpo astral percebe outros corpos astrais em vez do corpo físico. Porque, estritamente falando, não é a alma ou consciência que parte na projeção astral, mas uma espécie de corpo. É este corpo, já agora, que tem aura. É também o lugar da consciência e geralmente descrito como estando ligado ao corpo físico durante a projeção por um fio fino prateado e infinitamente elástico, uma espécie de cordão umbilical cósmico ou fio de Ariana.

SCULLY: - (AOS GRITOS FURIOSOS) Mulder, pode escutar as besteiras que está falando?

MULDER: - (GRITA) Ei, o que está acontecendo com você? Nem quando não lavávamos nossas orelhas juntos você não gritava comigo desse jeito!

SCULLY: - ...

MULDER: - (IRRITADO) Scully, você está estranha e eu te digo que sei que há algo errado e que você está me escondendo alguma coisa.

SCULLY: - Eu não estou...

MULDER: - Eu sei que está.

SCULLY: - Como pode saber?

MULDER: - Pela cor da sua aura.

SCULLY: - ...

MULDER: - Bom, agora me prove que estou errado e aura não existe, visto que você se calou e ficou em pânico. Por que ter medo de que eu saiba que está mentindo, se a aura não existe?

Ele levanta-se indignado e vai pra sala. Ela abaixa a cabeça. Não sabe mais o que fazer de tanto medo e desespero.


BLOCO 4:

4:33 A.M.

[Som: Enae Volare Mezzo – Era]

Ele está novamente sobre ela, seu peso sufocando-a, impedindo-a de esboçar qualquer reação.

Scully se debate inutilmente e tarde demais, percebe seu erro. Ao não confiar em Mulder e revelar a ele o que acontecia, ela agora pagaria com a vida.

Seus braços se debatem em desespero e, por um instante ela sente o calor da mão de Mulder que, adormecido, não tem ideia do que está acontecendo ao seu lado.

Puxando com toda sua força, ela tenta acordá-lo, mas Mulder não se move.

Respirando fundo e tentando manter o controle Scully consegue puxar com força a mão que segura e, um segundo antes de perder a consciência, seus ouvidos captam a voz desesperada de Mulder, mas a escuridão a envolve sem que ela se dê conta do que ele está falando.


6:59 A.M.

Scully entra cabisbaixa no apartamento. Mulder bate a porta, com uma fisionomia séria, segurando algo na mão. Scully senta-se no sofá e coloca as mãos no rosto, soltando um suspiro. Agora sabe que não terá outra alternativa. Precisa contar. Ele está desconfiado. Mas ela não quer magoá-lo com essa verdade. Mulder fica em pé na frente dela. Ergue a mão e deixa desenrolar o eletroencefalograma até o chão.

MULDER: - Achei isto em seu carro quando peguei a autópsia ontem pela manhã. Não quis perguntar, achei que fosse mais uma das suas manias hipocondríacas.

Ele solta o exame que cai no chão. Cruza os braços, ficando na frente dela.

MULDER: - Asfixia noturna. Se eu me acordasse cinco minutos depois, você estaria morta.

SCULLY: - ...

MULDER: - Como o médico provou que não há nada de errado cientificamente com seu cérebro e seu corpo, tem alguma explicação não científica ou o peso da sua consciência é que a estava sufocando?

Scully tira as mãos do rosto. Abaixa a cabeça, num suspiro.

SCULLY: - Estou sendo visitada como aquelas mulheres.

Mulder solta os braços, fechando os olhos, num suspiro tenso.

SCULLY: - ...

MULDER: - Há quanto tempo?

SCULLY: - Uma semana.

MULDER: - ...

SCULLY: - ... Todas as noites.

MULDER: - ... Por que não me falou? Não pediu minha ajuda?

SCULLY: - Eu... Eu tinha medo. Medo de magoar você... Medo da sua reação.

Ela não consegue olhar pra ele.

MULDER: - Scully, olha pra mim.

SCULLY: - Não... Não posso olhar pra você. Me sinto culpada.

MULDER: - Scully, olha pra mim.

Ela ergue a cabeça, sem olha-lo nos olhos. Derruba lágrimas.

MULDER: - Scully, você não tem culpa alguma.

SCULLY: - Talvez eu seja culpada. Eu desejava sempre ter dois homens, talvez eu tenha atraído... E eu não reagi!

Ela se levanta, andando pela sala. Com ódio de si mesma.

SCULLY: - Mulder, eu não reagi! Eu gostei daquilo! Portanto, não olhe pra mim como se eu fosse uma vítima. Talvez aquelas mulheres fossem. Mas eu não sou. Não sou digna de pena.

MULDER: - ...

SCULLY: - (COMEÇA A DERRUBAR LÁGRIMAS) ... E estou me sentindo culpada por tê-lo desejado!

Ela fica desatinada, sem saber o que fazer. As lágrimas fluem cada vez mais pelo rosto de Scully, e ela não consegue contê-las. O medo de perder Mulder lhe assombra. Mas ela olha pra ele.

SCULLY: - (COM ÓDIO DE SI) Mulder, eu fui uma cadela! Eu traí a você, a mim, a sua família, a minha família e até mesmo ao nosso filho! Eu traí a tudo que nos era mais sagrado. Por um maldito impulso animal e nada racional! Porque se tivesse sido racional, aquilo jamais aconteceria!

Ele olha pra ela sem entender nada.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Eu também senti desejo! Eu deixei! Eu quis!

MULDER: - Scully, você estava em estágio de sono, fora da sua razão! Entregue apenas aos instintos mais primordiais do universo!

SCULLY: - (ELA BALANÇA A CABEÇA, SE RECRIMINANDO, DERRUBANDO LÁGRIMAS) Estava... Mas não, eu nunca deveria ter deixado. Eu traí você da pior maneira que eu podia!

MULDER: - Scully, isso não tem nada a ver com traição! Eu já te expliquei que essas coisas acontecem independente de você.

SCULLY: - É? Tem certeza? E se meu inconsciente o desejava?

MULDER: - Mas e daí, Scully? O seu próprio inconsciente já havia manifestado essa fantasia! Você não pode lutar contra a natureza, Scully. Você não pode lutar contra você mesma. Contra seus desejos, seus sentimentos, seus impulsos... Isso é ser humano! É errar, desejar, pecar... Eu já disse tantas vezes isso pra você: você se sente culpada por ter reações humanas!

SCULLY: - (CHORANDO)

MULDER: - Você sentia desejo e o chamava? Esperava que ele viesse, ansiosa? É isso?

SCULLY: - Não! Eu... Eu tinha medo, eu não queria, mas quando ele estava lá, eu me entregava.

MULDER: - Então! Você não o desejou especificamente, Scully. Você apenas se entregava a oportunidade. Poderia ser com ele, com outro, com quem fosse. O desejo estaria presente ali, independente de quem fosse! Se foi uma projeção astral, não partiu de você. Partiu dele!

Ela ainda não se conforma. Ela sabe que ele diz isso para acalma-la. E porque não sabe ainda de quem se trata.

MULDER: - Pode descrevê-lo? O conhece?

Ela fecha os olhos, sem que as lágrimas parem de cair.

SCULLY: - ...Mulder... Prometemos um ao outro sempre contar a verdade, por mais dolorosa que pudesse ser. Mas por favor, não me peça pra contar esta. Eu não quero te magoar ainda mais.

Ele olha sério pra ela, cerrando a fisionomia.

MULDER: - Quem era?

SCULLY: - ... (CHORANDO/ IMPLORANDO) Não me peça pra contar isso, Mulder... Por favor...

MULDER: - Scully, se não me disser, eu vou descobrir. E da pior maneira.

SCULLY: - ... (CHORANDO/ DESESPERADA)

MULDER: - (GRITA) Quem era? Quem você via naquela cama?

Ela abaixa a cabeça, chorando. Em silêncio. Ele, tomado de uma raiva incontida a sacode pelos ombros.

MULDER: - (GRITA FURIOSO) Quem era?

Ela, cabisbaixa, abre a boca, como se tivesse medo de que sua revelação fosse um tiro fatal no coração daquele que ela jurou fidelidade. Diante daquele que sempre lhe disse a verdade e que confiava sua própria vida a ela. Não era mais o corpo que interessava. Ela sabia que a traição maior foi ter pertencido ao canalha. Aquilo lhe soava agora como uma traição à causa de Mulder. Depois de tudo que lhe fizeram, ela, a vadia, ainda havia dormido com o inimigo que por tantas vezes tentou matar o homem que ela amava. Agora, em consciência, ela se culpava por algo que num estágio de inconsciência seu corpo fez. Mas ela sabia que precisava falar a verdade. E sabia que depois de falar, ele nunca mais a perdoaria.

SCULLY: - ... Alex Krycek.

Mulder fecha os olhos. A saliva lhe tranca na garganta. Ela continua de cabeça baixa, chorando calada.

SCULLY: - (CHORANDO, IMPLORANDO PERDÃO) Mulder...

MULDER: - (TRANCADO NA GARGANTA) Scully... Fica quieta.

Mulder abre os olhos dirigindo-lhe um olhar fulminante. Scully olha-o assustada. Aquele olhar ainda lhe era desconhecido. Ele cerra o punho e o ergue, num acesso de ciúme, mas se contém, desviando a mão do rosto dela e esmurrando a parede. Scully fica parada, fecha os olhos. Mulder começa a derrubar tudo o que vê pela frente, descontando sua raiva. Scully entra em pânico, ela desconhece aquele homem. Mulder vira a mesa de centro, num acesso de loucura. Começa a quebrá-la aos chutes.

MULDER: - (GRITA/ FURIOSO/ QUEBRANDO TUDO) Melhor eu descontar nos móveis! Ou descontaria em você!

SCULLY: - ... (OLHA-O COMO SE VISSE UM DESCONHECIDO)

MULDER: - E só Deus sabe onde eu pararia! Talvez na cadeia por assassinato!

Ela fica parada, incrédula. O ciúme dele, ela não conhecia. O medo começa a surgir dentro dela e ela não consegue tomar nenhuma reação porque desconhecia a reação dele. A raiva era esperada, mas não a tal ponto. Ele chuta várias vezes a mesa de centro, com ódio incontrolável, até cair sentado no sofá, colocando as mãos no rosto. Ela continua a observa-lo e agora parece desfalecer mais em culpa, aos prantos.

SCULLY: - Mulder... Mulder, por favor, eu amo você!

MULDER: - ...

SCULLY: - Eu... Eu nem sei porquê eu deixei que...

MULDER: - (GRITA) Por que queria!

SCULLY: - ... Mulder... Ele me pediu ajuda...

MULDER: - (GRITA) Cala a boca! Sai daqui, Scully! Pelo amor de Deus, sai daqui! Ou eu não vou me responsabilizar pelas conseqüências!

Ele levanta-se. Ela recua, morrendo de medo dele. Ele pára. Fecha os olhos e pende a cabeça pra baixo, caindo em lágrimas. Ela sai, fechando a porta atrás de si, tomada de medo. Ele vai amolecendo o corpo até cair deitado no chão, chorando, como quem foi apunhalado pelas costas, como alguém que perdeu a única coisa que ainda tinha na vida.


5:21 P.M.

Close da mala aberta sobre a cama. As roupas femininas sendo jogadas dentro dela. Uma foto de Mulder e Scully, abraçados. Um CD do Simple Red é atirado sobre as roupas. As pequenas mãos trêmulas fecham a mala.

Close em Scully. Olhos inchados de chorar. Ela olha pro quarto, fechando os olhos e derrubando lágrimas. Pega a mala que está sobre a cama e vai para a sala. Dá uma última olhada. Os olhos enchem-se de mais lágrimas.

Ela sente a mão macia que se coloca sobre seu ombro. E a outra que desce até sua mão, lhe tomando a mala e a colocando no chão.

Scully fecha os olhos, mais lágrimas lhe correm a face. Ela não consegue se virar. Então sente os braços fortes a envolverem num abraço terno. Ela olha pra aliança na mão dele. Sente o queixo de Mulder pousar em seu ombro e a voz suave que lhe sai num murmuro.

MULDER: - Não precisa fazer isso.

Ela desaba no choro, sentindo o abraço dele.

Ele a vira para si. A abraça com força, fechando os olhos, afagando os cabelos avermelhados. Sentindo contra seu peito aquele corpo pequeno e frágil, abalado emocionalmente. Ela chora recostada nele, molhando a camiseta branca com suas lágrimas. Ele continua a acalentando. Ergue o rosto dela com a mão e a olha nos olhos. Olha dentro do velho espelho azul, tão conhecido, onde ele se enxerga e se reconhece como um ser humano. O espelho azul que lhe deu vida e esperança. Agora de um azul escurecido pela tristeza, pela culpa e pelo medo, que derrubam lágrimas arrependidas. Os delicados lábios rosados dizem entre soluços ‘me perdoa’. Ele beija-lhe a testa e a abraça com mais força.

MULDER: - ... Atire a primeira pedra quem nunca errou na vida. Eu não sou o mais indicado a fazer isso.


12:11 A.M.

Os dois deitados na cama. Ela agarrada nele, como uma criança medrosa. Ele afagando seus cabelos.

SCULLY: - Tenho medo de que ele volte.

MULDER: - Dorme. Eu vigiarei teu sono.

Ela cansada fecha os olhos.


1:21 A.M.

Ele olha pro nada, pensativo. Desliga o abajur. Fica ali, no escuro, perdido em suposições.

[Som: Enae Volare Mezzo – Era]

Mulder vira o rosto para a direção da janela. Vê a silhueta do inimigo, parada, o observando. Mulder solta Scully e o olha com um ar de vitória.

MULDER: - Eu sei o que você quer, Krycek. Pena que você ainda não saiba. Se aproximou dela pra me chamar a atenção. Eu poderia evitar, mas não vou fazer. Vou deixar que te aconteça porque meu ódio é enorme. Mas acredite, eu vou ajudar você porque serve ao meu intento. Não por bondade.

A silhueta de Krycek desfaz-se na escuridão. Mulder deita-se num sorriso. Abraça a parceira. Ela se acorda.

SCULLY: - ... Mulder?

Ele sorri.

MULDER: - Sou eu.

Ela acende o abajur, sentando-se na cama.

MULDER: - Dorme, Scully. Ele não vai voltar mais. Acabou.

Ela ainda culpada. Deita-se e abraça-se nele. Ele a olha.

MULDER: - ... Eu também traí sua confiança. Num estado inconsciente e animal, quando ergui meu braço pra bater em você. Portanto, há dois culpados aqui dentro. Eu preciso te pedir perdão pela minha atitude. Estava prestes a machucar você. E confesso que eu estava cego de ódio. Eu o faria e só depois me daria conta do que fiz.

SCULLY: - ...

MULDER: - Eu não quero que vá embora. Isso não muda nada o que temos. Isso é um Arquivo X, e como todo Arquivo X que nos envolve, sempre é mais difícil e cruel pra aceitar.

SCULLY: - ... Eu tive medo de você... Eu não o conheci...

MULDER: - (ARREPENDIDO) Hoje você conheceu os motivos pelos quais eu nunca consegui manter um relacionamento. Porque eu perdi a Diana. Eu tenho um lado monstro, Scully. E você em quatro anos nunca o viu. Porque eu segurei, pra nunca feri-la. Você me educou, me fez ser melhor. Eu aprendi a me conter, levar pra brincadeira.

Ela olha pra ele, enxugando as lágrimas que já voltam a rolar. Ele está sentindo-se culpado também.

MULDER: - Eu menti que não era ciumento. Então, menti pra você também. Porque acreditava que eu nunca mais teria motivos pra ter ciúmes, porque eu tinha a mulher certa do meu lado. Mas não me peça pra ser racional quando senti que perderia a única pessoa que tenho no mundo. Como um animal que é jogado fora. É como me senti. Scully, por isso eu sempre disse que tinha medo de amar você, medo do que temos, porque é maior do que podemos suportar. É passional! De pensar numa possibilidade de te perder, eu chego a pensar em me matar. Eu... Eu só tenho você no mundo. Resumi minha vida a você e não há nada fora disso, entende? É doentio e eu sei disso. Mas é a única coisa que me move. Se eu perder você, eu perco a minha vida. Eu vivo no nosso mundo. E eu nunca mais saberia viver naquele mundo dos outros. Projetei minha vida e meu destino com você. Sem você, não há vida. Não há mais destino. Não há mais Mulder. Eu dependo completamente de você, Scully... Me desculpe. Eu...

SCULLY: - ... (ELA SE ABRAÇA NELE COM MAIS FORÇA)

MULDER: - Scully, eu não posso perdoar você por algo que você não fez.

SCULLY: - Eu fiz. Eu não mereço seu perdão, Mulder.

MULDER: - Quando eu traí você, você não me perdoou?

SCULLY: - Foi diferente.

MULDER: - Não foi. Eu também não premeditei nada e estava disposto a ir até o fim. Eu também estava fora de mim... Scully, o que temos é rico demais. É lindo demais. Não merece ter fim. Isso é o que nossos inimigos querem. Nunca, Scully. Mesmo que você tivesse me traído em carne com ele, na minha cama, eu ainda assim te perdoaria. Não foi em carne, Scully. Porque eu não o vi aqui com você. Então, esqueça disso. Eu já esqueci.

SCULLY: - ... Mulder, mas eu pensei no início que você estivesse me usando pra... (FALA BAIXO) Ganhar a confiança deles. Isto foi outra traição, porque eu duvidei de você.

MULDER: - ... (SORRI) Deixa pra lá, Scully. Quando percebi que havia algo a mais na identidade desse sujeito, eu quase tive um chilique, eu pensei que fosse... Deixa pra lá.

Ela olha incrédula pra ele.

SCULLY: - Mulder! Como pôde pensar isso! Ele é seu pai!

MULDER: - Da mesma forma que você pensou que eu pudesse estar usando você pra atingi-los.

Os dois se calam.

SCULLY: - Realmente, Mulder... Ainda temos muito pra nos conhecer...

MULDER: - Não se culpe por algo que você não atraiu. Eu confesso que tenho vontade de ir até o rato e o matar por isso. Mas seria idiotice. Nem ele sabe o que aconteceu.

SCULLY: - ...?

MULDER: - Acabo de me dar conta e ver que algumas vezes, os incubus são avisos. E que podem vir de manifestações como a projeção. Isso é um fenômeno bem mais antigo. Mais antigo que os homens. Mas herdamos isto ‘deles’.

Ela o olha com curiosidade. Ele olha pro teto procurando escutas. Ela entende.

MULDER: - Não vamos falar disso. Eu te explico depois. Portanto, creia que você não é culpada. Você foi apenas usada, Scully. Você foi um meio para um fim.

SCULLY: - ...

MULDER: - Entendi quando você me disse que ele pediu ajuda.

SCULLY: - Mulder, não entendo... Se ele não sabe e eu sei, afinal, o que aconteceu por aqui? Quer dizer que só eu senti e ele não sentiu nada, por que não estava aqui? Foi sonho?

MULDER: - Existem coisas que nem eu ou você podemos explicar, Scully. Está acima de nós. Aquilo que chamamos de premonição.

SCULLY: - Premonição? Que premonição? Minha?

MULDER: - Dele. Embora eu não acredite que aquele miserável tenha algum dom paranormal pra se projetar fora do corpo e pedir ajuda. Principalmente porque sabia que só eu poderia ajuda-lo. Então usou você pra atrair minha atenção, Scully. Porque o desgraçado tem medo de mim.

SCULLY: - Mas como ele me procurava, sem ele mesmo saber disso?

MULDER: - Scully, nem sempre a gente sabe o que faz quando dorme, sabia? O sono ainda é um mistério. Agora dorme, você precisa descansar. Ele nunca mais vai te procurar.

Ela suspira, continuando sem respostas. Apaga a luz.

SCULLY: - Mulder, só há uma verdade nisto.

MULDER: - Qual?

SCULLY: - Eu te amo.

Ela se aninha nos braços dele. Ele sorri. Os dois dormem abraçados um ao outro.


3:21 A.M.

[Som: Enae Volare Mezzo – Era]

No quarto escuro, iluminado apenas pela luz que entra pela janela, nenhum movimento, apenas o das cortinas movendo-se com a brisa. O corpo belo e forte, dorme seminu entre os lençóis. O belo russo, acorda-se num sobressalto. Senta-se na cama, ofegante, o suor escorre por sua testa. Medo e confusão estampados nos olhos esverdeados.


X


10/11/2000

9 Août 2019 19:11 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
1
La fin

A propos de l’auteur

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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