lara-one Lara One

Mulder e Scully investigam um caso sinistro e acabam envolvidos com jovens de uma banda de rock... Cenas de sexo, emoção e comédia.


Fanfiction Série/ Doramas/Opéras de savon Interdit aux moins de 21 ans.

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S04#05 - FINGERS

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Mulder deitado no sofá. Ainda vestido, de sapatos e terno preto, com a gravata de tons azuis ao redor do pescoço. Camisa azul semi-aberta. Segura o controle remoto na mão. A TV ligada, mas ele não está olhando. Scully entra na sala. Cabelos molhados, usando apenas uma camiseta até as coxas. Olha pra ele que parece estar em outro mundo. Scully aproxima-se. Ele desvia o olhar pra ela. Ela sobe no sofá de joelhos e senta-se sobre a cintura de Mulder. Ele a olha, solta o controle remoto no chão. Scully desliza os dedos pelo peito dele, agarrando as extremidades de sua gravata e o ergue num supetão. Face a face. Olhos nos olhos. Narizes colados. Respiração quente. Ela afasta o rosto e sopra suavemente no rosto dele. Ele fecha os olhos. Ela solta-o de supetão. Ele cai no sofá. Abre os olhos. Ela coloca o dedo na boca, chupa-o, olhando pra ele com malícia de falsa menina ingênua. Mulder a observa. Ela fecha os olhos, inclinando-se para trás, chupando o dedo e deslizando a outra mão por baixo da camiseta, massageando sua própria barriga. Move seu corpo sobre o dele. Mais provocação. Desliza as mãos para as pernas nuas, arranhando-se. Agarra seus seios por baixo da camiseta, com força e os massageia, mordendo os lábios, sensualmente. Ela provoca. Ele observa. Ela pede a ousadia dele. Ele está pronto pra qualquer coisa. Ela tira a camiseta. Joga-a na cara dele. Ele pega a camiseta e a solta no chão.

Scully sente o corpo dele reagir, a respiração dele começa a ficar mais tensa. Coloca as mãos sobre a testa de Mulder, deslizando-a suavemente por sua franja, fechando seus olhos, por seu nariz, tocando seus lábios. Mulder fica de olhos fechados. Ela abre a camisa dele, lentamente, com destreza nos dedos. Percorre suas mãos pelo peito dele, afagando-lhe com a ponta dos dedos. Suavemente, transforma o toque em arranhões suaves. Inclina novamente o corpo para trás, arranhando a barriga de Mulder, com mais força. Ele solta um gemido.

Scully deita-se por cima dele, o mantendo entre suas pernas. Olha-o nos olhos. Sente a respiração ofegante dele em seu peito. Desce a mão para as calças dele, massageando-lhe. Mulder já está entorpecido de provocação. Scully aproxima a boca e coloca a língua na boca de Mulder, colando lábios num beijo profundo e provocativo. Afasta sua boca, levando o lábio inferior dele numa mordida suave. Mulder abre os olhos. Olha-a, com desejo. Vira-se por cima dela. Ela dobra um dos joelhos, deixando o corpo dele por cima do seu. Inclina a cabeça pra fora do sofá. Fecha os olhos. Mulder segura o rosto dela entre as mãos. Olham-se nos olhos. Ele coloca a língua na boca de Scully, roubando-lhe um beijo molhado de saliva. Desce suavemente a ponta dos dedos pelo corpo dela, acariciando-lhe a perna, voltando até os seios, numa provocação. Ela amolece o corpo. Mulder solta seus lábios dos dela, admirando-a. Ela, de olhos fechados, respira com dificuldades. Ele, então, desce os dedos pelo corpo dela, colocando uma das mãos dentro de sua calcinha. Ela morde os lábios, soltando um gemido baixinho, apertando sua perna contra a mão dele. Mulder, desce seus lábios semi-abertos pelos seios dela, mordiscando-a, brincando com a língua. A outra mão até sua boca. Coloca o polegar dentro da boca de Scully, percorrendo seus dentes, sua língua. Ela segura a mão dele com suas mãos e chupa seu dedo, pressionando sua perna contra a outra mão dele, revirando o corpo, soltando suaves gemidos. Mulder desce os lábios, deslizando a língua molhada pela barriga de Scully. Ela desliza a língua pelo dedo dele, sensualmente. Ele desce seus lábios por entre as pernas dela.

VINHETA DE ABERTURA


BLOCO 1:

FBI – Gabinete do Diretor-Assistente - 9:22 A.M.

Skinner joga sobre a mesa o pacote plástico contendo a prova. Mulder pega-o. Observa no ar, o dedo indicador dentro do saquinho plástico.

MULDER: - (INCRÉDULO) Só isso?

SKINNER: - Parece fácil?

MULDER: - Tiro as digitais e vou mais cedo pra casa hoje.

SKINNER: - Sem digitais. Ou então eu não teria chamado vocês.

Scully toma a prova das mãos de Mulder. Observa.

SCULLY: - Nenhum corpo?

SKINNER: - Nada. Acharam isso num lixão. Nada mais.

SCULLY: - Bem, alguém pode estar andando por aí com um dedo a menos.

SKINNER: - Ou não. Mas isso agora é problema de vocês.

MULDER: - Sabia que investigar um Arquivo X é mais fácil do que isso?

SCULLY: - (ANALISANDO COM OS OLHOS) Dedo indicador... obviamente pertence a um homem caucasiano... Ele tem menos de 40 anos.

Mulder olha pra ela, perplexo.

SCULLY: - Vou analisar melhor no laboratório. Mas não vejo marcas relativas a idade avançada. Nenhuma cicatriz... A pele me parece muito bem cuidada...

Skinner sorri. Olha pra Mulder.

SKINNER: - Me diga uma coisa: O que eu faria sem ela por aqui?

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Me daria um aumento. Eu teria mais espaço naquela sala e voltaria a ser o xodó do diretor assistente. E não teria de abrir minha gaveta e me deparar com um pacote de absorventes.

Ela olha pra ele debochada.

SCULLY: - Podemos pedir um exame de DNA. Não será fácil descobrir o dono desse dedo. Mas há grandes possibilidades.

Scully levanta-se e sai com a prova. Mulder olha pra Skinner.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não me pergunte nada. Dedos são departamento dela.

Skinner abaixa a cabeça e ri. Mulder sai. Fecha a porta. Scully olha pra ele, o fulminando.

SCULLY: - Eu não uso absorventes. Portanto, explique-se.

MULDER: - (DEBOCHADO) Mas como é que eu vou saber? Não é meu!


2:29 P.M.

Scully dirige. Mulder lê uma revista. Pára no sinal vermelho.

MULDER: - Uau! Escute isso aqui. Pergunta da leitora M.K.L. para o médico: ‘Peguei meu marido se masturbando. Ele não gosta mais de mim?’

Scully olha pra ele. Ergue as sobrancelhas.

SCULLY: - O que está lendo, Mulder?

MULDER: - Uma das suas revistas femininas de moda, dicas de cozinha, saúde, beleza e sexo... e que fala mal dos homens...

SCULLY: - Isso é leitura feminina!

MULDER: - E daí? Quero saber o que as mulheres pensam...

SCULLY: - Pergunte pra mim.

MULDER: - Ah, não. Você mentiria.

Ele fecha a revista. Olha pra ela. O sinal abre. Ela passa.

MULDER: - Sabe a diferença maior entre homens e mulheres?

SCULLY: - Sei. E como sei! Você ainda não sabe, Mulder? Tadinho, é melhor descobrir logo ou vai arranjar uma encrenca séria por aí...

MULDER: - Hê-hê-hê... Como ela é engraçadinha... Vocês mulheres são cínicas. Os homens não.

SCULLY: - (INCRÉDULA) De onde tira tal argumento?

MULDER: - Muito bem, Scully, vamos falar de provas nada circunstanciais. Quando uma mulher se produz toda pra sair com um cara. O que está fazendo?

SCULLY: - Fala do fato das mulheres se enfeitarem pros homens?

MULDER: - Não. Vocês se enfeitam pra outras mulheres.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Agora tá me chamando de lésbica?

MULDER: - Não. Tô dizendo que as mulheres se arrumam pra outras mulheres. Como forma de medir o quanto elas são mais gostosas, mais bonitas, mais elegantes. Vocês não se arrumam pros homens. Se arrumam pra causar inveja nas outras.

SCULLY: - ... (PENSATIVA)

MULDER: - E ainda nos chamam de mentirosos. Homens se produzem para conquistar e agradar as mulheres. Não pra causar inveja nos outros homens.

SCULLY: - É... tem um fundo de razão aí.

MULDER: - Quer ver outra? Mulheres não têm amigas. Homens têm amigos.

SCULLY: - Como não?

MULDER: - O que prova que vocês são uma racinha triste mesmo. Umas matam as outras.

SCULLY: - (BOQUIABERTA/ OLHANDO PRA ELE)

MULDER: - Sabe porque há muita confusão em ambientes onde só há mulheres? Por causa dos fuxicos. Vocês costumam falar tudo da vida de vocês pras outras, inclusive confidências íntimas, sobre sexo, sobre seus namorados, maridos, etc, etc, etc. Depois, quando o cara resolve trocá-las pelas amigas que estão dando em cima, vocês condenam o cara dizendo que ele é um galinha. Quem fez a propaganda foram vocês.

Ela olha pra ele.

MULDER: - Homens nunca conversam sobre mulheres. Com exceção das que são permitidas.

SCULLY: - (CURIOSA) Mulder, que história é essa?

MULDER: - Quando a gente fica falando o que fez com uma mulher e dando dica, é porque ela é carta branca.

SCULLY: - Ahn?

MULDER: - Livre acesso.

SCULLY: - Ahn?

MULDER: - Tá, acesso público. Entendeu?

SCULLY: - (INDIGNADA) Isso foi a coisa mais machista que eu já ouvi!

MULDER: - Não é não. Sabe que há ‘Scullys’ e há ‘Dianas’ por aí.

Ela olha pra ele, o fulminando.

SCULLY: - Quero saber o que quer dizer com ‘Scullys’. Onde as ‘Scullys’ se encaixam?

MULDER: - ‘Dianas’ são acesso livre, entende? Então a gente pode falar, dar a dica. ‘Scullys’ não.

SCULLY: - (INDIGNADA) Mulder, por favor! Você é machista e antiquado! Não acha que as mulheres devem ter sua liberdade sexual? Pensa que as mulheres que têm essa liberdade são vadias?

MULDER: - Eu não questionei a liberdade sexual das mulheres. (DEBOCHADO) Quanto mais liberais elas forem, melhor pra nós!

SCULLY: - (OLHA PRA ELE IRRITADA) ...

MULDER: - Viu só? Você é feminista, mas quem ficou profundamente irritada com a liberdade das mulheres agora foi você. Sentiu-se ameaçada.

SCULLY: - Mulder, cala a boca!

MULDER: - Mas você nem me deixou explicar! Não estou julgando as mulheres. Estou falando do comportamento masculino. Estou dizendo que o homem só fala da mulher com quem ele transou, sem envolvimento. Ele nunca fala nada sobre a mulher que ele gosta. Não faz propaganda. Só faz propaganda negativa, tipo: Ah, minha mulher é um saco! Ah, ela me irrita! Estou farto dela... Na verdade, isto é uma maneira do homem eliminar os possíveis concorrentes. Dizendo que as ‘Scullys’ são revoltantes, os outros nem vão querer saber delas.

Scully olha impressionada pra ele.

MULDER: - Por isso os homens têm amigos. As mulheres não.

SCULLY: - (PROVOCANDO) E quando um ‘Mulder’ encontra uma ‘Scully’ com um ‘diretor assistente’ em sua cama?

MULDER: - Sinal de que o ‘diretor-assistente’ andou fazendo muitas visitas e observando muito a Scully. E que a ‘Scully’ deixou margem pra isso.

SCULLY: - (PROVOCANDO) Por insatisfação sexual?

MULDER: - Não. Por blasfêmia e safadeza mesmo.

SCULLY: - (PROVOCANDO) Ou foi consolá-la, já que é amigo...

MULDER: - (IRRITADO) Olha aqui, Scully, não me provoque. Sabe que não sou ciumento.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Não estou provocando. Só quero saber. Curiosidade de cientista.

MULDER: - (IRRITADO) Pois se esqueça dessa curiosidade porque eu só vou te dizer uma vez: O dia em que resolver me trair seja com quem for, que seja muito bem feito e escondido. Porque se eu descobrir...

SCULLY: - (CURIOSA) Faria o quê?

MULDER: - Devolveria na mesma moeda.

Ela segura o riso.

MULDER: - Ao contrário do que você pensa, eu não sou tão ‘mansinho’ não. Eu sou muito furioso.

SCULLY: - (PROVOCANDO) Hum, fiquei tentada em descobrir.

MULDER: - (INDIGNADO) Te falta alguma coisa em casa? Hein?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Não, mas sabe que mesmo tendo uma laranjeira em casa, a laranja do vizinho é mais gostosa.

MULDER: - (AMEAÇADOR) Pega na laranja do vizinho e você vai ver o caldo que vai dar.

Ele cruza os braços e emburra. Ela sorri. Afaga a perna dele.

SCULLY: - Mulder, meu Mulderzinho... Onde eu iria achar outro homem tão meigo, atencioso, paciencioso, incrível, apaixonado, dedicado, assim como você?

MULDER: - Tem pilhas por aí.

SCULLY: - Tem não. Se tivesse, eu teria me casado aos 16.

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, ter alguém igual a você é como ganhar na loteria. Uma chance em mil. E eu ganhei.

MULDER: - (SORRI) Sério?

SCULLY: - Sério.

MULDER: - Não tá falando isso só pra me agradar?

SCULLY: - Sabe que não, Mulder. Você é da safra especial da raça masculina.

MULDER: - O que prova a minha teoria sobre as mulheres: vocês se fazem de carentes, mas não são. Vocês preferem que os homens sejam carentes. Instinto maternal? Freud explica...

SCULLY: - (DEBOCHADA) Quando chegarmos num motel eu te pego no colinho, tá?

MULDER: - (DEBOCHADO) Dá pra comprar biscoitos no meio do caminho?

SCULLY: - Mulder, seu depravado! Tá vendo? Não dá pra dar confiança pra você!

MULDER: - Ei, ei, ei! Um momento. Não sou eu que fico me masturbando na sua frente.

SCULLY: - Mulder!

MULDER: - Se esqueceu de ontem à noite? Depois eu que provoco, eu que sou tarado. Eu só respondo. Homens têm estímulo visual. Mulheres tem outros estímulos.

SCULLY: - Pois mulheres também têm estímulo visual.

MULDER: - Sério?

Ele dá um sorrisinho safado. Abre a revista.

MULDER: - Vou ver o que o médico respondeu pra aquela pergunta...


Depósito Municipal de Lixo – Warrenton - Virgínia – 3:38 P.M.

Sol de rachar. Mulder olha pra pilha de lixo à sua frente. Olha pra Scully. Ela ergue os ombros, entregando as luvas pra ele.

SCULLY: - Só faço autópsias. O resto é com você.

MULDER: - Que tal fazer uma autópsia nesse lixo todo?

Ela balança a cabeça negativamente. Ele pega as luvas e as veste.

MULDER: - Tudo eu, tudo eu... eu faço tudo por aqui e você ganha nas minhas costas?

SCULLY: - Eu agora sou apenas uma ‘dona de casa’. Você tem a obrigação de me sustentar.

Mulder agacha-se. Revira o lixo.

MULDER: - (DEBOCHADO) Vou. Vou te sustentar nas minhas mãos, contra a parede. Acabou a sua regalia, Scully. Vai começar a esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque. E de noite tem que estar ‘bem quente’ quando eu chegar em casa.

Uma lata de conservas voa perto da cabeça dele.

MULDER: - Au! Quer me matar mulher?

SCULLY: - Claro. Posso ganhar sua pensão e esquentar minha barriga em cima de outra barriga, magrinha, com músculos bem delineados e másculos e esfriá-la dentro da banheira. Do mesmo jeitinho...

MULDER: - Aviso, Scully: Estou chegando aos quarenta. Se cuide. Se eu começar a sair de calças coloridas por aí e camisetas muito doidas, estou ganhando alguma menina de vinte.

SCULLY: - Vai ser lindo ver vocês dois juntos e as pessoas te perguntando como é o nome da sua filha.

MULDER: - Vai rindo. Estou na idade do lobo. Só quero brotinhos com menos de trinta.

Ele continua revirando o lixo. Vira o rosto.

MULDER: - Tem um bicho morto aqui.

SCULLY: - ... Problema seu.

MULDER: - Acho que tem uma necropsia pra fazer...

Scully move os lábios, como que ignorando a piada.

SCULLY: - Não sei o que procura, Mulder. Já reviraram tudo e não há corpo.

MULDER: - Eu sei disso. Mas não sabemos se examinaram detalhes estranhos. Pode ser um Arquivo X.

SCULLY: - Acho que é assassinato seguido de ocultamento do cadáver. Queimaram a digital do dedo com ácido. Isso foi proposital.

MULDER: - ... E pra que deixariam um dedo como pista? Algum maníaco?

SCULLY: - Pra isso colocaram o I no FBI.

MULDER: - Tá me tirando hoje, né Scully?

SCULLY: - Você adora revirar lixo, né, Mulder? Mulder, Mulder... Meu porquinho atrapalhado... Vou lavar suas orelhas hoje à noite...

MULDER: - Vem lavar as minhas orelhas pra ver se não vai acabar revirando os olhinhos... Olha isso aqui.

Mulder puxa um papel, manchado de vermelho, enrolado.

MULDER: - Confia na polícia, Scully. Aposto que o dedo estava embrulhado aqui.

SCULLY: - Podemos comparar o sangue. Se isso for sangue.

Mulder abre o papel.

MULDER: - Isso é o desenho de uma mandala.

SCULLY: - Mandala?

MULDER: - Vou falar com o delegado. E você, mande isso pra análise. Mas primeiro quero uma cópia do desenho.

SCULLY: - Tudo eu, tudo eu...


Motel The Heaven – 6:29 P.M.

Mulder e Scully entram na recepção. Não há ninguém. Mulder toca a sineta sobre o balcão. Olha pra Scully.

MULDER: - (DEBOCHADO) Adoro quando o atendimento é rápido.

Um rapaz cabeludo surge de trás do balcão, colocando a cabeça em cima do balcão e olhando pra Mulder. Está sério, mascando chicletes. Mulder olha pra ele.

MULDER: -Ok, ‘baixinho’, eu preciso de dois quartos.

Joe levanta-se, revelando ter mais de dois metros de altura, magérrimo, tatuagens pelos braços e cabelos compridos. Mulder ergue a cabeça, olhando pra cima, em pânico. Scully segura o riso com a mão. Joe joga as chaves sobre o balcão.

JOE: - (MASCANDO/ SÉRIO) Precisa assinar o livro, ‘baixinho’.

MULDER: - Isso é outra besteira. Nunca ninguém coloca o nome verdadeiro nisso!

JOE: - (MASCANDO/ SÉRIO) Identidade, por favor. Porque posso querer te achar amanhã.

Scully segura o riso, olhando pra porta. Mulder puxa o distintivo e mostra pra ele.

MULDER: - (DEBOCHADO) FBI.

JOE: - (MASCANDO/ SÉRIO) Grande coisa. Ainda posso querer te achar amanhã.

Mulder assina o livro. O sujeito verifica a credencial com o que Mulder escreveu no livro.

MULDER: - (DEBOCHADO) Algum problema?

JOE: - (MASCANDO/ SÉRIO) Fox??? (CAI NA GARGALHADA)

Scully se contém pra não rir. Mulder olha pra ela, censurando-a. Pega as chaves e afasta-se.

JOE: - (MASCANDO/ RINDO) Ah, se tiver algum problema disque o nove, ‘Fox baixinho’.

MULDER: - (IRRITADO) Não terei problemas, ‘cruzamento de uma torre com uma mulher’.

Mulder sai furioso. Scully olha pra Joe e sorri encabulada. Ele sorri pra ela, mascando e piscando o olho. Ela sai, toda convencida.


BLOCO 2:

7:21 P.M.

Scully entra no quarto. Mulder quase a atropela, largando sua mala no chão. Ela olha pra ele.

MULDER: - Sua mala está no carro.

Ele entra no banheiro, batendo a porta. Ela ri. Ele sai do banheiro. Ela fica séria. Ele abre a mala, retira algumas roupas e volta pro banheiro. Bate a porta. Ela começa a rir de novo. Ele sai do banheiro. Ela fica séria. Ele aponta pra ela, furioso.

MULDER: - E não pensa que não percebi o seu sorriso pro ‘Joe Ramone’ ali da recepção. Ele dá dois de você e ainda por cima poderia ser seu filho! E você não é quente, Scully. Você é uma coisinha sem graça!

Ele volta pro banheiro, batendo a porta. Ela fica olhando pra porta do banheiro, numa fisionomia de quem vai desatar a rir.


8:31 P.M.

Scully, sentada na cama, coberta com o edredom, com o laptop sobre as pernas. Mulder entra no quarto. Atira um envelope em cima dela.

SCULLY: - Onde estava?

MULDER: - Bebendo cerveja com umas gatinhas de 20. Veja isso.

SCULLY: - Depois. Deixa eu me recuperar da patada que levei. Onde foi parar a ferradura?

Ela procura o envelope. Pega-o do chão.

SCULLY: - Ah, está aqui.

MULDER: - (DEBOCHADO) Hê-hê-hê. Veja isso aí, coisinha sem graça.

Ela olha pra ele. Abre o envelope. Retira uma página colorida de revista.

SCULLY: - Hum, e o que é ‘isso coisinha sem graça’?

MULDER: - Ora, Scully, pára de ironias. Isso não combina com você.

SCULLY: - Parece com o desenho que achamos.

MULDER: - Exatamente. A mesma mandala. Achei na biblioteca da cidade, na parte de ‘revistas místicas’.

SCULLY: - Você rasgou a revista da biblioteca? Só pra tirar essa coisa? Vândalo!

MULDER: - Coisa não. Mandala. E vê se presta atenção antes que eu vá ‘mandá-la’ pra algum lugar nada agradável.

SCULLY: - ... (SEGURANDO O RISO)

MULDER: - A mandala é uma figura circular, uma espécie de psicocosmograma, um plano ou uma imagem da psique do homem num pano de fundo cósmico, de modo a revelar a estrutura profunda do espírito humano. Você fica olhando para a figura e pode ver o que seu inconsciente permitir. Você pode meditar com ela. Auto-descobrir-se. A mandala é muito utilizada até mesmo na psicologia. Em sânscrito, o termo significa círculo. Há também mandalas manipuláveis, tridimensionais.

SCULLY: - ... (BOCEJA/ PROVOCANDO)

MULDER: - (IRRITADO) Tá me ouvindo, Scully?

SCULLY: - Sim, sim.

MULDER: - As mandalas são muito poderosas, quando observadas não só com os olhos, mas com toda a sensibilidade e até mesmo o espírito. Elas trazem à tona muitos mistérios do inconsciente de cada um. As respostas que procuramos são conseguidas através da meditação sobre a mandala.

SCULLY: - ...

MULDER: - Muita usadas na Índia e no Tibete. O Iantra, dos Hindus, possui os mesmos princípios mandálicos. Os antigos Navajos usavam mandalas para curar doentes. Após o xamã realizar a pintura de uma mandala no chão, o paciente andava ao redor do desenho e ocupava um lugar em seu interior. Jung observou que os pacientes esquizofrênicos dispunham figuras em círculos concêntricos, num impulso instintivo de reorganizar sua imaginação.

SCULLY: - (BOCEJA) ...

MULDER: - Existem vários tipos de mandalas. Cada uma tem uma função específica. Essa mandala tem uma função muito especial.

SCULLY: - (DEBOCHADA) É? Sério?

MULDER: - (IRRITADO) Olha aqui, se vai ficar me tirando pra seu bobo, volte pra Washington que eu me viro muito bem sozinho. (DEBOCHADO) Em tudo.

SCULLY: - Fala, meu ciumentinho...

MULDER: - Pára! Quer prestar atenção?

SCULLY: - Tô prestando atenção. O que esta mandala representa?

MULDER: - Segundo informações que li, essa mandala, chamada de Forças da Vitória, composta de desenhos de folhas, em vermelho, laranja e amarelo, desperta a vontade de vencer. Por isso as cores do fogo. Ela impulsiona, traz garra e coragem para realizar desejos. Mas deve ser usada com moderação e para objetivos claros, pois pode fazer a pessoa tomar atitudes precipitadas.

SCULLY: - ... (DISTANTE)

MULDER: - Scully, está me ouvindo?

Ela olha pra figura. Distante.

MULDER: - Scully?

SCULLY: - (SÉRIA) ... Quer dizer que se eu ficar olhando pra isso, com a alma e o coração, eu vou obter as respostas que preciso pra vencer pelo menos uma vez na minha vida?

MULDER: - ... (OLHA PRA ELA TERNAMENTE)

Scully suspira, olhando pra figura. Mulder senta-se na cama. Tira a folha das mãos dela.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - ...

MULDER: - Eu sei o que está pensando. Mas tenta esquecer um pouquinho da nossa vida agora. Tá?

SCULLY: - Me desculpe... Então, qual sua teoria?

MULDER: - Acho que o dono daquele dedo está bem vivo, Scully. Apenas cometeu um ato insano, levado por essa mandala.

SCULLY: - E se quem usou a mandala não foi ele, mas alguém que teve uma visão e resolveu cortar o dedo de alguém?

MULDER: - ... Scully, você tá me surpreendendo, sabia?

Ela sorri.

SCULLY: - E vou te surpreender mais, Mulder. Estava lendo as análises do laboratório. Eu estava certa. O dedo pertence a Robert Strungle, 27 anos, morador de Warrenton, formado em ciências da computação. Desaparecido há dois meses. Tinha uma banda de rock que ainda toca num bar chamado Garagem Hermética.


Garagem Hermética – 11:27 P.M.

Guitarras pesadas. A banda toca Hey, ho – Let’s go! – (do Ramones). Mulder e Scully entram. A rigor. O lugar está repleto de jovens dançando e pulando. Punks, jaquetas de couro e muita loucura. Close da banda no palco. O baixista é o ‘Joe Ramone’ do hotel. Scully coloca as mãos nos ouvidos. Som muito alto.

SCULLY: - (GRITA) Mulder, eu acho que estou ficando velha pra isso!

Mulder começa a rir. Ela olha pra ele, sorrindo. Os dois falam um no ouvido do outro.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - (DEBOCHADO) Nome sugestivo pra uma banda...

Scully olha pro palco. Ergue as sobrancelhas.

SCULLY: - ... O que esperava de uma banda de rock?

MULDER: - Qualquer coisa, mas Fellatio & Cunnilingus... Isso é o que eu chamo de criatividade artística, Scully...

Ela abaixa a cabeça, rindo.

MULDER: - (GRITA) Quer uma cerveja?

Ela sinaliza que sim com a cabeça. Mulder afasta-se. Scully observa a garotada. Sorri. Começa a pegar o embalo. Balança o corpo. Um rapaz cabeludo, bem bonitão, passa por ela, todo tatuado, lenço na cabeça, camiseta do Nirvana, calças jeans rasgadas, musculoso. Olha pra ela. Aproxima-se de seu ouvido pra falar.

BAD BOY: - E aí, qual é a sua tribo? Tá perdida?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Saí do trabalho! Dia cheio!

BAD BOY: - Deve ser sacal ser secretária!

SCULLY: - (SORRI)

BAD BOY: - E aí, quer curtir comigo hoje?

Ela olha pra ele, surpresa.

SCULLY: - Sinto muito, estou acompanhada!

BAD BOY: - Tá, fica pra próxima.

Ele puxa um cartão. Entrega pra ela.

BAD BOY: - Se precisar de um marceneiro, liga. Se quiser dar uma banda uma noite qualquer, vamos tomar uma cerveja e curtir um show. Gatinha.

Ele afasta-se. Ela abaixa a cabeça e ri. Guarda o cartão no bolso. Acompanha-o com os olhos, olhando pro traseiro dele. Mulder aproxima-se com duas cervejas. Entrega uma pra ela.

MULDER: - Vamos, Scully, anime-se. Daqui a pouco vai rolar Nirvana e quero ver você pular aí no meio, chutando todo mundo!

Ela ri. Ele se embala com a música.

SCULLY: - Acho que estou começando a gostar do lugar, Mulder... Repentinamente, parece que sou uma adolescente pra todo mundo. Acho que a idade parou pra mim... (PÂNICO)

Mulder olha pra ela. Ela olha assustada pra ele.

SCULLY: - Acha que aquele dom de não morrer...

MULDER: - Se estiver certa, daqui há 20 anos eu vou realmente sair com você e vão me perguntar o nome da minha filha.

Os dois se olham apavorados.


11:47 P.M.

A banda desce do palco, Mulder já se aproxima, mostrando o distintivo.

MULDER: - Mulder, FBI. Quero falar com vocês.

Os rapazes se entreolham. ‘Joe Ramone’ masca chicletes e aproxima-se dele, com as mãos na cintura. Olha pra baixo. Mulder ergue a cabeça.

MULDER: - E com você também, poste de luz.

JOE: - (MASCANDO/ DEBOCHADO)

MULDER: - (DEBOCHADO) Eu posso querer te achar depois.

A banda entra numa sala. Mulder os segue. Joe coloca a mão sobre o ombro de Scully e entra com ela. Scully abaixa a cabeça, constrangida.


12:11 P.M.

Mulder olha pros garotos, de braços cruzados, encostado na parede. Scully ao lado da porta, os observa. Joe bebe uma cerveja. Scully olha pra ele. Ele oferece. Ela sinaliza que não. Ele continua bebendo.

MULDER: - Vocês conhecem Robert Strungle?

BILLY: - O Bob? Claro, o Bob tocava com a gente. Mas sumiu de uma hora pra outra.

MULDER: - E não avisou ninguém?

BILLY: - Cara, nem minha mãe me avisa quando vai viajar.

MULDER: - Acha então que ele foi viajar?

BILLY: - Sei lá qual é. O Bob era meio estranho.

MULDER: - O quanto estranho?

BILLY: - (RINDO) Sabe, cara, uma vez ele tirou as calças e colocou a bunda peluda dele pra fora da janela.

Scully coloca a mão na testa e abaixa a cabeça.

BILLY: - (RINDO) Quase que um caminhão leva aquela maldita bunda feia.

MULDER: - Tá, eu não quero saber da bunda dele. Eu quero saber o que ele gostava, os hábitos dele, onde trabalhava...

TED: - No posto de gasolina, há 3 quadras daqui. A gente tocava, se reunia nos finais de semana. E um dia... Ele sumiu.

MULDER: - E nem fazem ideia de onde ‘Bob e sua bunda feia’ foram parar?

TED: - Não.

BILLY: - Ele nos surpreendeu, porque o Bob tava a fim de fazer sucesso com a banda, sabe? Ele chegou a dizer que seria um novo ídolo do rock.

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Bob gostava de ocultismo?

Eles se olham e riem.

BILLY: - Bom, às vezes a gente saía junto pra ‘sacrificar’ umas virgens por aí... Mas não eram virgens de verdade...

Mulder segura o riso.

MULDER: - Além disso.

TED: - Tá falando de bruxarias, coisas assim? Ele tinha pilhas de coisas sobre ocultismo... Ele lia muito.

SCULLY: - E os pais dele?

BILLY: - Morava com um tio, um velho tocador de violão. Se quiser, a gente te dá o endereço.

O celular de Mulder toca. Ele afasta-se, atendendo. Scully olha para os garotos.

SCULLY: - O que Bob fazia na banda?

TED: - Ele era guitarrista.

Scully olha pra Mulder. Mulder desliga o celular.

MULDER: - O que eu perdi?

SCULLY: - Bob era guitarrista.

Mulder estala os dedos. Olha pra ela, cochicha.

MULDER: - O sangue da mandala não era dele. Pista falsa. Acho que agora encontrei a resposta.

SCULLY: - Vou falar com o ‘tio’.

MULDER: - Eu faço isso. Você volta pro hotel e cata o que puder sobre pactos com o demônio.

SCULLY: - Ahn?

MULDER: - Pista errada, Scully.

Mulder abre a porta. Os dois saem. Joe fica olhando pra Scully, enquanto masca chicletes.


1:21 A.M.

Scully pesquisa no laptop. Concentrada. Batidas na porta. Ela tira os óculos. Caminha até a porta. Abre-a. Joe, de jaqueta de couro e óculos escuros, está parado ali. Ela ergue a cabeça até não conseguir mais e olha pra ele.

JOE: - Ocupada?

SCULLY: - Bastante.

JOE: - Vi as luzes acesas e o carro dele não estava aí.

SCULLY: - ... (CORTANTE) Tem alguma informação sobre seu amigo?

JOE: - Não. Vim aqui por outra coisa.

SCULLY: - Olha, eu não quero parece grosseira com você, mas...

JOE: - Só uma cerveja. Eu quero conversar com você.

Ela olha pra ele. Sorri.

SCULLY: - Eu tenho 35 anos! Acho que isto encerra o assunto.

JOE: - Não me importo. Gosto de mulheres mais velhas. Têm mais experiência de vida.

SCULLY: - (RINDO) Que idade você tem?

JOE: - 22. Algum problema nisso?

Ela abaixa a cabeça. Sorri.

SCULLY: - Tirando a idade, você é alto demais pra mim. E eu nem sei seu nome.

JOE: - Todos me chamam de Joe Ramone por aqui.

Ela sorri, surpresa com a coincidência.

SCULLY: - Olha, Joe Ramone, você é um rapaz muito bonito. Aposto que as meninas da cidade ficam doidas atrás de você. Mas eu tenho compromisso.

JOE: - O gravatinha?

SCULLY: - Exatamente.

JOE: - Então altura não é empecilho.

SCULLY: - Você não desiste né?

JOE: - Só uma cerveja. Tenho algumas na recepção.

SCULLY: - Com um acordo. Quero que me fale o que sabe do Bob.

JOE: - Ele morreu, né?

SCULLY: - Não sabemos.

JOE: - Tá. Eu falo.

Scully pega o casaco. Sai com ele, batendo a porta.


BLOCO 3:

2:11 A.M.

Scully, sentada na varanda, bebendo cerveja. Rindo. Joe faz alguns acordes no violão. Pára.

SCULLY: - Você fez isso? E sua mãe?

JOE: - Ah, ela não liga muito pra mim não. Passo mais tempo aqui no trabalho, tenho um quarto lá nos fundos. Quase nem vou pra casa.

SCULLY: - Então quer ser um artista.

JOE: - Quero.

SCULLY: - Hum, você toca bem. Tem talento. Vai ter sua chance.

JOE: -...

Scully olha meigamente pra ele.

JOE: - O que foi?

SCULLY: - Nada.

JOE: - Tem certeza?

Scully abaixa a cabeça.

SCULLY: - Passei por alguns momentos difíceis ultimamente. Nem sei porque estou dizendo isso.

JOE: - Sensibilidade artística, sensibilidade humana.

SCULLY: - ... Perdi um filho há alguns meses... Agora olho pra você e fico pensando num futuro. Meu filho poderia estar sentado aí, algum dia, tocando alguma coisa. Causando encrencas, bebendo e dançando...

JOE: - Isso deve ser mal. Mas tem que tentar superar essas coisas.

SCULLY: - ... Eu estou tentando. Mas algumas vezes, a dor volta. Na verdade ela nunca vai embora, só me dá algum tempo de trégua.

JOE: - Você é uma mulher bonita. Inteligente. Não conheço mulheres como você que se deram mal na vida. Vai se dar bem. É só questão de tempo.

Mulder estaciona o carro. Scully olha pra Joe.

SCULLY: - Acho melhor ir.

JOE: - Tá.

Ela sai da varanda. Caminha até Mulder. Mulder desce do carro, olhando atravessado pra Joe. Caminha até o quarto. Scully atrás dele.

SCULLY: - O que descobriu?

MULDER: - E você?

SCULLY: - Tem pilhas de coisas sobre o assunto. Selecionei algumas.

MULDER: - Tô vendo que trabalhou duro hoje. Na companhia do ‘Joe’, ‘o canguru gigante’.

Mulder entra no quarto. Ela atrás dele.

SCULLY: - O que está insinuando?

MULDER: - Nada.

SCULLY: - Mulder, por favor! Ele é criança demais pra mim!

MULDER: - ...

SCULLY: - Não descobri muita coisa do Bob. Exceto que ele realmente era muito obcecado pelo sucesso.

MULDER: - E você agora virou uma ‘papa-anjo’!

Ela olha incrédula pra ele. Os dois estão sérios.

SCULLY: - Quer brigar, é?

MULDER: - Quero. Quero brigar sim.

SCULLY: - Então vem.

MULDER: - Eu? Se eu brigar com você não vai restar nada pra contar história. Vão ter de juntar seus caquinhos por aí.

SCULLY: - Acha que tenho medo de você é? Só porque é grandão? Eu sou uma agente federal, eu tenho treinamento pra derrubar grandões babacas como você!

Ele aproxima-se dela. A diferença de altura fica evidente, ela está descalço. Ele coloca as mãos na cintura e abaixa a cabeça, olhando pra ela. Ergue o peito, desafiando-a.

MULDER: - Ah, vai encarar?

SCULLY: - Acha que não?

Ela o desafia, fechando os punhos.

SCULLY: - Vem, Mulder. Um só, certeiro, nessa sua cara cínica.

MULDER: - Scully, eu vou te dar um tapão na orelha que você vai cair do outro lado do quarto sem saber o que te aconteceu.

SCULLY: - Vem, vem... Tá pensando o quê?

MULDER: - Eu vou te mostrar quem é o homem por aqui.

SCULLY: - Vem, que eu te mostro a minha fragilidade feminina.

MULDER: - Vou te dar uns tapas, mulher! Vou te bater tanto que vai se arrepender de ter me conhecido! Você tá precisando apanhar um pouco, sua folgada vadia!

SCULLY: - Vadia? Eu vou te mostrar quem é vadia! Eu é que estou doida pra encher essa tua cara safada de tapas, Mulder! Eu vou te espancar até a morte, sua bicha enrustida!

Scully aproxima-se dele, dando peitaços nele. Ficam de empurrões, se batendo um contra o corpo do outro. Scully dá uma rasteira nele, ele se equilibra, agarrando-a pela cintura e tentando jogá-la no chão. Ela morde o traseiro dele. Mulder grita. A agarra pelos cabelos, sacudinda-a. Ela grita. Enrola a perna nele, tenta derrubá-lo. Puxa suas calças. Ele solta-a, ajeitando as calças. Scully pula nas costas dele, puxando-o pelos cabelos. Ele tenta se livrar dela, dando voltas ao redor de si. Ela crava as unhas nos ombros dele. Mulder grita. A derruba sobre a cama. Ela salta e volta pra luta. Cabelos revirados. Sopra os cabelos. Posiciona-se, como quem vai aplicar um golpe mortal de alguma luta oriental. Joga a cabeça pra trás, ajeitando os cabelos. Olha pra ele, ameaçadora.

SCULLY: - Vem, Mulder... Vou te ensinar a não se meter com Scully Lee.

MULDER: - Ai, olha só, tô tremendo de medo! Nem vou dormir direito essa noite.

Scully voa pra cima dele. Mulder a agarra pelos pulsos. Ela chuta a canela dele. Ele grita. A agarra, colocando-a no ombro, dando giros com ela. Ela morde o ombro dele. Ele a atira na cama. A chama com as mãos.

MULDER: - Vem, baixinha, vem... Tô doidinho pra te quebrar toda. Você tá pedindo umas porradas nessa cara, mulher!

SCULLY: - Acha que tenho medo de um florzinha como você, hein? Sua bicha louca!

Scully levanta da cama. Os dois agarram-se pelos cabelos, rolando pelos móveis. Ela solta-se, dá outro peitaço nele, ele cai na cama. Scully pula em cima dele, prensando o rosto de Mulder com os seios. Mulder a agarra pela cintura e a empurra. Fica em cima dela.

SCULLY: - (GRITA) Sai de cima de mim! Monstro asqueroso!

Ela morde o nariz dele. Mulder vira-se de bruços no colchão, segurando o nariz. Scully senta em cima dele, o pega pelo braço, dobrando-o pra trás. Ele grita.

SCULLY: - (GRITA) Rende-se?

MULDER: - (GRITA) Não!

Scully puxa mais o braço dele.

MULDER: - (GRITA) Ai!

Mulder consegue se desvencilhar. Scully dá uns tapas no peito dele e o derruba pra fora da cama. Ele cai no chão. Ela senta em cima do peito dele, pressionando suas coxas contra o rosto de Mulder.

SCULLY: - (CANSADA) Desiste?

MULDER: - (CANSADO) Não!

Mulder a empurra pro chão. Scully levanta-se. Ele levanta-se. A chama pra briga. Scully parte pra cima dele. Se agarram loucamente. Ela pula nele, ele a agarra pelo bumbum. Scully envolve as pernas no corpo dele. Trocam um beijo enlouquecido e rápido. Se soltam. Arrumam a roupa. Olham um pro outro. Ofegantes, cansados.

MULDER: - (GRITA) E não se meta comigo. Que isso lhe sirva de lição!

SCULLY: - (GRITA) Nem você. Ou da próxima vez vai ser pior!

MULDER: - (GRITA) Ah, ainda não apanhou o que chegue, vadia?

SCULLY: - (GRITA) Ah, acha que fui eu quem apanhei, florzinha?

Os dois se atracam de novo, ela o atira na cama e pula em cima dele. Beijam-se enlouquecidos, arrancando as roupas um do outro.


3:18 A.M.

Mulder, de cuecas, sentado na cadeira, lendo algo no laptop sobre a escrivaninha. Scully aproxima-se, enrolada num lençol.

SCULLY: - Está lendo o que salvei?

MULDER: - Sim. Isto aqui é bem interessante.

SCULLY: - Não quer brigar de novo?

MULDER: - Não. Uma hora dessas a gente acaba se machucando mesmo.

SCULLY: - Hum, temos treinamento e sabemos o que machuca ou não. Adoro brigar com você.

Ele sorri. Scully senta-se sobre ele. As pernas ao redor do corpo de Mulder. Ajeita o lençol atado por sobre os peitos. Envolve os braços no pescoço dele. Mulder afaga os cabelos dela com carinho.

MULDER: - Hum... Até tenho uma teoria, Scully, mas pra dizer a verdade, ela não vai poder ser verificada antes da meia noite de Sexta-feira.

SCULLY: - Por quê?

MULDER: - Acredito que Bob tenha feito um pacto com o demônio. Para obter sucesso.

SCULLY: - Algo como no filme ‘A Encruzilhada?’

MULDER: - Exatamente. Na verdade, há relatos de pessoas que trocaram suas almas pra obterem sucesso em suas carreiras artísticas. Talvez Bob tenha negociado um de seus dedos, se obtivesse sucesso por algum tempo. Afinal de contas, o que é mais precioso para um músico do que seus dedos?

SCULLY: - Faz sentido.

MULDER: - O demônio nunca negocia algo fácil. O preço é alto.

Ela fica lambendo o pescoço dele.

MULDER: - Acho que sei como encontraremos Bob. Mas só na sexta-feira.

SCULLY: - ...

MULDER: - Que preço alto em troca da agilidade dos dedos.

SCULLY: - Sabe, Mulder... Eu só estou interessada em uma coisa no momento... Na agilidade dos seus dedos...

MULDER: - Scully, não provoca. Eu posso virar um cara muito perigoso, tarado e sem piedade alguma de você...

SCULLY: - Vem, me desmonta inteirinha...

MULDER: - Pára, Scully...

SCULLY: - Eu tô quietinha. Você é que não está.

MULDER: - Acha que eu posso me controlar?

Ela ergue o corpo. Ele fecha os olhos, descendo a mão por entre as pernas dela. Ela desce o corpo, lentamente, mordendo os lábios. Agarra-se nos ombros dele, inclinando-se para trás. Ponta dos pés no chão. Move seu corpo rapidamente sobre o dele. Mulder a segura pela cintura, soltando gemidos. Ela geme, murmurando o nome dele. Joga-se pra trás. Ele ergue o corpo pra frente, movendo seu corpo contra o dela também, segurando-a pela cintura, ofegante. Ela apoia os pés na cadeira, pressionando o corpo dele com suas pernas dobradas. Continua movendo seu corpo, gemendo, agarrada nas pernas dele.

SCULLY: - ... Hum, Mulder... Assim... ai, assim...

MULDER: - (OFEGANTE) Scully, acho que estamos ficando bons nisso...

SCULLY: - O que fazem algumas leituras de técnicas orientais... aqueles seus livros... Ai, Mulder...

MULDER: - ... Eu é quem quero gritar agora...

SCULLY: - Hum... Oh, céus, eu acho que vou entrar em Nirvana...


9:17 A.M.

Mulder acorda-se ouvindo o celular. Atende.

MULDER: - Mulder... Não, Skinner, as coisas estão difíceis por aqui... Já, já tenho uma pista, mas só vou poder concluí-la amanhã à noite... Ahn? (SORRI) Tem certeza? ... Skinner, segura esse caso... Não, eu vou, já tô indo... Só um pouquinho.

Mulder cutuca Scully. Ela acorda-se. Ele entrega o celular. Ela atende.

SCULLY: - Sim? ... Ah, senhor? ... Não, tudo bem... Eu posso ir na próxima semana, sem problemas... Tá.

Scully desliga. Entrega o celular pra Mulder.

SCULLY: - Que horas são?

Mulder olha pro relógio.

MULDER: - 9:18.

SCULLY: - Hum, dormimos demais.

MULDER: - O que ele queria?

SCULLY: - Que eu ministrasse uma palestra em Quântico.

MULDER: - Bom para seu currículo. Porque você tem um.

SCULLY: - Acho que não tenho mais, desde que dividi a vida com você. Agora eu sou a aloprada Scully.

Ele sorri. Ela se espreguiça.

MULDER: - Preciso sair.

SCULLY: - Não sai, não... Não tem nada pra fazer.

Ele abraça-se nela. Beija-lhe o ombro.

MULDER: - Preciso sair, Scully. Skinner me quer em Washington agora. Volto logo. Parece que temos um caso em Idaho que pode nos levar... você sabe a quem.

Ela dá um sorriso.

MULDER: - Fique aqui cuidando de tudo. Vou verificar isso em Washington.

SCULLY: - Tá. Mas quando voltar, me traz batatinhas fritas?

MULDER: - Batatinhas fritas?

SCULLY: - Talvez seja desejo.

Ele sorri.

MULDER: - Eu te trago batatinhas fritas. A esperança é a última que morre.

Ela vira-se pra ele. Trocam um beijo.


3:47 A.M.

Scully olha pela janela do quarto. Nervosa, roendo unhas. Percebe o carro estacionando. Ela respira fundo, soltando toda a tensão. Fisionomia de indignada.

SCULLY: - Mulder, eu quero te matar! Por que foi pra Idaho? Não sabe o que é celular?

Scully abre a porta do quarto. Mulder, parado ali, olha pra ela. Todo descabelado, roupa revirada.

SCULLY: - Mulder?

Ele entra, em silêncio e sem desgrudar os olhos dela. Ela fecha a porta. Ele a segura por trás. Ela pára. Nenhuma palavra. Mas ela pressente que ele correu atrás de mentiras novamente, e a frustração o abala. Mulder sobe as mãos pela cintura dela, desabotoando a camisa que ela veste. Desce a camisa pelos ombros dela, tocando-a com a ponta dos dedos. Aproxima seus lábios do pescoço de Scully. Ela fecha os olhos, inclina a cabeça pro lado. Ele começa a beijá-la, deslizando os dedos até seu sutiã. Ela continua de costas pra ele, sem reagir, braços caídos. Ele desata o sutiã dela. Agarra seus seios. Ela amolece o corpo, se entregando. Ele desliza seus lábios do pescoço para o ombro dela. Suas mãos pelo corpo dela. Ela imóvel. Olhos fechados. Ele murmura no ouvido dela.

MULDER: - Eu quero você agora. Eu preciso de você agora.

Ele a vira contra si, num impacto. Cola sua boca na de Scully. Beijo que parece tirá-la do chão. Agarra-a pelo bumbum e a suspende sobre a escrivaninha, atirando tudo no chão. Esfrega seu corpo entre as pernas dela, percorrendo com a língua o seu pescoço, enquanto ergue a blusa dela. Scully ergue os braços, ele tira-lhe a blusa. Seus lábios chegam aos seios dela. Scully inclina-se pra trás, sentindo beijos e mordidas que lhe deixam a pele arrepiada. A perna dele roça entre as dela. Ela inclina-se mais ainda, apoiando os cotovelos na mesa. Ele desliza as mãos pra baixo da saia, tentando despi-la. Ela ergue o corpo. Ele atira a calcinha dela pra longe. Ela ergue-se, segurando-se nos ombros dele, sentindo a língua dele em seus seios. Ele ergue os braços dela para cima, enlaçam os dedos, trocando um beijo de língua. Ele desce as mãos. Ela desce as mãos, abraçando-o. Sente o suor de seu tórax e de suas costas. Sente-o dentro de si. Corpos colados.


7:23 A.M.

Scully deitada ao lado dele, que dorme. Olha pra Mulder, deslizando seus dedos pelo braço dele. Ele acorda-se. Vira-se pra ela. Olham-se nos olhos.

MULDER: - ...

SCULLY: - Eu sei, Mulder. Esqueça isso. Assunto morto.

MULDER: - ...

SCULLY: - Que tal um gostoso café da manhã? Hein?

Ele sorri. Ela levanta-se. Começa a se vestir.

SCULLY: - E me deve as batatinhas.

MULDER: - Desculpe, me esqueci das batatinhas.

SCULLY: - Hoje vamos pegar o dono daquele dedo. Ou quem tirou o dedo dele.

MULDER: - ...

SCULLY: - O que seria de mim sem os meus dedinhos?

MULDER: - Ah, Scully, o que seria de mim sem os seus dedos.

SCULLY: - Você é quem começou com essa coisa de dedos.

MULDER: - Tá, eu acho que vou fazer um pacto com o demônio hoje pra pedir mais agilidade nos meus dedos.

SCULLY: - Não precisa, Mulder. Você é um expert em dedos. Você me ensinou que com dedos e uma língua você pode levar alguém até o nirvana.

Ele sorri.

MULDER: - O que fez enquanto estive fora?

SCULLY: - (ASSOVIA) ...

MULDER: - Hum, Scully... Você está ‘cheia de dedos’ hoje...

SCULLY: - Sexo, sexo e mais sexo. Nunca fiz tanto sexo na vida!

Ele ri.

MULDER: - Dedos?

SCULLY: - Não! Com o Joe Ramone da recepção.

MULDER: - Acredito mais nos seus dedos que no Joe Ramone da recepção.

SCULLY: - Mulder!

Ela volta pra cama. Enfia-se debaixo do lençol.

MULDER: - E o café da manhã?

SCULLY: - Busque o seu, Mulder. Eu já tenho o meu.

MULDER: - Scully, sai daí! Isso não é nada diet.

SCULLY: - Eu não engordo mesmo.


BLOCO 4:

4:14 P.M.

Scully sai do quarto. Caminha pela varanda. Passa na frente da porta da recepção. Joe está na recepção, olhar perdido. Ela passa. Volta. Acena pra ele.

SCULLY: - Oi?

Ele sai do transe. Sorri. Scully entra.

JOE: - Oi, Dana.

SCULLY: - Hum, e aí? Tem show hoje?

JOE: - Tem. Quer ir?

SCULLY: - Preciso resolver alguns problemas.

JOE: - Dana, quer me dizer o que está acontecendo? Eu queria saber o que houve com o Bob. Estava aqui pensando em algumas coisas que ele falou. E não pude deixar de ouvir você e o Fox falando aquele dia sobre demônios.

SCULLY: - ...

JOE: - Acha que ele faria essa besteira?

SCULLY: - Não sei.

Mulder passa pela porta da recepção. Pára. Volta e fica escutando. Eles não percebem.

JOE: - Eu acredito nessas coisas, Dana. Uma vez ele me disse que tudo o que quiséssemos poderia ser concedido numa encruzilhada. Ele ouviu essa loucura do tio dele. Que toca pra caramba. Mas eu ainda acredito na persistência, no talento nato.

SCULLY: - Está correto em pensar assim, Joe. O que vem fácil, vai fácil. O que conseguimos com muito esforço nos permite olhar pra trás e vermos o quanto somos fortes. E isto nos faz crescer e encarar desafios maiores no futuro.

JOE: -... Dana, eu tô pra baixo hoje. Recebemos um convite de uma gravadora, mas eu não tenho esperança alguma. Eu não tenho talento.

SCULLY: - Como não tem talento? Eu ouvi as suas músicas aquela noite.

JOE: - Eles não querem minhas músicas, Dana. Querem ouvir as músicas dos Ramones, não as minhas.

SCULLY: - Talvez os Ramones o levem ao seu desejo. Não é mesmo?

JOE: - Eu vou desistir disso, passar o resto da vida aqui nessa recepção, juntar uns trocos e fazer uma faculdade. Eu não nasci pra ser artista.

Scully olha pra ele com piedade.

SCULLY: - Você não acredita em mim?

JOE: - ...

SCULLY: - Joe, você tem músicas muito legais. Se eu, na minha ‘idade’ consigo ficar entusiasmada, imagina os garotos de sua idade.

Joe sorri.

SCULLY: - Eu não sou nenhuma expert no assunto, mas talvez, você mereça mais do que aqueles caras todos que tocam com você, só pra ganhar cerveja de graça. Você tem talento. Alguém um dia vai ver isso. E vai dar essa chance pra você.

JOE: - ... Acha mesmo?

SCULLY: - Acho. Eu acredito em você.

JOE: -... Nem minha mãe acredita em mim. Me chamou de vagabundo e me colocou pra fora de casa.

Scully olha pra ele ternamente.

SCULLY: - Prove pra você, Joe. Nunca para os outros. Se você não insistir, se não se ajudar, nunca vai conseguir o que deseja. Porque o mundo, infelizmente, não está nem aí pra nada. As pessoas estão preocupadas em olhar pra seu próprio umbigo. Prontas a explorar qualquer um se preciso for pra conseguir o status que querem.

JOE: - Eu só quero tocar.

Scully sorri.

SCULLY: - Sabe que eu viajo muito por aí e vejo gente de todo o tipo. Vejo coisas que fazem, e me pergunto onde está o freio desse mundo! E que tem pessoas que querem muito mais do que isso? Que querem ficar ricas de repente, que precisam de poder. E você só quer tocar e dar alegria a elas. Acha que Deus não vai te dar isso? Olha o pouco que você pede, Joe! Você só pede pra tocar, pra ser o que é. Ninguém pede pra ser o que é. Todos querem ser o que não são.

JOE: -... Dana, por que não conheci você antes?

SCULLY: - ...

JOE: - Acho que estou apaixonado por você.

SCULLY: - Não tá não. Você tá precisando de uma mãe que cuide de você. E eu de um filho. Seja o meu filho, Joe. Me dê orgulho, conseguindo o que deseja.

Corta pra Mulder. Ele fecha os olhos. Derruba lágrimas. Encosta-se na parede.

Corta pra Scully e Joe.

JOE: - (SORRI) Você é minha musa, Dana. Pra sempre. Você me inspira.

SCULLY: - Então não vá se esquecer de me mandar o seu primeiro CD.

JOE: - Gostaria de ter um filho roqueiro, desleixado e tatuado?

SCULLY: - Gostaria de ter um filho. E pouco me importa o caminho que ele escolher. Ele é livre pra isso.

JOE: -... Tá sentindo-se melhor hoje?

SCULLY: - Acho que estou.

JOE: - Se encontrar o Bob... Diga que ele tem um amigo que sabe do desespero dele. Um amigo cúmplice. Que queria chegar no alto de um palco, com mais de 60 mil pessoas e tocar com ele.

SCULLY: - Eu digo.

Scully sai. Joe abaixa a cabeça sobre o balcão. Scully não percebe Mulder parado ali fora. Mulder a acompanha com os olhos, como quem vê um anjo. Contempla-a.


11:14 P.M.

Mulder dirige o carro por uma rodovia deserta. Scully ao lado dele.

MULDER: - É por aqui, segundo informações do ‘tio’.

SCULLY: - Mulder, e se não encontrarmos o garoto?

MULDER: - Ele vai estar lá, Scully.

SCULLY: - Como pode ter certeza?

MULDER: - Ele foi enganado, ele quer negociar de novo. Ele quer fugir do mundo, com medo do que fez. Com medo de ver que perdeu tudo o que mais queria na vida por causa de uma besteira.

SCULLY: - Talvez não fosse besteira pra ele, Mulder. O desespero de realizar um sonho o fez fazer uma besteira.

Mulder olha pra ela.

MULDER: - Desculpe, eu me expressei mal. Era isso que eu queria dizer. Porque eu entendo o que é uma busca, uma realização. Você vai até o inferno, você vende a alma, você faz o que preciso for pra conseguir o que precisa pra viver. Eu preciso de uma verdade. Ele precisa de um palco. Dá na mesma, Scully.

SCULLY: - ...

Mulder estaciona o carro na encruzilhada.

MULDER: - Temos mais de meia hora, Scully. Vou estacionar o carro entre aquelas árvores, vamos ficar escondidos. Quando Bob aparecer, nós o pegamos.

SCULLY: - ... Tá.


11:55 P.M.

Mulder e Scully descem do carro. Caminham até a encruzilhada. Bob, com uma luva nas mãos, está parado na encruzilhada. Ao vê-los, Bob corre.

MULDER: - Ei, Bob, só queremos conversar!

Ele pára. Vira-se pra eles.

BOB: - (CHORANDO) Droga, cara! Eu não quero conversar. Eu não vou voltar! Eu sou um aleijado! Não entende? Eu não posso mais tocar! Eu não posso mais viver sabendo disso!

Mulder e Scully aproximam-se dele. Scully pega em sua mão. Retira a luva. Bob está sem o dedo indicador.

BOB: - Vocês vão me prender?

SCULLY: - Como sabe que somos da polícia?

BOB: - Acha que não ouvi os burburinhos sobre a presença de vocês aqui?

SCULLY: - Foi ao hospital?

BOB: - Não. Já tá cicatrizado.

MULDER: - Bob, como cortou seu próprio dedo?

BOB: - Ele mentiu pra mim, cara! Ele disse que me daria fama se eu desse meu dedo depois de conseguir isso. Mas quando dei por mim, eu estava cortando meu dedo com um canivete.

Scully fecha os olhos. Mulder olha pro relógio.

MULDER: - Temos 3 minutos pra dar o fora daqui, Bob.

BOB: - Ele tem que aparecer! Eu preciso falar com ele!

MULDER: - Bob, não vai se deixar enganar de novo.

BOB: - Estou há dois meses esperando por ele, todas as sextas. Ele tem que vir hoje.

MULDER: - Bob, vamos embora.

BOB: - Vocês não entendem?

O rapaz se afasta deles, de costas, num desespero. Mulder fica angustiado. Fecha os olhos.

BOB: - Eu preciso. Eu não mereço ficar sem meu dedo. É tudo o que eu tenho, eu preciso da minha mão pra tocar! Eu quero ela de volta, inteira.

Mulder olha pro relógio.

MULDER: - Bob, você pode pensar nisso depois. Não aqui. Vamos embora.

Mulder o puxa pelo braço.

Som de uma velha harmônica tocando. Os três viram-se pra encruzilhada. Um velho negro aproxima-se, os olhos vermelhos e brilhantes. Scully arregala os olhos, segurando a mão de Mulder e a mão de Bob.

BOB: - É ele.

Bob desgruda-se de Mulder. Corre até o velho. Scully ameaça ir, Mulder a segura.

MULDER: - Deixe-o, Scully.

SCULLY: - Mas, Mulder...

MULDER: - Deixe-o. Cada um sabe do seu próprio desespero e das suas necessidades. Não sou eu ou você que vamos interferir na dor dele. Não temos o direito de fazer isso. A dor é dele. Assim como temos a nossa dor.

SCULLY: - ...

Mulder segura na mão dela. Eles dão as costas. Scully vira-se e grita.

SCULLY: - Bob!

Bob olha pra ela.

SCULLY: - (GRITA) Joe pediu pra dizer que você tem um amigo que sabe do seu desespero! Um amigo cúmplice! Que queria chegar no alto de um palco, com mais de 60 mil pessoas e tocar com você!

Bob olha pra ela chorando. O velho negro olha pra ele.


Garagem Hermética – 2:11 A.M.

A banda toca I Don’t Wanna Grow Up (dos Ramones). Mulder e Scully entram no bar. Bob ao lado deles. Joe, ao ver o amigo, pára de tocar. A banda pára. O público vira-se todo pra entrada do bar. Joe larga o contra baixo, desce do palco, passando por entre as pessoas e indo de encontro a Bob. Bob chora. Os dois se abraçam. Quem chora junto é Scully, emocionada. Mulder os observa, também emocionado.

BOB: - Me perdoa... Eu tentei por nós dois.

JOE: - Eu sei, amigo. Eu sei.

BOB: - (CHORANDO)... E-eu... eu perdi meu dedo. Minha carreira acabou!

JOE: - Mas você tá aqui. Isso é o que importa. Sua vida vale mais que mil acordes de guitarra.

Os dois se afastam. Olham um pro outro.

JOE: - Se a gente merecer, vai sair daqui. Se não, tudo isto será apenas uma memória do passado. Mas nós dois vamos continuar amigos. Porque sempre sonhamos e lutamos juntos pelo que acreditamos.

Scully derruba lágrimas. Mulder envolve o braço nela.

BILLY: - Vamos, Bob. Vamos tomar uma cerveja. Você tá precisando.

Ted e Billy saem com ele. O público aplaude emocionado. Vários jovens vêm cumprimentar Bob, passando a mão em sua cabeça.

Joe olha pra Scully e Mulder.

JOE: - Valeu. Obrigado.

MULDER: - Fizemos o nosso trabalho, Joe.

JOE: - Não. Vocês me devolveram o amigo que perdi.

Scully olha pra ele, ternamente. Mulder percebe. Aproxima-se de Joe.

MULDER: - Ok, poste de luz. Sucesso pra vocês. Um sucesso do teu tamanho.

JOE: - Me deixe seu endereço. Posso querer te achar um dia.

Mulder sorri. Entrega um cartão.

MULDER: - Vai nos encontrar aí. Eu e a Scully. Ok? Acho que vai precisar despachar algo pelo correio... vai querer mesmo me achar um dia.

Mulder sai do bar. Joe olha pra Scully. Scully, derrubando lágrimas, o abraça. Ele curva-se pra frente. Scully o solta.

SCULLY: - Seja feliz... meu filho.

JOE: - Eu vou ser, mãe. O bom menino que você quer que eu seja. Vai ter orgulho de mim.

SCULLY: - ...

Joe puxa uma folha de caderno, dobrada e amassada de dentro do bolso da calça jeans.

JOE: - Isso é pra você.

Ela olha pra ele. Olhos vermelhos de chorar.

SCULLY: - O que é?

JOE: - Fiz pra você, Dana. É o presente mais valioso que poderia te dar. Porque é do meu coração.

Scully sorri, já franzindo a testa pra chorar. Pega o papel.

SCULLY: - (EMOCIONADA) ... Obrigado.

JOE: - Espero que supere sua dor algum dia, Dana.

SCULLY: - ... (DERRUBANDO LÁGRIMAS) Eu a supero quando vejo pessoas como você que acreditam e fazem do mundo um lugar melhor. Quando vejo que as coisas pelas quais passei têm um bom motivo. Porque corações jovens como o de vocês precisam pulsar por sobre a Terra no futuro, para que ela seja um Céu. E eu jamais interferiria na esperança do futuro.

Corta para Scully saindo do bar, secando as lágrimas. Entra no carro em silêncio. Mulder olha pra ela.

MULDER: - (DEBOCHADO) E aí? Deu beijinhos nele?

SCULLY: - (SORRI) De língua.

Mulder sorri. Passa a mão no rosto dela, ternamente.

MULDER: - Eu amo você. Que tem um lado humano. Um coração. Se é que dizer isto não é um pecado saindo de uma boca tão perversa quanto a minha.

SCULLY: - ... (CABISBAIXA)

MULDER: - Você, que sempre sabe as palavras certas. Nas horas certas. Que sempre estende sua mão pra ajudar, sem nunca negar nada, mesmo que tenha de dar sua própria vida em troca da felicidade das pessoas.

SCULLY: - ... (DERRUBANDO LÁGRIMAS POR SOBRE O COLO)

MULDER: - Deu até mesmo seu filho pelo bem da humanidade. E eu te venero por isso. Porque acho que você não é humana. Eu é quem sou humano e cheio de defeitos. E tenho vergonha de mim.

SCULLY: - ... (DERRUBANDO LÁGRIMAS)

MULDER: - Anjo Scully... Nada mais pode expressar o que você é. Porque você hoje venceu o mal. Hoje você deu a vida a alguém. E ainda acha que não pode ser mãe. Scully, você é uma mãe maravilhosa, porque todos que te conhecem, querem sua proteção.

Mulder abaixa a cabeça. Liga o carro. Scully seca as lágrimas. Olha pelo vidro da janela. Segura a mão dele.


Interestadual da Virgínia – 8:21 A.M.

Mulder dirige o carro. Silêncio. Scully abre a bolsa. Retira a folha de caderno. Lê.

SCULLY (OFF): - Canção para Dana...

Ela sorri.

SCULLY (OFF): - Quando for aberta aquela porta e o vento puro passear nos seus cabelos, dando mil formas, mil encantos, fazendo o ar entrar mais puro no nariz... Quando for dado o primeiro passo, já deve haver decisão, de não olhar pra trás pois a saudade pode fazer mudar a opinião... Quando for fechado o portal, e o desejo de vida estiver nos poros, não adianta mais correr atrás. Pois o que aconteceu já é passado. E o mundo não pode esperar, porque precisa de alguém pra devorar. E aquele que foi, volta jamais...

Scully dobra o papel. Coloca no bolso. Olha pela janela do carro. Sorri.


Um mês depois...

Apartamento de Mulder – 2:33 P.M.

Mulder entra, fechando a porta. Carrega um pacote de sedex. Scully está na sala. Assiste TV. Mulder entrega o pacote.

SCULLY: - O que é isso?

MULDER: - Veio de um lugar chamado Warrenton, pra você.

Ela sorri. Abre o pacote como desesperada. Mulder senta-se no sofá ao lado dela. Observa sua empolgação. Scully retira um CD de dentro do sedex. Há um bilhete aneado com fita adesiva. Scully sorri, derrubando lágrimas.

SCULLY: - Ele conseguiu!

Mulder olha pra ela, emocionado.

MULDER: - Também quem não consegue uma vitória com uma musa como você?

Ela lê o bilhete.

SCULLY: - Hum, a faixa 1 está estourado nas paradas.

Ela lê o CD. Sorri.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Faixa 1: Canção para Dana.

Mulder sorri. Scully está radiante de felicidade que chega a derrubar lágrimas. Continua lendo o CD.

SCULLY: - ... O nome do CD é Dedos... (SORRI) Fellatio e Cunnilingus é formada por Ted Monroe, Billy Graham e Joe Ramone...

Mulder olha pra ela. Ela procura com os olhos, triste. Então abre um sorriso.

SCULLY: - Arranjos e produção: Bob Strungle.

MULDER: - É, eles conseguiram.

SCULLY: - Dedicado à Dana... por meter seu dedo em nossa vida.

MULDER: - (SORRI)

SCULLY: - ... Dirigido e apoiado por... ‘Joe Ramone, o verdadeiro’.

Os dois se olham surpresos. Sorriem. Mulder pega o CD.

SCULLY: - Vamos escutar o ritmo das paradas, Scully.

Ela sorri. Mulder coloca o CD. Uma guitarra estridente começa. Scully encolhe os ombros, assustada. Mulder olha pra ela. Senta-se ao seu lado. Coloca a mão por sobre seu ombro.

MULDER: - É, Scully. Realmente estamos ficando velhos pra isso.


X


07/10/2000


Dedicado a todas as bandas de garagem desse país.

Aos tantos talentos musicais ainda não reconhecidos.

6 Août 2019 22:54 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

A propos de l’auteur

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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