lara-one Lara One

Alguns visitantes de Alcatraz relatam estranhas aparições na ‘Rocha’. Um ex-oficial penitenciário de Alcatraz aparece morto alguns dias depois. Parece que às vezes, eles voltam... Fic em parceria: One & Keke


Fanfiction Série/ Doramas/Opéras de savon Interdit aux moins de 21 ans.

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S04#04 - RETURNING


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

A chuva cai forte. Um carro estacionando na frente de uma casa simples. Um policial desce do carro, corre até a porta da casa. Procura as chaves no bolso. Abre a porta. As luzes estão acesas. Ele entra, todo molhado, tira a jaqueta, pendura no cabide de entrada. Caminha até a cozinha.

POLICIAL: - Pai?

Silêncio. Ele pega as cartas sobre a mesa, olha os remetentes. Larga-as novamente. O telefone toca. Ele vai até a sala, atende ao telefone.

POLICIAL: - Hawkins... Ah, olá, enfermeira Brad. Não, eu acabo de chegar em casa, não falei com ele ainda... Como assim não apareceu na fisioterapia? ... (SORRI) Eu vou falar com aquele velho teimoso.

O policial desliga. Sobe as escadas.

POLICIAL: - Pai, a enfermeira Brad acaba de ‘denunciá-lo’ ao xerife local. Por que não foi à clínica?

Silêncio. O policial começa a desconfiar.

POLICIAL: - Pai?

O policial aproxima-se da porta de um quarto, que está semi-aberta. Empurra a porta lentamente. Vários pássaros saem do quarto, voando por sobre sua cabeça, dando-lhe um susto. Ele coloca a mão sobre o peito, ofegante.

POLICIAL: - Mas que diabos... Pai?

Ele entra no quarto.

Close dos alpistes espalhados pelo chão e por sobre o corpo do velho Hawkins, que está morto, vestido num velho uniforme de guarda penitenciário. Respingos de sangue por toda a parede. Ao lado do corpo, uma frase escrita com o sangue do falecido: Eu disse que sairia.

VINHETA DE ABERTURA


BLOCO 1:

Arquivos X – 10:39 A.M.

Mulder lê o jornal, com os cotovelos apoiados na mesa, comendo sementes de girassol. Scully entra, com uma pilha de pastas nos braços que chegam a esconder o rosto dela.

SCULLY: - O que quer com isso, Mulder? Não poderia ter pedido disquetes?

MULDER: - Não confio em arquivos digitados por qualquer pessoa que não seja eu ou você. Informações podem ser suprimidas.

SCULLY: - (SUSPIRA)...

Scully coloca a pilha de papéis sobre a mesa dele. Estala os ombros e o pescoço.

SCULLY: - Pronto. Se me pedir para ajudá-lo a procurar qualquer palavra que seja, eu juro que atirarei em você. Afinal, o que quer com fichas antigas de prisioneiros de Alcatraz?

MULDER: - Leia isso, Scully.

Scully aproxima-se dele, olhando para o jornal. Ele a puxa, fazendo-a sentar-se em seu colo. Ela olha pra ele, erguendo as sobrancelhas.

SCULLY: - E pra ler preciso sentar em seu colo?

MULDER: - Se quiser ficar em pé... (DEBOCHADO) Só estou sendo cavalheiro...

SCULLY: - O que diz aí?

MULDER: - Leia.

SCULLY: - ... Hum... Visitantes de Alcatraz relatam aparições de fantasmas... (ASSUSTADA) Ah, não, Mulder. Fantasmas de novo não!

MULDER: - Qual o seu problema com fantasmas? Tem medo dos mortos?

SCULLY: - Tenho. Tenho muito medo de mortos sim.

MULDER: - (MALICIOSO) Deveria ter medo dos vivos. Esses atacam de surpresa.

Ela sai do colo dele, indignada.

SCULLY: - Olha aqui, Mulder, não vai me colocar numa busca insana por fantasmas presidiários. Chame um padre. Vai libertar a alma deles muito mais rápido.

MULDER: - (TENTANDO CONVENCÊ-LA) ‘Scullyzinha’, várias pessoas relatam visões fantasmagóricas em Alcatraz. Soube que ontem, um ex-funcionário da segurança da Rocha foi achado morto, violentamente, usando um velho e empoeirado uniforme. (FAZENDO SUSPENSE) Havia uma frase ao lado do corpo: Eu disse que sairia.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Hum, e o que isso implica? Um fantasma? Ora, Mulder, se foi um crime brutal poderia ter sido cometido por qualquer pessoa viva, não necessariamente um morto. O ‘Eu disse que sairia’ poderia ter referência a...

MULDER: - (ESPERANDO RESPOSTA, OLHANDO COM DEBOCHE)

SCULLY: - (ATRAPALHADA) A...

MULDER: - A o quê, agente Scully?

SCULLY: -... Vamos mudar de assunto.

MULDER: - (SEGURA O RISO)

SCULLY: - Quem te falou sobre o assassinato?

MULDER: - Ninguém.

SCULLY: - Então como sabe?

MULDER: - (DEBOCHADO) ‘Eu disse que sairia’ cedo pela manhã, agente Scully.

Ele mostra o jornal.

SCULLY: - Ah, não, Mulder! Não vamos meter nosso bico em investigações não pertinentes, não fomos solicitados, vão usar isto contra nós, como gastos exagerados...

MULDER: - Pegue suas coisas e vamos pra Califórnia. Leve os óculos escuros, bronzeador e um biquíni bem provocante.

SCULLY: - Eu não vou pra Califórnia caçar fantasmas com você! (MEDROSA) Mulder, eu odeio isso!

MULDER: - (DEBOCHADO) Bom, então eu vou sozinho. Acho que vai ser bem interessante viajar sozinho pra Califórnia. Eu, um carro conversível, muita cerveja e mulheres ‘bem vivas e bem dotadas peitoralmente’... Você me empresta alguns trocados pra comprar bolachas?

Ela lança um olhar de raiva.

SCULLY: - Vou dar uma bolacha nessa sua cara de sem-vergonha!

MULDER: - Depois conversamos, Scully. Vou fazer minhas malas. (PROVOCANDO) Você pode ficar aí e me fornecer as informações que eu pedir por telefone. Claro, se eu pedir. Acho que tomarei outro rumo nas investigações... Você tem razão. Acho melhor investigar os vivos. Tem tantos corpos vivos pelas praias da Califórnia, Scully...

Ele sai da sala, segurando o riso. Ela suspira.


4:12 P.M.

Mulder dirige o carro, de óculos escuros. Scully ao lado dele, séria. Mulder batucando no volante, ouvindo Alice Cooper. Scully desliga o som.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Quero que saiba que estou aqui porque temos um Arquivo X. Não é por você não.

MULDER: - (DEBOCHADO) Tudo bem, eu sei.

SCULLY: - Sou uma profissional.

MULDER: - Tá legal.

SCULLY: - Pouco me importa se você viria sozinho ou não pra Califórnia.

MULDER: - Sei disso.

SCULLY: - (IRRITADA) E tire esse sorriso convencido e debochado dessa cara sem-vergonha, Mulder!

MULDER: - Tá.

SCULLY: - Se pensa que estou aqui porque tenho ciúmes de você, está muito enganado. Eu não tenho ciúmes de você, estou pouco ligando se fica ou não olhando pra essas mulheres cheias de silicone e descolorante nos cabelos e...

Scully olha pra ele. Ele olha pela janela, pras mulheres caminhando na calçada. Scully o belisca.

MULDER: - (MANHOSO) Ai!

SCULLY: - (IRRITADA) Tá ouvindo o que estou dizendo?

MULDER: - Estou.

SCULLY: - Então se comporte como um profissional!

MULDER: - Tá certo. Estou me comportando.

SCULLY: - E aviso, Mulder: não tente me provocar ciúmes. Desta vez não vai funcionar.

MULDER: - (CÍNICO) Eu? Eu estou provocando ciúmes? Puxa, Scully, desde quando eu fico provocando ciúmes? Nunca fiz isso.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Não vai conseguir, Mulder. Nem tente. Vai se arrepender. Escreva isso. Desta vez eu não vou ficar fazendo ceninha não.

MULDER: - (CONVENCIDO) Mas que culpa eu tenho se elas ficam caidinhas por mim? É um dom natural, Scully. Acho que sentem meu cheiro e começam a ficar malucas.

SCULLY: - (IRRITADA) Vou tirar o teu ‘cheiro natural’ de Hugo Boss com três caixas de sabão em pó, seu cretino!

MULDER: - Mas...

SCULLY: - (IRRITADA) E cale a boca, Mulder!


Residência dos Hawkins – 6:39 P.M.

O policial abre a porta do quarto. Mulder e Scully entram.

POLICIAL: - Sei que não estão aqui oficialmente, mas se querem me ajudar a pegar o canalha desgraçado que fez isso com meu pai...

Scully observa o quarto. Mulder olha pro chão.

MULDER: - Seu pai criava passarinhos por aqui, xerife?

POLICIAL: - Não. Mas quando abri a porta do quarto, vários passarinhos saíram daqui.

Mulder olha pra janela.

MULDER: - As janelas estavam abertas?

POLICIAL: - Estavam. Devem ter entrado pela janela, embora eu não consiga imaginar porque o assassino colocaria alpiste e passarinhos por aqui.

MULDER: - As portas da casa estavam trancadas?

POLICIAL: - Sim. Acredito que o assassino entrou pela janela.

Mulder caminha até a janela. Coloca a cabeça pra fora.

MULDER: - Meio alto pra isso não? A parede é lisa, sem ponto de apoio.

POLICIAL: - Ora, vai me dizer que o assassino entrou ‘voando’?

Mulder olha pros respingos de sangue na parede. Coloca as luvas.

MULDER: - Acharam a arma do crime?

POLICIAL: - Um taco de beisebol. Vários golpes na cabeça.

MULDER: - Scully, dá uma olhada nisso.

Scully aproxima-se.

MULDER: - A origem dos salpicos de sangue. Parecem pontos de exclamação. A vítima foi golpeada com velocidade e o objeto usado espirrou o sangue contra a parede. São manchas finas e alongadas.

SCULLY: - O que sugere que a vítima foi golpeada com certa distância da parede. A parte mais espessa é a origem do sangue e o ponto, a direção do movimento do golpe.

MULDER: - Correto. Mas eu não acredito nisso, Scully. São oblíquas. Não arrisco a considerar as manchas como fonte de informação. Com uma distância grande, do corpo até a parede, não dá para tirar conclusões. As gotas de sangue podem gravitar em direção ao solo. Mesmo que o esguicho de sangue se dirija originalmente numa posição absolutamente horizontal, a mancha na parede poderá mostrar os pontos de exclamação em direção oposta à do movimento.

SCULLY: - Como também não. Não podemos obter conclusão antes de uma autópsia.

Scully olha pra frase escrita no chão.

SCULLY: - Podemos enviar fotos da caligrafia. Podemos obter um perfil psicológico do suspeito.

MULDER: - Faço isso.

Mulder aproxima-se do xerife.

MULDER: - Importa-se de que minha parceira dê uma olhada no corpo de seu pai?

POLICIAL: - Uma autópsia?

SCULLY: - Sei que isso é uma situação angustiante, xerife Hawkins. Mas podemos obter provas mais consistentes com a análise do corpo.

POLICIAL: - Tudo bem, agente Scully. Faça o que tiver de ser feito. Eu quero pegar o desgraçado que fez isso.

MULDER: - Scully, então faça a autópsia e deixe o local do crime comigo. Xerife, você disse que seu pai vestia um uniforme de segurança. Ele foi segurança em Alcatraz?

POLICIAL: - Agente Mulder, por favor. Estou enfrentando a perda do meu pai e acredite, isso dói mesmo. Então não me venha com essa hipótese sensacionalista dos jornais dizendo que fantasmas estão se vingando.

MULDER: - Não falo de fantasmas. Só quero confirmar. São perguntas de rotina. Talvez nos levem a algum parente de algum presidiário. Pode ter sido um crime de vingança.

POLICIAL: - Vingança? Vingança do quê? Alcatraz foi fechado em 1963! Se quisessem vingança, já a teriam feito!

Mulder sai do quarto. Scully atrás dele. Mulder cochicha.

MULDER: - Vá ver o corpo. Vou procurar os registros dos funcionários de Alcatraz.

SCULLY: - (RELUTANTE) Mulder...

MULDER: - Vá, Scully. Encontro você no necrotério.

POLICIAL: - Meu pai trabalhou em Alcatraz por 20 anos.

Eles viram-se. Não haviam percebido que o policial estava ali.

POLICIAL: - Ele me contava casos horríveis. Aquela gente era o expurgo da sociedade.

MULDER: - Alguma vez ele comentou se tinha algum inimigo?

POLICIAL: - Inimigo? Inimigo, agente Mulder, no dicionário policial, significa que qualquer criminoso é seu inimigo. Que todos eles odeiam a polícia. Então, meu pai, eu, você, a agente Scully, todos nós temos inimigos.

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Vou examinar o corpo.


Necrotério da Polícia – 8:11 P.M.

Scully ajeita a máscara. Levanta o lençol. Coloca as luvas. Examina a cabeça do velho.

SCULLY: - Harold Hawkins, branco caucasiano, 78 anos, 1,82 m... 93 quilos... Apresenta fraturas cranianas superior e presença de cortes na cabeça, provocados por objeto pesado e sem lâmina.

Scully olha pro morto. Suspira.

SCULLY: - Me desculpe, senhor Hawkins, não é nada pessoal. Mas nos últimos tempos eu tenho feito um ritual antes de cada autópsia. Esse consiste em dizer para o morto que se levantar daí, eu juro que atiro!

Scully pega o bisturi.

[Som de passarinhos cantando]

Scully larga o bisturi. Olha pra janela. Há alguns canários amarelos. Scully larga o bisturi. Fisionomia de incredulidade. Aproxima-se da janela. Os canários saem voando. Scully balança a cabeça.

SCULLY: - Acho que estou vendo coisas. Corujas são noturnas, canários não.

Scully volta às suas tarefas. Pega o bisturi. Olha pro rosto do velho. Larga o bisturi.

SCULLY: - A vítima apresenta um volume anormal nas bochechas... Acho que tem algo errado por aqui... (SUSPIRA) Como se nunca houvesse nada de errado quando eu e Mulder estamos envolvidos...

Scully abre a boca do defunto. Cerra as sobrancelhas, incrédula.

SCULLY: - Ah, meu Deus, o que é isso?

Ela procura uma pinça. Começa a retirar penas de passarinhos da boca do defunto.


BLOCO 2:

Hotel Califórnia - 10:33 P.M.

Scully entra no quarto. Tira os sapatos. Vê a porta do banheiro aberta. Entra. Mulder na banheira, brincando com a espuma. Ela olha pra ele, cansada e desanimada.

SCULLY: - Penas. Muitas penas.

MULDER: - Quem tem penas?

SCULLY: - Hawkins. Desde a boca, passando pelo esôfago até o estômago, havia penas de passarinhos.

MULDER: - Penas? Scully tem certeza de que o sol da Califórnia não afetou o seu cérebro?

Ela fica olhando pra banheira, desejando um banho.

SCULLY: - Mulder, ele foi espancado por um taco de beisebol e teve penas colocadas dentro do corpo.

MULDER: - Ele as engoliu antes de morrer?

SCULLY: - Não, não foi morte por asfixia.

MULDER: - Penas de quê?

SCULLY: - Canários, Mulder. E outros tipos de passarinhos.

MULDER: - Scully, quem colocaria passarinhos dentro da boca?

Ela suspira. Segura um riso infame.

MULDER: - Ok, Scully, isso bate em cheio com a minha teoria.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Sobre passarinhos na boca?

MULDER: - Sobre o que investiguei, enquanto estava se divertindo com seu bisturi. E com a presença de pássaros e alpiste na cena do crime. (EMPOLGADO) Scully, vai ficar impressionada quando eu te disser que o senhor ‘Hawkins Pai’ trabalhou 21 anos em Alcatraz, no período de 1942 até 1963, quando a prisão foi fechada por irregularidades e por violência contra os seres humanos.

SCULLY: - (OLHANDO PRA BANHEIRA) Sei. E daí?

MULDER: - Sabe quem estava lá nesta época?

SCULLY: - (COBIÇANDO A BANHEIRA) O Homem Pássaro e o Falcão Azul?

MULDER: - Muito engraçadinha. Quase acertou. Aposto que sei quem matou Hawkins.

SCULLY: - Piu Piu? É, talvez o Piu Piu teria motivos pra assassinar aquele homem... Talvez ele tenha visto um gatinho...

MULDER: - Não, Scully. Passou perto.

SCULLY: - Mulder, fala sua teoria de uma vez. E sai dessa banheira!

MULDER: - Birdman.

SCULLY: - Então? Eu não disse? O Homem Pássaro.

MULDER: - Homem Pássaro errado, Scully. Esse nasceu em 1890, chamava-se Robert Franklin Stroud, mais conhecido como ‘Birdman de Alcatraz’.

SCULLY: - (JÁ NEM RACIOCINANDO MAIS DE CANSAÇO) Quem?

MULDER: - Nascido em Seattle, Washington. Fugiu de casa aos 13, matou um homem aos 19 e foi sentenciado a 12 anos na McNeil Island Prison, também em Washington. Foi transferido para Leavenworth, Kansas, em 1912.

Scully boceja.

MULDER: - Matou um guarda em 1916. Foi sentenciado à morte, mas teve comutação pelo Presidente Wilson. Foi transferido para Alcatraz em 1942.

SCULLY: - (SONOLENTA) E o que ele tem a ver com o assassinato do Bob Pai, digo, do Hawkins Pai?

MULDER: - Ele passou o resto da vida confinado numa solitária, alimentando pássaros, até morrer pouco antes de Alcatraz ser fechada. Chegou até a publicar um livro sobre pássaros. Tem um filme sobre ele, estrelado por Burt Lancaster.

SCULLY: - Mulder, deixa ver se entendi. Está acusando o Homem Pássaro de ter matado o senhor Hawkins?

MULDER: - Exatamente. Hawkins era guarda da solitária nessa época. Talvez seja uma vingança pós mortem.

Scully suspira, olhando Mulder brincar com a espuma.

SCULLY: - Não vou discutir nada com você até tomar um banho. Um gostoso e relaxante banho.

MULDER: - (SORRINDO MALICIOSO) Não seja por isso, Scully. Entra aqui.

SCULLY: - Não. Você sai ou eu não vou conseguir tomar banho.

MULDER: - Sem graça. Você está muito sem graça, Scully. E detesto te dizer que acabo de entrar aqui e não pretendo sair tão cedo.

Ela suspira. Começa a tirar a roupa.

SCULLY: - Ok, Mulder, você venceu. Mas estou tão cansada que se tocar em mim, eu vou dormir.

MULDER: - Ah, vai nada.

SCULLY: - (DESANIMADA) Vou. Acredite.

MULDER: - Não vai não. Porque tem um barco nos esperando às 11 e meia para irmos até a Rocha.

Ela pára de tirar a roupa. Pega a toalha e tenta asfixiá-lo.

MULDER: - Pára!

SCULLY: - Morre, seu cachorro!

MULDER: - (RINDO) Pára!

Scully solta a toalha. Olha pra ele, incrédula.

SCULLY: - Mulder, por que você faz isso comigo?

MULDER: - Mas...

SCULLY: - Puxa vida, Mulder! Eu não quero passar a noite numa prisão, eu quero deitar naquela cama, colocar minhas pernas pra cima, tomar uma champagne e dormir!

MULDER: - ...

SCULLY: - (IRRITADA) Eu te odeio, Mulder! E sai já dessa banheira, ou eu atiro em você!

Ele pega a toalha e sai da banheira. Olha pra ela.

MULDER: - Sem graça, Scully. Completamente sem graça.

Ele vai pro quarto. Ela olha pra banheira. Suspira.


Ilha de Alcatraz – 12:33 A.M.

Mulder ajuda Scully a descer do barco. A prisão está iluminada. O barqueiro olha pra eles.

BARQUEIRO: - Pego vocês de manhã.

O barqueiro sai. Os dois caminham pelas pedras.

SCULLY: - Mulder, nem sabe a vontade que tenho de te matar. Por que todas as vezes que existe alguma coisa ligada a fantasmas, você gosta de vir de madrugada?

MULDER: - Coincidência.

SCULLY: - Tem as chaves da prisão?

MULDER: - Todinhas.

SCULLY: - Se eu quebrar meu salto nessas pedras, Mulder, você vai me pagar muito caro! Vou bater tanto em você que vai implorar pra que eu pare.

MULDER: - (DEBOCHADO) Uau, Scully. Marque o dia e a hora, estou empolgado.

SCULLY: - ...

MULDER: - Tem roupa de couro e algemas nessa história?

1:02 A.M.

Os dois caminham pelos sombrios corredores de Alcatraz. Scully bem distraída.

MULDER: - Viu, por que ter medo? Isso aqui tem geradores de força, Scully. Tudo é iluminado...

As luzes se apagam. Scully grita. Mulder acende a lanterna.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - (ASSUSTADA) Eu te odeio, Mulder!

MULDER: - Calma, Scully. Sou um cara prevenido, sempre carrego minha lanterna.

SCULLY: - (IRRITADA) Vou enfiar essa lanterna em você e você sabe aonde, Mulder!

MULDER: - (DEBOCHADO) Ai, isso deve doer!

SCULLY: - Aposto que sabe se dói ou não.

MULDER: - (INCRÉDULO) O que quer dizer com isso?

SCULLY: - Nada. Pra bom entendedor, meia palavra basta.

MULDER: - Scully, eu não sou gay.

SCULLY: - Não, mas a ideia me anima.

Ele pára. Olha pra ela em pânico. Ela séria.

MULDER: - Scully, agora quem tá com medo sou eu.

SCULLY: - Vamos andando, Mulder.

MULDER: - Credo, que mau humor! Vamos achar o gerador. Você vai pra lá e eu pra cá.

SCULLY: - Não mesmo. Não vou a lugar algum sem você.

MULDER: - (SORRI) Eu sei que o amor é lindo...

SCULLY: - Não é por amor, Mulder, é por interesse. Interesse em segurança pessoal.

Eles continuam caminhando.

MULDER: - (PREOCUPADO) Scully, o que quis dizer com ‘a ideia me anima’?

SCULLY: - (CÍNICA) Pra bom entendedor...

MULDER: - (INDIGNADO) Está dizendo que gostaria de me ver transando com um homem?

SCULLY: - (ASSOVIANDO)

MULDER: - (PÂNICO) Sem comentários. Definitivamente você não merece resposta.

SCULLY: - ...

MULDER: - Ativo ou passivo?

SCULLY: - Passivo.

Mulder se indigna e aperta o passo, deixando ela pra trás. Scully ri.

SCULLY: - (FALANDO BAIXINHO) Me vinguei, Mulder! Fica por essa maldita noite, nesse maldito lugar.


1:37 A.M.

Os dois caminhando por entre encanamentos. Mulder irritado. Ela atrás dele.

SCULLY: - Mulder, estamos chegando no porão do porão e nada de geradores.

MULDER: - Bem feito pra você.

SCULLY: - Por que está falando assim comigo?

MULDER: - Você sabe porquê.

SCULLY: - (PROVOCANDO) Mas você tem fantasias sexuais com duas mulheres! Eu não posso ter minhas fantasias com dois homens?

MULDER: - Cala a boca, Scully. Não me irrite.

SCULLY: - ... (RINDO)

MULDER: - Droga, onde está esse maldito gerador? Isso daqui é um porão, geradores ficam nos porões.

SCULLY: - Sabe, às vezes fico imaginando...

MULDER: - Imaginando o quê?

SCULLY: - Hum... Deve ser interessante transar com dois homens.

Mulder olha pra ela.

MULDER: - Tudo bem, Scully. Tirou a noite pra me irritar?

SCULLY: - (CÍNICA) Eu? Euzinha? Eu não.

MULDER: - (DEVOLVENDO O TROCO) Dois homens... Hã! Não dá conta de um.

Ela pára, boquiaberta, olhando pra ele. Ele continua caminhando. Pára na frente de um enorme gerador.

MULDER: - Ok, agora é hora de fazer essa droga funcionar. Scully, segura a lanterna pra mim.

Ela fica parada, de braços cruzados. Mulder olha pra ela.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Me aguarde, Mulder.

MULDER: - ???

SCULLY: - Só me aguarde. Vai ter troco.

Ela puxa a lanterna com força das mãos dele. Mira no gerador. Mulder começa a mexer.

MULDER: - Droga, entende alguma coisa de geradores?

SCULLY: - (IRRITADA) Não.

MULDER: - Aonde vai essa mangueira?

SCULLY: - Melhor nem te responder.

MULDER: - (IRRITADO) Engraçadinha.

SCULLY: - ...

MULDER: - ...

SCULLY: - (MAQUINANDO ALGUMA COISA NA CABEÇA)

MULDER: - (DISTRAÍDO COM O GERADOR)

SCULLY: - (SEGURANDO O RISO/ MAQUIAVÉLICA) Mulder... Você sabia que o esperma contém glicose?

Ele olha pra ela, incrédulo com o comentário.

MULDER: - (CURIOSO) Então por que é salgado?

Ela solta uma gargalhada de Gillian. Ele abaixa a cabeça, rindo, completamente desconcertado.

MULDER: - Tá, Scully. Tá certo. 10 pra você, zero pra mim.

SCULLY: - (RINDO) Como sabe que é salgado, Mulder? Viu, eu tinha razão.

MULDER: - Não, eu vou me sair bem dessa. Você não vai ficar rindo da minha cara a noite toda.

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Você sabe a minha resposta, Scully.

SCULLY: - (CÍNICA) Não sei não.

MULDER: - Sabe sim. Pensa bem naquelas coisinhas que você fica fazendo e vai ter sua resposta.

SCULLY: - ... Tá bom. Não vou te beijar mais.

Mulder mexe no gerador. As luzes se acendem. Scully desliga a lanterna.

MULDER: - Viu? O que o velho Mulder não resolve?

SCULLY: - Minha carência sexual.

MULDER: - Vou fingir que não ouvi isso. Você blasfema, Scully. Por acaso, fui eu quem não quis entrar na banheira?

Os dois começam a caminhar.

MULDER: - Faço tudo o que você quer e você fica me desdenhando. Não tá contente? Procura outro.

SCULLY: - ...

MULDER: - Mulheres. Quem entende?

SCULLY: - Acha que tamanho é eficiência? Grandes podem ser uns bobões. E além do mais, nem é tão grande assim. Nem faz cócegas.

Mulder pára. Vira-se pra ela, incrédulo.

MULDER: - Nem vou te dar resposta, Scully. Porque se eu falasse o que penso, você ficaria irritada.

SCULLY: - (BOQUIABERTA) Eu? Ah está me atacando agora?

MULDER: - É, você. Porque meus vizinhos são testemunhas da gritaria noturna que você faz. E aposto que não é encenação.

SCULLY: - Mulder, como você é convencido! Acha mesmo que eu grito porque...

MULDER: - (DESAFIANDO) Por quê?

SCULLY: - (ENVERGONHADA) Nada. Melhor parar por aqui.

MULDER: - Não sou eu quem fica reclamando que morre de vontade de fazer uma endoscopia alternativa, mas não consegue...

SCULLY: - Mulder!

Ela passa na frente dele e caminha rebolando, com a cabeça erguida. Mulder ri. Apressa o passo e anda ao lado dela.

MULDER: - Escuta, é necessária essa briguinha?

SCULLY: - É.

MULDER: - Por quê?

SCULLY: - Pra apimentar nossa relação.

Mulder segura na mão dela.

MULDER: - Acho que isso também pode apimentar nossa relação.

SCULLY: - Retire o que disse.

MULDER: - Tá bem, eu retiro.

SCULLY: - Tá, eu também retiro o que disse. Eu gosto do Raposão.

MULDER: - Tá, ele não guarda ressentimentos.

SCULLY: - (RINDO) Ah, Mulder... Eu acho que não conseguiria ter um relacionamento desses com outra pessoa. Nunca.

MULDER: - Nem eu. Essas besteiras que a gente fica falando... Imagina se alguém ouvisse esse monte de besteiras, Scully. Seríamos declarados dois pervertidos com sentença máxima.

SCULLY: - Fora o que falamos um no ouvido do outro. Teria gente que cairia de costas.

MULDER: - Nossa reputação iria pro inferno. Passagem só de ida. (DEBOCHADO) Imagina, nós, dois agentes comportadinhos, isso não seria da nossa índole séria...

SCULLY: - Sugestão, Mulder: As coisas que eu e você jamais diríamos na frente das pessoas. Daria uma boa história... Todas as coisas. Realmente, todas as coisas, sem exceção alguma. Ali, sem rodeios, na íntegra.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não provoca, Scully. Pode ter alguém nesse exato momento, em algum lugar, curioso pra saber do que a gente tá falando... Não alimenta, Scully... Isso é invasão da nossa privacidade. E nós só temos as entrelinhas, e mesmo assim, já tem gente que sabe nossos códigos...

Barulho. Os dois param.

SCULLY: - (ASSUSTADA) Ouviu isso?

MULDER: - Parece... (OLHA PRA FRENTE) Scully, abaixe-se!

Os dois se abaixam, atirando-se no chão. Passarinhos aos montes voam por sobre eles.

Tempo.

Os dois levantam-se. Scully ajeita o cabelo.

MULDER: - Por que tenho a sensação de que já vi isso num filme do Hitchcock?

SCULLY: - Mulder, vamos sair daqui. Não estou gostando desse lugar.

Mulder tira um papel do bolso. Abre-o.

MULDER: - Fiz uma planta. Devemos estar acima das solitárias. Deve haver alguma escada por aqui. Vamos.

Mulder segue. Scully fica parada. Mulder vira-se.

MULDER: - O que foi?

Scully fecha os olhos. Mulder vai até ela.

MULDER: - Scully, está bem?

SCULLY: - ... Mulder tem mais alguém aqui.

MULDER: - (SORRINDO) Sério? Scully, a Estranha...

SCULLY: - ... Mulder, vamos sair daqui.

MULDER: - (EMPOLGADO) Scully, quando vai admitir que você tem altos dons mediúnicos e paranormais?

SCULLY: - Cala a boca, Mulder.

MULDER: - Fico aqui imaginando o potencial paranormal do nosso filho. (SORRI) E me convenço cada vez mais, que o melhor mesmo é ele ficar longe da gente, longe de toda essa ignorância. O mundo ainda não está preparado pra isso.

Ela sai caminhando. Ele atrás dela.

MULDER: - Aquela vez, Scully, aqueles espíritos de escravos entraram em seu corpo, você falou uma língua que nem conhecia. Anjos, Scully, você me disse que viu anjos... Você me disse com tanta fé que sabia que os anjos estavam tomando conta do nosso filho. Você conseguiu me fazer acreditar nas coisas que acredita. Você viu alguma coisa no apartamento da Laura aquele dia. Você viu mortos ressuscitarem...

SCULLY: - Cala a boca, Mulder. O crédulo vê o que acredita.

MULDER: - Você viu et’s...

SCULLY: - ... Talvez porque eu acredite em Ets.

MULDER: - Scully, eu... Deixa pra lá.

Os dois seguem caminhando. Corta para o fundo do corredor. Ao lado do gerador, há a sombra de um homem na parede, com um pássaro pousado sobre o ombro.


1:57 A.M.

Mulder e Scully descem por uma escada estreita. A cada degrau a luminosidade desaparece mais.

SCULLY: - Eu sinceramente não sei o que ainda faço trabalhando com você! Poderia estar na minha casa, na minha caminha deliciosa, dormindo... (IRRITADA) Mas eu estou aqui, com você, nesse lugar cheio de ratos e com um cheiro terrível!

MULDER: - (DEBOCHADO) É porque você é doidinha por mim, vai admite.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Ahhh!

MULDER: - Scully, isso aqui é fantástico, nunca tivemos uma experiência como essa.

SCULLY: - Não? Como não? E quando passamos o natal naquela casa assombrada? Não se lembra não é?

MULDER: - Aquilo não foi nada perto disso aqui. Imagina...

SCULLY: - (ASSUSTADA) Não? Por que não? Quer dizer que há mais fantasmas por aqui? Mulder, eu quero ir embora, não estou com um bom pressentimento.

Nesse momento, um canário passa por eles em alta velocidade, quase esbarrando na cabeça de Scully.

MULDER: - Venha, vamos seguir o pássaro.

Mulder pega Scully pela mão e começa a correr.

SCULLY: - (COM MEDO) Mulder eu não sei se é uma boa ideia.


BLOCO 3:

Eles chegam em um corredor imenso, cheio de portas dos dois lados. Parece não ter fim.

SCULLY: - (COM MEDO) Será que estas são as solitárias?

MULDER: - (EMPOLGADO) Acho que sim. Você olha as da direita e eu as da esquerda.

Eles começam abrir todas as portas.

SCULLY: - Você não sabe qual delas é a cela do seu suposto assassino? Pelo que posso ver aqui, as portas estão numeradas, os números estão meio apagados, mas ainda dá pra ver.

MULDER: - (UM POUCO PERDIDO) Eu não tenho certeza.

SCULLY: - Como não tem certeza? Mulder... Você sabe onde estamos, não sabe?

Mulder olha perdido para planta que havia feito.

MULDER: - (PERDIDO) Scully esse lugar onde estamos não consta na planta.

SCULLY: - (CONFUSA) Não consta? Como não consta Mulder? Você havia dito que estávamos em cima das solitárias, nós apenas descemos! Deixe-me ver isso.

Scully pega o papel das mãos de Mulder e começa a olhar. Pára. Olha ao seu redor e novamente olha para o papel.

SCULLY: - De acordo com isso aqui, se estivéssemos no corredor das solitárias deveria haver uma curva bem ali, ou seja, estamos perdidos.

MULDER: - Calma Scully, caso qualquer coisa é só voltar por onde viemos.

SCULLY: - (OLHA PRA ELE INDIGNADA)...

MULDER: - Vamos continuar olhando, Scully.

SCULLY: - O que acha que era isso aqui, Mulder?

MULDER: - Está me parecendo algum tipo de cela para tortura. Acho que para os guardas as solitárias não eram o suficiente. Olha só o tamanho dessas celas Scully, não devem ter mais de um metro por um e cinqüenta! Esses buraquinhos devem ser para não faltarem o ar.

SCULLY: - Mulder não dá para um ser humano viver aqui em hipótese alguma.

MULDER: - Não é à toa que um dos motivos por esse lugar ter sido fechado foi pelos maus tratos.

SCULLY: - Mas se esse lugar nem está na planta, será que sabiam da existência dele?

MULDER: - Talvez sim, talvez não. Quem sabe?

SCULLY: - O que acha que vamos encontrar aqui Mulder?

Eles continuam a abrir porta por porta.

MULDER: - Não sei, mas não temos nada. Achei que se começássemos por aqui encontraríamos alguma pista talvez.

SCULLY: - (TENTANDO ABRIR A PORTA) Mulder, essa está emperrada... Não quer abrir de jeito nenhum.

Mulder vai em sua direção e tenta ajuda-la a abrir a porta.

Corta para o fundo do corredor. O homem da sombra os observa. Está em uma parte mais escura, de modo que Mulder e Scully não conseguem vê-lo, mas ele tem uma ampla visão dos dois.

Tem cabelos longos, estatura média-alta e seu porte físico são fortes. Está vestido de negro com um sobretudo, calças e botinas tipo coturno. Ele coloca uma das mãos no bolso de seu casaco, tira algumas migalhas de pão misturadas com alpiste e alimenta o pássaro que está em seu ombro, sem nunca deixar de observar Mulder e Scully. Ele vira-se e sai caminhando.

MULDER: - (COM A RESPIRAÇÃO ALTERADA) Ok Scully, no três de novo. Um...Dois...Três.

Os dois batem com os ombros contra porta, mas não conseguem arrombá-la.

SCULLY: - (CANSADA) Mulder, eu desisto! Meus ombros já estão doendo, vamos abrir as outras portas.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não é você que se julga inteligente, Scully?

SCULLY: - Sim, me acho inteligente sim. Por que a pergunta?

Mulder puxa a arma e atira na fechadura da porta. A porta não se abre, continua emperrada. Scully olha pra ele com cara de deboche.

MULDER: - (MEIO SEM JEITO) Tá, não deu certo, mas eu tenho uma pegadinha para você.

SCULLY: - Se for mais umas de suas pegadinhas pervertidas você vai ver.

Eles continuam abrindo as outras portas.

MULDER: - Hei, quem fez pegadinha pervertida por aqui hoje foi você, mas não é pervertida, apenas exige um certo raciocínio.

SCULLY: - Tudo bem, pode falar.

MULDER: - Certo...(FAZENDO FORÇA PARA ABRIR UMA PORTA) Você está na margem esquerda de um rio com um bode...

SCULLY: - (CORTANTE) Olha lá, hein, Mulder!

MULDER: - Bem, você está na margem esquerda de um rio com um bode, uma pilha de capim e um leão, você tem que levar os três para margem direita e você só consegue carregar um de cada vez, porem se você levar o leão primeiro o bode come o capim e se você levar o capim primeiro o leão come o bode. Como você atravessa os três?

Scully que estava tentando abrir uma das portas para, escora-se na porta e olha para Mulder, que continua olhando as outras portas.

SCULLY: - (PENSATIVA) Bem... Primeiro eu levo o bode...

MULDER: - Certo e depois?

SCULLY: - Depois o capim...

MULDER: - Mas aí, na hora em que você voltar para pegar o leão, o bode come o capim.

SCULLY: - É... Então... Eu não posso trazer o leão, pois na hora em que eu voltasse para pegar o capim o leão comeria o bode... Então... Ahhh! Eu não sei Mulder, desisto.

MULDER: - (RI) Certo, você traz primeiro o bode, aí você volta pega o capim, traz o capim, pega o bode novamente, leva o bode, deixa ele lá, pega o leão, leva o leão. Então você volta e pega o bode. Fácil, todos na margem direita do rio.

SCULLY: - (RINDO) Essa foi boa Mulder, mas acho que deixaria os três lá e viria sozinha, seria mais fácil.

Eles chegam ao fim do corredor.

MULDER: - Não há nada nesse lugar.

SCULLY: - Vamos sair daqui, vamos olhar o resto do presídio.

MULDER: - Não Scully, não vou sair daqui antes de abrir aquela porta.

SCULLY: - Não deve ter nada lá Mulder.

MULDER: - Se você quiser subir pode ir, Scully. Eu vou ficar e tentar abrir aquela porta.

SCULLY: - Está louco se acha que eu vou sair daqui sozinha!

Os dois dirigem-se até a porta.

SCULLY: - Como vamos abrir essa porta, Mulder?

Mulder olha para porta. Dá um pequeno empurrão e a porta se abre. Vários passarinhos saem novamente indo de contra eles que tentam se esquivar dos animais.

SCULLY: - (LIMPANDO DO A ROUPA E AJEITANDO OS CABELOS) Mas como esses pássaros entraram ai?

MULDER: - Não faço ideia.

Mulder entra na pequena cela e olha atentamente para as paredes.

MULDER: - Scully, veja isso. Parece que achamos o apartamento do nosso suspeito.

Mulder sai da cela para que Scully entre. Ela entra e observa as paredes.

[A câmera se aproxima das paredes onde podem ser vistos os nomes Harold Hawkins, Jack Hunt, “Rod Rowland” e Christopher Raiser escritos com sangue.]

SCULLY: - Hawkins... Mulder, estes outros nomes também não estão na lista de homens que trabalharam aqui?

MULDER: - Sim, todos.

SCULLY: - Isso parece ser sangue, Mulder.

MULDER: - Ele deve ter se cortado com alguma coisa e escrito isso nas paredes. Parece que nosso amigo é determinado. Mesmo depois de morto está cumprindo sua vingança aos carcereiros. Agora temos o nome das próximas vítimas.

SCULLY: - Não consigo entender Mulder. Como alguém pode voltar da morte? E apenas porque tem ódio de alguém ou porque quer vingança?

MULDER: - Espírito apegado à matéria, Scully. Ele morreu antes de completar sua vingança. Não quer acreditar que está morto e que seus carrascos estão vivos. Não acha justo. Mesmo que saiba que as coisas todas que fez mereciam um julgamento rígido. Eu não concordo que tortura seja um meio de obter arrependimento ou de reabilitar um criminoso para voltar à sociedade.

Os dois saem caminhando.

MULDER: - Alcatraz era como a ilha dos excluídos. Todos que a sociedade não aceitava, acabavam por aqui. Bem longe dos olhos críticos, com alarde e marketing sobre a eficiência do sistema penal americano.

SCULLY: - Mulder, não está me dizendo que defende os criminosos, está?

MULDER: - Não, Scully. Não vou defender Capone. Nem Birdman. Mesmo que nem por todos os crimes hediondos que cometeram, não mereciam tortura. É algo como olho por olho, dente por dente. Qual a diferença entre o executor da pena de morte e o assassino? Um mata em nome de si. O outro, em nome da sociedade.

SCULLY: - Mulder, isso é algo complexo demais. Por isso gera tanta discussão.

MULDER: - Não sou contra a pena de morte. Eu mesmo tenho vontade de matar muita gente, em nome da justiça. O que me preocupa, Scully, são os inocentes culpados. Falo de pessoas como o jovem Henri Young. Que foi condenado a ficar o resto de sua vida em Alcatraz por um crime federal.

SCULLY: - Roubo?

MULDER: - Sim. Roubo de um Posto de Correios. Ele roubou $ 5 dólares pra alimentar a irmã faminta.

SCULLY: -...

MULDER: - Tentou fugir, mas um dos presos pegos na fuga, o entregou aos guardas, como forma de não sofrer tortura. Aqui não havia regras, Scully. A sociedade não se importava com o que acontecia aqui dentro, contanto que eles fossem punidos e banidos do convívio social. Young passou três anos de sua vida trancado numa solitária, sofrendo todo o tipo de tortura e agressão física, psicológica e humana. Ele tinha 20 e poucos anos. Três anos é tempo demais pra alguém ficar numa solitária. Ao sair, completamente insano, matou o delator e pegou sentença de morte. Seu advogado, o novato, mas determinado James Stamphill, conseguiu o perdão e a investigação de Alcatraz. Foi quando a sujeira começou a emergir e alguns anos depois, fecharam a prisão por não cumprir a lei dos direitos humanos.

SCULLY: - E o que aconteceu com Young?

MULDER: - Sentenciado a cumprir mais algum tempo e ainda por cima, em Alcatraz, ele não durou muitos dias. O acharam morto na cela. Isso é justiça?

SCULLY: - Isso é abuso de autoridade, Mulder. É crime.

MULDER: - Isto é o que eu digo, Scully: Colocar ladrões de galinha com mafiosos e assassinos, não é um método de reabilitação social. É alimentar a violência e jogar uma pessoa quase sã no meio dos infectados.

Os dois continuam caminhando.


Residência de Jack Hunt – 2:23 A.M.

Um homem sobe as escadas, em passos lentos e silenciosos.

[A câmera focaliza apenas os pés do homem. Ele dobra o corredor à direita, caminha até a porta no final do corredor. A porta está apenas encostada. Ele abre a porta.]

Nota-se alguém dormindo na cama, um homem. É um homem de idade, com cabelos grisalhos. Dorme tranquilamente.

A câmera aproxima-se dele.

Apenas o luar ilumina o quarto. Corta para homem que se aproxima da cama e observa o outro homem dormindo. Ele vira-se na cama e nota a presença ao seu lado. Acorda-se, esfrega os olhos e identifica a figura ao seu lado.

HUNT: - (ASSUSTADO, GRITANDO) Não, você não! Você morreu, eu vi, você estava morto. Não! Não! Nãããããããoooooooo!!!!

Do lado de fora da casa, um policial em seu carro, ouvindo walkman, tira o fone do ouvido, observa a casa. Não ouve nada, coloca o fone novamente.


Ilha de Alcatraz – 2:38 AM

Mulder e Scully caminham e saem próximos ao gerador.

MULDER: - Vamos dar uma olhada no resto da prisão, quem sabe encontramos alguma coisa.

SCULLY: - O que poderíamos encontrar Mulder? Se ele estava preso lá embaixo, já encontramos o que tínhamos para encontrar. O que você quer é olhar o resto da Rocha. Admita, Mulder: Isto te deixa empolgado.

MULDER: - Ahhh, Scully já que estamos aqui, não custa dar uma olhadinha. Sabe o quê mais poderemos encontrar!

Mulder pega a planta. Desliza o dedo pelo mapa, apontando um corredor.

MULDER: - Vamos por ali, sairemos no corredor por onde entramos e seguiremos para as celas dos presos bem comportados.

Os dois caminham. Ela já visivelmente detestando estar ali. Passam pelo corredor de celas.

SCULLY: - (TENTANDO CONVENCÊ-LO A IR EMBORA/ SEDUZINDO-O) Sei que não vou conseguir te convencer a chamar o barqueiro para irmos embora... E tomarmos um banho juntos, naquela banheira maravilhosa do hotel... E depois deitarmos naquela cama macia... Fazer amor... Dormirmos abraçados...

MULDER: - (DEBOCHADO) É, Scully, realmente você não conseguiu me convencer a voltar para o hotel, mas acabou me deixando com algumas idéias... Bem interessantes...

Mulder segura Scully subitamente pela cintura e começa beijar o pescoço dela.

SCULLY: - (COM MEDO) Não Mulder! Podem estar nos olhando...

MULDER: - Quem pode estar nos olhando?

SCULLY: - (ASSUSTADA) Fantasmas, Birdman, alguém... Não sei. Mulder, aqui não...

MULDER: - Esta com medo doutora? De mim ou do fantasma?

SCULLY: - (SORRI)...

MULDER: - Isto é pra calar você, Scully, que pensa que inibidor sexual hiper concentrado faz parte da minha dieta diária...

Ele começa a beijá-la loucamente. Ela assustada.

MULDER: - (SUSSURRANDO) Seu medo aumenta o meu tesão, Scully...

Scully o olha com desejo. Mulder atira Scully contra as grades de uma cela. Percorre seu corpo com as mãos. Em um gesto ágil retira o casaco de Scully e com as mãos firmes percorre o contorno de seus seios. Scully geme extasiada. Sem reagir.

Mulder começa a abrir a blusa de Scully, com os dentes. Ela, num gesto inesperado, pega Mulder pelo colarinho e o empurra contra grade retirando-lhe o casaco e estourando os botões de sua camisa. Com sua língua ela desce o abdômen de seu parceiro, abre-lhe a calça e encontra seu membro enrijecido. Com sua língua, ela o percorre. Mulder sente o calor úmido dos lábios dela. Geme incessantemente. Os movimentos que Scully começa a executar deixam Mulder ainda mais excitado. Com suas mãos ele a segura pela cabeça, agarrando seus cabelos ruivos e aumentando o ritmo, o fazendo gozar. Scully, ainda não satisfeita, se levanta. Encara o seu parceiro que tem um sorriso de satisfação no rosto.

SCULLY: - (EXCITADA) Ainda não acabou...

MULDER: - (EMPOLGADO) O que você está pensando?

Scully o empurra para dentro da cela.

MULDER: - Scully, você está cada vez mais pervertida...

Mulder senta-se na cama. Scully começa a tirar sua blusa e dançar.

MULDER: - (DEBOCHADO) Você dança muito bem, melhora a cada vez...

Ela sorri e continua. Quando começa a tirar a calça, ele a impede, puxando ela pela cintura. Joga-a por sobre a cama e retira-lhe a calça. Com suas mãos, passando sobre o abdômen dela, chegando aos seios, retira-lhe o sutiã e beija-lhe os seios, a deixando complemente louca de prazer. Ele percorre com a língua, os mamilos já endurecidos, em movimentos circulares. Scully geme. As mãos de Mulder percorrem o corpo de Scully, chegando a última peça que separava seu corpo do dela e, sem parar o que estava fazendo, delicadamente tira sua calcinha e lhe toca onde ela mais necessitava ser tocada. Scully grita.

SCULLY: - (GEMENDO) Mulder....

Scully se contorce de prazer. Ele desce, beijando seu corpo. Pára na altura de seu ventre, fazendo movimentos circulares com a língua no umbigo. Desce, por alguns segundos. Ela continua gemendo, contorcendo o corpo, num prazer total. Mulder pára e olha-a nos olhos. Scully respira alteradamente, retribuindo o olhar. Num ato rápido e inesperado, ele a penetra, fazendo-a soltar um gemido. Mulder sorri ao ver a expressão de prazer no rosto de Scully. Começa a mover seu corpo contra o dela, em movimentos quase que sincronizados.


4:34 A.M.

Os dois deitados na cama. Mulder vestido, com a camisa aberta. Scully dorme nos braços de Mulder, nua, coberta apenas com o paletó dele. Ele afaga o braço dela carinhosamente. Pensativo. Observa o corredor. As celas. As luzes começam a piscar. Mulder levanta-se da cama. Caminha pra fora da cela. As luzes se apagam.

MULDER: - Ótimo. Adoro quando isso acontece. Sorte que não tenho histórico de ataques cardíacos na família.

Barulhos. Mulder acende a lanterna e ilumina cada cela na ala de cima.

Close de cada cela vazia. Mulder observa atento, desconfiado. Mira a lanterna na cela em que Scully está. Ela dorme tranquilamente.

Som de correntes se arrastando. Mulder vira-se rapidamente. Não vê nada.

Corta para a cela onde Scully dorme.

Câmera subindo do corpo de Scully para o teto, onde uma enorme quantidade de ectoplasma em tons verde e vermelho sangue está se formando. Braços tentam sair da grande massa disforme e gelatinosa.


BLOCO 4:

Mulder caminha sozinho por um corredor. Segura a lanterna na mão. Observa as celas. O celular toca. Mulder leva um susto, dando um sobressalto, fazendo uma cara de pânico. Atende ao telefone, indignado.

MULDER: - Mulder... Sim. Estou indo pra aí, xerife Hawkins.

Mulder desliga.

Som dos gritos de Scully.

Mulder desce por uma escada apressado, puxando a arma. Como está muito escuro, ele acaba tropeçando e rola até chegar ao piso abaixo. Meio tonto, ele tenta se levantar, apoiando as mãos no chão. Escorrega. Observa a lanterna ao seu lado. Pega a lanterna e mira em sua mão. Há ectoplasma espalhado pelo chão. Mulder levanta-se, sacudindo a mão, com repulsa.

Corta para a mão que lhe toca o ombro.

Mulder dá um grito. Mira a lanterna. Olha pro rosto todo cheio de ectoplasma. Pega a arma do chão.

SCULLY: - Mulder!!!!

Mulder mira a lanterna. Percebe que o rosto é de Scully. Ela aproxima-se dele, coberta de ectoplasma da cabeça aos pés. Mulder abaixa a arma.

MULDER: - O que aconteceu com você?

SCULLY: - Sabe que droga é isso?

MULDER: - Ectoplasma.

Ela começa a tentar se limpar, mas é inútil. Sacode as mãos, com cara de nojo.

SCULLY: - Argh! Que coisa nojenta!

MULDER: - Scully, o xerife Hawkins ligou. Jack Hunt morreu.

SCULLY: - Mulder, vamos dar o fora daqui.

MULDER: - Scully, eu vou ligar pro barqueiro. Você volta, eu fico.

SCULLY: - Não, eu não vou deixa-lo sozinho aqui!

MULDER: - Vá verificar o corpo de Hunt. E quero que peça vigilância na casa de Rod Rowland e Christopher Raiser. Serão os próximos.

SCULLY: - E o que vai fazer?

MULDER: - Ficar aqui. Ele vai ter de aparecer, Scully. Está preso a este lugar. E você deve saber que, às vezes, eles voltam.


5:29 A.M.

Mulder, com a lanterna acesa, caminha seguindo um rastro de ectoplasma. Scully atrás dele.

MULDER: - Ok, Birdman. Sei que é você. Apareça.

Mulder continua caminhando. Scully mira sua lanterna pelas paredes.

MULDER: - Deveria ter voltado.

SCULLY: - Não sem você. O corpo pode esperar pela autópsia. As duas prováveis vítimas estão sendo vigiadas. E você sozinho aqui é um perigo.

As manchas de ectoplasma desaparecem.

MULDER: - Ótimo, o rastro acaba aqui, no meio do nada.

SCULLY: - Mulder, quero levar uma amostra dessa coisa para analisar.

MULDER: - Acho que já tem demais dela no seu corpo, Scully.

SCULLY: - E de pensar que tem gente que acha que se lambuzar de esperma é nojento...

Mulder vira-se pra ela, olhando-a com surpresa. Ela continua caminhando.

MULDER: - (DEBOCHADO) Agente Scully... Quem não te conhece que te compre.

Scully continua caminhando.

SCULLY: - Mal posso esperar pro sol nascer. Odeio escuridão. Vem, Mulder!

Silêncio.

SCULLY: - Mulder?

Scully pára. Volta pelo corredor. Nenhum sinal de Mulder.

SCULLY: - Mulder, isso não tem graça! Eu não gosto desse tipo de brincadeira!

Scully ilumina a lanterna pelo corredor, voltando.

SCULLY: - Mulder! Mulder, por favor, não me assusta. Eu não gosto disso, posso ter um enfarte. Eu tenho histórico de enfarte na família.

Som de gemidos. Scully pára. Inclina a cabeça para ouvir. Os sons continuam.

SCULLY: - Mulder?

A lanterna começa a falhar. Scully bate a lanterna contra a palma da mão. A lanterna se acende novamente.

SCULLY: - Contenção de despesas, ordens do FBI...

Scully segue pelo corredor escuro, iluminando-o.

SCULLY: - Mulder!

Scully olha para as escadas ao lado dela, que dão acesso às solitárias. Suspira.

SCULLY: - Tudo de bom pra mim...


5:41 A.M.

Scully desce os degraus, lentamente. Mira a lanterna nos degraus. Com a outra mão, puxa a arma, mantendo-a pra cima.

SCULLY: - Mulder?

Uma revoada de pássaros passa por sobre ela. Scully se agacha. Os cabelos ficam revirados. Ela levanta-se. Continua descendo as escadas. Chega ao corredor das solitárias. Caminha. Pára.

SCULLY: - (PÂNICO) Oh, meu Deus!

Scully mira a lanterna no corredor.

Corta para o corredor. Uma massa disforme de ectoplasma, imensa, se prega entre as paredes e o teto, como se formasse uma parede de gosma verde e vermelha. Scully aproxima-se, lentamente, mirando a lanterna. Analisa com os olhos a massa gelatinosa e semitransparente. Percebe algo estranho. Scully recua a cabeça pra trás. Aproxima o rosto da massa e mira a lanterna. Vê o rosto de Mulder, desacordado, preso no meio do ectoplasma.

SCULLY: - (ASSUSTADA/ PÂNICO) Mulder!

Nenhuma resposta. Scully guarda a arma atrás das calças, nervosa. Coloca o braço dentro do ectoplasma. Vira o rosto, tentando agarra Mulder. Não consegue puxá-lo. Scully se desespera. Põe a lanterna no chão e mete os dois braços pra dentro. Segura Mulder. Começa a puxa-lo novamente. Mulder vem por cima dela. Ela cai, com ele desmaiado por sobre seu corpo, completamente melecado e gosmento. Ela começa a rir. O abraça.

SCULLY: - Mulder! Mulder acorda!

Ela dá tapinhas no rosto dele. Mulder não reage. Ela começa a ficar tensa. O empurra pro chão e ajoelha-se ao lado dele.

SCULLY: - Mulder?

Silêncio. Scully abre a boca de Mulder.

SCULLY: - Ai, Deus!

Ela senta-se no chão e o puxa pra si, com dificuldades. O segura nos braços. Bate nas costas dele.

SCULLY: - Mulder, seu desgraçado! Acorda!

Ela bate com mais força, gritando com ele.

Mulder abre os olhos. Começa a vomitar ectoplasma por cima dela. Meio tonto, pateta, ele olha pra ela, respirando com dificuldades.

MULDER: - (DEBOCHADO) Isso sim... É a definição correta de... escatologia.

Ela sorri. O abraça. Os dois completamente melecados e gosmentos.


Hotel Califórnia – 8:23 A.M.

Mulder sai do banheiro, enxugando os cabelos. Scully desliga o telefone. Olha pra ele.

SCULLY: - Christopher Raiser foi encontrado morto em seu apartamento.

MULDER: - ...

SCULLY: - Ninguém viu nada. Nem mesmo o policial que estava de vigília.

MULDER: - Passarinhos?

SCULLY: - Exatamente. Muitos passarinhos pelo quarto dele.

MULDER: - Scully, precisamos deter essa coisa e eu não sei como!

SCULLY: - Mulder, só resta apenas um carcereiro vivo. Precisamos vigiá-lo.

Mulder larga a toalha sobre a cama. Ela olha pra ele. Mulder suspira. Pega a toalha e leva pro banheiro. Scully sorri, balançando a cabeça. Ele sai do banheiro.

MULDER: - Vamos. Não temos muito tempo.

Os dois saem do quarto.


Residência de Rod Rowland – 9:39 A.M.

Mulder e Scully caminham pelo jardim, acompanhando um velho senhor, de cabelos brancos, barrigudo. Há telas de madeira, repletas de trepadeiras com flores coloridas. Eles sentam-se num banco.

ROWLAND: - Então... Está me dizendo, agente Mulder, que Birdman voltou dos mortos e quer vingança?

MULDER: - Sei que parece uma história incrível, mas...

ROWLAND: - Há de convir comigo que incrível não seria bem o termo para o que está me dizendo.

Scully observa-os.

SCULLY: - Sr. Rowland, independentemente do que acredita, nosso dever é protege-lo de algo que possa lhe acontecer. Seus três colegas morreram. E o senhor é o próximo da lista.

ROWLAND: - Adorável e encantadora agente, se alguma coisa acontecer com este velho aqui, só vai antecipar o que acontecerá no futuro.

MULDER: - Fala de quê?

ROWLAND: - Estou morrendo. Tenho um câncer na garganta. Sabe bem o que 50 anos de cigarro podem fazer a uma pessoa.

SCULLY: - Sinto muito, Sr. Rowland.

ROWLAND: - Eu não tenho medo da morte. E nem tenho medo de Birdman. Nunca tentei nada contra ele.

MULDER: - Então por que está em sua lista?

ROWLAND: -...

MULDER: - Sr. Rowland, não é mais segredo que Alcatraz cometia crimes contra os direitos humanos. E acredito que saiba da existência daquelas solitárias. E eu tenho sérios motivos para acreditar que aquele lugar ainda é desconhecido e sem acesso para os visitantes.

ROWLAND: - Acharam as ‘caixas’, não é mesmo? As pessoas não precisam saber daquele lugar, agente Mulder. Alcatraz foi um erro. É passado. Se pensa que apenas os presos ficaram malucos ali dentro, está muito errado. Eu morei em Alcatraz. Minha família morava em Alcatraz. Não sabe o que é viver naquela ilha. Cercado de ódio. Se podíamos sair e entrar quando quiséssemos, de qualquer maneira, não éramos livres. Nós morávamos na Rocha. No mais perfeito presídio de segurança máxima. Nem túneis, nem mar, nem ar. Não havia como fugir.

SCULLY: - ...

ROWLAND: - Se os criminosos não tinham como fugir, muito menos um guarda. Quando a prisão fechou, ninguém queria admitir um oficial de Alcatraz. Alguém que cometeu violência contra homens ali dentro. Minha carreira havia acabado. Tive de ganhar a vida como vendedor, montando um negócio próprio e escondendo até de meus filhos o que eu fui. A sociedade que antes tinha respeito por um oficial que trabalhava na Rocha, passava a vê-lo como mais criminoso do que os desgraçados que estavam ali dentro.

Rowland levanta-se.

ROWLAND: - Agradeço a preocupação. Mas eu não quero policiais pela minha casa. Vivo há 10 anos sozinho aqui. Não preciso de babás.

SCULLY: - Sr. Rowland...

ROWLAND: - Por favor, agentes. Entendo que é sua tarefa. Mas agradeceria muito que fossem fazer algum trabalho mais importante. O caso de vocês encerrou aqui. Se não quero proteção, não podem fazer nada.

Rowland dá as costas e caminha em direção a uma pequena peça de alvenaria, ao fundo do jardim. Scully e Mulder se levantam.

MULDER: - Ele pode não querer proteção, Scully. Mas eu quero pegar Birdman.

SCULLY: - Pra quê?

MULDER: - (EMPOLGADO) Provas da existência de vida após a morte... Paranormalidade, Scully. Você já tem amostras daquela meleca toda. Podemos conseguir fotos.

SCULLY: - Mulder, eu sei o que quer. Você quer é ver! Maldita curiosidade, Mulder. Ainda vai acabar morrendo por ela.

MULDER: - ...

SCULLY: - Vamos embora, Mulder. O caso acabou. Não há mais nada a se fazer por aqui. Deixem que os mortos enterrem seus mortos.

Scully dá as costas. Mulder vai atrás dela.


FBI – Washington D.C. – 4:46 P.M.

Skinner lê o relatório. Olha pra eles.

SKINNER: - Bom trabalho. A polícia local vai vigiar a casa de Rod Rowland. Com discrição. O caso foi arquivado como paranormal. Vitória pra vocês.

Mulder sorri. Skinner olha pra Scully.

SKINNER: - Agente Scully, por que há algum tempo tem assinado o relatório de Mulder? Concorda com ele?

Scully sorri.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Preguiça de fazer o meu.

Scully levanta-se e sai da sala. Skinner olha pra Mulder.

SKINNER: - Como andam as coisas entre vocês dois?

MULDER: - Mais calmas. Estou menos chato e mais compreensivo.

SKINNER: - Vá pra casa, Mulder. Por hoje acabou.

Mulder levanta-se. Caminha até a porta. Sai. Skinner sorri.

SKINNER: - (ORGULHOSO) E de pensar que isto só foi possível por causa deste humilde servo aqui... Bem, Santo Antônio também era careca...


Apartamento de Mulder – 6:29 P.M.

Cookie dorme sobre a poltrona. Mulder e Scully estão sentados no sofá.

MULDER: - Bem, acho que Birdman vai completar seu ciclo. Não se surpreenda com alguma nota no jornal sobre misterioso crime da Califórnia...

SCULLY: - Acha que realmente o Sr. Rowland não fez nada contra Birdman?

MULDER: - Mentira dele, Scully. Os guardas de alcatraz enlouqueceram com o sistema aplicado naquela ilha da mesma maneira que os presos.

SCULLY: - ... Acho que vou preparar alguma coisa pro jantar.

Ela levanta-se. Ele a puxa. Ela cai sentada no colo dele.

MULDER: - (MALICIOSO) Já sei o que eu quero pro jantar...

Ela sorri.

SCULLY: - Sério? Agora?

MULDER: - Tem hora pra você?

SCULLY: - Não. Contanto que seja com você, a qualquer hora do dia ou da noite, sem problemas...

Mulder a beija no rosto. Ela encosta-se nele. Recosta a cabeça em seu ombro.

SCULLY: - (SORRI) Hum... Gosto de ganhar colinho... Mulder, o que está acontecendo com a gente? Me parece que estamos numa fase de pele incontrolável.

MULDER: - Isso é bom. Significa que ainda somos completamente atraídos um pelo outro.

Ela levanta-se. Estende as mãos pra ele.

SCULLY: - Vem.

MULDER: - (DEBOCHADO) Pra onde?

SCULLY: - Pro quarto.

MULDER: - (SE FAZENDO DE TONTO) Mas o que vamos fazer no quarto?

SCULLY: - Escatologicamente falando?

Ele começa a rir. Os dois vão de mãos dadas para o quarto, rindo.


Residência de Rod Rowland – 7:24 P.M.

Som de uma música dos anos 60.

Rowland está no pequeno atelier ao fundo da casa. Pinta alguma coisa numa tela, distraído.

Corta para o canto do atelier. A sombra do homem com um pássaro no ombro surge do chão.

Rowland continua pintando. O desenho é de um céu azul, repleto de pássaros voando. A sombra do homem aproxima-se. Num outro canto do atelier, numa gaiola, um canário canta. Rowland ergue a cabeça.

ROWLAND: - Hei, Tweety? Está feliz?

Rowland larga o pincel e caminha até a gaiola. Abre-a. Toma o canário nas mãos. Coloca-o sobre um poleiro. Ele não foge.

ROWLAND: - Está cansado das grades, não é rapaz? Mas se eu te deixar fora, os gatos te pegam. Bem, mas nada como um pouco de liberdade, não é Tweety? A liberdade das criaturas. A liberdade da alma. Nada como a alma ser livre para voar. Livre de seus pecados, livre de suas culpas...

O canário começa a cantar. Rowland sorri. Volta pra frente do quadro. Pega o pincel. Olha assustado pra tela.

Close da pintura. No céu azul, repleto de pássaros, um homem voa entre eles. Livre, finalmente.


X


23/07/2000

6 Août 2019 19:49 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

A propos de l’auteur

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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