Fanfic escrita para o desafio Crackshipp Surpresa do Grupo Shipps Hero Academia. É crack, bem crack mesmo, mas ainda sim eu amei muito escrever essa história e espero que gostem tanto quanto eu. Agora apreciem sem moderação.
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RIVER
Os humanos, por natureza, sempre foram curiosos o bastante para buscar respostas à questões que não haviam sido feitas ainda. Pressuposições faladas pelos cantos mais remotos, enchendo bocas e transbordado por vielas. Alcançando aqueles que acreditavam nas falácias e aqueles que, incorrigivelmente, as transmitiam por aí. Não obstante, como herança da espécie, humanos desde o princípio carregam a presunção de que estão certos ainda que não passem de mera poeira cósmica.
Orgulhosos, à tempos tentam ditar o que nem sequer faz parte de sua jurisdição. Alegando terem posse uns sobre os outros, quando caçam o livre arbítrio do próximo e lhe tomam os direitos. Ou então usufruem da terra fértil que lhes foi concedida e maculam o solo que os mantém. Corrosivos.
A humanidade não foi um projeto que fracassou, tal como muitos preferem acreditar. Apesar de todo o contexto caótico que trouxeram a tona, os humanos mostraram-se exatamente aquilo a que deveriam ser. Livres para fazer suas escolhas, não se prendendo aos limites que foram impostos por eles mesmos. Todavia, por mais perfeitos que fossem dentro de sua redoma de imperfeições, ainda eram corrosivos.
Tóxicos de uma maneira que sequer poderiam ser suportáveis.
O pesar de um pai, ao ver seu filho sucumbir à seringas de veneno, foi um quarto do que 'Ele sentiu ao ver seus filhos mergulharem na própria devastação. Deu a eles a liberdade de escolha, a independência e a vida. Eles, como retribuição, tornaram-se opressores e tomaram para si o que também foi dado a seus irmãos. Abusando de seus privilégios a ponto de dilacerar o coração daquele que os criou.
Os humanos sempre desejaram saber de tudo, prevendo acontecimentos que ainda não haviam ocorrido. Dando credibilidade ao que velhas beatas costumavam falar sobre o derradeiro e iminente fim. No entanto, quando o fim chegou, nem um deles estava realmente pronto para ele. As escrituras a qual idolatravam, onde cavaleiros cavalgariam pelo apocalipse e o mundo se desfaria, não os prepararam para o fidedigno final.
Não foi em fogo, ou em gelo, que o mundo se desfez. O castigo, penitência pela perversidade em seus corações, foi o amor. O amor que deveria tê-los alimentado e fortificado, foi o mesmo que viera sorrateiro para destruí-los. Infiltrando-se no âmago até dos que o negligenciaram, corroendo de dentro para fora o pouco de humanidade que havia restado.
Decisões difíceis fazem parte da vida, do amadurecimento e de um próspero futuro. Ainda sim, dar a sentença que a era da humanidade enfim há de ter chego ao final, se mostrou mais doloroso do que 'Ele pensou que seria. Contudo, tomado pela mágoa, não se arrependeu do que julgou ser o melhor. E, com dor, deu adeus a sua criação.
Não houve um julgamento final, nem um juiz pesando suas ações ou mesmo um céu e inferno. Para Shindo não houve uma surpresa ou grande revelação. A princípio ele sequer notou, incapaz de perceber a sutil mudança a seu redor. Quem poderia julgá-lo, afinal? O dito fim dos tempos não surgiu como uma onda no horizonte, erguendo-se sobre as fortalezas de concreto, disposta a engolir tudo. Não foi na forma de um terremoto, tragando para o fogo todo o mundo que conhecia. Não foi catastrófico. Foi suave, morno e terno.
O que, terminantemente, houvera sido remotamente pior.
Começou em uma tarde abafada, no início da primavera. O ar morno, trazido para dentro da cafeteria pelo vento fresco, soprou por entre as pétalas de violetas no parapeito da janela. O sino da porta de madeira anunciou a chegada de mais um cliente, fisgando sua atenção para aquele que adentrava o estabelecimento.
Quando seus olhos vislumbraram as tonalidades intensas do rapaz que procurava uma mesa na área interna a céu aberto, não imaginou que ele seria sua destruição. Ele não lhe pareceu perigoso, não deu indícios de que seria o ponto final da história. Ele apenas sentou, como qualquer outro, e abriu um livro de poesias. O lugar onde sentou-se era agraciado com a luz do sol, emanando por sobre os ramos que circulavam as arestas de madeira da área, permitindo que os cabelos coloridos brilhassem pela luz. Vestia-se com uma camisa jeans de lavagem clara, assim como a calça. Não olhava para os lados e parecia submergido em sua leitura.
Não houve como não achá-lo de uma beleza exótica.
Não saberia explicar o motivo do palpitar de seu coração, tanto quanto não possuía respostas para o porque nem mesmo se importou em ter um motivo. Pois, como o fluxo de um rio, se permitiu ser levado pela doce correnteza. Se deixou ser deslumbrado pelo tom gentil que ele usou, ao pedir uma xícara de mocaccino e pelo sorriso singelo que lhe dedicou ao entregar a ele o pedido. Sem perceber, se deixou ser envolvido.
O rapaz voltou mais vezes, dois dias por semana o via sentar sempre na mesma mesa e pedir a mesma coisa. Em mãos, um volume diferente de poesia acompanhava-o durante seus momentos no café. Shindo, embevecido pela sutileza dos traços e gentileza dos atos, quis se aproximar. E, como a água que desliza pela folha após a chuva de verão, naturalmente se percebeu tendo permissão para chegar mais perto.
Começou com uma breve conversa sobre as melancólicas poesias de Florbela Espanca, em seguida a apresentação de ambos e, então, comentários alegres sobre o clima florido e adorável da estação. Foi natural, sem nada forçado ou desconforto e timidez. Foi doce. Doce ao ponto em que já possuía a liberdade para sentar-se à mesa com ele, em seu horário de intervalo, após dois meses consecutivos desde que Shoto Todoroki adentrou o Plus Coffee.
Doce ao ponto de, inconscientemente, erguer uma das mãos para retirar um fio rubro em frente ao olho azul e colocá-lo para trás da orelha dele. Doce o suficiente para que Shoto corasse ao desviar o olhar, deixando-o ainda mais encantador. Por que para Yo Shindo, um garoto simples e calouro em engenharia, cujo trajava um avental azul e um pano de prato sobre o ombro direito, Todoroki era a visão mais graciosa que já teve.
— Você quer sair comigo? — foi o que perguntou, um mês desde o ocorrido. Na época não sabia se seria estranho convidar alguém que só conhecia a três meses para sair. Como também não sabia se estava apressado demais as coisas.
A questão era que, para ele, quando estava com Shoto, o mundo parava de girar. Não existiam pessoas a sua volta, nem o som do trânsito ao lado de fora. Os ponteiros no relógio paravam de se movimentar e o tempo se tornava um conceito vago que não detinha importância alguma.
— Achei que nunca fosse me convidar. — e, naquela resposta proferida gentilmente após o sorriso mais largo ao qual Shoto se permitiria dar, notou que já se encontrava indefeso na teia da aranha.
Ainda não tinha ciência de como as coisas acabariam, mas não se manteve omisso aos próprios sentimentos. E, como todo o resto se tratando do garoto heterocromático, a paixão se instaurou com naturalidade. Veio como uma faísca pequena e modesta, em um fino galho seco. Com o tempo, essa faísca evoluiu e, quando deu por si, ela era um incêndio de sensações. Não o fogo que arde e carboniza aquilo que toca, estava mais para uma explosão de tinta em um tela imaculada. O que um dia foi branco agora era uma bagunça bonita de cores vibrantes. Não obstante, seus lábios só tocaram os de Shoto um ano depois.
Não teve pressa, nenhum dos dois teve; era como se a imortalidade os aguardasse com promessas de tudo o que ainda poderiam viver. Sendo assim, por mais que palavras românticas e declarações sutis houvessem sido feitas, o beijo não havia acontecido. Que o amava? Isso ambos sabiam, tanto quanto conheciam a veracidade da recíproca. Estavam apaixonados e, após um ano de conversas, descobrimento e a fortificação do afeto, que pode enfim beijá-lo.
Se perguntassem a Shindo o que ele mais amava na relação dos dois, certamente ele diria "a forma como tudo parece se encaixar". Talvez, aos ouvidos daqueles que não compreendiam e que não vivenciaram o início de tudo aquilo, a resposta venha a parecer um tanto quanto vaga e evasiva. Entretanto, para eles — pois só dizia respeito a eles — não teria como fazer mais sentido.
— Se tivesse que nos comparar com alguma coisa, eu diria que somos a nascente de um rio. — foi o que disse a Todoroki na ocasião em que se beijaram pela primeira vez. Deitados sobre a grama verdejante de um parque, durante a primavera de 2020.
— Por que a nascente? — Shoto deitou-se de lado para o encarar, e não conteve a vontade de levar o dorso da mão ao rosto dele. Cujo, dengosamente, suspirou com o afago suave.
— A nascente começa devagar, não tem pressa para se tornar a correnteza intensa que um dia vai ser. Ela simplesmente está lá, deixando que suas águas fluam para onde devem, sem urgência ou interferência. — explicou, sorrindo diante aos olhos bicolores que o encaravam de volta. — É natural e bonito.
Viu-o concordar, deitado ainda mais o rosto contra sua mão, em busca de contato. Por alguns minutos apenas se observaram, detalhado cada nuance do rosto um do outro. Apaixonando-se ainda mais a cada segundo que se passava. E, gradativamente, a ponta de ambos os narizes se encontraram. Deslizaram uma sobre a outra e, quando as respirações sucumbiram em uma só, que os lábios se tocaram.
Suave, terno e morno.
Doce.
Aquele foi o beijo mais doce de toda sua existência.
No início foi apenas o toque dos lábios, sem profundidade ainda que o ato, por mais simples que fosse, revirasse tudo dentro deles. Em seguida sua mão deslizava para a nuca colorida, seus dedos tocando os sedosos fios escarlates e glaciais. E, em seu nirvana particular, poderia jurar que o céu da boca dele era seu Éden perdido.
Naquela tarde beijou Shoto como nunca, em vinte e um anos, havia beijado alguém. E, naquela tarde de primavera, jurou a si mesmo que o amaria intensamente por todos os dias que ele quisesse passar ao seu lado.
E o amou, tanto quanto foi amado.
Cinco anos. Durante cinco anos, ele foi seu e, em contrapartida, foi inteiramente dele.
O amou quando o levava para casa, quando o via adentrar o café no meio da semana, quando entrelaçavam as mãos e se beijavam carinhosamente. O amou todos os dias, todos os segundos, todos o momentos. O amou quando despiu-o das roupas excessivas, quando tocou-lhe a pele clara, quando beijou cada centímetro de seu corpo. O amou quando, enfim, passaram a acordar juntos.
Infelizmente, assim como havia dito no primeiro beijo deles, o relacionamento que possuíam era como a nascente de um rio. Seja ele um rio de águas calmas, quanto um rio de águas turvas. Foi, tarde demais que notou a dualidade de tudo. Assim como Shoto possuía dois olhos de cores diferentes, tal como seu cabelo e tudo o que dissesse respeito a ele, sua participação no namoro também era dualista.
Da mesma forma que um rio o amor deles nasceu e, da mesma forma que um rio, seus dias felizes transmutaram-se em longas horas de um lento definhar.
Se houvessem lhe dito, a cinco anos atrás, que uma pessoa poderia morrer de amor, não teria acreditado. Contudo, quando seu último suspiro foi dado, com o amor de sua vida nu de costas para si, que passou a acreditar ser possível.
Tudo começou morno, doce e suave, mas quando acabou foi frio, distante e solitário. Talvez, apenas talvez, o final da humanidade não tenha sido apenas o amor — ao menos não para Shindo. Porque Shoto Todoroki também era o fogo e o gelo que, aos poucos, consumiram sua energia, até que não restasse mais nada.
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E foi isso! Essa foi minha primeira Fanfic de Boku no Hero e quem diria que seria sobre um crackshipp? De qualquer forma eu amei o resultado, espero de verdade que vocês também.
Merci pour la lecture!
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