Prometi não começaria história.
Comecei uma história.
Que algum deus me ajude.
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Sasuke Uchiha poderia ser muitas coisas, mas dentre elas jamais alguém poderia chamá-lo de homem de fé. Nunca fora religioso, muito ao contrário, na verdade. Sempre se mostrara extremamente cético perante a religião e demais coisas das quais não pudesse confirmar a veracidade.
Contudo, agora, tanto queria rezar a algum deus que ouvisse suas preces, quanto queria entender o que fizera de tão ruim em vidas passadas para merecer aquilo. O que havia feito de tão abominável para ser punido de tal forma? Talvez houvesse colado um chiclete de hortelã na Cruz de Cristo, ou então urinando na fonte em frente a Buda. Não saberia dizer, para ser honesto, mas seja o que for deve ter sido algo realmente ruim. Pois, em trinta e três anos de vida, aquela era a primeira vez que estava revendo — de fato — suas crenças.
E o motivo de toda reflexão a respeito, era culpa de uma garotinha de oito anos, que se encontrava emburrada na praça de alimentação do shopping local. Os braços cruzados frente ao peito, um bico enorme nos lábios e o olhar de uma verdadeira Uchiha. Sarada, em seu um metro e vinte e cinco de altura, lhe encarava com todo o ódio de uma menininha teimosa cujo nem uma década de vida possuía ainda. E o motivo, claramente, era birra.
Primeiro foram as lágrimas de jacaré que ela expôs quando havia ido buscá-la na casa dos avós, alegando que não queria ir embora. Depois foi a fracassada ideia de prender o ar quando, em uma tentativa de fazê-la não chorar, Mikoto sugeriu que a levasse no cinema e a resposta prontamente havia sido não. Nunca na vida gostou de cinema; para que pagar por algum filme se podia vê-lo em casa quando saísse nos canais da tv por assinatura?
Apesar de sua aversão pelas salas de cinema, com pessoas que não ficam quietas ou aproveitam o local escuro para se “pegarem” — como diriam os jovens — acabou cedendo. Não muito depois já havia sido assaltado com o preço do balde de pipoca caramelada, gostos da filha, e então ido parar na fileira de trás de um grupo de crianças que faziam um passeio escolar e que não paravam de gritar e pular. Não bastasse isso, ainda era a seção de Gnomeu e Julieta. O que raios seria Gnomeu?!
Durante o filme inteiro se questionou o motivo de não ter aceitado os preservativos que o primo tentou fazê-lo pegar, a nove anos atrás. Não era segredo o quanto amava Sarada e, se pudesse, daria o mundo inteiro a ela. Ainda sim também não era segredo que ela não estivera em seus planos até o dia em que pôs os olhos no teste de farmácia, onde dois traços vermelhos traziam a confirmação da gravidez.
E, por fim, lá estava após o término do filme infantil; parado em frente ao McDonald com a filha indignada consigo. O sorriso que ostentava nos lábios outrora, agora dava lugar a expressão ranzinza com a qual lhe encarava. Tudo porque se recusava a comer qualquer coisa ali.
Não é como se apreciasse a comida gordurosa dos fast-food's, no entanto precisava alimentar a garota, não? Não é isso que se faz após sair do cinema e ouvir a filha reclamar de fome? Acreditava que sim, mas Sarada não estava disposta a colaborar. Em uma praça de alimentação enorme, não havia uma sequer loja onde ela quisesse comer. Havia dado a chance de deixá-la escolher, como ela não o fez, levou-a onde acreditava que toda criança de oito anos gostaria de ir.
Bem, certamente Sarada não era “toda criança”. Havia sido parar na fila que ela fez questão de deixar claro que não iria jantar ali. E a razão?
Sarada entrou na onda de se tornar vegetariana. A menos de uma semana ela estava comendo salmão que fizera no almoço, mas bastou dois dias com a mãe para ela aparecer falando sobre vegetarianismo. Não fosse o suficiente ela torcer o nariz para toda a carne que cozinhava em casa, ela ainda tinha a audácia de chamá-lo de assassino por comer a maldita da carne! Parecia uma piada de mal gosto a filha, 24 anos mais nova, lhe dar sermão por ser conivente com a indústria alimentícia.
Mas não era piada, muito menos era engraçado, afinal não via graça alguma na atenção que a filha estava chamando ao começar a chorar em frente ao McDonald. Tanto quanto não era engraçado ela pedindo para falar com o gerente para acusá-lo de propagar, e ainda lucrar por cima, com a venda da carne de um ser que tinha tanto direito à vida quanto ele.
Se Sasuke Uchiha acreditasse em Deus, estaria rezando para ele agora. Afinal de contas Sarada tinha apenas oito anos, mas e quando ela tivesse quatorze?
Não queria nem sequer pensar sobre.
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Eu não sei o que eu estou fazendo, nem sei por que comecei uma história que não seja one-shot, mas é isso aí. Obrigado por ler até aqui e feliz páscoa ♥
Merci pour la lecture!
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