tosunnie Tosunnie

O propósito de continuar vagando era uma das várias perguntas que acumulou nos setenta anos após sua morte. Sua própria existência, seu objetivo, e várias questões que pareciam ter respostas apenas em uma única pessoa.


Romance Paranormal Interdit aux moins de 18 ans.

#258 #gay #fantasia #espíritos #drama
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Transformação

Naquela época do ano o sol demorava para se pôr, o relógio se arrastava até o anoitecer. Essa situação fazia a cidade perder toda sua atmosfera sombria que o nome proporcionava. Choro do Jardim, motivo de piada para alguns turistas e detentora de dezenas de lendas sobre sua origem, estava tão ensolarada e colorida que jamais seria tratada como triste.

A verdade é que sempre gostou do sol, os raios refletiam em sua pele e relembrava memorias da infância quando podia nadar no rio, mas perdeu o carinho a partir do momento que a luminosidade passou a representar sua solidão. Acordava esperando o anoitecer, e aquele dia não estava sendo diferente.

Aos poucos as crianças do parque foram indo embora, o calor diminuindo, os postes viraram os únicos provedores de luz do ambiente , e o banco da praça onde Haku sentava sozinho passou a ser ocupado por uma segunda pessoa . O garoto sozinho já chamava muita atenção, seu cabelo escuro com pontas lilás era um imã pra visão de qualquer pessoa, e sorrir enquanto falava sozinho era ainda mais chamativo. Quem o visse de longe juraria que era louco, não que estava conversando com seu melhor amigo.

ㅡ Me perdoe, Haku - ria enquanto falava - Eu sei o quanto você odeia esperar, eu também sinto muita falta dos seus antigos olhos mas admito que é engraçado te observar impaciente olhando pro relógio.

Ri do amigo era a única maneira que tinha de não ficar entediado enquanto ainda não era visível. Quando Haku era criança horários não importavam, conseguia vê-lo a qualquer momento do dia, consequentemente ficavam o tempo todo juntos também. Sua visão começou a falhar na adolescência, talvez uma tentativa de seu corpo de fazê-lo acreditar que seu amigo era apenas um ser imaginário e não podia mais ser visto. Passou a enxerga-lo somente a noite, ou na presença da lua quando a mesma aparecia durante o dia. Tinha medo de algum dia sumir completamente da visão de Haku, por isso gostavam de ficar o máximo de tempo junto para aproveitar o tempo que ainda podiam ficar no mesmo plano, e já tinha registrado em todos os cantos possíveis de sua vida; Dipietro não é um amigo imaginário, ele existe, independente se era visível ou não.

ㅡ Sinceramente Pietro, se você sentisse o medo que eu tenho de parar de te ver não riria de mim - a imagem do amigo sempre era um alívio, um dia teria o prazer de abraça-lo - Vamos logo pro balanço.

Haviam decidido brincar nos brinquedos do parquinho infantil da praça, eram dois jovens de 18 anos - Dipietro com algumas sete décadas a mais, porém já tinham determinado que contariam suas idades igual - sem dinheiro ou ideias do que fazer. Não sentiam vontade ir ao cinema ou qualquer outro programa normal, então brincavam de uma das suas coisas favoritas de quando Haku era uma criança. Sentaram um do lado do outro, apostando quem iria mais alto.

ㅡNão faz sentindo você perguntar Pietro, você estava lá o tempo todo.

Acompanhar Haku na escola era um dos melhores hábitos que possuía, não tinha nada que o deixasse mais atualizado que estar numa sala de aula, com pessoas que traziam novas informações diariamente. Era muito comum se perder no tempo, como não tinha necessidades tinha dificuldades de acompanhar as horas passando, as vezes se passavam meses e acreditava ser apenas alguns dias. Pietro era uma alma muito perdida antes de conhecer Haku, tentava imitar seus atos pra não voltar a ser como antes, isso dava muito certo quando se preocupava com semana de provas, cronograma de eventos e as fofocas que apareciam no corredor.

ㅡMas eu não sei o que você achou da aula, ainda não consigo ler sua mente.

ㅡVocê tentou saber? Acha que eu não sei que passou a manhã inteira observando Jonas? Posso não conseguir te ver, mas te conheço melhor que qualquer pessoa, até quem te conheceu enquanto você estava vivo.

Considerava muito humilhante se sentir tão constrangido ao pensar numa paixão platônica na escola.

Não criticava Haku por ele não ser um dos melhores alunos, tudo na sala parecia ser mais interessante que a matéria, passou duas horas concentrado até desistir e começar a analisar os alunos da sala. Não prestava muita atenção em quem estava a sua volta, foi bastante egocêntrico pra se importar com as pessoas que passaram por sua vida, e mesmo após ela ainda tinha que se esforçar pra notar os diferentes rostos. Eram tantos anos, tantas pessoas diferentes, e Pietro afirmava precisamente que nunca viu ninguém que pudesse se igualar a Jonas Maria.

Descobriu sua existência enquanto vagava pela sala observando carteira por carteira, era estranho pensar o quanto sua presença demonstrou poder sobre si mesmo não fazendo nada além de olhar com cara de sono pra professora. Dipietro aos poucos tentava achar explicações do porquê ele se destacava em meio a multidão. Não queria resumir apenas em sua aparência, mas diversas vezes contou a Haku sobre os diferentes detalhes que o deixava hipnotizado, também tinha sua voz e conseguia ser calma ou grave o suficiente pra causar arrepios. Jonas era gentil, não mantinha contato com a maioria das pessoas da escola, demonstrava ser uma boa pessoa alimentando e cuidando de cachorros abandonados que ficava poucas quadras do edifício. Além que tinha certas aptidões com arte e esporte, mantinha consigo um caderno onde costumava a escrever quando saía do treino de futebol. Dipietro junto com Haku fizeram vários planos de espionagem pra saber todos esses detalhes. Seria uma bela imagem retratando a amizade dos dois caso fosse registrado o dia que ficaram atrás de uma moita escondidos apenas pra descobrirem qual horário Jonas ia embora das atividades escolares.

Os efeitos que causava eram tão fortes que despertou em Dipietro a necessidade de tocar em Jonas, essa vontade nunca foi tão intensa antes já que evitava ao máximo até pensar sobre.

Gostaria de ficar mais tempo com Jonas, realmente não se importava se ele não o enxergasse ou ouvisse, só queria estar perto, porém não fazia isso justamente para não o prejudicar. Jonas constantemente ficava com um amigo seu, Mino, um rapaz alto e extremamente sensitivo, conseguia sentir auras melhor do que ninguém, isso era bom pois sempre identificava quando o amigo precisava de ajuda, no entanto a presença de Dipietro era demais para si, o deixava atordoado com a agonia de sentir alguém e não poder ver. Certa vez em um bar afirmou que queria ser embebedar pra parar de ter essa sensação, e Jonas o acompanhou nisso, completamente desconfortável pelo fato de Mino precisar de entorpecentes pra se sentir melhor.

Enquanto estivessem juntos Dipietro preferia manter distância, sendo útil de outras maneiras.

Gostava de pensar que era como um anjo da guarda, impedindo pequenos incidentes e promovendo alguns eventos que tiravam pequenos sorriso de Jonas. Estava mais para 'sorte' que para 'anjo' na verdade.

ㅡ Ando preocupado com ele - falou diminuindo a velocidade do balanço.

ㅡ Eu também. - Haku dividia a sala de aula com Jonas a meses e nunca chegaram a trocar nem mesmo um bom dia. Não tinham problemas, na verdade Jonas o admirava bastante em silêncio, Haku era apenas muito desligado e satisfeito com Dipietro pra dar atenção a outras pessoa. Mesmo sendo completamente distantes era inevitável não ficar preocupado depois de descobrir tanto sobre sua rotina.

Aparentemente Jonas estava com problemas em casa que afetavam muito seu emocional, supôs isso lendo o seu caderno que pegou escondido. Acima do ciúmes que conservava pelo fato d'ele está recebendo uma grande atenção, tinha vontade de ajudar, as vezes sentia como se fossem íntimos e pudesse apenas chegar e pedir pra que ele falasse tudo que prendia. Chegou a fazer isso uma vez, se aproximou de Jonas e perguntou se por algum motivo ele gostaria de chorar em seu ombro por horas. Haku acreditava fielmente que a resposta seria sim, só não podia comprovar isso porque o alarme de incêndio tocou bem alto e todos tiveram correr para fora do prédio. Dipietro sentia vergonha de admitir que ficou tão nervoso vendo os dois juntos que quebrou o vidro de emergência para que se separassem.

Era difícil conviver com Haku, ele não tinha limites, não que isso fosse algo esperado de um garoto que gostava de decifrar nuvens e tinha um 'fantasma' como melhor amigo.

ㅡEle está passando mais tempo na rua que em casa, principalmente a noite. Eu faço várias coisas pra espantar pessoas suspeitas, ou guia-lo pra lugares mais calmos - anos vagando pelas ruas fez Dipietro desenvolver algumas habilidades - E ainda sim não acho que ele esteja seguro.

ㅡ Por favor Pietro, não se culpe por algo que você não pode controlar. Não é porque você é um anjo que pode fazer tudo, algumas coisas estão fora tanto do seu alcance quanto do meu.

Os movimentos do balanço já estavam repetitivos demais. Ficaram em dúvida se deveriam rodar no gira-gira ou aproveitar a gangorra, não ficaram tanto tempo escolhendo, Dipietro lembrou do sorriso sincero que Haku dava sempre ao subir na gangorra e decidiu que era pra lá que deveriam ir. O parquinho que ficavam era pouco movimentado naquele horário, ideal pra poderem ir em todos os brinquedos.

ㅡGosto quando você me chama de anjo, é melhor que zumbi.

Existia vários nomes que usava pra apelidar Dipietro, um ser mitológico diferente pra representar o que era, Haku pensava em cada um deles pra enquadrar Dipietro em uma classificação mais divertida que apenas 'espírito'.

ㅡJonas tem sorte de ter um zumbi como você o protegendo.

ㅡSe ao menos ele soubesse. As vezes eu queria aparecer, confessar que existe algo que me faz ser atraído pela sua pessoa. Qual reação você acha que ele teria?

Ao mesmo tempo que conseguia ser a pessoa mais fantasiosa do mundo, Haku também tinha seus momentos de lucidez realistas até demais. Dipietro queria uma resposta feliz cheia de pensamentos positivos típico de um romance clichê, e Haku não fazia ideia como isso poderia ser possível, era incapaz até de inventar.

ㅡEle não tem meus olhos - esse era o primeiro e principal impasse, sem eles Jonas não teria a fase de refletir sobre ser a paixão de uma alma - Mas caso ele tivesse... ele se apaixonaria antes de te conhecer.

Gostava de observar Dipietro, acreditava que ele não era visível para todos porque nem todos mereciam ter aquela visão. Sua parte favorita era que sua aparência nunca era a mesma. Se consideravam seus fios lilás grande coisa era porque não presenciaram todas as cores possíveis no cabelo de Dipietro, este as vezes longo as vezes curto. Quando era criança tinha certeza que sua pele tinham tom azulado, e constantemente desejava que isso voltasse, porém aceitava sua pele comum. Já tinha explicado várias vezes que não controlava os tons que apresentava, então Haku criou sua própria teoria que a forma como estivesse, completamente neutro, extremamente colorido ou uma mistura dos dois, era uma representação dos sentimentos de quem estava em seu ambiente. Sua teoria era baseada no fato de Dipietro nunca parecer deslocado, e sim mais um resumo de todos ao seu redor, eles mudavam constantemente.

Até seu nome considerava interessante, incomum e de acordo com ele muito utilizado a setenta anos atrás.

ㅡQuando você começa a me olhar desse jeito significa que está na hora de irmos pra casa.

A parte ruim de ter visto Haku crescer era que inevitavelmente agia como seus pais. Ainda era cedo, podiam continuar conversando em outro lugar, e se esforçaria pra trazer um assunto que não fosse Jonas Maria.

Era uma pena não poder dedicar toda sua noite apenas a Dipietro. No dia seguinte teria seu trabalho de meio período mais a escola, isso o impedia de passar a madrugada em claro com seu melhor amigo. Preferiria mil vezes conseguir enxergar Dipietro durante o dia ao invés da noite, além do tempo parecer maior, poderia ter companhia. É, precisava arrumar amigos que pertencessem ao seu plano. Acabaram a noite como geralmente faziam, deitados juntos em uma distância segura pra não se tocarem mas perto o suficiente pra respiração de Haku bater no rosto a sua frente.

Tinha saudades da sensação de dormir, principalmente sonhar. Dipietro sempre fechava os olhos fingindo estar num sono profundo, as vezes acreditava que estava mesmo. Fazia isso até Haku dormir, quando notava que ele não acordaria até o dia seguinte pra se levantar e ir embora.


Não andava nas ruas vazias apenas pelo prazer, e sim procurar por uma pessoa que estava cativando o hábito sair sozinho pela cidade.

Podia fazer um mapa registrando todo percurso de Jonas pela cidade, e este mapa seria pequeno. Não sabia seu critério pra gostar tanto das ruas sem graça que escolhia caminhar, elas eram distante de sua casa e da escola, sem nenhum ponto de referência relevante, não que Dipietro se importasse, o seguiria em qualquer lugar.

ㅡFinalmente, pensei que não te encontraria hoje - Dipietro disse ao avistar Jonas no final da rua, geralmente o encontrava rápido e daquela vez teve dificuldades.

Mentiria se falasse que não tinha esperanças de uma resposta algum dia, enquanto essa não chegava se contentava em falar sozinho caminhando ao seu lado. Manipulava que estavam de mãos dadas ou faziam o caminho juntos, Jonas quando falava sozinho era a melhor fonte pra se iludir.

ㅡ Você está bem? - alguma coisa parecia errada. Jonas andava cambaleando, impossibilitado de seguir reto de tão desengonçado e com a cabeça baixa. Os poucos centímetros que levantou a cabeça foi possível perceber que seus olhos estavam vermelho - Você bebeu? Usou alguma coisa?

Reconhecia os sinais de bebida, era muito familiarizado com eles quando estava vivo. Era esperado algum dia ver Jonas naquele estado, toda semana arrumava algum momento pra ir a algum bar e deixava claro o quanto apreciava. Só que nunca tinha chegado naquele estado. Ele olhava pro horizonte com as pupilas vazias, e essa direção era a mesma que Dipietro estava. Parecia que conseguia vê-lo, e isso o deixou sem reação. Jonas chegou a centímetros de Dipietro, um passo a mais e estariam no mesmo local, e antes que fizesse seu corpo foi ao chão começando a vomitar.

ㅡO quê...

Não sentia fome, sede ou cansaço, conseguia até mesmo ficar sem piscar pois seu corpo não tinha nenhuma limitação. Podia apresentar marcas, como as queimaduras de sua mão quando segurou uma vela que derreteu, mas não sentia a pele queimar. Era incapaz de ter dor física, prevalecia apenas a emocional. Tinha carinho por Haku, curiosidade sobre diversos assuntos, e agora preocupação por Jonas se debatendo no asfalto da rua.

O vomito aumentava sua intensidade e com ele iniciava um tremor, seu corpo buscava por ar de algum jeito mas não conseguia raciocinar. Seus braços e pernas se batiam, já estava machucado antes por conta da queda e agora piorava a ainda mais a situação. Dipietro estava no nível mais alto de desespero, procurava qualquer material na rua pra virar o corpo de Jonas, tentando deixa-lo de lado ou de bruços, utilizou uma madeira que encontrou atrás de uma lata de lixo, se desculpou por algo tão sujo mas era sua única alternativa.

Mudar sua posição impedia que se afogasse com o próprio vomito no entanto Dipietro percebeu que se o pior acontecesse aquela não seria a causa. Jonas continuava com seu corpo a mil, a única sensação que tinha era que seu cérebro estava prestes a explodir, tão forte que se seus olhos soltassem do rosto não iria perceber de tão forte que era a agonia. Então de repente a dor chegou a um nível tão grande que não era mais capaz de sentir, seu corpo parou de se mexer, não tinha motivos pra continuar. Logo foi se tornando calmo.

ㅡJonas?! JONAS?! - ele não ouviria nem se o visse.

Foi tudo tão rápido, seu peito não subia e descia como deveria ser, Dipietro nunca pensou que desejaria ver Jonas voltando a se debater. Era possível alguém que estava a tanto tempo enterrado chorar? Estava a um passo de descobrir, pois já estava tão nervoso que as lágrimas parecia algo bem possível. Olhava para os lados e tentava sentir alguma presença perto, sem conseguir obter nenhum resultado.

Enquanto fora consciente nunca cogitou a ideia de pedir algo pra quem quer que fosse. Deveria existir outros que se assemelhavam a si, e não tinha pretensão de fazer contato. Todos os hábitos que acumulou foram jogados no lixo, pois repetia sem parar "O que eu devo fazer?" sem um destinatário específico, só queria que algo iluminasse sua mente. Não ouviu uma voz ou recebeu uma instrução de como agir, talvez tenha sido apenas fruto do seu desespero, mas algo o fez sentir que deveria segurar Jonas.

O único motivo pelo qual não arrastou Jonas até alguma via movimentada em busca de ajuda era porquê não podia tocar em ninguém vivo, os resultados eram terríveis demais por isso evitava qualquer tipo de toque. Podia prejudicar ainda mais a situação do corpo se encostasse, se negava a fazer aquilo, implorava por qualquer outra coisa, afinal suas mãos nunca fizeram bem a ninguém antes.

ㅡPor favor qualquer outra coisa, qualquer coisa - o tempo estava passando e o maldito pensamento não saía de sua cabeça, pior, parecia gritar pra que fizesse aquilo imediatamente. Dipietro não tinha opções, e estava tão assustado que não conseguiu se acompanhar descendo e colocando as mãos no ombro de Jonas.

O balançava com força mesmo que não cultivasse esperança de conseguir reanima-lo, não tinha dons de cura nem nada parecido, estava apenas atormentado tentado causar alguma reação. Olhos abrindo e uma súbita melhora era o que mais desejava, ao invés disso Jonas se mexeu impulsionando seu corpo pra frente, voltando a vomitar.

Não era como da primeira vez que colocava pra fora tudo que tinha consumido, era uma quantidade bem menor e diferente, não sabia dizer o que era, na verdade não sabia absolutamente nada do que acontecia. Sua respiração havia voltado, forte e pesada, tremia batendo seus dentes, e se mexia com o se procurasse algo pra se proteger. Tentou se distanciar mas estava sendo segurado, Dipietro pensou em todas as vezes que viu Jonas, na escola, caminhando, lendo, sua aparência em todos esses momentos que parecia estar se dissipando.

Enquanto segurava Dipietro, Jonas mudava, ou melhor, se transformava.

21 Mars 2019 12:35 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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