boring_tsundere Ashley White

Não estava cursando naquele treinamento por nada, muito menos para beneficio próprio. Estava lá porquê precisava ajudá-lo. Estava alimentando aquela obsessão que criou com o tempo por ele. Precisava ser útil. Se não entrasse na empresa Ishikawa, o que faria de sua vida? Existia para aquela empresa desde que nasceu nessa família. Mal podia esperar pelo fatídico dia onde a pessoa que mais confia viraria para si e falaria o que todos os outros já tem repetido com o passar dos anos: “Você é uma vergonha para essa família.” [TW - Citações a suicídio]


Histoire courte Interdit aux moins de 18 ans.

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Imperfect

Um suspiro escapou de seus lábios. Tinha acabado de sair do centro de treinamento, após o tão esperado dia do resultado. De certa forma, já estava esperando aquilo. Em suas mãos, estava o papel que indicava a resposta de seu esforço. O envelope já se encontrava aberto, rasgado pela impaciência do garoto, que não agüentaria chegar em casa para abrir. Em sua expressão, uma decepção nada surpreendente, já que mais uma vez, ele havia falhado.

Já perdeu a conta de quantas vezes recebeu aquela resposta, quantas vezes aquela palavra apareceu em sua frente.
“Reprovado” mais uma vez. “Reprovado” por sua inutilidade.
Queria chorar, mas quantas vezes já tinha feito isso? E no que isso ajudaria, de qualquer modo? Engolia o que lhe prendia pela garganta, se recusando mais uma vez a se deixar desabar.

Não sabia como voltaria para casa com aquele resultado em mãos, nem como apareceria na frente do irmão mais velho e dar a notícia que havia falhado mais uma vez. Podia notar a preocupação no rosto dele toda vez que trazia aquele papel, mas não queria isso. Não queria preocupação, não novamente. Já estava cansado de apenas preocupar e causar problemas para os outros. Podia notar com clareza o quanto ele se esforçava, ao ponto de se quebrar apenas para que pudesse ter uma boa condição, para que nada faltasse e que pudesse ter de tudo e mais um pouco. Mas o que havia trazido como agradecimento? Nada. Apenas mais falhas. Mais decepções.

As palavras de seu professor continuavam rodando em sua cabeça, como um looping torturante e repetitivo.

“Esse trabalho não é pra você. Deveria desistir.”

Quantas vezes já não ouviu essa palavra? “Desistir.” Realmente, de um lado, ele queria desistir, se focar em outra carreira. Mas por quê faria isso? O que ganharia com isso? Não estava cursando naquele treinamento por nada, muito menos para beneficio próprio. Estava lá porquê precisava ajudá-lo. Estava alimentando aquela obsessão que criou com o tempo por ele. Precisava ser útil. Se não entrasse na empresa Ishikawa, o que faria de sua vida? Existia para aquela empresa desde que nasceu nessa família.

Em meio aos seus devaneios, mal notara que seu celular vibrava em sua bolsa, tinha deixado no silencioso para conseguir se concentrar na última aula. Retirou o aparelho, vendo que era uma ligação de Kyosuke, seu irmão mais velho, vinda com a notificação de várias outras de mais cedo. Justamente o que mais temia naquela hora. Respirou fundo, se concentrando em manter a voz firme antes de clicar no botão de atender, aproximando o celular do ouvido.

- Kyoichi! Finalmente atendeu! O que aconteceu? Eu te liguei umas dez vezes e você não atendia!

- Ah, d-desculpa! Eu tinha deixado no silencioso porquê precisei me concentrar, devo ter esquecido de mudar a opção. Eu estou bem, não se preocupe!

- Hoje foi o ultimo dia, certo? Como se sente?

“Exausto.”
- Eu estou bem, foi meio agitado, mas ocorreu bem. – Deu uma resposta falsa, respondendo com a animação usual para não deixar suspeitas.

- Entendo! E o resultado? Você passou?

Quando essa pergunta chegara aos seus ouvidos, o mesmo não soube o que responder. Olhava para o envelope em suas mãos e uma enorme culpa invadia seu peito. Como poderia contar pra ele? Mesmo que não fosse mais uma novidade, ainda sentia sua boca se amargar só de pensar na decepção, no suspiro preocupado. Na sua cabeça, já apareciam os parentes lhe insultando por tamanha inutilidade. “Agora, Kyosuke vai ter que cuidar de tudo sozinho.” Eles dizem. “Você estragou tudo!” Eles gritam. “Já não está cansado de ficar sugando todo o esforço de seu irmão?” Eles perguntam. Kyoichi nunca sabe como respondê-los. Sua fraqueza o impede de dizer uma palavra que grita em sua mente, estava tão acostumado a engolir respostas que já não sabia mais como falar. Insultos eram totalmente liberados a sua pessoa.

Mal podia esperar pelo fatídico dia onde a pessoa que mais confia viraria para si e falaria o que todos os outros já tem repetido com o passar dos anos:
“Você é uma vergonha para essa família.”

- Kyoichi? Kyoichi!

- A-Ah! Desculpa, desculpa... O que você disse mesmo?

- O resultado. Você conseguiu?

- Ah, sim, eu... – Pregou os olhos no envelope novamente, a resposta escapava da sua língua e descia pela garganta. – Eu... Te aviso quando chegar em casa! Ainda não abri o envelope... Estou guardando pra mais tarde.

- Entendo. Então, se apresse, ok? Tome cuidado na volta!

- Vou tomar... Até mais.

Afastou o aparelho, não notando que o mais velho estava dizendo algo antes de desligar. Soltou outro suspiro pesado, se encostando no banco da praça, encarando o céu amarelado pelo fim de tarde. Suas pernas não se mexiam do lugar, mesmo quando fora mandado para se apressar. Não queria voltar, não agora. Ainda não conseguia pensar em encarar o irmão depois de mais uma tentativa fracassada. Já sabia exatamente que tipo de olhar ele daria, mesmo quando tentava lhe animar e dar palavras calmas. Sabia mais do que tudo o quanto ele estava decepcionado. Ou ao menos, era o que pensava. E mesmo que ele não estivesse, o mesmo já estava. Parece que não importava quantas vezes tentasse, seu esforço era inútil, iria apenas falhar de novo e de novo. Podia parecer drama, – e de fato era! – mas não era a primeira vez que falhava... E algo lhe dizia que não seria a última, mesmo quando suas chances estavam acabando. Só poderia ter sua última tentativa quando completasse 18 anos. Mas quem garantia que conseguiria? Quem garantia que iria suportar dois anos de pessoas que pensava que poderia confiar lhe botando para baixo toda vez que mencionam sobre aquilo? Já tinha dias que não dormia direito por causa daquela ansiedade irritante lhe martelando na cabeça, tirando seu fôlego e lhe enfraquecendo mais ainda. Só queria desaparecer. De alguma forma, talvez sumindo poderia tirar esse estorvo que era si mesmo do caminho dos outros.

Se levantou fracamente do lugar, guardando o envelope na bolsa e apertando o passo até o caminho de casa. Enquanto andava, sua cabeça não estava mais no lugar. Pensava muito em como iriam reagir, o que iriam dizer, que tipo de desculpas dariam dessa vez para este fracasso que era exclusivamente seu. Não queria pena, apenas queria não atrapalhar tanto. Mas não tinha jeito, ou tinha?

Talvez tinha.

Enquanto voltava, passava pelo alto barranco, era bem íngreme e perigoso. Aparentemente a construção da cerca de proteção não estava finalizada. Qualquer um poderia se aproximar e cair de lá, da forma como estava. Talvez tinha um jeito no fim das contas...

Se aproximou aos poucos, mudando seu curso até o barranco e olhou para baixo. Uma queda poderia ser fatal, dependendo de como cairia. Pulou a pequena cerca temporária do barranco, se inclinando com ajuda dos braços. A rua estava praticamente vazia, então ninguém viria para lhe impedir. Respirou fundo, olhando para baixo por alguns segundos... O arrependimento batia na sua porta, mas o sentimento de busca por aquilo gritava mais alto. Seria mais por eles do que por si. Sua falhas atrapalhavam, sua presença atrapalhava, sua existência não era importante. Uma criança desnecessária, criada para ganhar, porém sem conquistas para presentear, nada para se orgulhar. O jeito era cortar o mal pela raiz.

Sentiu o celular vibrar, quebrando sua concentração. Era seu irmão, Kyosuke novamente. Dessa vez, apenas uma mensagem, perguntando quando iria voltar para casa. Provavelmente estava vagueando por tanto tempo que perdeu a noção... Mas isso não importava agora. Só sabia que não podia fazer aquilo sem se despedir. Então, engolindo o seco, digitou uma última mensagem.

“Ei, Kyosuke.
Me desculpa por ter falhado de novo.
Espero que me perdoe por ser tão fraco.”

E antes que pudesse receber uma resposta, desligou o aparelho. Olhando para baixo mais uma vez, se perguntou se devia mesmo estar ali... Mas provavelmente não deveria estar vivo, também. Desde pequeno, sempre se perguntara o motivo de ter nascido. Foi um acidente? Ou tinha um propósito? Será que havia falhado naquele propósito? Nunca recebeu respostas muito claras. Talvez era justamente aquela falta de respostas que lhe levaram à aquele lugar. Deixou sua bolsa e pertences de lado, tirando o casaco que fora presenteado por Kyosuke e o dobrando na cerca. Não seria justo fazer aquilo enquanto vestia aquela roupa.

E enquanto fechava os olhos, ia largando da cerca e se deixando cair para frente. Soltando seu último suspiro e o seu último arrependimento com um “sinto muito” sussurrado ao vento.

A cerca lhe trazia más lembranças. Estar de volta naquele barranco era como estar de volta à um local cheio de desesperança, um dos traumas construídos por si mesmo. Kyoichi olhou para baixo por um momento, agarrando o metal da cerca com medo. Seu olhar se desviou para seu pulso quase amostra, onde podia notar a enorme cicatriz que aquele dia havia lhe dado de presente pela sua tentativa de desistência. Não só aquela, havia dado diversas outras que ficaram marcadas em seu corpo. Como podia ser tão fraco? Até mesmo quando tentava morrer, ele falhava. Só queria apagar aquelas lembranças, junto com as expressões desesperadas que vira quando acordou no hospital.

- Eu devia mesmo ter morrido naquele dia... – Sussurrando baixinho, largava a cerca lentamente, saindo de perto do lugar e voltando seu percurso usual de volta para casa.

7 Mars 2019 21:24 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

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Ashley White Hey there! I'm a boring tsun-tsun that you will problaby forget soon, so, don't worry about me.

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