zephirat Andre Tornado

A Porta dos Mundos foi aberta e, aparentemente, o Universo encontra-se ameaçado de grande perigo pelo terrível feiticeiro. Mas nem tudo é o que aparenta. Existe ainda uma última possibilidade para Son Goku e os seus companheiros de salvarem o mundo da ambição de Zephir. Para isso, irão precisar da ajuda de alguém improvável e de um estranho medalhão. Assim se conclui a saga “O Feiticeiro”, que teve início com “O Livro de Magia” e continuação com “A Dimensão Z”.


Fanfiction Anime/Manga Interdit aux moins de 18 ans.

#saga #épico #Zephir #vegeta #dragon-ball #Son-Goku #saiyajin #feiticeiro #magia #Tempo-da-Lua #guerreiros #lutas #romance #O-Livro-de-Magia #A-Dimensão-Z
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Capítulo I


1. Tesouros



Zephir admirou sem reservas o seu mais recente tesouro na intimidade do santuário. Estava dentro de um cofre e no interior aveludado da caixa prateada, o brilho daquela preciosidade resplandecia com um fulgor sem igual. Acariciou-a lentamente, sabendo que esta dar-lhe-ia a glória.


Uma bola de dragão.


Ao lado do cofre de prata existia outro, dourado, fechado e bem trancado, onde guardava o primeiro tesouro. Se a bola de dragão lhe daria a glória, aquilo dar-lhe-ia o Universo!


O Templo da Lua fora generoso, dera-lhe dois tesouros inigualáveis. A chama do par de velas que ardia no altar e que ladeavam o magnífico livro de magia, agora acompanhado pelos dois cofres, tremeu com uma gargalhada sinistra do feiticeiro.


Lembrou-se. Fora Kumis que lhe entregara a bola de dragão, uma esfera cor-de-laranja com uma pequena estrela vermelha no seu interior. O demónio encontrara-a junto ao lago do templo, quando se treinava. Enterrava-se no lodo das margens e um disparo de energia fizera-a aparecer. No início, Zephir não sabia o que aquilo era, mas guardara-a ciosamente e fora, um dia, até à Sala Sagrada para descobrir.


Tratava-se de uma lenda. Espalhadas pelos quatro cantos do mundo existiam sete bolas de dragão. Eram mágicas, feitas do cristal mais puro, concebidas pelo Todo-Poderoso. Quando juntas, era possível invocar Shenron, o Dragão Sagrado, que concedia qualquer desejo à pessoa que tinha conseguido a proeza de as juntar.


Quando estava prestes a abandonar a Sala Sagrada, encontrara uma pequena caixa, dissimulada na prateleira de uma estante afastada. Curioso abrira a caixa e deixara-a cair. O conteúdo resvalara para o chão. A emoção tolhera-lhe os movimentos e não se conseguira mexer durante largos minutos. Aos pés tinha a primeira metade do Medalhão de Mu.


Não fazia a mínima ideia de como fora parar ali, mas o certo é que estava guardado na Sala Sagrada, junto a um manuscrito lacrado num rolo que nunca tinha sido aberto e que explicava que aquele era um objeto maldito e perigoso, que não podia cair nas mãos erradas. Para salvaguardar tal eventualidade, escondia-se o objeto dos olhos do mundo num lugar inacessível, aquela sala acedida apenas pelos eleitos do templo.


Rira-se, agarrara na primeira metade do Medalhão de Mu e resgatara-a do seu esquecimento. Queimara o manuscrito e fizera, por meio de um passe de mágica, um cofre do ouro mais puro que fosse digno de algo tão maravilhoso.


Olhou novamente para a bola de dragão. Contava encontrar as outras seis bolas e pedir a Shenron a segunda metade do Medalhão de Mu.


No entanto, nada de precipitações. Só o faria depois dos doze dias que concedera a Son Goku ou depois de ter alguém da Dimensão Real para usar o medalhão inteiro no altar mágico.


Nisto, as sombras tremeram. Sentiu-se tonto com uma sensação visceral, apoiou a mão esquelética na parede rochosa do santuário. Algo entrava pelo mundo adentro, um remoinho que invadia furiosamente um espaço que lhe estava vedado. Os espíritos agitavam-se inquietos.


Depois da náusea, sorriu. O nome do inimigo cruzou-lhe a mente.


Eles regressavam. Vinham da Dimensão Real e com aquilo que ele mais desejava naquele momento. Olhou para a ampulheta que marcava o tempo, ao lado do pote azul de onde nasciam os kucris.


- Nove dias? Muito bem, Son Goku! Tu e os teus amigos conseguiram resistir nove meses na Dimensão Real, sem se portarem mal. Mas a tentação foi demasiado forte, aposto… Então, parece-me que perdeste o jogo, porque um de vocês interagiu com um deles e agora acontece o vosso regresso. E a minha vitória!


Zephir crispou o rosto.


E o que significava interagir?





2. Interagir



Entrada no meu diário, data: setembro 1996


Dormitava, enlevada no odor agridoce do suor dele misturado com o perfume do gel de banho, sorrindo e aquecendo-me naquele peito forte, onde um coração batia por mim. Queria ficar ali para sempre.


A fita tinha chegado ao fim e a música calara-se, não houvera ninguém disponível para voltar a cassete e pôr a tocar o outro lado, que devia estar repleto de mais músicas românticas dos anos sessenta. Por isso, eu dormitava no silêncio do quarto.


De olhos fechados, arrepiando-me de prazer, recordava-me o que tinha acabado de partilhar com Trunks. Um momento intenso, uma viagem que encetara por um caminho luminoso, o renascer para outra existência, a certeza que nunca mais haveria de ser como fora, mas sem o mínimo remorso. Sem equívocos, sem mágoas.


Fora totalmente dele e desejava ser dele até à eternidade. Gostaria que ele voltasse a fazer o que me fizera, todos os dias, todas as noites. Quando ele quisesse, seria novamente dele. Sem qualquer reserva, sem qualquer hesitação. Expondo a alma até ao âmago, entregando o corpo até ao limite.


Senti que ele se mexia. Despertava, porque também tinha adormecido, fechando-me nos seus braços, depois de termos tomado juntos um duche rápido que encerrara os minutos intensos de paixão.


- Ana…? – Chamou.


- Sim?


Olhei para ele. Estava ensonado, esfregou os olhos.


- Não tens fome?


Realmente, não estava com fome.


- Isto abre-me o apetite.


- Isto? – Estranhei.


- Fazer amor.


Espreguiçou-se. Afastei-me dele, ofendida. Para mim, tinha sido a primeira experiência, mas para ele, certamente, não passara de uma de muitas. Fiquei com ciúmes de todas as raparigas que ele já tinha conhecido. Por um lado, o conhecimento dele abrilhantara o momento, a segurança que demonstrara contrapusera-se à minha ignorância e à minha timidez. Mas não gostara de como, a seguir à conquista e depois do prémio, tinha nivelado o acontecimento, por baixo, como coisa banal. Isto!...


Levantei-me, vesti as cuecas. Agarrei na camisa, enfiei os braços nas mangas, mordendo o lábio inferior. Reparei que me tinha esquecido do soutien, logo o metia na mala. Tentei fechar a camisa, mas nenhum botão tinha sobrevivido. Só havia linhas brancas desfiadas a emparelhar com as casas. Os botões espalhavam-se pelo quarto, onde tinham caído saltitando.


O colchão oscilou quando ele se levantou. Também se vestia, atrás de mim. Desisti desolada de tentar fechar a camisa.


A sweat azul apareceu ao lado do meu braço.


- Veste isto.


Olhei para Trunks que me sorria.


- Estraguei-te a camisa. Gomen nasai.


Deixou de sorrir, perguntou:


- Estás aborrecida? Porquê?


- Nada – remoí aceitando a sweat azul. Pousei-a nos joelhos.


Ele saltou da cama, agachou-se diante de mim.


- O que foi? Estás arrependida do que fizeste comigo?


O olhar dele continuava a hipnotizar-me.


- Não. Estou apaixonada por ti, por isso…


- Eu também estou apaixonado por ti. O que foi? Conta-me.


- Foi especial… para ti?


Beijou-me de repente. Abraçou-me com uma força tremenda, como se tivesse medo que eu me evaporasse. Confessou baixinho, num murmúrio que mal ouvi:


- Arrisco a minha vida para estar contigo.


Estremeci.


Levantou-se. Tirou uma t-shirt de um monte de roupas que ocupava o tampo de uma arca ao lado da cómoda destruída.


- As raparigas com quem estive antes de ti incomodam-te?... Não percas o teu tempo a pensar nelas.


- Porquê?


- Porque eu não perco o meu.


Vestiu a t-shirt. A seguir, vestiu uns calções compridos que escolheu do mesmo monte de roupas. Retirou um par de meias lavadas de uma gaveta do roupeiro. Enquanto enfiava-as nos pés, sentado no chão, acrescentou:


- Eu também não me incomodo com o teu namorado.


- Que namorado? – Indaguei zangada.


Meteu a mão debaixo da cama, junto às minhas pernas e puxou um par de sapatilhas.


- Ainda ontem à noite estavas com o rapaz e já nem pensas nele… Não interessa, não é? Acontece o mesmo comigo. Todas as raparigas antes de ti não contam. Não interessam.


A ferroada provocada por aquelas palavras foi dolorosa. Seria normal acontecer assim ou eu estava simplesmente a ser a maior cabra do Universo, ao esquecer-me tão miseravelmente daquele que tinha sido o meu namorado escassas horas antes, nem um dia passado? Mas não havia dúvidas, certo? Sem dúvidas, portanto. As escolhas do coração continuavam a ser insondáveis e irracionais. Se ele arriscava a vida para estar comigo, eu arriscava a reputação e nem sequer eram coisas comparáveis.


Trunks beijou-me a testa, passou-me a mão pelos cabelos. Espreitou por cima da minha cabeça, comentando:


- Ups… Vou ter de tirar os lençóis e fazer uma cama de novo.


- Porquê?


Sorriu-me e respondeu-me:


- Foi a tua primeira vez… Deixaste um rasto.


Correi de vergonha, percebendo o que aquilo significava. Nem ousei verificar o que estava ele a ver, os lençóis manchados. Despenteou-me, beijou-me, desta vez na boca.


- Mas primeiro vou até à cozinha, preparar um lanche.


Saiu do quarto.


Vesti a sweat azul por cima da camisa sem botões. Agarrei nas calças de ganga, suspirando e enxotando as dúvidas que insistiam em assombrar-me. O mal era aquele silêncio, fazia-me melancólica, quando me devia sentir feliz e abençoada. Ele tinha razão. Nada do que tinha existido antes importava.


Fui até à aparelhagem, sentei-me diante desta. Troquei a cassete de lado, carreguei no botão do play. A primeira música era “Stand By Me”, de Ben E. King. Sorri com a banda sonora que nos tinha acompanhado naqueles momentos, mágica e singela, como se os versos cantassem a nossa estranha união.


Calcei as meias devagar, escutando.



No I won’t be afraid

Just as long, as you stand

Stand by me



A poesia invadiu-me os sentidos, fechei os olhos.


Recordei-me de Trunks a suspirar o meu nome, enquanto me amava.


- Ana…


A minha pele arrepiou-se.


Abri os olhos, procurei pelas minhas sapatilhas. Estava uma de cada lado, para onde tinham sido atiradas. Levantei-me.


Nisto, houve um som que se misturou com a voz de Ben E. King, um zumbido semelhante ao de um triturador metálico de dentes finos. Congelei os movimentos. Olhei imediatamente para a aparelhagem, podia ser a fita da cassete a enrolar-se toda e a estragar a gravação. Mas não era. O som não vinha da aparelhagem, vinha de mais trás.


O som aumentou para um ruído, algo como o ranger de uma besta feroz, de dentes mais grossos que o triturador. Assustei-me ao sentir uma baforada gelada no pescoço. Olhei para a cama e não me consegui mexer com o medo.


Por cima da cabeceira estava um buraco negro que rodopiava furiosamente no sentido dos ponteiros do relógio, como um remoinho. Gritei.


Uma manápula munida de garras afiadas, também negra, saiu do remoinho. Gritei outra vez, tentei escapar mas tropecei nos pés e estatelei-me no chão do quarto. Apoiei o peso do corpo com os braços, cravei um dos botões da minha camisa na mão esquerda, uivei com a dor.


O ruído tornou-se, subitamente, ensurdecedor. Estendi os braços tentando afastar a garra, mas apalpei o vazio. Algumas gotas de sangue da mão esquerda magoada pingaram no soalho. A garra abafou-me o derradeiro grito. Arquejei sufocada, o corpo todo embrulhado naquela névoa escura, que não tinha consistência, mas que era capaz de me aprisionar e de me travar os movimentos. A garra apertou com mais força. O escuro veio a seguir, frio como o hálito daquele monstro que me levava.


Perdi os sentidos.


Fim de entrada.





3. Regresso



O barulho do vento, no seu assobiar típico de senhor das alturas, era a única companhia de Toynara no Palácio Celestial. O jovem sacerdote meditava no mais profundo dos silêncios, sentado nas lajes brancas e polidas dos domínios do Todo-Poderoso.


Não se movia. Entregara-se àquele exercício que anulava qualquer necessidade física desde que o kami-sama e Mr. Popo tinham misteriosamente desaparecido. Era indispensável, uma prova a superar, outro teste à sua vontade, haveria de se reanimar no dia do seu regresso, acreditando, então, que regressariam. Tinham passado quase nove dias, contara.


O vento soou novamente, mas carregava consigo outro som. Um zumbido que fez estremecer o mundo. De olhos fechados, viu claramente a imagem de uma serpente grossa e negra que rodopiava furiosamente enquanto penetrava o espaço proibido, carregando no seu ventre uma multidão de espíritos.


Levantou-se, equilibrou-se nas pernas fracas. Ignorou a tontura provocada pela fome e pela sede. Três pessoas materializaram-se do nada, três espíritos vomitados pela serpente. Reconheceu dois deles, o kami-sama e Mr. Popo. O outro era da mesma raça do kami-sama mas, pelo aspeto imponente, seria um guerreiro.


A serpente prosseguiu pelo mundo a vomitar outros espíritos, animada por uma magia que ele não conhecia, cruzando uma porta escancarada que se fechava à medida que a serpente ficava de ventre vazio. O encantamento era poderoso e sentiu curiosidade, mas não conseguiu acompanhá-lo. A serpente deslizava escorregadia, esquivando-se ao seu alcance.


O kami-sama estava confuso.


- Voltámos à Dimensão Z – divagou. – Aconteceu o que não queríamos que acontecesse. Houve um de nós que interagiu com um deles.


Mr. Popo cumprimentou-o com uma vénia.


- Toynara-san.


Devolveu o cumprimento a Mr. Popo, dobrando-se igualmente numa vénia. O guerreiro disse:


- Então, ele é o sacerdote do Templo da Lua?


Ficou tenso, detestava ter as atenções concentradas nele. Sentia-se inibido. Um grande senhor da magia devia passar despercebido, como uma sombra, presente mas invisível.


- Hai, Piccolo-san – respondeu o kami-sama.


Não lhe dispensou um segundo olhar. O guerreiro afastou-se, dirigiu-se aos limites do recinto, onde ficou a observar o mundo, como o kami-sama costumava fazer.


A curiosidade tornou-se insuportável. Se fosse noutra ocasião, Toynara teria suprimido esse desejo, penitenciando-se violentamente a seguir com um castigo autoinfligido. Mas necessitava urgentemente de uma resposta, assim como de comida e de bebida. Precisava de saber que magia era aquela que comandava a serpente. Mr. Popo, que insistia em querer ler o que lhe ia na alma, já se tinha apercebido da sua curiosidade e mais valia expô-la, para poder ainda salvar alguma coisa da sua dignidade. Inclinou primeiro a cabeça, afastou uma segunda tontura e perguntou:


- Kami-sama… Gostaria muito de saber o que vos aconteceu. Estiveram desaparecidos durante nove dias. Não sentia as vossas auras, era como se tivessem sido transportados para outro universo. Hoje, de repente, regressam e percebo que é a magia que vos transporta.


- Pensas corretamente, Toynara-san. Não estivemos neste universo. Melhor dizendo, estivemos noutra dimensão. Foi Zephir que se encarregou de nos enviar para esse lugar longínquo e inalcançável.


O nome do feiticeiro causou-lhe uma terceira tontura.


- Foram para outra dimensão? Posso perguntar… para que dimensão?


- Para a Dimensão Real.


Empalideceu, mais uma tontura. Piccolo voltou-se para eles, abandonando a observação do mundo. A majestosa capa branca que usava nos ombros ondulou com o movimento que fez e com uma rajada de vento que varreu o Palácio Celestial. Toynara gaguejou incrédulo:


- A… a Dimensão Real?!




4. Raptada



Trunks assobiava, descontraído. Abriu o frigorífico. Retirou queijo, fiambre, manteiga, uma embalagem de ovos, uma alface, maionese, um pacote de sumo de laranja. Colocou tudo sobre a bancada da cozinha. Abriu o armário, por cima da bancada, retirou queques de chocolate, pão de forma embalado, bolachas de cereais. Arranjou uma frigideira para fazer os ovos mexidos. Abriu o pacote do pão, ia começar a fazer as sandes, quando escutou um grito.


Espevitou-se, colocando todos os sentidos em alerta. Mas as sensações vieram baralhadas, como uma nuvem de mosquitos.


Um segundo grito e correu chamando:


- Ana!!


Alcançou a escadaria, mas ao tentar subir os degraus embateu na parede. A escadaria tinha mudado de sítio, balançava como se estivesse dentro de um navio em pleno oceano. Trunks sacudiu a cabeça, admirado com a alucinação. Agarrou-se ao corrimão que parecia gelatina, impulsionou-se para vencer dois degraus de cada vez e espantou-se por sentir os pés afundarem-se numa coisa mole, um insuflável com pouco ar. Algo acontecia, a casa derretia-se e havia no ar um zumbido ensurdecedor. A visão periférica escurecia, entrava numa espécie de túnel. Voou pelo corredor. Ao chegar à porta do quarto estacou por ver que ela não estava ali.


- Ana? Onde estás? Ana!


Continuava a pisar coisas moles, mas via o chão como sempre fora, aparentemente duro, liso. Encontrou pingos de sangue, franqueou a porta, estacou a seguir. O quarto estava gelado, como o frigorífico da cozinha. Viu um buraco negro a girar como um remoinho por cima da cabeceira da cama. E viu um trio de bichos negros enfezados a fixá-lo com uns olhos vermelhos minúsculos. A sua força era insignificante, mas as auras, tão negras como a pelagem, não adivinhavam um confronto fácil.


Preparou-se para lutar. E recordou que conhecia aqueles bichos.


- Na-nani?


O primeiro bicho atacou, garras em riste. Afastou-o com um pontapé, este embateu na parede do quarto, caindo inanimado. Esticou uma mão para fritá-lo com um disparo de energia quando os outros dois bichos saltaram. Aproveitou a energia latente no braço, recuou ligeiramente e, com um movimento rápido, enviou um par de potentes raios azuis. Os dois bichos desfizeram-se em fumo.


O terceiro bicho levantou-se e Trunks, sem sequer olhar, cortou-o ao meio com um pontapé à retaguarda. O bicho também desapareceu numa nuvem de fumo.


O buraco negro fechava-se. De algum modo sabia que a Ana se tinha sumido por ali e tentou segui-la, mas o buraco fechou-se de repente. Trunks deu uma cabeçada na parede. Atingiu-a com um soco, bradando:


- Ana!!!


O chão era mole, mas a parede tinha uma consistência normal.


E continuava sem perceber por que razão tinha acabado de lutar com kucris no seu quarto.


Sentiu uma náusea, tinha as entranhas às voltas. Dobrou-se numa convulsão.


A temperatura do quarto aqueceu de repente, passando do frio para um calor insuportável. Começou a suar, reprimindo os vómitos. O zunido sumira-se, os ouvidos estavam entupidos. Tateava furiosamente, de olhos fechados, o mundo das sensações e conseguiu descobrir o ki dela.


- Ana…


Tornou a socar a parede.


Depois, reparou na mão, no braço que tinha acabado de socar a parede. Eram a sua mão e o seu braço… Verdadeiros. O seu corpo… Era ele!


A Dimensão Z.





5. A guerra recomeça



- Tens a certeza?


Vegeta levantou-se e, furioso, esmurrou a mesa, rachando-a. Os copos e as chávenas estilhaçaram-se no chão, espalhando cacos de vidro e de loiça.


- Tens a certeza, Vegeta? – Insistiu Kuririn.


Os ocupantes da mesa mais próxima levantaram-se e abandonaram a esplanada, escandalizados com o estardalhaço.


- Kuso!... – Rugiu transtornado.


- Mas, tens a cer…?


- Não sentes, baka? – Vociferou. Voltou-se para a mulher. – Não sentes, Bulma?


O cigarro fumegava entre os dedos dela. Tentava disfarçar o sorriso, mas era-lhe impossível e vê-la satisfeita transtornou-o ainda mais.


- A Porta dos Mundos foi aberta – explicou Gohan, levantando-se também.


Videl empalideceu e agarrou-se à filha, que deu a mão a Bra. Maron balbuciou, com a alegria a iluminar-lhe o rosto:


- Vamos voltar para a Dimensão Z!...


Número 18 manteve a sua habitual expressão impassível. Colocou as mãos no colo e aguardou imperturbável pela viagem, sem exibir uma única gota de suor. Vegeta, pelo contrário, tinha a testa perlada.


- Estamos a voltar? – Perguntou Yamucha meio atordoado. – Mas quando é que isso vai acontecer?


- Deverá estar quase – respondeu Kuririn encolhendo-se, como se a viagem de regresso à Dimensão Z fosse, de algum modo, dolorosa.


- Se estamos a voltar, quer dizer que um de nós interagiu com um deles – disse Yamucha, continuando atordoado.


Vegeta ergueu um punho fechado na direção de Bulma.


- Foi o teu filho que interagiu com aquela intrometida. Kuso!


Ela apagou o cigarro num caco do que fora a sua chávena de café. O punho dirigiu-se, de seguida, a Son Gohan.


- E tu não nos tinhas acabado de dizer que aquela intrometida nunca mais nos iria procurar?


- Assim julgava eu. Disse-lhe que ficava em perigo se o fizesse.


- Maldita! Vou matá-la!


Os ocupantes de outra mesa observavam a cena interessados.


- Vegeta, não vais fazer nada disso – avisou Bulma séria.


- E quem é que me vai impedir?


- Eu! – Berrou.


Se ainda não tinham alertado a esplanada inteira para o que estava a suceder, acabavam de o fazer com o berro de Bulma. O empregado espreitou desde a porta do café, viu os copos e as chávenas partidos, regressou ao interior para ir buscar uma vassoura e uma pá para limpar aquela desordem.


- Mas por que estúpida razão estás a defender a intrometida?


- E por que estúpida razão queres matá-la? Se ela interagiu com Trunks, o mal já está feito e matá-la não vai resolver nada.


- E por que é que não regressamos à Dimensão Z? – Perguntou Yamucha ainda atordoado.


- Mais uns segundos – disse número 18 naquela maneira característica que usava para falar e que, naquela ocasião, assumiu um tom sinistro.


Vegeta fechou as mãos para controlar a raiva.


Nisto, alguém surgiu ao pé do príncipe, deslocando uma enorme porção de ar quente. Kuririn, Yamucha e Bulma disseram ao mesmo tempo:


- Goku!


Gohan gaguejou:


- O-otousan?


Goku baixou devagar o braço, afastando da fronte os dois dedos que utilizava naquela técnica. Shunkan Idou. Estava sério. Vegeta crispou o rosto.


Uma mulher gritou assustada:


- Viram aquilo? Aquele homem apareceu ali de repente!


Bulma ouviu o comentário da mulher. Admoestou-o:


- Son-kun, não sabes que não podes utilizar essa técnica no meio da rua da Dimensão Real?


- Bulma-san, isso agora já não importa – respondeu. – Em breve vamos embora. Quando regressarmos à Dimensão Z, será como utilizar a Shunkan Idou e aposto que será ainda mais estranho para todas estas pessoas verem-nos desaparecer desta rua, ao mesmo tempo, num abrir e fechar de olhos.


A seguir, voltou-se para os outros, perguntando:


- Não sentiram o estalido na alma? A Porta dos Mundos abriu-se e, em breve, estaremos outra vez em casa.


Encarou Vegeta.


- Aconteceu com Trunks. Interagir…


- Hai.


- Vim buscar-te para irmos ter com ele, para saber o que foi que aconteceu.


Kuririn perguntou, levantando-se finalmente da cadeira:


- Se vamos voltar, quando é que vamos voltar?


O empregado aparecia munido de uma vassoura e de uma pá, dizendo que não se preocupassem, que estava tudo bem, que era normal os acidentes acontecerem.


Goku encolheu os ombros, respondendo assim a Kuririn, ignorando o empregado que começou a varrer os cacos e os pedaços de vidro juntando-os num montinho.


Assim que Goku descontraiu os braços, a cara torceu-se com um mal-estar que lhe subiu do estômago para a garganta. Sentiu uma náusea. Fechou os olhos. Levou as mãos à boca para suster os vómitos, sentiu a roupa colar-se ao corpo que se encharcara de suor, de um momento para o outro.


O chão fugiu-lhe dos pés, dissolvia-se em areias movediças. Sentiu a casca pesada a quebrar-se e a desfazer-se. Estavam a ser levados por um remoinho que transformou tudo em redor numa escuridão baça e impenetrável.


Regressavam… Ele e todos aqueles que, ao longo da sua vida, estiveram ou que ainda estavam ligados a ele. Foi capaz de escutar as vozes aflitas dos seus amigos, não apenas daqueles que estavam ali com ele, naquela rua, mas todos os outros que se espalhavam pela Dimensão Real. Um coro de gritos que o ensurdeceu. Tapou os ouvidos, encolhendo-se com as dores que experimentava e afligiu-se com os amigos que estavam também a sofrer, como ele sofria, e não queria que sofressem, só porque eram seus amigos. Rangeu os dentes, recordando-se do feiticeiro. Haveria de fazê-lo pagar por todo aquele sofrimento.


A viagem foi breve, assim como a primeira viagem o tinha sido. Uma passagem por um canal escuro e estreito que lhes filtrou os corpos. Ganharam leveza, os contornos familiares, os poderes aumentando, a energia renovando-se. Foi recebido pelo calor, pelo aroma inconfundível da natureza exuberante de um final de primavera a entrar no verão, pelo cantar dos pássaros, pela frescura de um solo relvado. Abriu os olhos. Viu árvores, céu azul, nuvens como algodão. Kuririn exclamou:


- Estamos na Dimensão Z!


Bra e Pan abraçaram-se a rir, saltavam, gritavam de alegria. Maron começou a saltar com as duas crianças, dando largas à sua alegria. Videl sorria, de mãos postas, como se agradecesse a bênção numa prece. Número 18 permanecia séria, mas com o rosto menos tenso. Yamucha olhava para todos os lados, para se certificar que realmente tinha regressado, que não era uma alucinação. Kuririn e Gohan entreolharam-se, acenaram com a cabeça, confirmando o regresso. Bulma tentava esconder a sua alegria, pois Vegeta continuava irritado.


- Porque é que estamos no campo? – Perguntou Videl.


- Deve ser o equivalente àquela rua onde estávamos na Dimensão Real – respondeu Bulma, olhando em volta. Apontou para o horizonte e disse: – Olhem! Estão ver, ali em baixo? Estamos perto de West City.


Vegeta aproximou-se.


- Kakaroto, não quero esperar mais. Quero ir imediatamente ter com Trunks.


- Hai.


Antes de se preparar para a Shunkan Idou, estremeceu com a surpresa e exclamou:


- Eh! Vegeta, a tua cara…!


- O que é que tem a minha…? E a tua!


Bulma olhou para os dois, Gohan também se acercou para verificar o que estava a acontecer. Todos os hematomas, arranhões e ferimentos tinham desaparecido. A viagem tinha curado as mazelas dos treinos e do último combate. Ao recuperarem a sua aparência normal, os tecidos tinham-se regenerado. Vegeta arrancou o penso da face direita.


- Ótimo! Sinto-me em plena forma.


Goku sorriu com Vegeta.


Por momentos, esqueceram-se que Zephir era agora um deus.


Gohan perguntou:


- ‘Tousan, depois de se encontrarem com Trunks, o que irão fazer a seguir?


- Não sei, Gohan. Depende do que Trunks tiver para nos contar. – Voltou-se para o príncipe. – Preparado, Vegeta?


Não obteve uma resposta falada. Quando sentiu que Vegeta lhe tocava nas costas, uniu os habituais dedos na testa e teletransportaram-se para onde sentia o ki de Trunks. O rapaz estava agitado, controlava o nível de energia e Goku percebeu que tinha acabado de lutar. O que era estranho, já que era suposto estar na Capsule Corporation, na sua casa, e, portanto, longe de inimigos.


Apareceu, juntamente com Vegeta, num quarto. A cama estava revirada, havia roupa espalhada, revistas empilhadas, uma cómoda partida, botões no chão, três pingas de sangue seco. Trunks encostava-se à parede boquiaberto, obviamente espantado por vê-los aparecer. Vegeta agarrou-o pela gola da t-shirt e sacudiu-o furioso.


- Estiveste com aquela intrometida! Maldito!! O que foi que fizeste com ela?


Goku cruzou os braços, olhou de relance para a cama desfeita.


- É evidente o que estiveram os dois a fazer, Vegeta.


- O que fizeste de diferente, que não fizeste com as outras? Responde-me!


Trunks gaguejou:


- Não sei… Não sei mesmo. Talvez por ter sido a primeira vez dela.


- Ela era virgem?


- Hum, pode fazer algum sentido. Os feiticeiros gostam desse tipo de coisas.


Os dois olharam para Goku ao mesmo tempo.


- Sangue para nos transportar para outra dimensão, sangue para nos trazer de volta.


Trunks refutou, tentando fazer passar as palavras pela garganta que o pai estrangulava ao agarrá-lo pela gola da t-shirt com ambas as mãos:


- Mas Zephir enfeitiçou o primeiro sangue… Com este, não fez nada.


- Hum… Foi só uma ideia.


- Interagir tem a ver… com outra coisa qualquer. Não pode ser isso.


Vegeta rugiu, colando o nariz ao nariz do filho.


- Dá-me um excelente motivo para não te matar agora mesmo.


O garrote apertou-se um pouco mais. Trunks sussurrou:


- A Ana veio connosco. Está aqui, na Dimensão Z.


A admiração fez Vegeta afrouxar as mãos. Trunks expirou ruidosamente. A cara de Goku apareceu no seu campo de visão.


- Masaka! Como é que sabes isso?


- Solta-me, ‘tousan. Assim, não consigo falar em condições.


Vegeta soltou-o com um safanão. Trunks endireitou-se, esfregando o pescoço. Respondeu à dúvida de Goku:


- Os kucris levaram-na, deste quarto, através de uma magia qualquer. O que significa que ela está, neste momento, nas mãos de Zephir.


- Como é que sabes isso?


- Lutei com esses bichos, depois de a ouvir gritar. Julgo que apanhei os que não conseguiram escapar. Os primeiros, raptaram a Ana. Se te concentrares, Goku-san, vais encontrar a aura dela, num lugar longínquo que corresponde ao Templo da Lua.


- Isso não faz sentido nenhum – refutou Vegeta. – Para que quer o feiticeiro uma rapariga da Dimensão Real?


- E se te concentrares nesse mesmo lugar – continuou, dividindo o olhar entre o pai e Goku –, vais descobrir que a aura de Zephir não sofreu qualquer alteração. Regressámos à Dimensão Z, mas o feiticeiro ainda não é um deus.


- Nani?! – Exclamou Vegeta.


Goku dispensou alguns segundos ao exercício de perceber o que se passava no templo onde residiam os seus inimigos. Concordou:


- Tens razão… A aura de Zephir parece estar igual.


- Dei-te uma razão válida, ‘tousan?


Vegeta tornou a agarrá-lo pela gola da t-shirt.


- Continuas no limite, rapaz. O mal que fizeste não foi desfeito. – Com o filho preso num braço, interpelou Goku. – E não acredito que a aura de Zephir tenha mudado quando se transformou num deus. E porque mudaria? Apenas está imortal e invencível, não aumentou o seu poder.


- Cá para mim, Trunks tem razão. Zephir ainda não é um deus.


A voz de Dende encheu o quarto, vibrando imperiosa:


- Goku-san! Preciso falar contigo com urgência… Trata-se de Zephir.


Os saiya-jin entreolharam-se. Sem soltar o filho, Vegeta tocou nas costas de Goku.


- Tens outra viagem a fazer, Kakaroto. Despacha-te!


- Hai!


Num ápice, encontraram-se no Palácio Celestial, diante do kami-sama. Goku cumprimentou-o com uma pequena vénia mas desta vez, ao contrário do que costumava fazer sempre que o via, o kami-sama não sorriu.


Goku descobriu o rapaz que estava atrás de Dende. Tinha uns olhos vivos, mas um rosto cerrado, que não combinava com os olhos. À primeira vista parecia da mesma idade de Trunks.


- E quem é este?


Dende respondeu:


- Chama-se Toynara. É o sacerdote do Templo da Lua que Ten Shin Han salvou.


- Ah!… Já ouvi falar dele… Yo, Toynara!


O rapaz nem pestanejou e Goku perdeu o sorriso. Viu-o aproximar-se, a andar como se levitasse. Deveria ser uma característica dos sacerdotes do Templo da Lua, pois Zephir também andava daquela maneira, pensou. Num silêncio respeitoso, Toynara dobrou-se numa profunda reverência.


- É uma honra conhecer o mais poderoso dos saiya-jin – disse.


Vegeta rosnou. Ainda segurava Trunks pela gola da t-shirt. Piccolo assistia curioso à cena. Toynara endireitou-se lentamente e encarou Goku que desatou a rir, algo corado e bastante atrapalhado com semelhante elogio.


- Ora… Não será assim tanto…


- Mas vós sois aquele que protege o nosso planeta, Son Goku. Assim está escrito na Sala Sagrada.


- Ahn?


Dende interveio antes de Vegeta desatar a sua ira sobre o sacerdote que lhes era tão precioso, naquele momento crítico.


- Goku-san, existem novidades sobre Zephir.


Toynara afastou-se e juntou-se a Mr. Popo.


- O rapaz é engraçado – observou Goku.


Vegeta perguntou impaciente:


- Que novidades existem sobre Zephir que poderão ser assim tão importantes, que nós não saibamos ainda? Para já, o feiticeiro transformou-se num deus, graças ao idiota do meu filho que não soube resistir aos seus instintos.


Trunks foi sacudido como se fosse um boneco.


- Ainda não, Vegeta-san – revelou Dende, apertando o bordão de madeira.


- Nani? – Admirou-se Goku.


Trunks sorriu, fechando os olhos, aliviado, até certo grau, por o seu raciocínio estar correto. O que desviava ligeiramente a raiva que o pai dirigia à Ana e a si próprio, apesar de continuar preso pela gola da t-shirt.


- Zephir ainda não é um deus – reforçou Dende. Explicou: – A nossa viagem até à Dimensão Real teve um propósito obscuro que me foi revelado recentemente por Toynara-san. Claro que Zephir pretendia afastar os guerreiros que protegem a Terra e o Universo. Mas o que ele pretendia, na realidade, era que um de nós interagisse com um deles. Apesar de nos ter deixado o aviso, o objetivo máximo de Zephir seria sempre esse: interagir!


- O idiota do meu filho continua a ajudar o feiticeiro – disse Vegeta, dando um safanão ao braço. Trunks abriu os olhos, não protestou.


- E o que queria ganhar Zephir à nossa custa?


- Ser um deus, Kakaroto! – Exclamou Vegeta como se fosse evidente.


- Não – corrigiu Dende. – O que Zephir ganhou à nossa custa foi… alguém da Dimensão Real.


- Nani? A Ana? – Exclamou Trunks.


- A intrometida? – Estranhou Vegeta.


- Para que quer o feiticeiro uma rapariga da Dimensão Real? – Indagou Goku confuso.


Dende continuou a explicar:


- Quando regressámos da Dimensão Real e dissemos a Toynara-san onde tínhamos estado, ele contou-nos algo muito interessante. Oiçam: na Sala Sagrada do Templo da Lua guarda-se um estranho objeto do qual ninguém deve conhecer a sua existência. Trata-se de um poderoso amuleto, o Medalhão de Mu, que transforma num deus aquele que o usar num altar mágico. Mas existem dois problemas. Primeiro, o Medalhão de Mu encontra-se partido ao meio e aquilo que existe na Sala Sagrada é apenas uma das metades. Segundo, ninguém poderá reunir as duas metades do Medalhão de Mu sob pena de ser desintegrado, a não ser alguém da Dimensão Real.


Aquele relato era assombroso e dava-lhes esperança. Goku traduziu o que acabara de ouvir, pronunciando as palavras devagar:


- Quer dizer então que Zephir enviou-nos para a Dimensão Real para que trouxéssemos alguém dessa dimensão, para que pudesse reunir as duas metades do Medalhão de Mu e usá-las num altar mágico para se transformar num deus?


- Hai, Goku-san.


- Quer dizer que… ele ainda não é um deus?


- Vês, ‘tousan? Já me podes soltar – disse Trunks.


- Calma, que ainda não terminou. – Vegeta disse para Dende: – Zephir ainda não é um deus, mas está numa excelente posição para alcançar o que pretende. Tem uma das metades do medalhão, tem a rapariga da Dimensão Real. Continua em vantagem sobre nós.


- Hai, Vegeta-san. Foi por isso que vos chamei. É necessário que sigam imediatamente para o Templo da Lua para resgatar a rapariga da Dimensão Real. Ela está ligada ao teu filho, aproveitemos isso. Se esperarmos demasiado, Zephir poderá lançar-lhe um feitiço. Não a podemos perder para o lado do feiticeiro.


Piccolo disse:


- Vou convosco.


Vegeta soltou finalmente o filho, abrindo os dedos, largando a gola da t-shirt. Goku inclinou a cabeça num aceno positivo.


- Hai. Estamos preparados, kami-sama.


- Vamos com a Shunkan Idou?


- Claro, Vegeta. Nesta fase, precisamos surpreender o feiticeiro. Ele não estará à espera de uma reação tão rápida.


Concentrou-se assim que se calou. Procurou pela aura de Zephir. Vegeta tocou-lhe nas costas, Piccolo no braço, Trunks agarrou-se ao pai. Goku uniu os dois dedos à testa. A mente viajou até ao recinto do Templo da Lua, onde encontrou diversas auras. Rematou, numa voz grave:


- Talvez não nos seja muito difícil resgatar a rapariga. Keilo não está no templo.


Silêncio. O desejo de Dende ecoou nos seus ouvidos enquanto sentia o efeito peculiar daquela técnica que lhe conferia a habilidade de viajar à velocidade da luz:


- Boa sorte.


E os guerreiros deixaram o Palácio Celestial.





6. Fim da espera



Os últimos vestígios de flora desapareceram, engolida na tremenda explosão que a atingiu. Onde antes crescia um bosque viçoso debruçado sobre o mar, existia agora uma paisagem desoladora, um deserto pedregoso e fumegante.


Keilo baixou os braços. Desde o alto, observou com orgulho o resultado do ataque. A sua energia vital destruíra a pequena ilha. Voou alguns metros e passou para a ilha seguinte.


Treinava-se, melhorava as suas capacidades, apesar de ter consciência que não tinha rival naquele planeta, ou mesmo no Universo. Desceu vagarosamente, os pés assentaram mansamente na erva da segunda ilha. Descerrou as pálpebras, focou o ki. Preparou-se e quando se achou preparado, começou. O corpo movimentou-se graciosamente em inúmeros golpes que rasgaram o ar. Socos, pontapés, socos.


Presentemente, não tinha rival, mas tinha adversários que urgia eliminar.


- Kakaroto!


E lançou um soco.


- Vegeta!


E lançou um pontapé.


Nunca pensou que Kakaroto e Vegeta fossem tão fortes como o demonstraram ser naquele primeiro embate. Adquirira todo o seu conhecimento sobre eles através de Zephir e não se podia dizer que o feiticeiro conhecia os dois saiya-jin da Terra detalhadamente.


Passou uma mão pela testa, sentiu o “M” que aí tinha cravado. Não era coisa que apreciasse, estar debaixo das ordens de alguém. No entanto, Zephir ordenava e ele obedecia. Fora criado pelo feiticeiro, um pensamento que o confundia e não se demorava nesse pensamento esquisito.


Era alguém com objetivos simples: destruir, eliminar, matar. Quando chegasse a altura, haveria de se livrar da competição tão facilmente como tinha destruído a ilha. Iria derrotar os dois últimos saiya-jin e proclamar-se-ia, ao mesmo tempo, no guerreiro mais poderoso do Universo. A seguir, seria a vez do feiticeiro.


O mundo escureceu. Volveu os olhos para o céu, que continuava brilhante e azul, o sol vivo e a espalhar calor. Mas o certo era que o mundo tinha escurecido, sem que o sol tivesse deixado de brilhar. Sentiu todos os músculos arrepanharem-se com aquela sensação, que durara um segundo, ou talvez menos.


Os guerreiros regressavam ao planeta.


Murmurou:


- Kakaroto… Vegeta…


Os treinos terminavam. O combate para o qual se tinha preparado durante aqueles longos e solitários nove dias iria por fim acontecer. Elevou-se no ar e dirigiu-se a toda velocidade para o Templo da Lua.





7. Resgate



Se dissesse que não tinha ficado ligeiramente desiludido, mentia. Zephir nunca julgara que a pessoa que viesse da Dimensão Real fosse uma vulgar rapariga. Contemplou-a com a minúcia de quem observa uma obra de arte, decorando-lhe os pormenores, a habituar-se à ideia de que, apesar de ser uma vulgar rapariga, seria ela quem lhe daria a glória e o triunfo eternos.


A rapariga estava inconsciente, suspensa no ar, envolvida numa teia prateada que descia do teto até ao chão, construída pela sua magia, numa das muitas câmaras sombrias dos subterrâneos do templo. A cabeça pendia entre os ombros, tinha os braços levantados, as pernas ligeiramente afastadas.


Zephir ergueu um braço. A mão esquelética percorreu o espaço diante dela, acariciando o ar. Analisava-a, enquanto se debatia com um dilema. Iria despertar a prisioneira ou não? Talvez não… A rapariga estava ligada a Son Goku e aos seus amigos, interagira com um deles, ser-lhes-ia leal, haveria de combatê-lo, de lhe frustrar os desejos. Semicerrou os olhos.


- Hum!… Devo ter cuidado com esta rapariguinha. Não posso permitir que se volte contra mim. Tenho de pensar num feitiço para que me obedeça cegamente… Preciso do Makai. Quero ver-te, minha linda, com um M nessa bonita testa e assim já não haverá dúvidas a quem deves lealdade.


A dúvida de conseguir enfeitiçar um ser da Dimensão Real fê-lo baixar o braço com um estremeção. Não tinha a certeza se a sua magia atuaria nela, por isso, o mais ajuizado seria não correr riscos e mantê-la a dormir, enrolada na teia prateada, até chegar o momento de utilizar o Medalhão de Mu.


Não conseguia desviar o olhar da rapariga, contudo. Intrigava-o o que significava interagir e sabia que ela tinha a resposta. Aproximou-se, fazendo-se acompanhar dos espíritos da magia. E então, descobriu.


O seu rosto pálido ganhou alguma cor, quando sorriu, deslumbrado por ter deslindado o mistério. E a solução era tão simples! Zephir presenciava naquela rapariga a união entre duas dimensões, entre dois mundos. Do grande se faz pequeno… Do pequeno se faz grande… A junção de duas células, minúsculas partículas do Universo. A comunhão de dois lugares distintos, unidos pelo acaso do destino, num ser que começava timidamente a existir e que haveria de vingar e de crescer.


Isso era interagir. Dentro dela, palpitava uma nova vida.


- Sensei?


A voz de Julep acordou-o para a realidade. Encarou o demónio, com altivez, sepultando as emoções na tumba fria que era o seu coração, exibindo a pose imaculada do Sumo-sacerdote do templo. Kumis juntou-se ao irmão. Os dois fizeram uma vénia.


- Chamaste-nos, sensei?


- Hai.


Os kucris saltitavam pelos subterrâneos, nos seus roncos surdos, a preencher cada canto do Templo da Lua com a sua medonha presença. Entravam e logo saíam daquela câmara. O feiticeiro não se incomodava por tê-los perto. O mesmo não se podia dizer de Julep, que rosnou quando um dos kucris lhe roçou as pernas.


- Onde está Keilo?


- Foi treinar-se – respondeu Julep.


O demónio reparou na teia e, inevitavelmente, na rapariga.


- Sentes curiosidade em relação a ela?


- Sinto. – Sorriu com maldade. – Gostaria de saber se sangra como nós.


- Claro que sangra. Mas não a poderás fazer sangrar, a não ser que eu to ordene.


- Terá medo de mim?


- Muito provavelmente.


- Se ela está aqui, significa que Son Goku voltou.


A câmara encheu-se. A luz das tochas penduradas na parede tremeu.


- Hai, voltei.


Se ficou surpreendido, o feiticeiro não o demonstrou. Encarou Goku com naturalidade, com um laivo de superioridade e de uma incomensurável indiferença. Julep girou sobre os calcanhares e encontrou-os. Goku, acompanhado de Vegeta, de Trunks e de Piccolo. Kumis não quis voltar-se. Cruzou os braços, baixou a cabeça e sorriu, aguçando os sentidos para sentir-lhes os movimentos.


- O que é que fazes aqui? – Perguntou Julep.


- Venho acabar o que comecei. – Goku olhou para o feiticeiro. – Disse-te que voltava, Zephir. Disse-te que a vitória seria sempre minha e nunca tua. Venho cumprir o que disse.


Trunks descobriu o que se escondia no meio das sombras, num emaranhado prateado.


- Ana!


Vegeta agarrou-lhe num braço.


- Não te precipites – avisou-o.


Zephir respondeu:


- A tua confiança diverte-me, Son Goku.


Goku sorriu:


- Conhecemos o que pretendes. E estou aqui para impedir-te que prossigas com os teus planos. Viemos buscar a rapariga da Dimensão Real.


- E julgas que vou abrir mão dela, assim tão facilmente? – E soltou uma gargalhada


Piccolo virava-se para a entrada da câmara, a vigiar a retaguarda. Os kucris juntavam-se aos magotes nos corredores, guinchando. Preparavam um ataque.


Zephir indicou a teia prateada, a manga do hábito cinzento ondulou fantasmagoricamente.


- Se dizes que conheces os meus planos, então saberás o que pretendo fazer com ela… Mas ela é minha, Son Goku. Minha! E ninguém ma vai tirar.


- Isso é o que vamos ver! – Berrou Trunks e avançou um passo.


Vegeta barrou-lhe o caminho.


- Fica quieto!


Zephir reparou em Trunks. Lembrou-se do que tinha descoberto sobre interagir, percebeu que tinha sido o rapaz saiya-jin que o fizera. Mais um ponto fraco revelado.


- Os kucris estão a aproximar-se – anunciou Piccolo, a observar os bichos negros que entupiam a saída e as galerias.


Zephir completou:


- Para levares a rapariga, terás de passar pelos meus guerreiros, Son Goku. E depois, por mim.


- Os teus guerreiros não me assustam.


A voz de Goku vibrou na câmara.


Caiu o silêncio, assentando devagar como um cobertor pesado, preenchendo todos os cantos, espaços e buracos. Chegava a ser sufocante, juntamente com o calor que se sentia nos subterrâneos. O feiticeiro escondeu as mãos nas mangas largas e fixou os olhos terríveis e profundos no seu maior inimigo. Goku arrepiou-se ao escutar um uivo que vinha das profundezas das rochas que forravam as paredes daquele lugar.


Os demónios estavam parados, aguardavam a ordem. Julep voltava-se para eles, Kumis de costas, a inflar-se de energia.


Vegeta fartou-se.


- Kuso! Do que é que estamos à espera?


E investiu contra Julep como se fosse um aríete, esmagando-o contra uma parede. O demónio grunhiu, não esperava o ataque. Goku disse para Trunks:


- Vai buscar a rapariga. Rápido!


- Hai!


Piccolo arremessava a sua pesada capa contra três kucris mais audazes que se tinham lançado contra ele. Vegeta pontapeou Julep, desfazendo a parede, abrindo um rombo por onde desapareceram. Goku ergueu um braço, dirigia um disparo para Zephir, mas a mão de Kumis, que subitamente entrava na contenda, susteve-o.


- Tu vais ver-te comigo!


Goku sorriu.


- Muito bem, se assim o queres.


Defendeu os primeiros golpes do demónio. Um punho de Kumis entrou pela parede adentro, fazendo saltar rocha e poeira. Goku esgueirou-se pelo rombo por onde tinham saído Vegeta e Julep e o demónio seguiu-o.


Piccolo desfez os três kucris com um raio certeiro.


Instintivamente, Trunks transformou-se em super saiya-jin. A câmara tremeu com o seu poder. Ficou frente ao feiticeiro que continuava imóvel, imperturbável, assistindo aos confrontos como se não estivesse a ver nada, como se dormisse de olhos abertos.


Uma explosão abanou os subterrâneos. Piccolo envolvia-se numa luta renhida com os kucris, evitando que os bichos entrassem na câmara, protegendo a eventual via de fuga.


Trunks enfrentava Zephir sozinho. Cerrou os dentes, sentiu o pulsar do sangue na testa. Aquele ente maligno já o tinha comandado uma vez e odiava-o por esse facto que o envergonhava. O feiticeiro não se mexia e a sua apatia era assustadora, era como se ali não estivesse um ser vivo, mas um espírito informe do Outro Mundo vestindo aquele hábito cinzento.


Atrás do feiticeiro estava o emaranhado de fios brancos e brilhantes e, no meio dos fios, a Ana, sem sentidos, indefesa, alheia ao perigo que corria. Trunks não podia falhar. Concentrou-se, envolveu-se pela luz da sua própria energia, a câmara voltou a tremer. E depois, atacou.


- Estava a tentar recordar-me de ti… Agora, já sei quem tu és.


A voz monótona de Zephir fê-lo travar o ataque.


- Tu já foste meu, saiya-jin.


Um arrepio gelado desceu-lhe pela espinha.


- Foste tu que me deste o sangue de amizade.


Enfureceu-se, fechou o punho, as faíscas saltaram entre os dedos fechados.


- E deste-me também a rapariga da Dimensão Real. Foste tu que interagiste com ela. A tua ajuda tem sido preciosa e julgo que te devo um agradecimento pelos teus préstimos.


- Cala-te!


Piccolo gritou, desfazendo um bando de kucris com um raio amarelo que lhe saiu de ambas as mãos.


O feiticeiro sorriu.


- Se já foste meu… poderás voltar a sê-lo.


- Não irei cair novamente nas tuas estúpidas armadilhas.


- Veremos!


Com um gesto brusco, Zephir ergueu os dois braços. Trunks recuou um passo. Um tremor de terra sacudia tudo em redor, lançando pó e fazendo chover pequenas pedras, caídas do teto rochoso que se fendia. Aquela câmara estava a ficar demasiado instável e ameaçava desmoronar-se. Não podia perder mais tempo. Utilizaria a supervelocidade para salvá-la. Antes de o feiticeiro perceber o que tinha acontecido, já ele estaria no exterior, com a Ana nos braços.


Uma gargalhada de Zephir deixou-o estarrecido. Esfregou os olhos, para assegurar-se que estava a ver bem. Em vez de uma teia prateada com uma Ana, havia milhares de teias prateadas com milhares de Anas. A câmara tinha ganho abruptamente uma fundura incrível e perdia-se na escuridão. As paredes rochosas estavam forradas de teias com Anas. O feiticeiro desaparecera, entretanto, mas a sua voz continuava ali.


- E agora, saiya-jin? Qual delas é a rapariga verdadeira?


Arquejou, perplexo, sem saber o que fazer a seguir, se correr, se andar. Correr para a primeira teia e descobrir à bruta qual era a verdadeira ou andar pelo meio destas e escolher com paciência a que correspondia à teia certa.


- O tempo esgota-se, saiya-jin. E quando o tempo se esgotar, vou-me embora e levo a rapariga comigo.


- Mas… eu não sei…


Sentiu os braços apertados entre duas mãos fortes que o abanaram, fazendo chocalhar o cérebro dentro da cabeça. Sentiu a boca rebentar-se com um soco, o sangue entre os dentes. Teve a sensação esquisita de regressar de muito longe, colar uma cópia transparente, feita de acetato, ao corpo que estava naquela câmara dos subterrâneos do Templo da Lua. Ouviu o berro de Piccolo nos ouvidos:


- Desperta, baka! Não te deixes enfeitiçar!


Empurrou furioso o namekusei-jin.


- Eu não estou enfeitiçado.


- Estás a cair no jogo do feiticeiro e dizes-me que não estás enfeitiçado?


Piccolo apanhou-lhe o queixo, apertou-o entre a manápula verde, sentiu as unhas compridas a arranharem-lhe a cara.


- O que é que estás a ver ali? Diz-me!


Trunks respondeu entre dentes:


- A teia com a rapariga da Dim…


- Quantas teias? – Cortou Piccolo.


Relutante, respondeu:


- Muitas… Demasiadas.


- Esse é o jogo do feiticeiro. Não o jogues… Mantém a mente lúcida.


Soltou-lhe o queixo, Piccolo voltou-se novamente para a entrada da câmara onde mais kucris se juntavam, enlouquecidos e ameaçadores, grunhindo antes de se agruparem em pequenos bandos para atacarem.


Trunks estava ofegante. As teias eram aos milhares.


- Procura pela aura dela. De certeza que a conseguirás encontrar.


- Hai.


Limpou o fio de sangue dos lábios, fixando a ilusão, decidido a quebrá-la.


As gargalhadas de Zephir reverberavam pela câmara, sobrepondo-se numa cascata insuportável, crescendo de tom, ondulando como se fossem uma maré de gargalhadas. Trunks concentrava-se, procurava pela alma dela. Alcançá-la… Tocá-la… Ela estava perto, sempre o estivera.


Zephir reapareceu. Não apenas num canto obscuro, mas em todos os cantos. Milhares de feiticeiros, como os milhares de teias, como os milhares de Anas. Trunks não se deixou envolver no feitiço. Utilizou a sensação de há pouco de se ter unido a si próprio. Descolou o acetato, enviou-o como escudo, entregou-o aos espíritos famintos que o feiticeiro comandava e que o raptavam da realidade.


Com um salto e um grito impregnados de raiva, estendeu os braços, alcançou uma teia prateada. As mãos agarraram num corpo, sólido, morno. Um corpo que conhecia bem, as curvas, os pequenos segredos. Fora apenas uma vez, mas depois dessa vez era como se a tivesse conhecido desde sempre.


Olhou para baixo, para o que segurava entre os braços. Encontrou o rosto adormecido dela. No ar que os rodeava havia uma chuva prateada, a teia mágica que quebrara.


A escuridão entremeada pela luz trémula das tochas regressou à câmara. As outras teias e as outras Anas e os outros feiticeiros desfizeram-se em rolos de fumo cinzento. Trunks apertou a Ana contra ele.


- Piccolo-san. Já a tenho!


Piccolo exibiu os dentes, num esgar.


- Ótimo! Leva-a para o Palácio Celestial e depois volta para cá.


- Tenho de voltar? Deveria ficar com ela e protegê-la. O feiticeiro quererá recuperá-la.


- Escuta, miúdo. Vais ser mais útil aqui, acredita. Son e Vegeta estão a lutar contra os dois demónios, eu estou entretido em fritar estes bichos irritantes, mas o saiya-jin de Zephir aproxima-se rapidamente. E quando Keilo aparecer, vamos precisar de toda a ajuda possível.


Focou a sua atenção nas sombras dos corredores. Mais kucris estavam a chegar.


- Vai depressa para voltares depressa. Talvez consigamos resolver este assunto ainda hoje.


Trunks acenou que sim com a cabeça.


Com o corpo inanimado da Ana entre os braços, saiu daquele lugar que detestava com a intenção de voltar.





8. O segredo dos demónios



Não havia muita claridade nos subterrâneos do Templo da Lua e a pouca que havia enganava o menos avisado. As sombras eram esquivas e irreais, ocultavam medos e coisas tenebrosas que assustavam qualquer guerreiro empedernido.


Vegeta estacou. Só os olhos se moviam. Aguardou calado, analisando as sombras que troçavam dele. Disparou um raio azul que falhou o alvo. O demónio apareceu após a explosão.


- Segue-me, saiya-jin.


Julep desapareceu numa esquina. Contrariado, Vegeta seguiu-o. Aquela perseguição pelos subterrâneos estava a enervá-lo. No início, tinham trocado alguns golpes, mas era evidente que o demónio fugia dele. Tinha-se apercebido da diferença de poder e receava-o. O que era mais do que ajuizado, pensava Vegeta impaciente. Assim que apanhasse o demónio iria matá-lo sem contemplações. Precisava matar alguém naquele dia.


Chegou a um santuário. Era uma sala ampla e escura onde brilhavam milhentas velas em nichos escavados nas paredes. Junto ao teto via-se uma cintura de orifícios redondos por onde passava a luz do dia, que não chegava a ser suficiente para cortar a penumbra. Num dos extremos situava-se um altar de pedra e, por cima do altar, um enorme disco de mármore branco com estranhas inscrições.


Vegeta encarou Julep. Sorria-lhe, o imbecil, de punhos assentes nas ancas, como se troçasse dele, como se pudesse sequer troçar dele. A energia que lia no demónio era ridícula. Derrotá-lo seria uma brincadeira. Fez um movimento, rodando ligeiramente o corpo e Vegeta avisou-o:


- Lutamos aqui.


Julep arqueou um sobrolho.


- Estás na minha casa. Eu digo onde iremos combater. Vamos lá para fora.


- Obriga-me a ir lá para fora.


Vegeta transformou-se em super saiya-jin. Não iria simplesmente matar o demónio, iria pulverizá-lo. Tinha estado reprimido durante demasiado tempo, nove meses na Dimensão Real, aqueles minutos em que tinha regressado à Dimensão Z da pior maneira possível. Era uma necessidade quase vital descarregar a tensão acumulada.


Julep apertou os dentes. Com um berro, inflou os músculos de força, o torso dobrou o tamanho. Investiu com sanha, mas a investida era ridícula para um super saiya-jin e Vegeta sorriu. Sem apagar o sorriso enviesado, esquivou todos os golpes.


Viu a falha clamorosa no ataque, desfechou um potente murro, Julep caiu para trás. Tentou levantar-se imediatamente, para recuperar a posição atacante, o sangue escorria do canto da boca, mas Vegeta não ia desperdiçar a ocasião. Não lhe deu tempo, não haveria de dar nada àquele maldito demónio. Esticou o braço, uniu os dedos da mão e gritou:


- Big Bang Attack!!!


A descarga de energia rebentou no sítio onde Julep se contorcia, ainda a tentar levantar-se. O choque da explosão sacudiu os alicerces do santuário, rachou as paredes, um pedaço do teto abateu e um raio de luz branca entrou naquela sala mórbida. A maior parte das velas caíram dos nichos e apagaram-se, o altar fendeu-se e o disco de mármore partiu-se aos bocados.


O fumo e a poeira assentaram. Vegeta recolheu o braço, apertou os punhos, lançando um olhar severo ao adversário. Julep estremeceu, moribundo. Tinha múltiplas feridas, o sangue misturava-se com as queimaduras.


- Acabemos com isto – disse o príncipe num tom áspero.


Atingiu o demónio com uma segunda descarga de energia, mais controlada. Julep estrebuchou, em convulsões, até que se quedou inerte.


Vegeta fungou, cuspiu para o lado. Fora demasiado fácil e não entendia por que razão Trunks, ou Son Goten, não tinham acabado com os demónios na primeira vez que ali tinham estado. Malditos rapazes universitários, que não estavam em forma e que apreciavam alongar demasiado o prazer do combate. Dirigiu o olhar para o buraco que se abrira no teto, detetando a aura de Kakaroto que combatia com o outro demónio.


No entanto, deteve o salto. Havia movimento atrás de si, um resfolegar. Virou-se e a surpresa atordoou-o. Recuou um passo, fincando os pés, numa posição defensiva.


- Nani?! MaMasaka!


Julep sorria-lhe, sem qualquer marca dos ferimentos. Contou-lhe a verdade, saboreando cada palavra:


- Não sabias, saiya-jin? Eu e o meu irmão temos um segredo. Somos imortais.


Apagou o sorriso, o rosto pálido tornou-se rígido e frio, como pedra polida.


- Vais pagar o que me fizeste.


Foi a vez de Vegeta sorrir, enquanto tentava, furiosamente, encontrar uma solução, a melhor estratégia para matar um ser imortal. Atirou, cheio de bravata:


- Estás a combater contra um super saiya-jin.


- Super saiya-jin, estás a lutar contra um demónio imortal.


- Se for preciso matar-te cem vezes… – Criou na mão aberta, voltada para cima, uma esfera azul. – Matar-te-ei cem vezes!


- Cem vezes não são suficientes… super saiya-jin!


Vegeta atacou, enviando a esfera azul.


O santuário tremeu. E o combate recomeçou.





9. Resumindo as rivalidades



Kumis esquivara-se dele pelas passagens infindáveis e escuras dos subterrâneos do Templo da Lua. Goku seguira-o, não o atacara. Paciente, deixara-o escolher o local que mais lhe conviesse para lutar. Uma pequena concessão, pois o combate iria ser desigual, pressentira, pois as forças não eram comparáveis e haveria de derrotar o demónio sem qualquer dificuldade.


Subiram, a voar, o poço de uma escadaria estreita e alcançaram um pátio construído em pedra negra que precedia o edifício principal. Passaram o muro que rodeava o recinto. Então, o demónio dera-se por satisfeito e parara, suspenso no vazio por cima do lago.


O som abafado de uma explosão sacudiu um santuário que se encostava ao edifício principal. Um pedaço enorme do telhado ruiu, esventrando a estrutura, as paredes encheram-se de fendas. Pela energia libertada, Goku percebeu que fora Vegeta, percebeu que estava transformado em super saiya-jin e percebeu também que Julep tinha ficado em muito mau estado, pois o seu ki diminuía rapidamente.


Olhou para Kumis. Mostrava-se confiante, provocante, exibia músculos grandes, mas era tudo insuficiente se ele se transformasse em super saiya-jin, como Vegeta. Disse:


- Antes de começarmos, quero dizer-te que não estás à minha altura.


Kumis riu-se.


- O combate ainda não começou. Guarda os teus juízos para depois dos primeiros golpes, Son Goku.


- Tens a certeza que queres lutar comigo?


- Porquê? Estás com medo?


- Não quero que tenhas surpresas desagradáveis.


- Sou o teu inimigo, Son Goku. Sou um dos guerreiros de Zephir. Não me queres destruir?


- Zephir é o meu inimigo.


- Vamos… Não te acanhes comigo, Son Goku. Mostra-me o poder imenso de um super saiya-jin. Até poderá acontecer que sejas tu a ter surpresas desagradáveis.


- Acho que não…


A petulância do demónio desconcertou-o. Havia ali jogo escondido, pensou.


Guiado pelo seu instinto e acedendo ao que lhe era solicitado, Goku transformou-se em super saiya-jin.


O primeiro ataque coube a Kumis. O punho do demónio rasou a face esquerda de Goku, que apenas teve de fazer um ligeiro movimento, inclinando a cabeça, para escapar desse punho. Aproveitou o mesmo movimento, levantou o joelho e atingiu Kumis no abdómen, que se dobrou para a frente, cuspindo saliva.


- Disse-te que não estavas à minha altura.


E despachou-o com um murro que fez o demónio afundar-se no lago. A água saltou com violência, criando ondas enormes que desfizeram as margens. Um espírito familiar passou atrás dele. Voltou instantaneamente a cabeça e reconheceu-o. Afastava-se rapidamente a voar para ocidente, levava alguém nos braços. Era Trunks. Tinham conseguido o que queriam, a rapariga da Dimensão Real e assim, o que tinham ido ali fazer estava feito e já se podiam ir embora. Piccolo combatia nas entranhas do templo e Vegeta tinha acabado de eliminar o outro demónio. O seu demónio jazia no fundo do lago, que se agitava em remoinhos. Preparou-se para dar um sinal aos amigos, para abandonarem o local, mas travou o gesto.


A água do lago espirrou para todos os lados, como um tsunami devastador. Goku apenas teve tempo para cruzar os braços diante da cara e aparar o soco de Kumis. Não conseguiu aparar o pontapé que lhe esmagou as costelas. Gritou com a dor, rodopiando pelo ar. Recuperou o equilíbrio. Concentrou energia, sentiu o corpo estremecer com o ki gigantesco.


Kumis esticou os dois braços e das mãos abertas saíram inúmeros raios amarelos. Goku executou um bailado nos céus enquanto se esquivava dos raios, verificando, um por um, todos os pontos fracos do demónio. Utilizou a supervelocidade e apareceu diante do adversário, ameaçador, dentes apertados, olhar duro. O demónio, ofegante, defendeu um soco, dois, mas levou com o terceiro. Goku afastou-se às arrecuas, unindo as mãos à frente, levando-as atrás, gritando:


- Ka-me-ha-me


Kumis olhava para ele confuso e irritado.


Disparou:


- Ha!!!!!!


A onda brilhante e azul sibilou pelos ares. Em pânico, o demónio esbugalhou os olhos, levantou os braços. Goku observou os esforços patéticos para deter a Kamehame, mas a defesa estava definitivamente anulada. A onda azul engoliu o demónio na sua luz, derrubou-o. Desta feita, Kumis estatelou-se nas margens encharcadas do lago, junto aos muros do templo.


O troar de um rebentamento fez Goku voltar a cabeça para o complexo. Vegeta, outra vez… Achou estranho. Quase que jurava ter sentido a aura de Julep fenecer até a um perigoso mínimo, mas Vegeta continuava a lutar com Julep, que se apresentava com a energia renovada.


Aterrou junto ao corpo massacrado de Kumis.


- Vais pagar-me… esta afronta… Son Goku – balbuciou o demónio, com os dentes tisnados de sangue.


Não se deixou impressionar. A energia de Kumis escoava-se, desaparecia, chegava ao mínimo. Não quis rematá-lo, não viu necessidade, Kumis estava derrotado. Voltou-lhe as costas.


Mas Kumis levantou-se, rugindo, apoiado nas pernas bambas. Concentrou o ki num único ponto do corpo, na mão direita. Preparava uma resposta, utilizando as derradeiras reservas de energia para atacar, mesmo que essa escolha implicasse drenar as forças que o mantinham vivo, mesmo que o ataque fosse tão ridículo que significaria nada mais que uma carícia para um super saiya-jin. Goku não o deixou concluir o ataque desesperado. Atravessou-o com um tiro de energia branca e faiscante.


O demónio dobrou-se com um urro de raiva. Depois, silenciou-se e caiu pesado, sem vida, na terra escura. Goku expirou o ar que guardara nos pulmões. Voltou-se para o Templo da Lua. Piccolo continuava com os kucris, Vegeta com Julep. Trunks já tinha percorrido metade do caminho até ao bosque sagrado de Karin.


E Zephir escondia-se, num qualquer recanto dos subterrâneos, como um rato.


Deu três passos.


Uma voz gelou-lhe o sangue.


- O combate ainda não terminou, Son Goku.


Girou sobre os calcanhares. Exclamou incrédulo:


- Mas tu estavas morto!


Kumis soltou uma gargalhada demoníaca, que ressoou nos muros atrás deles. Não tinha qualquer vestígio da ferida mortal que lhe abrira o peito segundos antes, apenas o buraco nas vestes testemunhava o evento.


- Ainda não sabias, Son Goku? Sou imortal – revelou trocista.


Goku percebeu a razão do combate de Vegeta contra Julep ainda continuar, apesar das quantidades de energia que o príncipe utilizava. Olhou para o Templo da Lua apreensivo. As coisas não estavam a ser tão fáceis quanto julgara, havia truques e detalhes a ultrapassar. Amaldiçoou-se por se ter esquecido, nem que fosse por breves instantes, quando sentira que vencera, que lidava com magia.


Os ossos dos dedos de Kumis a estalar puxou-o de regresso à realidade. O rosto tornou-se duro.


- Continuamos o combate?


A dureza do rosto abriu-se num meio sorriso. Fez a terra tremer quando encheu os músculos de energia, criando faíscas. O convite estava feito. Kumis aceitou-o, sem hesitar.


Lutava com um ser imortal, não sabia o que fazer para superá-lo, mas o desafio excitou-o. Ninguém era imortal, nem mesmo Majin Bu o fora, muito menos aquele demónio. Haveria certamente uma maneira de acabar com ele para sempre.


Com um sorriso de satisfação, Kumis deu um toque na argola dourada que usava na orelha esquerda. O brinco tilintou. Goku investiu, punho em riste. Envolveram-se num combate corpo-a-corpo, os golpes ressoavam na atmosfera com estampidos surdos, vergando a vegetação à beira do lago, lançando vagas invisíveis de poder que varriam a paisagem até ao horizonte.


Nisto, Kumis afastou-se, voando. Goku foi no seu encalço, lançou um par de esferas luminosas que o demónio defendeu com duas palmadas. Parou, de repente, a pairar sobre o lago. Goku também parou. Viu-lhe os olhos hipnotizados.


- O que é que se passa?


Os olhos vermelhos do demónio recuperaram a fulgor diabólico.


- Mil perdões, Son Goku. – Fez-lhe uma vénia trocista. – Gostaria muito de continuar o nosso combate, mas terá de terminar. Continuaremos noutra ocasião.


- Nani? Porquê?


- Ordens do meu sensei. Devo cumprir uma tarefa urgente e não me devo demorar. O meu alvo já tem algumas milhas de vantagem.


- Do que é que estás a falar?


Uma fina capa cintilante de energia envolveu o demónio, antes de se impulsionar pelos céus, furando nuvens e o próprio ar. O coração de Goku deu um salto. Rumava para ocidente, pelo mesmo caminho que Trunks seguira, com a rapariga da Dimensão Real.


O maldito feiticeiro não perdia tempo.


Goku gritou:


- Volta aqui!


Umas mãos fortes agarraram-se às suas pernas. Puxaram-no para baixo com um safanão inesperado.


- Luta agora comigo.


A rasar as águas frias do lago, Goku levantou a cabeça para ver quem o atacava.


Era Keilo.

8 Janvier 2019 15:52 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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