Corpos em festa, ruas coloridas, música alta tocando em todos os cantos. Como alguém se atreve a ser triste?
Sim, é uma provocação!
Como alguém pode chorar em silêncio quando o país todo festeja por dias a folga?
Será que esse alguém é um país em particular e não está alinhado aos interesses desse grandão que dita todas as regras?
Que esse pobre poeta solitário está apenas pensando em tudo que ninguém pensa nesses dias todos?
Quem pensa também chora em silêncio. As lágrimas podem ser apenas simbólicas, uma vez que quando vertem pelo lado de dentro refletem-se naquele isolamento, o qual também é um jeito de ser notado, mas ninguém o faz, ninguém quer se aproximar.
Ele é muito diferente e a estranheza que isso causa é sem tamanho, irremediável. A caravana passa e o ignora. Amores breves nascem e morrem em um beijo. E ele ali. Uma peça fundamental. Observador em potencial, desatento demais para ser encontrado pelo amor.
Absteve-se de certezas porque não queria agarrar-se a nada que lhe fosse tirado com ira.
Ele ensimesmou-se após sucessivas decepções, tentou aprender a fugir das expectativas, embora elas sempre o perseguissem, trazendo aquela alegria que ele tanto queria resgatar, a alegria que essa festa não tem para ele porque as músicas que tocam não são suficientemente instigantes para uma dança mais aberta, sensual, convidativa. É apenas um incômodo barulho, um tom rosa demais para seu gosto.
O vermelho até que cai bem, é cor de sangue, de dor, conexão com o coração partido que ainda bate, inclemente, cumprindo um ritual sufocante de resistência.
Ele pensou que estivesse pronto para ser homem, para afirmar que nada o abateria, mas não é assim que interpreta a profundidade de seus versos, aqueles que alguns passam os olhos e desprezam, porque entendem que, se ele não é famoso, de nada vale ser autor.
Outros simplesmente passam os olhos, meneiam positivamente a cabeça e não mergulham nas possibilidades ali vividas, tão bem grifadas, bem sentidas, quase celestiais pela dor ser vida, até certos limites.
Refém da insatisfação, do muito que ainda é pouco, do que é e não basta.
Onde é a festa? Onde está?
Merci pour la lecture!
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