Ligação de Emergência Suivre l’histoire

Eu sou uma farsa.

Minto, engano e finjo que está tudo bem, faço promessas que sei que jamais irei conseguir cumprir, digo que não vou atender mais uma ligação...e atendo, proclamo que não vou te ver, e vejo. Continuo nesse eterno ciclo de me sabotar e finjo que sou forte o suficiente para te afastar todas às vezes que me procura.

A carne é fraca, nós dois sabemos e você sabe disso melhor que eu, principalmente por usar seus artifícios comigo. E como sempre, vou cair, vou me apegar em suas palavras que são da boca para fora, querendo acreditar que dessa vez o destino dará um jeito em nós dois.

Mas eu te conheço, sei das tuas trapaças, da sua maldita mania de fugir dos meus braços quando te peço para ficar ou digo que nós deveríamos parar com idas-e-vindas.

Para depois, como um ciclo desgraçado, some porta à fora após me beijar com paixão, me prensar contra a parede, morder meus lábios e jurar por Deus que vai voltar logo.

Mentiroso, você não vai.

Vai demorar como todas às vezes, vai se esvair como a fumaça do cigarro que acostumei a fumar para aplacar a ansiedade que a expectativa do seu retorno causa.

Passo semanas e meses sem uma notícia, começo a me acostumar com a sua ausência, já não durmo com o casaco que você deixou no meu guarda-roupa, não tenho vontade de enviar uma mensagem para saber do seu paradeiro. Começo a me envolver com outras pessoas, beijar outras bocas sem procurar o gosto da sua...e então, como se soubesse que seu efeito em mim está sumindo, me liga.

Liga dizendo que é uma emergência, faz uma piada qualquer, diz que sentiu minha falta e faz discurso com suas desculpas esfarrapadas sobre o sumiço. E eu acredito e aceito, cancelo meus compromissos, me lembro novamente do quanto gosto do seu corpo, dos teus beijos, da intensidade que demonstra quando estamos juntos.

Ah Joseph, por que tão filho da puta?

Porém, a culpa continua sendo minha; por dispensar um novo amor para insistir no nosso, por acreditar que entre nós existe algo muito maior do que posso compreender. Talvez amanhã eu te odeie, quem sabe seus braços deixarão de ser meu abrigo e seus olhos verdes já não terão mais a mesma graça.

Entretanto, por enquanto, cancelo meu compromisso dizendo que tive um imprevisto, dispenso outro beijo para atender à vontade que tenho da nossa relação, me dopar do vício que você se tornou em minha vida. Abro a porta da minha casa, te abraço como se nada tivesse acontecido, beijo a sua boca e me derreto em seus braços.

Suas mentiras se tornam promessas, sua voz volta a ser uma melodia aos meus ouvidos, ignoro suas trapaças e me torno seu de novo.

E depois de dois ou três dias, o ciclo volta ao seu lugar. Você vai embora, diz tudo que já sei e jura que vai voltar logo.

Ainda que eu não acredite, que meu coração seja burro o suficiente para te aceitar, vou acabar esperando...

Por outra ligação de emergência.