pixys Cecilia Frade

Oito planetas, oito fendas espalhadas nos cantos mais remotos do sistema solar e seres inexplicáveis querendo sua morte. O que era para ser uma simples mudança de uma cidade para outra acabou transformando a vida de Vênus em um complexo e enigmático jogo de sobrevivência onde sua única chance é depositar toda sua confiança em sua astúcia e em uma raposa excêntrica.


Science fiction Déconseillé aux moins de 13 ans.

#aventura #original #amizade
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A nova casa

  Ao final de cinco horas, duas paradas pra fazer xixi e sete playlists de música indie no Spotify, a viajem com passagem só de ida para a casa nova não havia chegado nem na metade do seu fim, faltavam ainda mais quatros horas agonizantes presa dentro de um carro junto com sua mãe – que no momento roncava tão alto que precisara aumentar a música em seus fones de ouvido no máximo para conseguir ouvir alguma coisa – e seu padrasto com seus típicos óculos redondos e barba por fazer.

  Em poucos instantes tudo aquilo que conquistara em sua antiga cidade seria trancafiado dentro do baú de memórias distantes que Vee possuía em seu cérebro; Seus dois melhores amigos Marcus e Fred que prometeram visitá-la no verão, seu boletim impecável, o cappuccino com canela da Snoke’s – um grande amigo nas horas difíceis-, e acima de tudo, a enorme e velha mangueira na qual se tornara sua maior diversão em todos os tempos livres e o lugar onde tivera seu primeiro beijo. Tudo se fora e Vênus não possuía muita escolha sobre isso. Depois de inúmeras brigas com sua mãe o acordo seria que todos se mudariam para a casa nova sem reclamar e se ela se comportasse, talvez e só talvez, sua mãe compraria o telescópio que a garota tanto almejava desde seus sete anos de idade.  

  Após a última parada em um posto de gasolina caindo aos pedaços, finalmente a “grande família feliz” já conseguia avistar uma placa bem grande escrita “Bem-Vindo a ATLASVILLE tenha uma boa estadia” em letras garrafais na qual um dia já foram brancas. Pouquíssimas lojas, um mercadinho, uma escola, um prédio antigo na cor bege de três andares com cinco miseras janelas e os dizeres “HOTEL” em letras grandes e vermelhas em seu topo fora tudo que os novos habitantes encontraram no centro da cidade. “Olhem pelo lado bom, pelo menos aqui não seremos atormentados com aquele trânsito infernal” disse a mãe da garota ao abrir a janela do carro para enxergar melhor já que as mesmas estavam embaçadas devido à chuva que os seguia desde a saída da antiga cidade. George apenas acenou com a cabeça, estava cansado de mais para conversar e Vênus nem sequer havia ouvido o comentário de sua mãe. 

  Assim que saíram do centro, no caminho para casa havia uma grande reserva florestal (que era o principal motivo para os três decidirem se mudar para aquela pacata cidade), cheia de animais silvestres e muitas, muitas árvores. O terreno era tão extenso que adentravam no jardim de sua nova casa, uma antiga residência de algum morador esperto o suficiente para fugir de lá. Dois andares, três quartos sujos e mofados graças as goteiras, um banheiro pra lá de suspeito, uma sala de estar com marcas de móveis nas paredes e chão, uma cozinha razoável e portas barulhentas; tudo isso seria seu novo lar, ela querendo ou não. “Veja pelo lado bom querida, aqui você terá vários outros tipos de árvores para se pendurar, não é legal?” Definitivamente sim, mas Vênus ainda sentia como se uma parte de si tivesse sido arrancada e jogada fora em sua antiga cidade. Não conseguia entender, seus planos para faculdade estavam todos prontos, ela iria para UMN enquanto seus amigos iriam para UCN visitando-a todo fim de semana possível já que as duas universidades eram extremamente próximas. Iria arranjar uma colega de quarto incrível e até quem sabe um namorado (esse último não era tão importante), viveria a melhor época de sua vida e teria muitas histórias incríveis para contar. Porém Vênus não contava com a astúcia de sua mãe em jogar seus planos pelo ralo em um piscar de olhos. 

- Sim mãe, bem legal. – disse a garota com um sorriso amarelo enquanto tentava abrir as inúmeras caixas espalhadas pela entrada chegando até a cozinha. 

           - Sabe o que melhoraria essa carinha?, café da manhã no jantar! – George era sem sombra de dúvidas o melhor padrasto que alguém poderia pedir e umas panquecas não cairiam mal naquele momento. 

           - Contanto que eu não lave a louça por mim tudo bem, minhas mãos estão congelando! – disse a mãe da garota depois de tê-las lavado na água gelada da pia, gerando um revirar de olhos por parte da garota e do homem encostado a porta.

           - O quê? eu tenho meus direitos sabia? - Rindo a mulher os mandou trabalhar enquanto a mesma garantia uma cozinha limpa e livre de moscas e mosquitos.

              Três panquecas, uma xícara de chá e alguns chocolates depois Vênus se encontrava pronta para dormir em seu novo quarto de paredes brancas com algumas rachaduras, uma escrivaninha que aparentava ser mais velha que a própria jovem, um guarda roupa enorme e suas coisas jogadas em um canto esperando serem arrumadas. Talvez o fato de se acostumar demore mais do que o esperado, mas nada podia fazer além de tentar aproveitar tudo aquilo que estava ao seu redor.

   Vee acabou dormindo não tendo sonho algum (coisa que acontecia frequentemente), acordando no dia seguinte extremamente cedo como de costume. Após tomar uma xícara de chá (ela gostava muito de chá) e comer algumas torradas Vênus decidiu se arrumar e dar uma volta pela floresta de coníferas que adentrava seu quintal. Pegou seu caderno de desenhos, alguns lápis, seu celular junto com os fones de ouvido colocando-os em sua bolsa azul, vestiu seu moletom favorito de “Star Wars” e deu uma amarrada forte em seus tênis amarelos que a acompanhavam em todos os lugares. Após ter deixado um bilhete dizendo que voltava para o almoço, fechou a porta o mais silenciosamente possível indo em direção a todos aqueles troncos e folhas verdes que pareciam a abraçar a cada passo que dava. Depois de uns 10 minutos ouvindo apenas seus pés quebrando galhos e destruindo folhas secas a jovem de cabelos curtos decidiu se sentar no chão encostada em uma árvore com o tronco grosso o suficiente para se construir uma casa dentro. 

  Desenhou alguns pássaros, um ramo e uma nuvem que para ela se assemelhava muito a um navio enorme. Se concentrara tanto no pedaço de papel que acabou nem vendo um “intruso” se aproximando. “Ótimo, mais uma garota bobinha esperando encontrar um namorado vampiro, eu deveria jogar um rato morto nela, da última vez funcionou” Disse ironicamente a raposa agora sentada em frente a garota.

- Eu não estou procurando um namorado vampiro e mesmo que estivesse, isso não seria da sua conta! – Disse Vênus procurando a pessoa que havia proferido tais palavras. 

- Você consegue me entender?! - Tanto a garota como a raposa se encontravam perplexos e um tanto assustados. Afinal não é todo dia que encontramos um animal falante.

  “Meu Deus eu devo estar ficando maluca que nem a vovó” pensou Vee enquanto se levantava rapidamente de onde estava sentada não perdendo o contato visual com o animal ruivo em sua frente.

- Escuta, isso é tão estranhamente bizarro pra você quanto é pra mim. 

  “Será que isso é um robô feito pelo governo para espionar a população sem ser julgado pelos direitos humanos?” Vênus possuía o estranho hábito de ler teorias da conspiração quando não conseguia dormir. 

- Olha eu não vou te morder então pelo amor de Saraswati fale comigo! – Disse o animal tentando acalmar a jovem eufórica.

- Pois é né, tá ficando meio tarde e eu acho que ouvi a minha mãe me chamando. Foi um prazer viu dona Raposa – rindo falsamente a garota começou a apressar o passo em direção a sua casa brigando consigo mesma por ter se afastado de mais. “É só coisa da minha cabeça, talvez aquele chocolate estivesse estragado e agora eu estou tendo alucinações. Tudo numa boa”. 

  Porém suas tentativas de se acalmar não estavam funcionando já que a raposa decidiu segui-la. 

- Dona Raposa? Sério?, vocês crianças de Nammu tem pouquíssima criatividade. Estou desapontado. 

  Graças a sua observação irônica e sua risada debochada o ser falante finalmente conseguira a atenção que queria.

- Perdoe-me Senhor Totó da floreta, tentarei melhorar na próxima. – Vênus agora encarava-o novamente. Depois de dois segundos pensando ela abaixara, pegara uma pedra, contara até dois e lançara o mais longe possível. “Vai pegar!” foram as últimas palavras que a raposa ouvira da jovem já que a mesma corria sem olhar para trás.  

  Após cinco minutos a garota finalmente chegara a entrada de sua casa, ofegante, suada e inconformada pela cena que acabara de presenciar. 

- Vee eu quero aquele quarto arrumado e.....Meu deus que cara é essa?! Parece que você acabou de ver um fantasma! – Sua mãe quase derrubara a xícara de café em suas mãos ao ver o estado da garota.

- Eu decidi me tornar uma guerreira então eu corri um pouco mas acho que meu corpo não gostou muito da ideia. – Sim, essa foi a melhor desculpa que ela conseguiu inventar. 

  Aliviada com o revirar de olhos de sua mãe Vênus subiu as escadas em direção ao quarto para arrumar suas coisas e tomar um merecido banho. O dia já havia terminado e ela ainda não conseguia dormir pensando em tudo o que havia acontecido de manhã. “Raposas não falam com seres humanos, talvez aquilo tenha sido o meu subconsciente manifestando a minha vontade de ir embora em alucinações” demorara uma madrugada inteira para tirar essa conclusão que em sua cabeça parecia fazer muito sentido. 

  Na manhã seguinte sentia-se completamente exausta ao acordar, em sua opinião parecia que um caminhão havia decidido atropelar suas costas de tão doloridas que estavam, porém decidiu ignorar a dor e descer as escadas para abrir a porta. “por que os carteiros daqui tem que acordar tão cedo em pleno sábado?” pensava sonolenta enquanto abria a porta bruscamente, contudo para sua surpresa o que se encontrava em sua frente não eram cartas ou pranchetas esperando sua assinatura e sim uma pedra pontiaguda com uma pequena pata marcada com lama em sua superfície.

- Parece que ele realmente conseguiu – disse Vênus para si perplexa, enquanto segurava a pedra com força em suas mãos. 

5 Juillet 2018 23:01 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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