Olha quem consegui fazer a história do desafio, aeee.
Olha também quem sou hipócrita e reclamou por aí do pessoal fazendo drama com tema Disney mas fez exatamente isso. Sorry, mas na verdade foi até mínimo esforço, o próprio canon e a música que fizeram isso, não vou assumir o boleto. Tá, vou sim.
Enfim, espero que gostem da minha singela participação.
Música: No way out (Phil Collins) - Brother Bear (Irmão Urso em PT).
Então o momento havia chegado. Ali estava aquele que mais amou e não pôde estar por perto; aquele por quem fez tudo o que fez; aquele com quem mais errou, sempre tentando acertar. Por anos Itachi havia esperado por tal momento. Por anos teve certeza de que era pra ser exatamente assim: morrer nas mãos daquele que amou, sentir na própria pele a força dele e, enfim, libertar a ambos da maldição que lhes corroía.
Por anos pensou assim, mas agora vacilava.
Estava tudo errado. Não era para ser um nukenin a lhe exterminar, mas sim um ninja da Folha. Não era pra ele ter essa expressão fria e sádica no rosto. Onde estava aquele menino que deixava seus sentimentos transparecerem tão bem? Sua única esperança era que ele ainda existisse, escondido por debaixo da máscara de indiferença que as feições bonitas – tão, tão lindas – exibiam.
Porque não foi pra ver ele se tornar um criminoso que Itachi suportou todo o fardo sozinho. Merda, não foi pra ver ele sendo perseguido justamente por quem deveria e jurara acolhê-lo como seu, que havia escolhido a Vila ao invés de seu clã. Não era isso que tinha em mente quando, naquela fatídica noite, com o peso da escolha que tinha feito mais cruel do que nunca sobre seus ombros, visível nas manchas em sua espada, roupas e mãos, tomou aquela decisão.
A decisão que era a única que conseguia conceber naquelas circunstâncias. Havia prometido ao pai que cuidaria dele. Mas estava fadado a viver como proscrito. Cuidar dele, naquele momento, era afastá-lo de si. Usar o que quer que fosse para isso. Usou o ódio. Fingiu que tinha sido sede de sangue a lhe guiar.
“Agarre-se à vida… Venha atrás de mim novamente”. Palavras que selaram mais uma decisão importante demais, irreparável demais, tomada por alguém jovem demais.
“Não há crianças entre os ninjas”, costumava ouvir. Porque se tornar um ninja era se tornar um adulto. Mas as responsabilidades que recaíram sobre si por conta de seu talento fariam qualquer adulto experiente vacilar. Talvez enlouquecer. Se convenceu de que ser Uchiha devia ser isso, afinal: ver aquilo que deveria ser bênção em si se tornar maldição.
Foi assim que viu seu amor imensurável e incondicional por seu irmão virar o ódio dele por si. Encorajou isto naquela noite e observou ele se apegar às palavras, à distância como havia de ser. Porque, caso se aproximasse, não conseguiria suportar.
Quase tinha fraquejado na primeira vez que o viu de perto, que falou com ele, depois de anos. Quando o segurou contra a parede o que desejava mesmo era segurá-lo contra si mesmo. Apertar o mais novo em seu peito, explicar tudo, implorar por seu perdão, que aceitasse seu amor.
Mas não podia. Ele mal tinha começado, ele tinha muito o que crescer. Ele estava bem, protegido, em segurança, ficando mais forte, acolhido. A verdade seria como um redemoinho, lhe arrastando para a mesma vida que a de Itachi, transferindo seu ódio para o lugar que o mantinha a salvo. Era tudo o que importava: que ele estivesse a salvo. “Você é fraco, lhe falta ódio”. Palavras de maldição que o traidor do clã desejava que se transmutassem em força para aquele que sempre quisera proteger. Me odeie, só a mim, eu suporto o fardo.
O que tinha mudado? Por que ele tinha deixado a segurança para trás? Se aliado com alguém como aquela cobra? Era pra ele ter ficado mais forte e não... quebrado, como via agora.
Errara. Havia feito tanto para esconder a verdade, tanto para que ele não precisasse saber da podridão que se embrenhava pelo mundo ninja. Essa falha doía mais do que qualquer escolha que já havia feito. Porque era com ele. Justo com ele. Era sua falha mais vergonhosa. Tinha escondido tanto dele, mas não conseguiria esconder essa vergonha, essa dor.
Mas o que fazer? Não havia nada que pudesse falar que mudasse tudo o que fez. Sim. Era sua culpa que ele tivesse quebrado. Era sua responsabilidade o consertar. Sabia que não tinha mais saída para si. Já estava tomado demais pela escuridão. Não havia esperança, nem futuro. Nem merecia que houvesse. Sabia que jamais poderia ser livre.
Mas tinha que haver saída para ele.
Não tinha onde se abrigar da tempestade que estava instaurada dentro de si. Tantos pensamentos e sentimentos passaram por sua mente em segundos. Segundos em que ele avançava. A fúria que deixava fluir em seu corpo era fria demais, nada do que havia esperado. Mais um lembrete de seu erro.
Ainda que não pudesse encarar mais um dia, tinha que salvá-lo. Não foi o único que falhou. Depositara sua confiança na Vila. E agora tinha que vê-lo entre os por ela perseguidos. Ela também falhou. Mas como contar? Deveria? Trairia a ideologia em que acreditou por toda a vida? Mas mesmo que decidisse por isso… Como fazê-lo escutar? Mais. Como fazê-lo acreditar? E o que ele faria ao saber de toda a verdade? Tantas questões, nenhuma resposta.
O primeiro golpe o tirou de seu devaneio por um instante, lhe trazendo para a realidade do que acontecia no momento. Ele o atingiu diretamente no peito e se não fosse pelo puro reflexo de Itachi em se afastar… Não. Não foi seu reflexo. Ele não havia usado força para matar. O que significava isso? Então ele falou:
— Você estava chorando.
Itachi chegou a levar as mãos aos olhos, checando se estavam úmidos. Não havia nada. Do que ele estava falando?
— Naquela noite, Itachi. Você estava chorando.
— Sasuke… o que?
Sasuke respirou fundo. Tinha ido até ali disposto a ignorar o que Tobi tinha dito, não podia ser verdade. Mas no momento em que pousou os olhos no irmão, no momento em que viu a expressão de dor de Itachi ao lhe ver… Ainda tentou manter a máscara de indiferença, ainda tentou se convencer a atacar e acabar logo com isso enquanto o outro parecia desatento e vulnerável. Mas no último momento, entendeu. Entendeu que não conseguiria, que precisava confirmar. O olhar de Itachi lhe despertou a memória daquela noite, memórias que tinha tentado sufocar durante todos esses anos. Diminuiu a intensidade do golpe. Naquela noite, Itachi chorava.
— Tobi me contou o que aconteceu naquela época. Eu não quis acreditar. Mas você estava chorando. É verdade, Itachi?
Itachi não sabia o que dizer. Então Sasuke já sabia. Manteve a distância que os separava e olhou fundo nos olhos do irmão. Agora podia ver as emoções oscilando ali. Tinha ódio, sim. Raiva. Mas também dúvida. Céus, o que deveria dizer? Em sua própria indecisão, não falava nada. Sasuke avançou novamente e Itachi se defendeu por puro instinto. Mas o mais novo era rápido e num instante Itachi estava imobilizado.
— Responda!
Os olhos rubros de Sasuke lhe cobravam e Itachi conseguiu dizer:
— Veja você mesmo.
Sasuke entendeu. Lançou o genjutsu e entrou na mente do irmão mais velho, sem resistências. Viu tudo. Desde os rumores, à reunião do conselho; a despedida entre Itachi e Shisui e a dor que isso causara no irmão; a angústia da tomada de decisão; as execuções, a morte dos pais, o desespero que Itachi sentiu com tudo aquilo. E mais: a exigência dele para que Sasuke fosse poupado; a dor ao ver o pequeno descobrir o que havia feito; o jutsu que ele lançou para que Sasuke acreditasse que havia sido pura e simplesmente crueldade sua; sua dor e lágrimas ao deixá-lo. Viu os anos que seguiram e o quanto Itachi o observava de longe. Viu e sentiu a extensão da escuridão, da culpa, da dor que corroíam o irmão. Viu o amor absurdo e sem barreiras que ele nutria por si.
Foi demais. Os olhos de Sasuke sangravam por conta da intensidade do jutsu. Os de Itachi, fechados, deixavam rolar grossas lágrimas, dando vazão a tudo o que acabara de reviver. Esperou pela próxima atitude do mais novo. Não ousava abrir os olhos, então não viu mas sentiu quando Sasuke se afastou. Ao olhar ao redor, estava sozinho. Nada como o que já não estivesse acostumado.
Sasuke corria na mais alta velocidade que seu corpo permitia. Mal enxergava o caminho à sua frente. Tudo em que tinha acreditado durante toda a vida, todas suas certezas tinham acabado de desmoronar. Seu grande objetivo, aquele que havia guiado todos os seus atos até o momento, agora parecia muito mais amargo.
A verdade é que, no fundo, tudo tinha sido por ainda querer ser como Itachi. Por, mesmo depois de tudo que achou saber, levar as palavras do irmão completamente à sério. Agarrava-se à sua vingança porque era aquilo que ainda o ligava ao mais velho. Ao clã. À família. Todos que já tinha amado já não estavam mais presentes. A não ser por ele. Transformou o amor em ódio, a admiração em sede de vingança.
Acreditava piamente que era a maneira de se libertar. De, quem sabe, perder o medo de sentir, de amar de novo. Talvez fosse esse o ritual pelo qual precisasse passar para quebrar a armadura que tinha posto em volta de si mesmo. Uma defesa suprema que ninguém conseguia penetrar - a não ser, talvez, Naruto e sua maldita insistência. Mas ainda assim, mesmo se tratando de Naruto, sua armadura jamais tinha caído completamente. O ódio ainda era seu maior guia, mais forte do que o laço que construíra a duras penas com o loiro. Tanto que abandonou este em prol daquele.
Mas agora o sentimento mais antigo e familiar que tinha dentro de si parecia fora de lugar. Como odiar Itachi depois de ver - de sentir! - tudo pelo que ele passou? Tudo o que ele sentiu, toda a dor e escuridão que o cercavam? Se Sasuke estava no escuro, Itachi estava no breu. Numa ausência de luz tão impenetrável e que não combinava em nada com a pessoa que ele costumava ser. Um breu de culpa e sofrimento.
Se afastar era única coisa que conseguia fazer no momento. Irônico. Tão parecido com o irmão.
Mais de duas semanas haviam se passado desde o encontro com Sasuke. Itachi havia tentado tirar satisfações com Tobi, mas o desgraçado não o levara à sério. Itachi devia saber que alguém como ele faria o que bem entendesse para seguir com seu plano. Plano esse que Itachi tentava minar de dentro, como bom agente duplo que sempre havia sido. Para proteger Konoha. Para proteger Sasuke. Sempre foi por ele e não se importava com mais nada. Por isso agora tudo em que sua mente era capaz de focar era no que Sasuke faria em relação à tudo que sabia. Se é que faria algo.
Tentara saber do paradeiro do irmão também. Mas ele não queria ser encontrado, isso estava claro. Um pontada de orgulho crescia em Itachi ao perceber como o irmão tinha ficado, de fato, poderoso. Mas a que custo. A culpa sussurrava e o esmagava por dentro.
Distraído em seus pensamentos, Itachi mais uma vez sentiu antes de ver. Ele estava ali.
— Otouto. - arriscou. A resposta de Sasuke ao chamado lhe daria sua resposta.
— Aniki. - o mais novo respondeu e Itachi se virou, alarmado.
Sasuke não estava em posição de batalha. Nem tinha a expressão dura e fria de suposta indiferença. Ah, não. Ali estava seu irmãozinho tolo. Tolo o suficiente para se mostrar vulnerável, tolo o suficiente para demonstrar, sem nada precisar dizer que era tolo a ponto de perdoá-lo.
— Sasuke, eu…
— Eu sei. Itachi. Foi tudo por mim. Você suportou tudo sozinho, aceitou a desonra e o exílio, mentiu pra mim e pra si mesmo… Fez tudo, tudo errado. Mas eu vi suas razões. Eu senti. Eu entendi.
— Eu não sei como você pôde fazer isso… Como pôde olhar dentro de seu coração e me perdoar agora. Mas, obrigado.
Itachi se aproximou enquanto falava, cauteloso. Percebia que Sasuke estava tenso, mas ele não o afastou quando parou a poucos centímetros de distância. Não recuou quando Itachi levou à mão até seu ombro. Não fugiu quando o maior, enfim alcançava aquilo que por tanto tempo tinha desejado.
— Você não precisava me perdoar. Eu não sei o que você pretende fazer agora que sabe toda a verdade. - Itachi começou, acariciando o cabelo do mais novo enquanto mantinha ambas as testas coladas e olhava emocionado bem no fundo dos olhos de Sasuke. — E não importa o que aconteça daqui em diante. Eu sempre vou te amar.
Sorriu com sinceridade ao perceber Sasuke desviar o olhar, impactado por suas palavras. Ainda teriam muito o que conversar, um caminho - se suas preces fossem ouvidas - longo a percorrer.
Mas agora Itachi conseguia ver um caminho para além da escuridão. Contrariando tudo o que tinha pensado, o perdão é o que o tinha libertado, aberto sua visão para um novo caminho.
Agora conseguia enxergar um futuro. Podia encarar um novo dia. Por Sasuke. Com ele. Como havia de ser.
Merci pour la lecture!
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