1.
Afinal, não era tão difícil assim ser eu. Mesmo que julguem, que falem, que riam de mim, eu não ligo. Sei que posso não ser exatamente comum, mas eu sou assim, e não posso mudar.
Tudo mudou quando aquele maldito bilhete foi enviado às nossas famílias. Na época, eu não entendia o porquê de terem o enviado, mas eu sabia que havia algo à ver com uma data que se aproximava. O dia das mães.
O que me levava a pensar seriamente sobre isso. Eu não tinha uma mãe, como entregaria isto?
E foi com essa dúvida na cabeça que segui até minha casa, andando pelo caminho que já me era comum, mesmo tendo meros nove anos.
Como entregar algo à alguém que não existe?
Ok, a escola não tinha culpa. Ninguém lá conhecia minha família, mas era pelo menos aceitável que não enviassem um comunicado à uma pessoa específica. Isso era uma das coisas que preenchiam minha mente, indo de um lado para o outro, fazendo-me nem notar quando pus os pés em casa.
- você chegou rápido, como foi o seu dia hoje? – perguntou Kabuto, ajeitando seus óculos. Eu não podia entregar o bilhete à ele, afinal, ele não era minha mãe... eu nem sei se posso chama-lo de pai, afinal.
- normal. – respondi, sentando-me no costumeiro sofá da sala de estar e pegando um livro na mesa de centro. Nesta casa, o que não faltam são livros. Nesta hora, uma ideia me veio à cabeça. Mesmo que não fosse muito boa, havia de funcionar. – Kabuto-kun, onde está Orochimaru-sama?
- no escritório. Pode ir lá, se quiser... é algum problema na escola?
- nada demais.
E me pus de pé, abandonando o livro sobre a mesma mesa onde o encontrara e seguindo até o escritório, no andar superior da casa. O bilhete jazia em meu bolso, pelo menos até eu removê-lo e lê-lo novamente.
“Favor, mães, comparecer à reunião escolar na próxima segunda-feira”.
Ele não iria, mas, de qualquer modo, eu precisava avisá-lo. Afinal, tiveram a brilhante ideia de pôr a entrega de boletins no mesmo dia do dia das mães.
Gênios.
- está ocupado, Orochi-sama? – indaguei, entrando silenciosamente na sala. Ele rabiscava fórmulas em um papel, em prestar muita atenção no mundo ao redor.
Mesmo que sendo um pouco distante, Orochimaru é uma boa pessoa. Creio que ele é de mim o mesmo que o Naruto é do Boruto: pai. Mas... eu posso chama-lo assim?
Essa é uma das coisas que me deixa confuso. Eu nunca sei se posso chama-lo de pai, apesar de ser algo que eu apreciaria. Tem vezes em que me espanto com a grosseria com a qual Boruto trata seu otou-san... ele me deixa confuso.
Os cabelos de Orochimaru estavam presos com um lápis, mas logo ele o removeu, deixando-os cair e ficarem lisos como sempre. Eu me espanto de não parecer com ele nesse aspecto, e, francamente, me acho um pouco parecido com Kabuto-kun...
Será que Kabuto é minha mãe?
- sente-se, criança. – ordenou o mais velho, e logo o obedeci, sentando-me na enorme cadeira que ficava de frente para sua mesa. Seu olhar se ergueu e fitou à mim, um sorriso largo formara-se em seu rosto. – o que deseja?
- enviaram um bilhete, da escola. Mas eu não sei para quem entregar. – respondi, simplista.
- para mim, ora. Sou o responsável por você.
- eu não posso te entregar, não é para você. – e ele fitou-me com certa impaciência.
- então entregue para quem enviaram, ora.
- mas... eu deveria entregar ele para a minha mãe. E eu não tenho uma. Eu tenho uma mãe?
E seu semblante ficou indecifrável por longos instantes. Ele... parecia procurar um modo de me responder.
- deixe-me ver o bilhete. – ele simplesmente murmurou, e lhe entreguei o pedaço de papel. Ele o lera rapidamente, e soltara um suspiro longo e cansado. – eu vou na reunião.
- mas você não é minha mãe! – disse, sem entender.
- Mitsuki, eu sei que parece confuso, mas eu quem criei você.
- você é meu pai, eu sei disso. Mas... e a minha mãe? Quem é? é o Kabuto?
E ele rira, negando com a cabeça e fazendo um carinho em meus cabelos.
- Kabuto me ajudou muito na sua criação, mas eu sou seu pai, então eu sou responsável por você. E, portanto, eu vou à essa reunião. E, caso ache necessário, posso colocar um vestido, não vejo problema algum.
- não é necessário. Então... você é o meu pai, mas é como se fosse a minha mãe também?
- exato. – ele disse, voltando a fitar o bilhete. – todas as mães receberam isto?
- sim. E todas vão.
- mesmo que não fossem, eu iria. – ele disse, voltando a encarar-me. Algumas batidas na porta foram ouvidas, e logo Kabuto entrou. – então... quanto à questão de “mãe”, Mitsuki... pode chamar Kabuto de mãe se quiser, não é mesmo?
E o rapaz que entrara na sala ficou estático, de olhos arregalados. E eu não entendi muito bem, mas.... Se Kabuto-kun é minha mãe, e Orochimaru-sama meu pai...
- vocês são casados? – indaguei, confuso.
- não, mas não por falta de insistência minha. – disse Orochi, fitando minha mãe. – ora, Kabuto, ele ia descobrir cedo ou tarde... e então, Mitsuki, está feliz agora? Kabuto e eu vamos à sua reunião.
Simplesmente concordei e sorri, vendo os dois sorrirem ainda mais.
- o almoço está pronto, você pode ir na frente, Mitsuki-kun. – disse Kabuto-kun, e simplesmente concordei.
E, com um sorriso mais do que largo, saí do escritório de meu pai. Porém, agora, com uma mãe e um pai para chamar de meus.
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