Notas do Autor: Olha, essa é uma fic um tanto complicada para mim como autora. Eu to um pouquinho insegura quanto a ela, mas espero que vocês gostem <3
Cinco horas da manhã.
Sasuke acordou religiosamente no mesmo horário que vinha seguindo desde os doze anos. Ainda de olhos fechados, sentou-se e ergueu os dois braços para se espreguiçar com a graça de um felino, os pés descalços tocaram o chão de madeira e ele flexionou e estendeu os dedos antes de firmar os pés e se levantar. Com um suspiro profundo, ergueu-se e caminhou no mesmo ritmo de sempre até o banheiro, na ponta dos pés.
Jogou água no rosto. Pela janela, era possível ver a chuva caindo e, mais importante que isso, o céu escuro. Ainda tinha tempo.
Escovou os dentes, a mão esquerda livre se ergueu sobre a cabeça, braço esticado, palma da mão curvada levemente. E ficou assim, braço em terceira posição e na ponta dos pés até terminar sua higiene.
Secou o rosto e foi à cozinha, bebeu um copo inteiro de água e comeu uma barra de cereal, olhou o relógio e constatou que, como sempre, ainda não havia dado cinco e vinte da manhã.
Retirou a camiseta e deixou-a pendurada no pequeno gancho que havia na parede da sala. Não acendeu a luz, mas a rotina já o havia feito saber exatamente onde seu aparelho de som estava, e ele só precisou apontar o controle para ligá-lo.
Chopin, como Sasuke amava ouvir as músicas de Chopin...
Usaria quinze minutos para o aquecimento, tomando cuidado com o joelho esquerdo que, por algum motivo, Sasuke sentia estar mais fraco que o direito. Alongou primeiro os músculos do pescoço, deixando que a música entrasse em seu corpo como se as notas fossem desfazendo cada nó presente em seus músculos. Depois, os braços, girou os ombros, tateou o próprio cotovelo em busca de qualquer estralo ou sinal de dor, manuseou os punhos e abriu e fechou as mãos, que logo seguiram para sua cintura a fim de o ajudar a alongar o tronco. Tronco, quadril, joelhos, tornozelos. Apoiou-se em uma única perna, a esquerda, comparando-a em seguida com a direita.
Merda, tinha lesionado de alguma forma, não sabia como nem a gravidade, mas sentia que o joelho não lhe dava a mesma confiança de antes. Assim, não treinaria saltos, melhor apenas equilíbrio por aquele dia, seria bom um ultrassom antes de se arriscar.
Trinta minutos em arabesque sobre a perna direita, perna esquerda à noventa graus, braço esquerdo estendido à frente do corpo e braço direito para trás, cabeça voltada para fora. Ao terminar, mais trinta minutos sobre a perna esquerda, braços também trocados.
Franziu o cenho, doía, mas ele já estava acostumado às dores do treino, fazia parte para se atingir a perfeição. Concentrou-se na música, uma pequena fuga para o repuxar dos músculos, à fadiga que enviava pequenos tremores para suas coxas principalmente.
Controlou a descida da perna e dos braços, tudo sempre muito meticuloso e com leveza, juntou os pés, um na frente do outro horizontalmente, na quinta posição do ballet, e os braços relaxaram, as mãos pararam juntas em frente ao corpo, pouca coisa acima da pélvis, finalizando a postura perfeita.
Ainda tinha quarenta minutos, o tempo exato para repetir diversas vezes a sequência de passos que havia montado seguindo a ordem das aulas. Então, quando o relógio marcou sete horas, a música parou, e Sasuke respirou fundo, relaxando o corpo e virando-se para o tio que segurava o controle do som.
— Bom dia, Sasuke.
— Bom dia, tio — respondeu, e viu Madara a poucos metros.
Seu tio bocejava, o cabelo preto, longo e volumoso, estava preso num rabo de cavalo alto, bagunçado ainda, indicando que Madara o havia preso à noite e ainda não o tinha arrumado. Além disso, as olheiras denunciavam que ele havia chegado tarde em casa, provavelmente resolvendo algum problema na boate que tinha comprado há menos de seis meses. Ele nem mesmo havia trocado de roupa, tinha dormido com o jeans escuro, só se dando ao trabalho de tirar a camisa, o que expunha o tronco e os braços inteiramente tatuados. Mesmo assim, ali estava ele, de pé, abrindo os armários e a geladeira.
— Vou fazer o café da manhã, alguma preferência, Sasuke? — questionou depois de acionar a cafeteira.
— Você está horrível, pode deixar que eu mesmo faço — respondeu e recebeu em troca um olhar entediado.
— São sete e cinco. Você vai tomar banho, se arrumar, comer, e eu vou te levar para sua aula às oito e meia como sempre.
— Tem certeza? Você não parece bem mesmo e-
— Você já é grandinho, moleque, sei que sabe fazer sua própria comida e que pode pegar o carro e ir sozinho, mas eu prometi para sua mãe que, enquanto você morasse comigo, eu cuidaria de você. Além disso, não sou idiota, eu sei que está tão cansado quanto eu e que aquele seu maldito professor não larga do seu pé!
— Tudo bem. — Sasuke ergueu as mãos, rendido, sabia que não adiantaria discutir com o tio, mesmo que as aulas e o semestre da faculdade só tivessem começado no dia anterior.
— Ótimo. Café preto bem forte e misto quente para mim e…?
— Suco de laranja, queijo branco e pão de forma integral para mim.
Madara sorriu de canto e viu o sobrinho desaparecer no corredor. Organizou o café da manhã na mesa, rindo sozinho de como a comida de Sasuke contrastava com a sua; pelo menos, daquela vez, ele não tinha pedido frutas com aveia ou granola. Sentou-se, verificou o celular e, exatamente às sete e quinze, Sasuke saía pelo corredor.
Sasuke era seu sobrinho mais novo, seu afilhado, embora não parecesse nada consigo e não entendesse o motivo para a esposa de seu irmão lhe ter oferecido o que muitos considerariam uma honra. Mas, embora fossem diferentes, Sasuke era quem mais amava em sua vida, por isso não hesitou em acolhê-lo depois que Fugaku, seu irmão e pai de Sasuke, expulsou-o de casa ao descobrir que ele tinha trancado o curso de artes marciais escondido e usado o dinheiro para pagar as aulas de ballet.
Bem, Madara já sabia que daria algo errado, afinal, Sasuke tinha ligado para ele aos quatorze anos para que fosse lá trancar o curso de luta, e ele obviamente ajudara, só Fugaku não via que Sasuke odiava lutas, apesar de saber muito bem se defender. E, bem, Sasuke também ligara para ele para fazer a matrícula na academia nacional de ballet, e o que ele podia fazer a não ser ajudar? Sasuke era menor de idade, e Madara sabia que Fugaku preferiria morrer a ir pessoalmente matricular o filho caçula numa escola de dança. Claro que, quando a conversa sobre as aulas de luta surgiam, notava o olhar desesperado de Sasuke e a forma evasiva como respondia às perguntas, mentindo, e por isso resolveu ser responsável e intervir, ensinou-o a mentir melhor.
Sasuke estava feliz dançando, mesmo que, em alguns dias, parecesse abatido e cansado com as aulas; assim, Fugaku não tiraria isso dele. Quando ele fez dezoito anos, no momento em que Fugaku descobriu para onde seu dinheiro estava indo realmente, quando seu irmão berrou a plenos pulmões que Sasuke não moraria mais consigo nem veria qualquer centavo seu, Madara comprou a briga e não demorou a buscá-lo. Desde então, durante aqueles cinco anos, Sasuke estava consigo, morando sob o seu teto e cursando as aulas de dança de que tanto gostava. De vez em quando, Madara enviava notícias para o irmão, já que a tentativa dele de se reaproximar do filho fora nada além de um completo fracasso. Sasuke não só tinha recusado voltar para casa como também havia gritado tudo o que guardava há anos. Gritado, Sasuke tinha gritado, e ele conhecia bem o sobrinho, Sasuke nunca nem elevava a voz, quem dirá gritar com o próprio pai sem motivo!
Encarou a imagem de Sasuke se aproximando, a toalha nas mãos secava os cabelos negros curtos, ele era alto, esguio, com músculos definidos pelos anos de treino e dedicação, a pele branca era repleta de hematomas, manchas roxas e vermelhas se espalhavam pelos braços e pernas principalmente. No começo, havia achado que Sasuke se metia em brigas, que estava em alguma confusão e que não queria lhe contar ou preocupar, mas, depois de assistir a uma ou duas aulas de ballet e ver os saltos e os giros que Sasuke treinava incessantemente, tranquilizou-se, quer dizer, pelo menos não eram brigas, não é? Lembrava-se de que, na idade do sobrinho, já havia se metido em mais confusões do que podia contar e ficava muito mais aliviado por saber que Sasuke era extremamente diferente de si.
— Chegou tarde ontem? — Sasuke se sentou à mesa.
— Mudança no fornecedor das bebidas. — Girou o garfo com descaso.
— A música te acordou?
Madara riu, anasalado.
— Sua música, para mim, é o melhor remédio para insônia, pirralho. Acordei com o despertador, como sempre.
Sasuke assentiu e começou a comer.
— Como vão ser as aulas? — perguntou, ainda de boca cheia. — As da faculdade, digo, vai dar para levar ou vai ser muito corrido?
— Já disse para não se preocupar — Sasuke respondeu, calmo. — As aulas serão bem mais interessantes, acho que esse semestre vai ser menos estressante que o anterior, prometo.
— Promete? — Madara franziu o cenho. — Não é algo que você pode prometer, Sasuke, se o ballet e a faculdade estiverem muito puxados, você vai se estressar como no ano passado, não é algo que controle, por isso você tem que me avisar. Não quero que fique doente ou enlouquecendo de novo, tem que cuidar da sua saúde.
Sasuke concordou e bebeu um gole do suco para não ter que encarar o tio.
— Eu como frutas com aveia no café da manhã e tomo um copo de água assim que acordo, eu cuido da minha saúde — brincou, tentando desviar o assunto.
— Vamos, me prometa que vai me avisar se começar a se sentir cansado demais — Madara insistiu, indobrável, e Sasuke suspirou por saber que não havia muita saída.
— Prometo, mas, de novo, está tudo bem, esse semestre vai ser melhor, você vai ver.
Era uma promessa, uma ilusão, uma esperança, não dava muito para saber, mas Madara achava que era uma mentira, apenas uma esperança que Sasuke tinha e que dificilmente se cumpriria. E era tudo culpa daquele maldito professor de ballet! Como o odiava…
— Vou escovar os dentes — Sasuke avisou ao terminar o café e se levantar.
Madara assentiu e começou a tirar a mesa. Aproveitou o tempo que Sasuke usava para arrumar a mochila para a aula e se arrumou minimamente para levar o sobrinho até a academia. Dirigiu com calma, Sasuke sempre cochilava no banco da frente durante o percurso com os fones no ouvido, e, quando chegaram, despediram-se brevemente.
Sasuke aumentou um pouco o volume nos fones e caminhou até a entrada da escola, mostrou sua identificação de aluno e respirou fundo quando abriu a porta de vidro que dava início ao extenso corredor de madeira.
As salas eram divididas em quatro andares e, no final de cada um, havia dois imensos vestiários. Como todo sábado, possuíam aulas durante o dia todo. Sua primeira às oito e meia da manhã seria de música no primeiro andar, às dez teria aula de jazz no segundo andar, às onze de yoga no terceiro andar, uma pausa de uma hora para o almoço e, da uma hora até às cinco da tarde, aula de ballet clássico no quarto andar. Dessa forma, caminhou até o vestiário do primeiro andar para deixar suas coisas em um dos armários.
Já havia vários alunos ali, mas não viu ninguém da sua turma. O vestiário possuía uma área para os chuveiros e os banheiros e outra para os armários, onde Sasuke deixou sua mochila após retirar a calça jeans e o casaco depois de ficar sozinho. Ficou apenas com o collant branco, que, diferente do feminino, era como um macacão grudado à pele, estendendo-se pelo quadril e parte das coxas, e vestiu o short preto elástico que chegava até a metade de suas coxas. Sentou-se em um dos bancos e calçou as sapatilhas de cor marrom claro, já um pouco gastas. Madara iria querer matá-lo quando soubesse que tinha conseguido deixar a sapatilha naquele estado com apenas um mês de treino em casa…
Ficou de pé e olhou-se no espelho, vendo o exato momento em que Neji entrou.
— Chegou tarde hoje — comentou para o amigo enquanto percebia o novo roxo bem na linha do queixo dele. — Babacas da faculdade de novo?
Neji riu sem humor e abriu seu armário com raiva, e Sasuke viu que o cabelo castanho dele, antes longo, não chegava na altura dos ombros.
— Eles cortaram seu cabelo?
Neji parou e fechou o armário com força, aproveitando-se para socá-lo por algumas vezes seguidas com força. Sasuke ficou em silêncio. Ouvia a respiração descompassada pelo surto de raiva, mas não ousou falar. Neji era da sua idade, olhos claros, violetas, cabelos castanhos lisos e um porte mais atlético que o seu. Normalmente era calmo, sério, não arrumava muita confusão. Ele havia entrado no ballet mais cedo, com apoio da família, aos oito anos, e já era um bailarino formado agora, feito os nove longos anos que a profissão exigia bem como todos os cursos extras. Quando Sasuke entrou na escola, no ano preparatório, Neji já estava no sexto, mas as idades, o modo de pensar e a convivência os haviam aproximado com certa facilidade, e, depois de tanto tempo juntos, Sasuke sabia respeitar os momentos de silêncio de que Neji precisava antes de lhe contar o que tinha acontecido.
Ergueu a cabeça ao ouvir uma risada irônica.
— Uns veteranos viram a nossa apresentação no mês passado e também viram quando nós dois fomos para aquele restaurante comer alguma coisa após o espetáculo. Dá para acreditar que eles esperaram até as aulas voltarem para me perguntar se eu era gay? Eles são tão desocupados a ponto de, mesmo depois de um mês, me procurarem dentro da faculdade, no primeiro maldito dia, para me perguntar se eu era “viado”! — Neji voltou a abrir o armário e retirou as sapatilhas da bolsa, jogou-as sobre o banco e retirou a camiseta que vestia sem muita paciência. — Eles pediram para ver “meu documento”. — Sorriu de canto, incrédulo.
Sasuke arqueou a sobrancelha e cruzou os braços, apoiando o ombro nos armários.
— E o que você fez?
Neji riu, divertido, e desceu o zíper da calça.
— Mostrei meu pau para eles. — Sorriu enquanto tirava a calça. — Depois mandei me chuparem.
Sasuke riu incrédulo, acompanhando Neji, mas logo o riso morreu enquanto a realidade batia à porta.
— Eles não gostaram, não é?
— Me deram uma surra, quatro contra um, muito justo — Neji debochou, irritado, vestiu o short preto e as sapatilhas e caminhou até o espelho.
Sasuke viu quando as mãos dele passaram pelo cabelo. Antes, por ter cabelo comprido, Neji devia prendê-lo em um coque, agora, via-o apenas amarrar as madeixas em um rabo de cavalo alto, não tinha mais cabelo para que um coque fosse necessário.
— Minha prima mais nova tinha feito uma trança… — sussurrou e deixou o ar dos pulmões escapar de modo pesaroso em seguida.
— Vai crescer de novo, Neji — foi o melhor que conseguiu dizer.
— Para então outros imbecis acharem que todo cara de cabelo comprido que dança é gay e cortarem de novo depois de me baterem?
— E vai deixar que eles ditem o que você pode fazer ou não? Me poupe, cara, achei que fosse mais forte que isso. Apanhou porque é homem e faz ballet, me conte uma novidade por favor. — Sasuke revirou os olhos. — Não foi a primeira nem será a última vez, sabe disso.
Neji se virou para Sasuke e chocou os ombros ao passar por ele. Sasuke massageou a nuca e o seguiu, ignorando os outros alunos que corriam até os vestiários, atrasados provavelmente. Quando já chegavam à sala de música, Neji diminuiu o passo e esperou que Sasuke o alcançasse; com a mão na maçaneta, respirou fundo para então dizer:
— Não vou deixar isso barato, pode me ajudar?
Sasuke sorriu minimamente e apoiou a mão no ombro dele.
— É assim que se fala.
* * *
Nove horas da manhã.
A professora de música não gostava muito dele, Sasuke sabia disso, ela já o havia reprovado duas vezes, e o olhar dela em sua direção parecia não querer esconder que a presença dele em sua classe a desagradava. O pior de tudo era saber que tal inimizade era injusta e que, ainda assim, ele não poderia fazer absolutamente nada a respeito.
Respirou fundo, levantou-se assim como ela mandava e olhou para a partitura em suas mãos. Dizendo apenas “a”, leu as notas musicais com certo esforço e não ignorou as pausas, elas também estavam ali para serem lidas, para indicar o breve segundo quando lhe seria permitido respirar a fim de prosseguir com sua leitura. E talvez devesse ter errado de propósito, ao menos uma vez, assim, não veria a professora cruzar os braços claramente desapontada e mandar em seguida:
— Agora com “o”, vire a página.
Sim, aquela mulher o odiava, todos sabiam disso, as risadas mal contidas das garotas em sua classe deixavam evidente o que a professora nem fazia mais questão de disfarçar. Neji apenas revirava os olhos, já acostumado com o ódio gratuito que Kaguya, uma das melhores professoras de música do Estado, podia oferecer aos alunos. Era sempre assim com eles, os homens, como se ali fosse o lugar onde ela podia reforçar mais uma vez que, para eles, ballet deveria obrigatoriamente ser duas vezes mais difícil, afinal, eram a minoria, o ponto fora da curva, então, nada mais justo que abaixar a cabeça e aceitar o que lhes era imposto. Queriam ser bailarinos, não? Então tinham que pagar o preço.
Antes, Sasuke discutiria, ergueria a cabeça de forma a desafiar a professora e, então, mostraria que ali também era seu lugar. Entretanto, estava cansado, exausto demais de todo aquele ódio gratuito. Kaguya queria desprezá-lo? Então que o desprezasse, sozinha, sem nem ao menos receber seu ódio em troca.
Terminou mais uma vez a partitura, a professora lhe deu as costas e falou algo sobre como as claves eram importantes, ignorando-o ali, de pé. Respirou fundo e sentou-se. Não sabia o motivo de ainda se abalar tanto com tal tratamento.
Dez horas, aula de jazz.
Neji não o acompanhava, como formado ele deveria dar aulas para a “baby class”. Ria, era de fato engraçado ver Neji, com seu modo sério e calado, ter que lidar com crianças de até seis anos e, pior ainda, com os pais delas. Lembrava-se do dia em que uma das crianças havia se machucado, caído e ralado o braço, a calma com que Neji tinha tratado tudo, conduzido todo o procedimento e reorganizado a sala havia feito a mãe da criança quase ter um ataque, e Ten-Ten era conhecida justamente pelas brigas que comprava com os professores do filho. O fato de Neji não ter sido assassinado era tido como um milagre.
A sala de aula era grande, ampla, com janelas largas em duas de suas paredes claras. As cortinas vinho eram presas de modo que o sol pudesse iluminar o recinto, as barras de exercício eram de cor vinho, fixadas nas paredes e em uma delas havia um largo espelho, do chão até o relógio circular que ficava próximo ao teto. Cada barra possuía uns dois metros de extensão e era dupla, com duas alturas diferentes dispostas de modo paralelo para que pessoas com diferentes alturas a pudessem usar. No canto direito da sala, ficava um pequeno espaço para um aparelho de som antigo, mas o que mais ganhava destaque mesmo era o piano próximo à única parede livre e à porta.
Algumas pessoas de sua sala já haviam chegado, e Sasuke se direcionou até a barra que usualmente utilizava.
— Bom dia, Sasuke!
— Bom dia, Ino — respondeu sem o mesmo ânimo que a amiga lhe direcionava.
Ino era a dor de cabeça de toda professora de ballet, ela era a fuga do padrão, era uma mulher de dezenove anos, loira, cabelo comprido e liso que chegava até o quadril e formava um coque recheado e enfeitado com uma pequena flor cor de rosa. Era delicada, tanto quanto as rosas que amava e que vendia junto com seu pai na floricultura que possuíam. Além disso, ela era, sem sombra de dúvida, a melhor bailarina da escola toda, a técnica dela só não era tão perfeita quanto sua própria interpretação e expressão corporal. Ela era a melhor, e era delicioso ver os professores admitirem isso com ela tendo um metro e setenta e oitenta e seis quilos. Ino possuía os quadris largos, os seios entre médios e grandes, a cintura marcada pelas aulas, era o típico corpo violão farto. Belíssima, mas totalmente fora dos padrões retrógrados para uma bailarina.
— Dormiu bem? Está com olheiras — ela comentou, atenciosa.
— Não se preocupe. Já fez o aquecimento?
— Estava te esperando. — Ela sorriu, animada, embora percebesse que o amigo tinha mudado propositalmente de assunto.
Um de frente para o outro, começaram a alongar levemente os braços, esticando-os acima da cabeça enquanto inclinavam o corpo para as laterais. Sem pressa, executaram passos pequenos com o apoio da barra, e Sasuke se afastou para ajudar na postura de Ino quando ela apoiou uma das pernas na barra e deslizou por ela até que as pernas formassem 180°. Apertou os dedos do pé dela, forçando um pouco para que a ponta ficasse perfeita. Após alguns segundos, ajudou-a a voltar à posição inicial e repetir o processo do outro lado. Na sua vez, olhou o relógio antes e suspirou. Apoiou as duas mãos na barra à frente, realizou o passé com a perna direita, deslizando a ponta do pé flexionada desde o calcanhar até a lateral do joelho da perna esquerda, e depositou-a na barra gelada. Com o braço esquerdo erguido, fez um segundo port de bras, inclinando o braço erguido na direção da perna que agora deslizava pelo metal.
Pernas em 180°, mão direita na barra, braço esquerdo curvado sobre a cabeça na direção do pé que agora Ino forçava até que o arco fosse perfeito. Trinta segundos, fechou os olhos para esperar o tempo passar, imaginou as melodias com que se exercitava pela manhã, soltou de forma cansada o ar quando Ino o avisou para que repetisse o processo com a outra perna.
Era bom sentir o corpo responder, ver parte dos resultados de anos de treino. Sentia-se bem ao terminar de se aquecer e, assim como Ino, deixou sua garrafa de água no chão próxima à parede e pendurou a toalha de rosto no canto da barra inferior que pouco usava pela sua altura.
A aula de jazz era mais livre, realizada no centro da sala. A professora era jovem, dura, mas alegre e energética. Quando ela passou pela porta, todos se reuniram ao centro em seus locais de costume, menores è frente e mais atrás para que pudessem se ver no espelho sem dificuldade. Contudo, Sasuke soube que a aula não seria tão boa nem tão leve quando, junto de Anko, o professor principal de ballet entrou.
Orochimaru. Um homem alto, esguio, bailarino renomado e aposentado, pele clara com cabelos escuros, lisos e compridos presos num coque firme, olhos afiados, como os de uma cobra. Professor das classes avançadas e, de vez em quando, do ano preparatório para avaliar os novos talentos, coreógrafo principal e diretor, sócio da escola e justamente a dor de cabeça da maior parte dos alunos. Assim, não foi nenhuma surpresa para Sasuke quando ouviu:
— Deidara, para trás, Sasuke, para frente. Ino, para trás, Sakura, para frente.
Sasuke trocou um breve olhar com Ino e depois com Sakura. Elas também tinham percebido que aquele seria o que haviam batizado de dia PP, ou seja, um puta porre.
Merci pour la lecture!
O que eu mais amo na escrita da Alice Alamo é que ela sempre faz introduções. Em cada história, é preciso conhecer os personagens antes de nos aprofundarmos no enredo. Eu amo esta introdução ao Sasuke bailarino <3
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