— O processo 105 será o mais importante de todos.
Asami assentiu rapidamente assim que Korra terminou a frase, com um sorriso leve. Seus trajes leves e claros do Maralto destacavam seu cabelo escuro, que entrava em contraste com seus olhos verde-esmeralda.
Os outros membros do Conselho fizeram o mesmo, ainda atentos ao discurso.
— A Divisão Militar está nos oferecendo total apoio, afastando qualquer possibilidade de ataque da Causa. — Prosseguiu, dando um breve olhar a Kuvira. — Os soldados estão tendo treinamento completo e estamos fazendo escoltas pelo Continente.
— Desculpe-me Korra, mas não lhe cabe essa decisão de segurança. Sua única responsabilidade é administrar o processo. — Tenzin concluiu, franzindo o cenho.
— Sei disso, Tenzin, foi só um comentário a respeito do processo.
— Um comentário errado! — Disse Lin.
— Um comentário que não devia ter dito. — Completou Kuvira.
— Um comentário que não lhe cabe a esta reunião, que por acaso, já está encerrada.
— Como disse?
— Disse que a reunião está encerrada. Iremos debater sobre o processo 105 apenas quando entrarmos em consenso. — Levantou-se e se retirou, acompanhado de todos outros membros do Conselho, exceto por Asami.
Korra respirou fundo e amarrou seu cabelo em um coque firme, em tentativa de não transparecer sua raiva. Asami, como a bem conhece, logo levantou-se e a selou um beijo, em seguida dizendo:
— Não se preocupe. Você foi ótima.
— Não imagina como isso me relaxa.
— Imagino sim. Não vou deixar você queimar metade do Maralto com seus ataques de raiva.
— Mas você viu? Você.. — Gaguejou um pouco e continuou — Você viu essa injustiça?
— O pessoal do Conselho é assim mesmo. Vem, vamos embora. Vamos relaxar um pouco.
— Sabe, as vezes sinto falta do Continente. Ninguém era assim lá.
Asami rangeu os dentes e desviou o olhar. Detestava tocar nesse assunto, de relembrar sua vida no Continente. Agradecia por estar no Maralto todos os dias, e jamais gostaria de perder essa oportunidade. Casada com Korra, sua vida era uma imensidão de felicidade, principalmente por serem parte do Conselho. Eram invejadas e aclamadas por todo o Maralto.
Andaram por poucos minutos pelas calçadas cobertas por gramíneas e chegaram em casa. Ficava bem no centro do Maralto, e tinha uma estrutura tão moderna quanto o resto. As duas entraram e dirigiram-se a cozinha.
— Asami, vou subir para dar os retoques finais no meu processo. É daqui a três dias.
— Daqui a pouco eu subo pra te ajudar. Primeiro vou comer alguma coisa. Vai querer?
— Não, não to com muita fome. Enfim, vou lá finalizar. — Korra subiu as escadas e trancou-se no quarto, ocultando-se do resto da casa.
Asami adorava os momentos em que ficava sozinha. Podia agir da forma que quisera, e ter seus livres pensamentos. Abriu a garrafa de vinho, esquentou a panela com espaguete e sentou-se sobre o balcão. Era o jantar perfeito.
Quando estava pronta para devorar, o “tim dom” ecoou por toda a casa. Asami deixou seu prato de lado e teve uma enorme surpresa ao ver a pessoa atrás da porta.
— Oi Kuvira, eu posso te ajudar?
— Oi, avisa pra Korra que o processo 105 não vai acontecer. Desculpa por essa notícia.
— Que? Como assim? — Asami arregalou os olhos no mesmo instante.
— Loretto disse que os dobradores serão expulsos do Maralto. Isso significa que não vai ter guarda, e sem guarda, não tem processo.
— Loretto enlouqueceu? Como o dono do Maralto proíbe os dobradores? Quer dizer que..
— Eu.. Eu sinto muito. — Kuvira se contraiu um pouco, parecendo envergonhada. — Vocês tem até 3 dias para ir embora.
— A Korra vai ficar arrasada..
— Pelo jeito, nós dobradores temos que ficar no Continente mesmo.
— Mas e você, Tenzin, Lin? Todos vocês são dobradores!
— Vamos participar da nova sociedade. Ouviu falar da Concha? É bem distante daqui, diferente de tudo que já vimos. Lá eles aceitam os dobradores.
— Concha?
— Isso aí, pesquisa um pouco e vai ver. Bem, preciso ir e arrumar minhas malas. Adeus, Asami.
—Adeus, Kuvira..
Asami fechou a porta e desabou sobre o chão, chorosa. Gritara inconformada, soluçando em meio ás lágrimas que banhavam seu rosto. Korra desceu as escadas assim que ouviu os berros, preocupada.
— O que houve, o que houve? — Perguntara, limpando as lágrimas de seu rosto.
Asami não respondeu. Sua respiração era acelerada e seus olhos, agora avermelhados, estavam inundados. Descabelava-se, soltando pequenos gemidos de frustração.
— Você precisa me dizer o que aconteceu, Asami.
— Seremos.. — Respirou fundo mais uma vez. — Vamos ser separadas, Korra.
— Por quê? O que você quer dizer com isso?
— Os dobradores, expulsos do.. do Maralto. Eu não sou dobradora!
— Quem falou isso?
— O Loretto anunciou e Kuvira veio aqui dizer. Foi ela que tocou a campainha..
— Mas.. o meu processo..
— Me desculpa.. Me desculpa! — Asami gritou, envolvendo-se nos braços de Korra e sem querer se soltar.
— Fique calma amor, fique calma. Isso não vai acontecer.
— Como, Korra? Acabou, acabou! Nós perdemos!
— Não, ainda não acabou.
Korra se levantou e soltou seu cabelo, mostrando sua postura orgulhosa. Não conseguia sorrir, mas seus olhos já diziam tudo: Ela sabia muito bem o que estava fazendo.
— A gente vai ganhar. Pela Causa.
— Causa? CAUSA? Você ficou doida, Korra?
— Eles são os únicos com capacidade de acabar com esse Maralto injusto. Faremos uma revolta.
— O que você está dizendo? Por favor, não faça isso..
— Eu tenho que fazer, Asami! Loretto não vai nos expulsar da nossa casa, ele não vai nos separar!
Asami levantou-se do chão e correu até a varanda, ignorando sua esposa. Olhava para baixo a todo instante, calculando as possibilidades de isso dar errado. E então, berrou o mais alto possível, com as mãos sobre a boca:
— A Causa está no Maralto!
— Eu não vou perder de novo! — Korra liberou uma corrente de água, congelando-a e deixando Asami imobilizada.
Arrependeu-se do que fez no mesmo instante em que viu Asami congelada. Estava errada, sabia disso. Mas não podia, não podia deixar essa injustiça acontecer. A expulsão de pessoas esforçadas, inocentes, que lutaram para passar no processo. Pessoas que merecem todo o bem que receberam em seus anos de Maralto. Nem Asami poderia impedi-la de fazer isso.
Korra pôs suas luvas de couro, seus óculos escuros e amarrou o cabelo em um rabo de cavalo fino. Aumentou a camada de gelo em Asami, para se precaver.
E saiu de casa, agora com uma missão. Salvar os dobradores.
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