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Jimin é um estudante do colégio interno Hangug Yong, visto como o garoto problema, enquanto Yoongi é estudante do mesmo local, sempre visto como o garoto certinho. Os dois nunca trocaram muitas palavras. No entanto, após uma fuga de aula, orquestrada por Jimin e seguida por Yoongi, eles vão para um lugar, onde apenas os dois estarão e poderão se conhecer de verdade. Eles achavam que sabiam o suficiente sobre o outro, mas em pouco tempo, descobrem que nada é o que parece ser.


Fanfiction Groupes/Chanteurs Déconseillé aux moins de 13 ans.

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Capítulo único

Escrito por: @/Lolitaautora

Notas Iniciais: Mais uma história que adorei escrever. A maior parte dela é adorável e acredito que vão gostar muito 💕 O título é por causa dos olhos do bebê Yoongi 🤏


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Jimin odiava o professor de Física.

Não o suportava.

Não conseguia olhar na cara dele sem lembrar do que ele havia feito.

Era ridículo vê-lo quando ele entrava na sala de aula, e mais ainda, quando percebia os olhos das colegas de classe encarando-o como se o homem fosse um pop star. O professor era bonito, nem podia mentir quanto a isso, no entanto sua beleza não apagava a babaquice e safadeza dele. Jimin acreditava na possibilidade de ser um dos únicos daquele lugar que sabia quem, Enzo, o professor, era de verdade.

Logo que Enzo começou a falar com aquela simpatia falsa, Jimin revirou os olhos. Virou o rosto para trás e encarou a porta que estava a metros de sua vista. Estava tão perto... Seria ruim continuar ali sem olhar para ele com cara de nojo, e seria bom sair daquela sala cheia de alunos admirando o professor mais inteligente do internato Hangug Yong.

Era claro que Enzo era inteligente, afinal trabalhava em um colégio renomado de Seongnam, o colégio onde muitos gostariam de estudar. Só os melhores entravam, e os mais inteligentes, aptos a passar em qualquer vestibular, seja no país ou no estrangeiro, conseguiam se formar.

Jimin soltou um bufo antes de responder a chamada.

— Presente. — Seus lábios tortos e a revirada de olhos foram imprescindíveis. Ele percebeu o sorriso ladino na boca fina do professor, já que o homem sabia do ódio do seu aluno por si, e não se importava, claro que não. E esse fato aumentava a repulsa de Jimin por ele.

Ninguém via o quanto ele era alguém ruim que se aproveitava de garotas ingênuas para seduzi-las. Uma, duas, talvez três ou mais caíram no papinho dele de amor. Sua amiga foi uma, até uma mulher que ele amava também, que conseguiu superar, mas sua amiga teve que ir embora. O motivo? Ela descobriu que não era a única do professor bonitão, ficou depressiva, sentiu-se burra e sem valor, teve que sair do internato por não aguentar sofrer.

Jimin não a via há meses, pois passava muito tempo no internato e não teve tempo para reencontrá-la. Para o acalento de seu coração aflito, soube através dos pais dela no último final de semana de folga, que a amiga tinha ido para Daegu. Ela estava bem e com saúde. Saber disso o deixou feliz, enquanto o ódio por seu professor aumentava.

Jimin tentou destruí-lo e fazer ele ser expulso do internato, contou para a diretora sobre o que Enzo fez com Jordan, foi então que soube que a mulher sabia, mas não podia fazer nada, visto que o professor era filho do dono da instituição. Foi então que ele pensou: Às vezes, pessoas ruins têm sorte. Pessoas ruins têm proteção. Pessoas ruins são amadas. No entanto, elas um dia caem. E Enzo iria cair. Talvez, não por minha causa, mas ele iria.

Jimin se agarrou nisso, contudo, embora precisava conviver com Enzo, não significa que sempre teria que suportá-lo, foi então que, enquanto o professor estava de costas, desenhando ondas sonoras no quadro verde, Jimin saiu da cadeira, deixando seu material escolar na mesa, o sorriso sagaz acompanhando sua ação rebelde.

Não continuaria ali, não naquele dia, faltar mais algumas aulas não seria um problema. Ele tinha uma carta na manga, e era sua memória, boa e valiosa demais, a melhor parte de seu corpo. Bastava pegar o livro de Física, procurar o assunto que o professorbabaca estava ensinando naquele dia e ler mais tarde que saberia tudo. Sua nota não costumava ser um dez, mas jamais era baixa.

Saiu da sala e entrou no extenso corredor de paredes marrons. Seus pés andavam calmos, fazendo pouco barulho, as mãos enfiadas no bolso, os lábios assobiando baixinho, os olhos focados em analisar cada corredor que olhava e entrava. Como ele já esperava, o local estava silencioso.

Apenas se escondeu atrás de uma coluna grande, estilo grego, perto do pátio do segundo andar, após ver a supervisora passando apressada. Quando ela sumiu de vista, o garoto entrou no pátio espaçoso. Cores claras, como bege e branco, predominavam no piso de mármore e nas paredes. Estátuas de gesso próximo a escada deixavam o local mais interessante. O centro do teto possuía um lustre elegante iluminando o ambiente, visto que não havia janelas ali.

Está fácil demais fugir da aula hoje, ele pensou.

Jimin começou a subir a escada. O terceiro andar era o seu destino. O lugar mais quieto e vazio do internato. Ninguém iria aparecer por lá e atormentá-lo com regras absolutamente ridículas que ele já conhecia de cor. Oras, Jimin estudava desde o primeiro ano naquele lugar. Aquele ano era o último, ninguém precisava lhe dizer que não podia estar fora da sala durante a aula. Ele sabia.

No entanto, sem que ele notasse, alguém apareceu no pátio no mesmo momento em que ele pisou o sexto degrau daquela longa escadaria de madeira.

— Onde está indo?

Ah! Aquela voz baixa, levemente rouca e estranhamente agradável para seus ouvidos, Jimin conhecia bem. Ele paralisou sem dar mais nenhum passo para frente, fechou os olhos e soltou um ofego audível.

— Jimin... — o rapaz murmurou, como se quisesse chamar a sua atenção, como se quisesse que o atendesse.

Jimin pensou em seguir em frente, disposto a deixá-lo sozinho, no entanto, deu alguns passos para trás, saindo da escada. Virou o corpo e seus olhos se encontraram com os dele. Olhos estranhos, olhos bonitos, olhos bicolores.

Na primeira vez que os visualizou, não entendeu por que aquele rapaz possuía orbes tão únicos, que nunca havia visto na vida. Ficou tão intrigado que resolveu pesquisar. Então, depois de horas pesquisando sobre o assunto, entendeu que a razão dele ter uma íris verde e outra castanha era a heterocromia. Duas cores que, para muitos, podia ser estranho ou até feio, mas para Jimin, era a coisa mais perfeita.

Claro que os elogios acerca dos olhos bicolores ele só guardava para si. Min Yoongi não fazia parte de seu círculo social. Sempre tão certinho e obediente — de uma forma que em certos momentos o irritava —, além disso, Yoongi era inteligente o bastante para andar com outros estudantes também inteligentes, do que com Jimin. Se bem que Jimin era muito estudioso, mas não era certinho. Nunca foi e nem queria ser.

— O que quer? — Jimin perguntou, encarando o rapaz seriamente. — Por que está interessando em saber para onde eu vou?

O outro tocou o cotovelo coberto pela camisa social branca com a mão, desviando o olhar, como se tivesse ficado desconcertado, envergonhado. E sim, ele ficou, sempre era assim quando tinha algum contato com o Park.

— Bem... — ele disse, engolindo em seco, antes de voltar a olhar Jimin. — Você está fora da sala. Deve voltar.

— Devo? — Arqueou a sobrancelha. Um sorriso surgiu em seu rosto, enquanto caminhava até o outro, que acenou.

— Não pode ficar fora da sala de aula, é obrigatório, pode perder pontos, ter uma advertência, até não ir para casa nesse final de semana...

— Falou como se eu não soubesse de todas essas malditas regras — Jimin rebateu, estalou a língua no céu da boca. Viu as bochechas dele ficarem tão vermelhas quanto a cor do colete suéter dele, complemento extra do uniforme que era permitido no internato, ou do blazer, peça que Jimin mais gostava do uniforme. Até que ele fica mais bonitinho corado, pensou, e logo voltou a falar:

— Mas, quero que saiba, que não vou voltar para a sala. Se eu quisesse estar lá, acha que eu estaria aqui? Acha que se eu me importasse com as regras, eu não estaria na sala?

Yoongi ficou quieto. Apesar de estar vermelho, não pela forma como Jimin falava, mas por estarem perto, continuava mantendo o olhar nele, afinal quando estaria falando com Park Jimin de novo? Quando teria o olhar dele em si de alguma forma?

Bom, sua alegria durou pouco, pois Jimin ficou de costas e subiu a escada, esperando que o garoto de cabelos escuros entendesse e voltasse para a sala, lugar onde Yoongi deveria estar. Pelo que Jimin se lembrava, o rapaz nunca faltou uma aula sequer, não tinha razões para demorar no pátio e se importar com o que ele fazia.

Nem amigos eram...

Jimin avistou, no terceiro andar, a última porta que jazia do lado esquerdo no fim do corredor. Andou por aquela área isolada, voltando a assobiar tranquilamente, ansiando ficar sozinho no seu lugar favorito, o melhor lugar para se esconder, conhecido como a sala de teatro. Não onde se apresentavam as peças, mas o lugar em que se podia encontrar materiais de cenário, fantasias, caixas com diferentes objetos.

Era pequeno e aconchegante.

Diante da porta, que estava trancada, ele sorriu. Estava na hora de abrir e entrar, no entanto a voz de Min Yoongi o interrompeu pela segunda vez naquele dia.

— Yoongi. — Jimin respirou fundo. Seu olhar se encontrou com o rapaz dos olhos bonitos novamente. — Que caralhos faz aqui? — perguntou franzindo o cenho, confuso por dois motivos. Primeiro: o porquê ele resolveu segui-lo. Segundo: Como não ouviu ele chegando? Yoongi tinha pés de pluma?

Se bem que, além de inteligente e bonito, era muito silencioso.

— E-eu não vou te deixar só — balbuciou, respirando rápido.

— Eu não pedi por companhia.

— Eu sei — respondeu, ignorando o tom irritado do Park. — Mas eu quero estar com você.

— Por que?

Yoongi entreabriu os lábios. Demorou segundos para responder, e quer saber por qual razão? Ele precisou pensar em uma desculpa. Tinha duas opções, falar a verdade ou mentir. A verdade era simples, mas difícil. Era apaixonado por Jimin, uma paixão unilateral que foi impossível controlar. Nunca falou sobre esse sentimento para alguém, nunca teve coragem, nem teria naquele momento para dizer a ele, no entanto, seu desejo de estar perto daquele garoto errado tornou-se enorme após vê-lo sozinho e raciocinar que aquela era uma boa oportunidade. Ninguém viu Jimin sair da sala de aula além dele. E ninguém viu a sua saída, e se viu, não se importou, nem mesmo seus amigos, pois eles estavam concentrados demais na beleza do professor de Física.

Escutar o ofego do Park trouxe o moreno de volta à realidade, aquela no qual teria que dizer seu motivo. Então, enfim, disse:

— Só quero faltar uma aula ao menos uma vez.

— Ah! — ele expressou. — Quer ter uma experiência de rebeldia?! — Um sorriso muito satisfeito surgiu em seu rosto. Gostou da resposta. Finalmente Yoongi mostraria para ele que era humano, pois iria errar. “Errar é humano”, não é isso que costumam dizer?

— Sim. — Yoongi sorriu também, pequeno, sutil.

— Então tudo bem. Pode ficar comigo e me fazer companhia.

Yoongi sussurrou um “obrigado”. Aproximou-se dele, torcendo para que não tivesse uma taquicardia perto do Park. Era isso que podia ter facilmente, visto que seu coração bombeava no peito de forma descomunal.

— Como vai abrir? — Yoongi perguntou, sabia que a sala de teatro ficava trancada.

— Hum! Achou que eu viria até aqui sem saber como entrar? — Ele ergueu a chave que estava no bolso, escondida e pronta para ser usada a qualquer instante. Viu o outro ficar boquiaberto, impressionado, as íris verde e castanha brilharam com intensidade. Ele gostou do que viu. Gostou muito.

— Como... como conseguiu essa chave? — perguntou. Pouquíssimas pessoas possuíam as chaves de todos os âmbitos do internato, somente administradores e professores tinham, então, Jimin ter aquela chave em mãos, era um mistério que ele queria descobrir.

— Eu fiz uma cópia — respondeu colocando o objeto na fechadura. — E antes que me pergunte como, saiba que foi simples. Apenas a peguei em um dia que a esqueceram bem aqui, na fechadura. Levei para o meu quarto, antes que alguém viesse buscá-la, depois peguei meu sabonete, enfiei a chave nele até que o molde ficasse praticamente perfeito. Devolvi no local onde estava e esperei o dia que iria para casa para mandar fazer a cópia num chaveiro. E deu muito certo. — A porta abriu, Jimin encarava Yoongi, que parecia mais assustado do que impressionado.

— Não deveria fazer isso, é errado.

— Me julgando, Yoongi? E o que está fazendo agora? Não está errando também?

Yoongi ficou quieto. Seu silêncio foi sua resposta. Não podia ser um hipócrita.

— Eu sei que errei, mas eu não me importo e muito menos você deveria se importar. Se algum superior descobrir, sei que terei uma advertência, e tá tudo certo— Jimin falou e entrou na sala.

Yoongi o seguiu, fechando a porta em seguida. Ficou parado, observando aquele cômodo com tantos materiais essenciais para serem usados em uma encenação teatral. Depois, suspirou e sentou num divã coberto por um lençol. Seu olhar recaiu em Jimin, que estava parado na janela.

O Park tinha a vista do jardim, do gramado, dos muros, do portão de ferro, das árvores nas laterais esquerda e direita, iguais as que tinham no fundo do prédio, que mais parecia um palácio, enquanto Yoongi tinha a vista do garoto bonito que olhava sempre que podia, principalmente quando ele ficava distraído.

Yoongi podia se arrepender por estar fora da sala em horário de aula, mas ele não se importava, nem mesmo se levasse uma advertência depois.

Estava com Jimin por perto, tendo a disponibilidade de ouvir a voz dele direcionada a si, além de poder ter a sua atenção. Estavam no mesmo ambiente, iriam interagir de qualquer maneira.

— O que vamos fazer? — Yoongi perguntou. Jimin fechou um pouco a cortina, deixando uma fresta para que tivesse alguma claridade ali. Não ligaria a luz, uma pessoa que passasse do lado de fora poderia perceber que tinha alguém naquele lugar. E ninguém entrava na sala de teatro às sextas-feiras. Aulas práticas de teatro eram só às quartas-feiras. Apresentação de peças, apenas em datas especiais. Limpeza do local, somente aos finais de semana.

— O que você vai fazer eu não sei. Mas eu sei o que eu vou fazer. — Jimin sentou no chão, próximo a outro estofado, deixando as pernas dobradas, os joelhos erguidos para cima. Ao abaixar o rosto, alguns fios de cabelo loiro repartidos de lado caíram na testa, foi um charme impossível para Yoongi ignorar. Focou no rosto dele, no nariz, nos olhos âmbares, na boca, que antes vazia, de repente, ficou ocupada. Yoongi arregalou os olhos. Não podia acreditar no que estava vendo... Logo, a fumaça saiu entre os lábios carnudos, e o cheiro, aquele cheiro que Yoongi não podia sentir, se espalhou.

— Espero que não se incomode.

— Você... fuma... — Sua voz saiu num sussurro. O corpo ereto, a expressão perplexa, era tudo o que Jimin não pensou que veria nele.

Por que o susto desse tamanho só em saber que eu fumo? Tem adolescentes que fumam, ou será que ele não sabe?

— Sim.

Yoongi se remexeu no divã, claramente desconfortável. Jimin não deveria se importar. Não queria se importar. Porém...

— Está muito desagradável?

— Você não deveria fumar, Jimin.

— Eu sei. — Era claro que ele sabia disso. Era menor de idade. Cigarro causava doenças. Nem adultos deveriam, não era recomendado. Era informado disso. Dificilmente alguém não sabia, e, mesmo assim, continuava. Tornou-se quase um hábito fumar — e guardar de um a três maços e isqueiro dentro do bolso — desde a morte do pai. Cigarro era uma merda, contudo foi a única coisa que conseguiu o acalmar em seus momentos solitários e angustiantes.

— Mas você está desconfortável? — Jimin insistiu em indagar.

Yoongi ainda não olhava para ele, mas Jimin o viu mover a cabeça afirmando que sim.

Ele suspirou, parou de tragar, apagou a chama no chão, confuso com sua importância na opinião do Min.

— Obrigado. — Yoongi voltou a olhar para ele, sorrindo minimamente. Algo se aqueceu em seu coração, porém a aflição que surgiu continuou à espreita, além disso, chateou-se ao perceber que não conhecia o Park como gostaria, mas ali era um ótimo momento para tal coisa acontecer. — Não sabia que fumava. Deve ter cuidado, ou melhor, tem que parar.

— Eu vou.

— Dizer isso não vai te fazer parar, tem que tomar alguma atitude — afirmou, olhando-o firme. Ver o que viu o deixou preocupado, se importava com Jimin e com o que ele fazia. Tinha medo de coisas ruins acontecerem com aqueles que gostava, e Jimin não ficaria de fora.

— Você fala como se fosse meu responsável.

— Era o que seu responsável deveria fazer

— Minha mãe não sabe — ele disse. — E não vai saber. E, eu estou bem, saudável. Não fumo todos os dias.

Yoongi balançou a cabeça. Não diria mais nada, pelo menos, não mais ali. Todavia, se o visse fumando de novo, diria. Em certas situações podia ser contido, mas em outras, sabia ser sincero demais.

— Por que saiu da sala durante a aula do professor Enzo? — Yoongi mudou de assunto. Falar sobre aquela droga o incomodava. O cheiro enfraqueceu no ambiente, para seu alívio.

— Porque não queria continuar ouvindo a voz dele, nem olhar pra cara dele — Jimin respondeu num tom incomodado, raivoso, e revirou os olhos, o que não passou despercebido por Yoongi.

— Você tem muita raiva do professor?

— Sim, e devo ser o único desse internato.

Yoongi ficou boquiaberto. Ainda não compreendia o incômodo do Park por Enzo. Ele sempre foi um ótimo professor. Era atencioso e dedicado. Com ele, os assuntos de Física pareciam tão fáceis. Nada vinha à sua cabeça sobre qual poderia ser o motivo desse sentimento negativo do rapaz pelo educador. Talvez, seu rosto demonstrou confusão, pois logo escutou a voz de Jimin atravessar seus ouvidos.

— Sabe a Jordan? Que estudava na sala C do terceiro ano?

Yoongi assentiu.

— Ela se envolveu com ele.

— Jordan e o professor? — indagou, ficando com os lábios bem entreabertos. Jimin acenou. — Não sabia disso. Pensei que Jordan e você… bom… — Parou, os dedos das mãos apertaram a calça e os olhos desviaram para baixo.

— Bom o quê? — Jimin murmurou, instigando-o a continuar.

— Achei que vocês dois eram namorados...

Jimin quase não escutou, de tão baixa que a voz dele saiu. Por um momento, teve vontade de rir. Jordan e ele sendo namorados soou um absurdo para seus ouvidos. Jamais namoraria Jordan.

— Jordan é minha melhor amiga, nunca foi minha namorada. De onde você tirou essa história? — questionou, franzindo o cenho. Viu Yoongi erguer o olhar, com o rosto mais vermelho que nunca.

— Bem... — Engoliu em seco. — Vocês sempre andavam juntos.

— É claro que andávamos juntos, éramos amigos. E ainda somos.

— Ah! Me desculpe, eu... — Yoongi escondeu o rosto com as mãos, querendo sumir naquele instante. Estava envergonhado por ter tirado conclusões precipitadas a respeito deles. Jordan e Jimin viviam tão perto um do outro que acabou afirmando para si que eles eram namorados. Além disso, para seu pobre coração sofrer mais, acreditou que Jimin era alguém inalcançável.

Somente Yoongi sabia o quanto ficou feliz por Jordan ter ido embora do internato. E lembrar dessa felicidade espontânea, a qual não conseguiu controlar na época, aumentou a sua vontade de sumir dali. Que Jimin nunca saiba disso, ele pensou.

— Você não deve ter sido o único que pensou que Jordan e eu tivemos algo a mais. Confesso que no começo senti atração por ela, mas com o tempo, passei a vê-la apenas como uma grande amiga.

Yoongi tirou as mãos do rosto. O olhar de Jimin parecia ser tão sério que lhe deixou arrepiado. Não conseguia desviar dos olhos âmbares que pareciam tão vivos enquanto o encarava, e nem queria. Tudo o que Yoongi sempre quis, desde que se sentiu atraído pelo loiro, era ter os olhos dele em si, independente do motivo.

— E mesmo se eu a visse além de uma amiga, o coração dela pertencia àquele babaca.

— Então, foi por causa do professor que ela não está mais aqui?

— É. Ele fez Jordan acreditar que estava apaixonado por ela, mas aí, ela viu o babaca beijando outra. E quer saber quem?

— Uhum.

— Minha mãe. — Jimin fez uma careta, ficou com os lábios tortos e o "urgh" foi feito com fervor. Lembrar do dia em que soube que eles saíram algumas vezes como um casal causava embrulho no estômago do Park. E foi no mesmo período que Enzo ficou com Jordan. — Mas ainda bem que as duas descobriram o tipo de homem que ele é. Uma pena que ele parece ser tão bonzinho, que é amado por muitos daqui.

— Depois de ouvir tudo isso, não vou ver mais o professor Enzo com os mesmos olhos.

Jimin sorriu, satisfeito com o que ouviu, e encostou a cabeça no estofado

— Não precisa mostrar seu desgosto por ele por causa do que acabou de ouvir. Nunca se sabe o que o babaca pode fazer. E também não quero que tenha problemas com ele por minha causa — disse num tom sério. Permaneceu encarando os olhos bicolores bastante atrativos. Estavam até mais bonitos que antes, mais brilhantes de uma maneira fascinante. Quase elogiou os olhos dele, entretanto manteve-se calado, pressionando os lábios um no outro.

— Sabe... eu me senti tão feliz quando minha mãe parou de ver aquele babaca — Jimin contou, quebrando o breve silêncio. — Depois que meu pai morreu, pensei que ela jamais iria se apaixonar por outro homem. Ela o amava tanto... — Jimin tocou o bolso, sentindo o isqueiro em seus dedos. Engoliu em seco, querendo controlar a vontade de fumar novamente. — Então, quando ela disse que estava interessada em alguém, fiquei puto. Comecei a pensar que ela não amou meu pai de verdade… Quando mamãe parou de ver o Enzo, fiquei muito feliz, mas não demorou muito para ela aparecer com outro.

A fala do Park se tornou mais baixa nas últimas palavras, como se estivesse em confissão para um padre. Talvez fosse mesmo uma confissão, um desabafo, e Yoongi escutaria cada palavra que ele diria. Quase se levantou e sentou ao lado do Park no chão, porém desistiu.

— Não consigo gostar desse novo amor dela. Não gosto de ver os dois juntos.

— Ele aparenta ser alguém ruim? — Yoongi perguntou

— Não.

— Ele deixa sua mãe feliz?

Jimin comprimiu os lábios. Na última vez que viu Elizabeth, sua mãe, no final da semana retrasada, percebeu ela ficar sorridente enquanto conversava comCarlos na varanda de casa.

— Acho que sim.

Escutou um respirar profundo de Yoongi, que chamou sua atenção.

— Então não tem por que você não gostar desse novo relacionamento dela, ou desejar que ela termine com ele. Eu daria tudo para ver minha mãe feliz, nem que fosse com outra pessoa.

Naquele momento, Jimin ajeitou sua postura, o que viu no rosto de Yoongi o deixou surpreso e confuso. A tristeza apareceu no olhar dele, algo que não estava ali antes. Jimin odiou ver isso. Odiou ver a expressão que desmoronou o moreno.

— Não lembro quando foi a última vez que minha mãe sorriu. — Yoongi engoliu em seco, a voz saiu embargada, rouca. — Todas as vezes que volto para casa, tenho que escutar ela chorar. Não importa a hora, os barulhos vindos do quarto dos meus pais sempre chegam até mim em algum momento. Barulhos que odeio ouvir. E depois, sinto o cheiro de cigarro que meu pai exala pela casa, enquanto mamãe chora por causa da dor em seu corpo. Então… se sua mãe está feliz, se está com um sorriso no rosto, você deveria gostar disso. Ela estar seguindo em frente não quer dizer que ela não ama mais seu pai — falou com o rosto abaixado, como se não conseguisse olhar para Jimin, após falar um problema familiar que o garoto preferia esconder e que nunca teve coragem de falar para os amigos.

Era uma tortura o que vivia em sua casa, uma que não tinha forças para acabar, nem poder para impedir que acontecesse outra vez. Em muitos momentos, desejava nunca mais voltar para lá.

De repente, dedos tocaram seu queixo e sua cabeça foi erguida.

— Eu sinto muito. — Jimin passou os dedos abaixo dos olhos de Yoongi. Sentou ao seu lado e, sem que ele esperasse, abraçou-o pelos ombros.

Yoongi se surpreendeu pelo gesto inesperado. O calor do Park o envolvia, os braços o acomodaram perfeitamente. Pela primeira vez, sentia-o bem pertinho, mas, infelizmente, após uma confissão dolorosa de uma parte de sua vida.

— Me sinto um idiota agora, Yoongi. — E realmente, Jimin se sentia assim.

Enquanto sua mãe estava feliz eele desejava que ela ficasse sozinha, seu colega de classe via a mãe sofrer nas mãos do próprio pai.

Jimin conseguia imaginar algumas cenas de violência doméstica, mas não conseguia mensurar a dor que Yoongi sentia nessas situações.

Olhava o rapaz, quase todas as vezes, com um sorriso no rosto, fosse na sala de aula, quando ele estava com os amigos ou quando cumprimentava as pessoas a sua volta.

Yoongi parecia ser um garoto feliz. Mas só parecia, porque por trás de todos os sorrisos que ele mostrava para os outros, ele escondia sua tristeza e seu sofrimento.

Além disso, Jimin entendeu o que o cheiro de cigarro trazia para Yoongi. Com certeza, trazia memórias de casa que ele provavelmente desejava esquecer.

— Você deveria tentar conhecer melhor o seu padrasto — Yoongi sussurrou.

— Bem, ele não é meu padrasto.

— Ainda não. Mas pode ser que se torne. — Yoongi, de olhos fechados, suspirou, querendo continuar junto com Jimin, sentindo as mãos dele em suas costas, estar abraçado com o corpo quentinho.

— Devo seguir seu conselho?

— É claro que deve.

— Quem sabe eu siga. Só não prometo nada. — Jimin soltou uma risada, impressionado consigo mesmo por ter pensado nisso e, até mesmo, colocando em sua mente que pararia de fumar a partir daquele dia. Yoongi não precisava sentir o cheiro de cigarro em sua pele.

Apesar de não saber se quando saísse daquela sala, se tornaria amigo de Yoongi, queria evitar qualquer incômodo que pudesse despertar nele.

Yoongi quase gemeu frustrado quando Jimin se afastou de seu corpo para se levantar. Yoongi pediria para ele voltar para seus braços, caso tivesse coragem o suficiente. Ele só não tinha ideia que Jimin desejava voltar para lá também, no entanto ele preferiu se afastar quando notou que o cheiro de Yoongi era bom demais e desejou ficar abraçado a ele durante horas apenas para continuar sentindo.

Jimin parou em frente a uma caixa, colocou sua mão dentro e quando a ergueu, segurava um chapéu. Logo, colocou sobre sua cabeça.

— Vai se inscrever para a peça de teatro? — Jimin perguntou, querendo mudar o rumo da conversa. Não sabia o porquê, mas precisava ver o brilho de antes nos olhos bicolores, por isso, resolveu improvisar, sem saber se daria certo.

— Ah! Eu não sei. — Yoongi saiu do divã, ficando ao lado do Park. Sua mão parou dentro da caixa, os dedos passaram pelos tecidos das fantasias que estavam guardadas ali. — Eu pensei em fazer isso. Faz tempo que quero estar em cima de um palco e atuar. — Ele sorriu, contudo foi um sorriso que sumiu na mesma rapidez que apareceu. — Mas acho que não devo.

Jimin ficou observando o rosto de Yoongi, um sorriso pequeno surgiu nos lábios rosados dele novamente, como se tocar aquelas fantasias fosse algo muito interessante.

Viu Yoongi pegar um cachecol felpudo de plumas lilases e enrolar no pescoço. Ele o encarou em seguida.

— Por que não deve? — Jimin perguntou, notando que a tristeza no olho verde e castanho ainda existia, mas sumia por causa do brilho diferente que surgiu em poucos segundos.

— Eu iria precisar da permissão dos meus pais. E mesmo que minha mãe deixe, meu pai não vai permitir que eu participe da peça. Ele já negou uma vez, no ano passado, e pode negar de novo.

E outra vez, a tristeza se fez mais forte na face de Yoongi.

O pai dele é um maldito, Jimin fechou as mãos em punho após conluir esse fato drástico. Um desejo estranho e feroz atingiu seu peito, um que o fazia ter vontade de bater no pai de Yoongi. Ele teria coragem, só não sabia como Yoongi reagiria caso o fizesse.

— O que mais quero é entrar em uma escola de teatro quando terminar os estudos esse ano, mas meu pai quer que eu faça Medicina. E não sei como fazer ele mudar de ideia.

Jimin segurou os braços de Yoongi, olhando-o com determinação.

— Você tem que se inscrever, Yoongi. Se quer atuar, tem que fazer isso. Não pode seguir o desejo do teu pai.

— Mas ele não vai permitir.

— Que se dane! Se inscreva e mostre o papel de permissão para sua mãe assinar, caso ela não faça isso, fale com a professora de Teatro. Diz que quer participar, mas que os seus pais não podem saber pois não autorizaram. Ela pode aceitar se você for convincente. Você precisa tentar, pelo menos. Não pode fazer tudo o que seu pai quer.

Yoongi ficou surpreso com a fala do Park. Ele se importava com seu desejo, e seu coração retumbou no peito ao notar isso.

— De qualquer forma, eu não ensaiei para os testes.

— Ensaie agora.

— Como? — Yoongi franziu o cenho.

— Me mostre como você interpretaria uma cena. Qualquer uma. — Jimin sentou no sofá pequeno, que ficava em frente ao divã.

Yoongi ficou estático no mesmo lugar, vendo que ele estava falando sério. Tremeu levemente por não saber o que fazer.

— Não precisa ter vergonha de me mostrar seu talento, Yoongi. E para te ajudar, posso participar da cena, só precisamos improvisar.

Yoongi estalou os dedos, seus olhos caíram aos pés, a respiração acelerando em nervosismo, com dúvida se atuaria naquele momento ou não. Sentia o olhar forte do Park em si, que esperava o seu lado ator.

Suas atuações sempre foram tão solitárias, pela falta de oportunidade de mostrar seu talento para alguém, por vergonha, e até mesmo, por medo. Mas, como queria atuar, precisava perder qualquer receio que sentia.

De repente, Yoongi fechou os olhos, inspirando e expirando. Sua mente viajou para uma cena da última peça que foi apresentada no internato. Depois, ele abriu os olhos, determinado a mostrar uma atuação que fosse digna.Esqueceria que era Yoongi e se transformaria num protagonista, fazendo o papel que pertencia a uma mulher.

Se Jimin fosse participar, ele podia se lembrar das falas da personagem Annabeth, ou não, mas, de qualquer maneira,Jimin teria que participar da cena, afinal ele deu a ideia.

— Esperei tanto por esse momento, meu amor — o personagem que Yoongi interpretava disse, encarando Jimin, que seria Amon, por enquanto.

Yoongi caminhou em passos lentos, os olhos apaixonados encarando a pessoa amada. Jimin começou a ouvir seu coração mais forte. Yoongi estava cada vez mais perto. O olhar dele era intenso demais. Era uma interpretação, mas que mexia com ele na realidade.

Tenho que falar alguma coisa agora?, ele se perguntou. Não era ator, mas sabia mentir, e mesmo que aquele momento não fosse uma mentira, era uma atuação que tinha que demonstrar ações e falas fictícias.

— Não sabe o quanto senti sua falta... — Yoongi parou as mãos no cachecol para baixa-lo um pouco. Os olhos bicolores desviaram para a boca de Jimin. — Seus lábios sentem falta dos meus tanto quanto eu sinto dos teus?

— Ah. Eu... Não sei te dizer — disse a primeira coisa que veio à sua mente. Ele realmente não se lembrava dessa cena. Na verdade, não assistiu à peça, fugiu no meio da apresentação por causa do tédio.

— Os meus sentem. Todos os dias. Assim como meu coração e meu corpo imploram para ter você de volta… — Yoongi ergueu a mão e a esticou na direção de Jimin, no caso, Amon, que encarou os dedos que pararam bem perto de sua face.— Nunca me perdoou?

— Não sou bom em perdoar.

— Esqueça o que te causei. — Yoongi tocou o queixo dele, e percebeu seu pomo-de-adão subir e descer. — E me dê uma chance.

— Depois do que me fez?

— Estou arrependido, Amon. Todos os dias eu me arrependo de ter te deixado.

Para a surpresa de Jimin, Yoongi sentou em seu colo.

— Sinto falta de estar assim com você. — Yoongi colocou os braços em volta do pescoço dele. — Estar em seu colo para ouvir seus sussurros de amor. — Sua mão deslizou na bochecha dele. Os rostos ficaram mais próximos do que nunca.

Jimin arregalou levemente os olhos pela proximidade de Yoongi. Seu corpo ficava cada vez mais arrepiado com os toques suaves dele em seu rosto, e não pôde ignorar a pulsação que seu pênis deu após Yoongi se mexer em seu colo. Ele estava acordando e isso era péssimo.

— Em sentir sua boca na minha e depois me chamar de “meu anjo” com doçura.

Jimin engoliu em seco. Os olhos bicolores de Yoongi o queimavam naquele instante, a fala sussurrada provocou sensações estranhas no seu estômago, Yoongi o encarava tanto e estava tão perto que ficou sem reação.

Porém, a excitação no meio das pernas o fez tomar uma atitude.

— Chega. — Pegou os braços de Yoongi e o tirou do seu colo. Ele olhou para baixo e notou um certo volume nas calças. Malditos hormônios!

Tentando ser discreto, soltou uma tosse seca, dobrou as pernas e esticou o braço no sofá, preguiçosamente. Seria vergonhoso o outro ver sua ereção.

— Você é um bom ator, Yoongi. Agora tenho mais certeza que deve se inscrever para a peça.

O sorriso de Yoongi foi radiante, não só pelas palavras do Park, mas também, por ter realizado um desejo secreto escondido em sua mente. Não foi difícil usar seu charme e sedução para atingi-lo. E descobrir que mexia com Jimin, aumentou a chama em seu coração.

O Park estava muito enganado ao achar que Yoongi não percebeu o que causou em seu corpo.

— Obrigado, Jimin, mas preciso pensar ainda.

— As inscrições estão perto de acabar, não deixe para a última hora.

— Tem razão.

Mais corajoso que nunca, Yoongi sentou ao lado dele no sofá. Tirou o cachecol do pescoço, colocando ao seu lado.

— Você gostou mesmo da minha atuação?

— Eu seria capaz de assistir uma peça de horas só para te ver atuando. E olha que não sou fã de peças teatrais.

Então eu vou me inscrever, e Yoongi estava determinado a isso, só para que Jimin o assistisse.

Jimin voltou a olhar para ele, Yoongi ainda sorria. Um sorriso bonito e admirável.

Por alguma razão, mais forte que ele, Jimin encarou os lábios do Min, os mesmos que ficaram tão perto dos seus. Eram pequenos, mas podiam encaixar-se perfeitamente nos seus. E deveriam ser muito bons de provar.

Ele ergueu o olhar e viu que Yoongi o encarava com expectativas, como se ele esperasse por algo. Jimin não percebeu que seu rosto inclinou pra frente, só notou o que estava fazendo no momento em que uma sirene muito alta e conhecida alcançou aquele lugar. Os dois se espantaram. Jimin se afastou dele, passando a mão no cabelo loiro, depois de tirar o chapéu de sua cabeça.Em seguida, saiu do sofá, enfiando a mão no bolso do blazer.

— Caramba. Está na hora do intervalo — Jimin falou e bufou. Não queria sair dali, mas Yoongi e ele tinham que ir ao refeitório. Seu objetivo de não assistir à aula de Enzo acabou. Contudo, amaldiçoou a sirene, pois ficar com Yoongi ali seria bem melhor do que ficar no refeitório. Poderia pedir a ele para continuarem na sala de teatro, entretanto precisavam comer. A próxima comida a ser servida seria três horas mais tarde. Yoongi poderia ficar com fome nesse período de tempo. — É melhor irmos.

O Min não falou nada, apenas assentiu. Ao ficar em pé, descobriu que suas pernas estavam bambas. Não foi surpresa, visto que o Park sempre o deixava assim.

Jimin foi o primeiro a sair. Percebeu que o corredor estava vazio, assim, seria ótimo para Yoongi e ele andarem sem preocupações. O loiro segurou a porta até que Yoongi ficasse fora da sala, e trancou-a com a chave. Em seguida, a guardou no bolso.

— Vamos — ele disse.

Yoongi assentiu, umedecendo a boca com a língua, enquanto se lembrava da atitude ousada que teve naquela sala e o que foi capaz de provocar no outro.

Eu estive no colo de Park Jimin.

Ele ficou excitado por minha causa.

Ele quis me beijar.

Por fora estava calmo, por dentro, ele surtava. Nunca esqueceria daquele momento. E só em pensar que talvez aquilo jamais se repetiria, entristecia.

Jimin ficou calado o caminho todo.

Yoongi não teve coragem de dizer qualquer palavra. Na verdade, não sabia o que falar para puxar assunto. Logo iria se separar dele. Era provável que Jimin fingisse que nada aconteceu e que cada um voltaria para sua rotina comum naquele internato.

Imaginar que Jimin nunca mais falaria consigo da forma que falou há alguns minutos, como se fossem amigos, embrulhou o estômago de Yoongi, mas ter ficado com ele numa sala durante o horário do professor, o fez ter mais certeza de que queria ser namorado dele e que suas chances disso se tornar realidade não eram tão mínimas.

Não demorou para os dois jovens chegarem ao refeitório. O local já estava cheio de alunos, alguns sentados, outros na fila esperando para pegar sua refeição. O som das conversas estava alto, era quase impossível aquele lugar ficar organizado.

Jimin, parado, observou o ambiente, pensando se Yoongi iria ficar com os amigos ou se ele gostaria de lhe fazer companhia.

Não custava perguntar, mas antes que ele falasse o que pensou, ouviu seu nome e o nome de Yoongi sair da boca de um rapaz.

— Onde vocês estavam?

— Dominic — Yoongi murmurou. Foi pego de surpresa pelo amigo que apareceu de repente.

— Fiquei preocupado com você, amigo — ele falou, abraçando Yoongi apertado. — Saiu da sala e não voltou. E o professor Enzo perguntou por você… — Dominic olhou para Jimin enquanto se afastava de Yoongi, e arrumou seus óculos no rosto. — Perguntou por vocês dois, na verdade.

O Park bufou.

— Ele disse mais alguma coisa? — Yoongi perguntou.

— Questionou se alguém da turma sabia para onde você e Jimin tinham ido, mas ninguém soube responder.

— E o que mais? — perguntou Jimin.

— Ah, como ninguém sabia de nada, ele ficou calado, mas vi que deixou um bilhete na carteira de vocês dois antes de retornar o assunto da aula.

Jimin revirou os olhos. Se foi uma reclamação que recebeu, pouco se importava.

— Ele passou algum trabalho importante para fazermos? — Yoongi indagou.

— Só deu aula mesmo.

Yoongi ficou satisfeito. Pelo menos, não perdeu nada que fosse prejudicá-lo.

— Vamos comer, amigo — Dominic pediu, sinalizando com a cabeça para Yoongi o acompanhar.

Yoongi olhou para Jimin.

— Quer ir com a gente? — ele convidou esperando que Jimin aceitasse, no entanto a resposta o fez murchar.

— Não, pode ir.

— Certo. — Yoongi abaixou o olhar. Ele iria com Dominic, no entanto, ao dar dois passos, parou ao ouvir a voz do Park.

— Depois conversamos, Yoongi — Jimin murmurou, passando por ele, com as mãos no bolso da calça.

Yoongi sorriu. Significava que teriam mais oportunidades para conversar.

E isso não demorou a acontecer

Após voltarem para a sala de aula, foram surpreendidos pela professora de Língua Inglesa, que pediu para os alunos formarem duplas, pois iria passar uma tarefa. Dominic e Yoongi, muitas vezes, faziam juntos, no entanto, antes que Yoongi aceitasse o pedido do amigo para serem uma dupla, Jimin foi mais rápido.

— Vamos fazer juntos, Yoongi?

O Min ficou surpreso com o pedido da sua paixão, mas não demorou a aceitar. Era óbvio que não recusaria. Notou que Dominic ficou chateado, porém não explicou ao amigo a sua decisão. Dominic foi fazer com outra pessoa e Yoongi acompanhou Jimin até a carteira onde ele costumava sentar, afinal havia um assento vazio próximo ao dele.

— Sei que raramente fazemos atividade numa mesma equipe, e que nunca fizemos uma só nós dois, mas achei que seria legal sermos uma dupla hoje — falou Jimin, aproximando sua carteira a de Yoongi. Ficou satisfeito ao enxergar os olhos bicolores bem de perto outra vez. — Viu o bilhete que o babaca deixou pra gente?

— Vi. Está aqui. — Tirou o papel dobrado de dentro do seu caderno.

— O que ele escreveu no seu bilhete?

— Bom… — Ele abriu o papel e começou a ler baixinho. — "Caro Yoongi, como nunca faltou à minha aula e têm notas excelentes na minha disciplina, não me importei por você ter saído da sala, mas, da próxima vez, me avise que não quer assisti-la. Não irei te obrigar a ficar, porém sentirei sua falta." — Yoongi terminou de ler. Mudou seu olhar para o loiro e o viu sorrir ladino, meneando a cabeça.

— Nossa! Que gentil. — Jimin pegou o dele do bolso, completamente amassado, preparado para ler o bilhete com desdém. — "Não sei por que sente tanta raiva de mim, Park. Gosto de ter boas relações com meus alunos. No entanto, se quer continuar me odiando, me odeie, mas não esqueça que sou seu professor. Caso falte minha aula novamente, terei que reprová-lo, e garanto que não será bom para você." — Ele encarou o Min. — Parece que não terei escapatória, não é mesmo? Tenho que continuar aguentando o babaca.

— Acho melhor fazer o que o professor disse. Será bem melhor suportar a presença dele agora, do que repetir de ano e continuar vendo ele.

— É, você tem razão. — Jimin empurrou seu ombro no de Yoongi e ambos riram.

Pararam quando escutaram a voz de Anna, a professora de Inglês.Ela avisou o que os estudantes teriam que fazer. Em suas mãos, estava uma pilha de folhas que seriam entregues para as duplas já formadas.

— Respondam com calma, amores. Essa atividade não está fácil, porém sei que cada aluno dessa turma é inteligente o bastante para acertar todas as quinze questões — ela disse, começando a entregar as atividades. — Uma hora e meia para responder à atividade. Está valendo nota, não esqueçam disso.

Anna colocou três folhas na carteira de Yoongi. Em cada uma havia cinco questões.

— Podemos dividir para responder — sugeriu Jimin.

— Ou podemos responder cada uma juntos.

— Acha que assim dá certo? Não vai demorar mais?

— Temos tempo — Yoongi alegou, sorrindo.

Jimin deu de ombros.

Eles começaram a ler cada questão e encontrar a resposta que acreditavam ou tinham certeza que era a correta. A atividade não estava difícil, mas perceberam que podiam errar se não conseguissem interpretar corretamente os textos escritos em inglês.

Ficaram concentrados até a metade do tempo da prova, contudo, por curiosidade em saber mais sobre o outro, Jimin acabou puxando conversa e Yoongi perdeu a concentração nas questões que faltavam ser respondidas.

— Você mora aqui em Seongnam ou mora em outra cidade, Yoongi?

— Moro em Hanam. E você?

— Guri. Fica a mais de uma hora daqui, de metrô, é o transporte que costumo usar para viajar, apesar de sempre ficar enjoado. Por causa disso, às vezes, prefiro ficar no internato do que ir. — Riu, tentando se controlar para não rir alto demais e acabar chamando atenção dos outros, principalmente da professora.

— Sua cidade é um pouco mais longe do que a minha. Não leva uma hora para eu estar em casa. Muitas vezes, só para… — Yoongi calou-se subitamente, e seu olhar ficou distante.

Jimin não precisou ser um hiper-inteligente para saber o motivo dele ter se calado. Voltar para casa tinha altas possibilidades dele ter que ver a mãe sofrer nas mãos do próprio pai.

— Olha, se você quiser, Yoongi, você pode ir comigo para a minha casa e passar o final de semana lá.

Yoongi quase caiu da cadeira de tão perplexo que ficou. Como assim Jimin está me convidando para ir à casa dele?, ele abriu a boca para dizer que sim. Diria mil vezes sim, até. Entretanto, o rosto de sua mãe apareceu em sua mente.

Ela sentiria sua falta.

Ela precisava dele.

Ele tinha que ir para casa.

Seu pai não se importaria com sua ausência, mas sua mãe sim.

— Eu gostaria muito, Jimin, muito mesmo, mas não posso ir.

— Tudo bem. — Jimin sorriu, triste. — Quem sabe na próxima.

— Vai me convidar de novo? — perguntou cheio de expectativas.

— Pode ter certeza que sim.

— Jimin, Yoongi, terminaram de responder? — Anna perguntou alto o suficiente para todos escutarem.

Yoongi sentiu as bochechas quentes após o olhar dos colegas cair na sua direção.

Jimin sorriu de canto.

— Estamos terminando, professora — ele respondeu.

— Ótimo. Ansiosa para ver a atividade de vocês dois — ela salientou, cruzando os braços enquanto seu olhar afiado permanecia nos garotos. Ela havia notado que eles conversavam durante o trabalho e resolveu chamar atenção deles para interromper a conversinha que trocavam.

— Vamos voltar a responder, Jimin.

— Vamos. — Ele encostou o ombro no de Yoongi, fazendo-o rir.

Jimin desejou ouvir mais risadas do outro quando voltasse para o internato na segunda-feira.

Somente risadas verdadeiras.

Segunda-feira

Jimin sentia falta de Yoongi.

Parecia loucura, mas ele sentia e não tinha vergonha de admitir.

A última vez que o viu foi na tarde de sexta-feira, quando cada aluno começava a ir para casa, fosse num táxi, ônibus ou com quem veio buscar o estudante para "fugir" do internato por dois dias.

Jimin se despediu de Yoongi nos portões da instituição com um abraço apertado e duradouro, ambos com belos sorrisos no rosto.

Antes de Yoongi entrar num táxi, ele afirmou que se inscreveu para participar da peça e iria tentar conseguir a permissão dos pais.

Jimin ficou ansioso para saber se o seu mais novo amigo — embora o outro ainda não soubesse que o loiro já o considerava assim — conseguiu a permissão ao menos da mãe. Essa ansiedade não durou apenas horas, mas se seguiu pelo final de semana inteiro. E Jimin desejou ver Yoongi a todo instante enquanto estava em casa junto a sua mãe e o namorado dela.

Ele ficou pensando, quase o tempo inteiro, em voltar para a escola, apenas para estar com Yoongi novamente. Desejou que sábado e domingo voassem para que pudesse escutar a voz dele dizendo que iria participar da peça de teatro do internato.

Foi estranho para Jimin passar tanto tempo pensando em um garoto. Nunca antes isso aconteceu, nem com um rapaz, nem com uma garota. Sentir-se atraído era uma coisa, isso já havia acontecido com ele, contudo, pensar repetidas vezes na mesma pessoa por horas seguidas, era algo novo.

Por pensar demais em Yoongi e no que conversaram na sala de teatro, Jimin se recordou do que o Min havia dito sobre a relação da sua mãe com outro homem.

E até que o novo amor de Elizabeth não era alguém chato ou ruim. Carlos até deu dinheiro a Jimin para gastar com o que quisesse. E se ele o desse mais dinheiro, o garoto poderia se acostumar mais rápido com a relação deles.

Quando Jimin percebeu que seu final de semana estava bom e tranquilo, perguntou-se mentalmente se Yoongi estava passando um tempo normal com sua família, ou estava vivenciando mais violência doméstica no lugar que deveria ser seu lar.

Não gostaria de vê-lo triste quando o encontrasse, mas sim, feliz.

Chegou ao Internato Hangug Yong na segunda-feira, bem cedo, diferente do costume, e sua ansiedade não acabou.

Às segundas-feiras, as aulas começavam à tarde. Como não viu Yoongi chegando pela manhã, Jimin pensou que o veria na sala de aula, o que não aconteceu.

Sentiu aquele enjoo típico de quando ficava ansioso. Quis fumar, no entanto lembrou que jogou os cigarros no cesto de lixo da estação antes de entrar no metrô.

Pensou nos motivos de Yoongi não ter voltado para o internato, se ficou doente... Perguntou para Dominic, durante o intervalo da tarde, se Yoongi havia chegado, e ele não soube afirmar, afinal não dormiam no mesmo quarto e, caso Yoongi estivesse na instituição, ele teria ido à aula como sempre fazia. Jimin concordou com Dominic.

Após a última aula, Jimin voltou para seu quarto, deitou na cama com o uniforme e acabou adormecendo, com Yoongi em sua cabeça. Aquele sono no fim da tarde foi resultado de não ter dormido bem à noite nos últimos dois dias, por ter seu novo amigo dominando seus pensamentos.

Definitivamente, isso não era nada normal.

Quando ele acordou, eram 20h.

Viu a hora do relógio na parede.

Seu colega de quarto estava quieto, sentado no colchão, respondendo a alguma atividade.

Jimin saiu da cama, ainda vestido com o uniforme. Pegou roupas limpas da cômoda, e então, foi ao banheiro.

Saiu minutos depois com uma nova vestimenta, os cabelos loiros caíam pelo rosto, umedecidos pela água quente do chuveiro.

Ele estava arrumado.

Não iria jantar pois perdeu o horário, e ele não se preocupava com esse fato, a fome passava longe de seu corpo.

Saiu do seu quarto e foi procurar o de Yoongi.

Na verdade, ele não sabia em qual corredor ficava. O dormitório masculino era composto por vinte quartos, espalhados por dois andares. Como Jimin dormia no primeiro andar, Yoongi só poderia dormir no segundo, e ele iria bater de porta em porta até achá-lo.

Por sorte, Dominic estava sentado na escada que levaria Jimin ao segundo andar. O rapaz limpava as lentes do óculos com o tecido da camiseta.

— Dominic.

— Jimin?! — Ergueu a cabeça, colocando o óculos no rosto. — O que quer?

— Qual o quarto de Yoongi?

— O dezoito. Por quê?

— Obrigado. — E subiu as escadas, pulando de dois em dois degraus, sem dar justificativas desnecessárias que só o fariam perder tempo.

Foi rápido em encontrar o quarto 18.

Respirou fundo e bateu na porta.

Ele esperou, quase sem paciência. Quando iria bater de novo, ela foi aberta.

Não foi Yoongi que abriu, mas um rapaz ruivo.

— Quer alguma coisa? — questionou, quase assustado, afinal era a primeira vez que Jimin aparecia ali.

— Yoongi está aí?

— Está. Por quê? — Franziu o cenho.

E Jimin passou por ele, sem respondê-lo. Quase ao mesmo tempo, o outro ofegou e saiu do quarto.

Enquanto o loiro se aproximava das duas camas que haviam naquele cômodo, o coração dele deu um salto. Uma cama de solteiro estava ocupada, alguém estava deitado, coberto quase inteiro por um lençol azul com estampa de estrelas.

Jimin queria ver Yoongi independentemente de ele estar dormindo. Seus passos estavam silenciosos para não acordá-lo. Mas, ao ficar entre as duas camas, diante de Yoongi, ele não pôde deixar de fazer um barulho que saiu de sua boca.

— Que porra é essa?

Sua indagação assustou Yoongi, que estava de olhos fechados. O garoto sobressaltou, e encarou Jimin, que olhava fixamente em seu rosto, diretamente no lugar em que qualquer um olharia espantado.

O olho castanho estava intacto, mas o verde, Jimin nem conseguia ver. O olho direito de Yoongi estava tão inchado que tornou impossível ver a íris de cor bonita. O roxo dominava aquela região, e Jimin já conseguia imaginar quem fez aquilo com Yoongi; quem ousou tocá-lo dessa maneira agressiva.

— O que faz aqui? — A voz sussurrada de Yoongi transmitia pavor. Ele não queria que Jimin o visse do jeito que estava, no entanto era tarde demais, e seria praticamente impossível esconder.

— Eu vim te ver. — Jimin sentou na cama, encarando o rosto dele o tempo inteiro. — Mas não esperava te encontrar assim, machucado.

— Eu não queria que você me visse agora.

— Foi seu pai que fez isso com você? — perguntou, não escondendo seu tom raivoso. As mãos apertavam a barra do short cinza que usava.

Yoongi fechou o olho esquerdo, o que podia movimentar com liberdade, suas mãos ameaçavam cobrir seu rosto.

— Foi.

— Por que ele te machucou?

— Ele não me deu permissão para participar da peça, como eu imaginava.

Jimin escutou soluços. Ele odiou ouvir esses soluços.

Querendo confortá-lo, protegê-lo de qualquer perigo, desejando matar essa tristeza de Yoongi, Jimin deitou na cama, em frente a ele, de lado. Em seguida, beijou sua testa, um beijo suave, que fez Yoongi suspirar, e o abraçou, como fez na sala de teatro.

Yoongi se aconchegou no loiro, e seu rosto ficou abaixo do queixo dele. Apesar de usar um pijama de moletom e o lençol ser de tecido grosso, o corpo alheio o esquentava bem mais. Além disso, lhe deu uma sensação de paz, que precisava para acalmar sua dor, não só a física, mas a que atingia sua alma há bastante tempo, e que aumentava sempre que passava o final de semana em casa.

— Ele disse que nunca vai me permitir atuar — Yoongi murmurou com a voz abafada. — Disse que eu não devia nem ter me inscrito. Disse que devo focar em Medicina. Então, eu neguei… E eu não pude impedir que ele me tocasse.

— Como ousa me desobedecer, seu imprestável! — Min Lee saiu da cadeira. Ficou de pé, fuzilando o filho com um olhar que queimava, quase matava.

— Eu quero me apresentar na peça da escola. Não tem nada demais nisso — Yoongi rebateu, olhando o homem com determinação. Não abaixou a cabeça, por mais que a maneira que o homem o encarava arrepiasse sua alma.

— Como não tem? Hum?! COMO NÃO TEM? — gritou, socando a mesa, fazendo o barulho ressoar na sala de jantar. Yoongi tremeu. Sua mãe também. — Acha que eu me esqueci dessa sua ideia imprestável de cursar Teatro?

— Eu ainda quero, pai. E vou — Yoongi respondeu mais firme. Precisava demonstrar sua capacidade de enfrentar aquele que não aceitava ser derrotado.

Lee, que já estava vermelho, ficou ainda mais com essa afirmação. Ele saiu do lugar e segurou a camisa do filho, tirando-o da cadeira e o colocando em pé, sob seu domínio.

— Repense suas palavras, Yoongi. Você não vai fazer o que quer. Vai fazer o que eu quero.

— Lee — a voz feminina, medrosa e baixa, foi ouvida, mas não teve importância para o homem.

Yoongi ficou silencioso. Caso recuasse naquele momento, não teria forças para contrariar o progenitor outra vez. Estava na hora de mostrar o que queria. O que desejava fazer.

— Eu não quero Medicina, nunca quis. Então não tente me obrigar. Eu não vou seguir uma profissão só porque é o seu desejo. O meu desejo é mais importante. Você é meu pai, não o dono da minha vida.

— Seu viado de merda! — Lee empurrou Yoongi e, com a mão em punho, socou o rosto dele.

O rapaz caiu no chão de mármore e gemeu, como se estivesse num mar de espinhos, fazendo todo o seu sistema doer.

A mulher gritou e correu para alcançar o filho.

Ela ficou de joelhos e tocou o rosto de Yoongi.

— Você prometeu que nunca bateria nele. Me prometeu, Lee. — Seu rosto transmitia mágoa.

— Cale a boca, Sarah — exclamou em fúria antes de voltar a encarar o rosto de Yoongi. — Nunca mais ouse me desobedecer,garoto. E que essa seja a última vez, ou você sofrerá as consequências — ele disparou e saiu da sala de jantar.

— Filho, eu sinto muito… — Sarah ajudou Yoongi a se sentar no chão e o abraçou, chorando mais do que algumas horas atrás. — Me perdoe, querido. Me perdoe por ser uma mãe ruim. Eu prometi a mim mesma que nunca deixaria seu pai bater em você, mas nem isso eu consegui impedir.

Yoongi, que até então não tinha feito som algum, começou a soluçar, e suas lágrimas caíram no ombro da mulher.

Naquele momento, ambos tinham seus rostos e almas marcados com o punho de Min Lee.

— Dói tanto…

Jimin escutou Yoongi enquanto acariciava os seus cabelos, amaldiçoando aquele que ousou bater nele, amaldiçoando a si próprio por tê-lo incentivado a mostrar para o pai o que queria de verdade.

— É culpa minha.

— Não — Yoongi falou. Tirou o rosto do peito do Park e o encarou. — Não é. — Sua mão tocou o rosto dele. Estavam tão próximos. Tão perto. — A culpa é somente dele, apenas dele.

— Eu sei, mas…

— Você me incentivou a fazer algo que eu já deveria ter feito antes. A reação de meu pai iria ser a mesma. Nunca o enfrentei por medo, mas você me deu a coragem que eu precisava para parar de temer.

Jimin fechou os olhos e suspirou.

Yoongi tinha razão. A culpa era completamente do pai dele.

— O que aconteceu depois? — Jimin perguntou, com medo do que escutaria.

— Eu fui para o meu quarto com minha mãe. Ela dormiu comigo após cantar uma música para fazer eu dormir. Não conversamos naquela noite, só no dia seguinte.

— Ela tomou alguma atitude?

— Mamãe me prometeu que eu faria o que eu quisesse. E que eu não iria precisar se preocupar com meu pai.

— O que será que ela vai fazer? — Jimin indagou, os dedos tocando a franja escura de Yoongi.

— Eu não sei… E não quero pensar nisso.

Yoongi fechou os olhos e se aconchegou mais no corpo dele. Mais uma vez, os braços do Park rodeavam-no.

— Como foi seu final de semana, Jimin? — perguntou a fim de saber o que ele ficou fazendo, não queria mais falar sobre assuntos ruins.

— Foi bom.

— O que fez?

— Conversei com minha mãe e decidi dar uma oportunidade para conhecer o namorado dela. Almoçamos juntos, saímos para comer pizza. No domingo, ajudei mamãe a limpar a casa. O namorado dela apareceu logo depois e ajudou a gente. Depois, assistimos a um filme de comédia.

— Não fez nada mais de interessante?

— Bom, pensando bem, fiz sim.

— Vai me dizer?

Jimin pensou duas vezes antes de dizer uma das melhores coisas que fez no final de semana. Não tinha motivos para esconder. Yoongi esteve presente, mesmo distante, e ele merecia saber apenas a verdade. Quem sabe ele iria gostar de ouvir?

— Pensei em você.

O movimento foi tão rápido que em segundos Yoongi estava com o nariz quase tocando o do Park em segundos.

— E-em mim? — balbuciou, corando imediatamente.

— Uhum. Pensei muito. Toda hora. O que você fez comigo? Eu até sonhei com você?

Será que meu sonho está se realizando?

É um presente que eu recebo, após o que passei nesse final de semana?

— E como foi esse sonho?

Yoongi precisava saber.

Queria detalhes.

Queria saber se começou a realmente mexer com o âmago de Park Jimin. Merecia depois de tanta coisa ruim em sua vida. Depois de fingir em diferentes momentos que estava bem e feliz.

Seu coração já palpitava sentindo uma euforia imensa e intensa, só em saber que adentrou a cabeça do Park.

— Quer que eu diga? — Jimin arqueou a sobrancelha, um sorriso ladino enfeitou sua face. — Ou quer que eu mostre?

— Posso escolher?

— Pode.

— Os dois.

Os dedos de Jimin, que antes estavam nos cabelos de Yoongi, desceram pela bochecha.

— Estávamos num gramado. Você me olhava com carinho, com atenção. Como me olha agora. — Tocou o canto da boca dele. — Eu disse que você era bonito e você sorriu pra mim, gostando do que ouviu. Depois, falei que seus olhos eram magníficos. E você ficou corado, como está agora. — Jimin passou o dedo no lábio inteiro dele. — Eu sempre achei teus olhos bonitos, Yoongi. Eles são incomuns, e acho que isso os deixa mais bonitos e únicos.

— Acha mesmo?

— Acho. Sempre achei. — Sorriu.

A respiração de Yoongi prendeu nos pulmões.

Jamais pensou que Jimin admirava seus olhos. Nunca viu nada demais neles, mesmo que fosse uma raridade encontrar outro alguém com olhos bicolores.

Engoliu em seco, percebendo que rumo aquele momento tomaria. Jimin estava tão perto, porém continuava o olhando como se estivesse esperando por algo. Yoongi não sabia compreender, talvez não tivesse certeza, mas precisava incentivá-lo a continuar.

— E depois, o que aconteceu nesse sonho?

— Eu te beijei aqui.

Jimin encostou o nariz no do Min e fechou seus olhos ao beijá-lo na bochecha.

— Te beijei aqui.

Seus lábios moveram-se para o queixo dele.

— E te beijei aqui.

Por fim, beijou a boca de Yoongi, como no sonho, um encostar de lábios suave, doce e demorado, e descobriu que senti-lo na realidade era muito melhor.

Os lábios dos garotos se moveram devagar, descobrindo o gosto e a textura um do outro. Eles demoraram no roçar de lábios, no abraço apertado, no aconchego do calor.

Era um beijo de bocas sem muita experiência, um beijo envolvendo um sentimento existente em um coração, um beijo envolvendo um sentimento iniciante em outro coração.

No sonho, Jimin descobriu que o beijo em Yoongi podia ser doce, mas vivenciá-lo, além de ter doçura, era viciante e mil vezes melhor.

Ele nem gostava de doce, e quem sabe, depois desse beijo, poderia amar doce, afinal iria querer provar a boca de Yoongi muitas e muitas vezes mais.

Jimin deu alguns selinhos e se afastou alguns centímetros. Abriu os olhos e viu Yoongi sorrir angelicalmente.

— Gostou? — perguntou Jimin, inebriado e ansioso.

— Melhor de todos que fantasiei.

— Como assim, fantasiou?

Yoongi percebeu o que disse e, imediatamente, escondeu o rosto no peito a sua frente, as mãos continuavam agarradas nas costas do loiro. Ao menos assim, não teria que encará-lo enquanto confessava seu segredo.

— É que… faz muito tempo que queria beijar você.

— Quanto tempo?

— Mais de um ano. Desde que comecei a estudar aqui.

— Tudo isso? — Jimin segurou o queixo dele e o fez olhar em seus olhos. — Você já gostava de mim todo esse tempo?

— Sim.

— Como eu nunca percebi? Toda vez que eu olhava pra você, nunca vi você olhando de volta — Jimin alegou, indignado com a descoberta, embora seu ser vibrasse de alegria.

E dessa vez, quem ficou bastante surpreso foi Yoongi.

— Espera! Você reparava em mim?

— Sim. Seus olhos sempre me levaram a te admirar, Yoongi. Mas nunca te olhei com desejo, até chegar o dia em que ficamos juntos na sala de teatro… — Suspirou. — Você me atraiu de forma diferente. Despertou coisas em mim. Talvez, porque estivemos próximos o bastante para isso acontecer.

— Posso dizer uma coisa? — Yoongi sorria tanto que nada o faria perder sua felicidade.

— Diga.

— Nós dois somos lerdos.

— Ou sabemos disfarçar bem.

Eles gargalharam.

Abraçaram-se mais forte.

Yoongi aspirou o cheiro do Park e fechou os olhos, desejando ficar assim com ele para sempre.

— Agora não sinto mais dor, Jimin.

— Graças ao meu beijo — ele afirmou, orgulhoso.

— Deve ser — Yoongi cantarolou, sentindo prazer com as mãos do outro acariciando seu cabelo. — Vai dormir hoje comigo?

— Não quero sair daqui.

— Vai me beijar mais vezes?

— Se você quiser…?!

— Eu quero.

Após essa resposta tão sincera, sorrindo, Jimin se cobriu com o mesmo lençol de Yoongi e fechou os olhos, aspirando o perfume suave que vinha dos cabelos escuros.

Depois daquela noite, Jimin beijou Yoongi muitas vezes.

Nos dias que se passaram, cuidou de Yoongi sem cansar, após a morte do pai e a prisão da mãe dele.

Jimin não teve certeza se o sofrimento de Yoongi, que pareceu ser mortal, foi pela morte, pela prisão ou pelos dois acontecimentos, mas, independentemente do motivo, continuou ao lado de Yoongi até que ele sorrisse novamente.

E Yoongi voltou a sorrir, após passar no teste e ser protagonista da peça e a mãe ter conseguido provar que matou o marido em legítima defesa, e com isso, não passaria tanto tempo na prisão. E enfim, ouvir Jimin confessar que se apaixonava por ele todos os dias, além de prometer que sempre cuidaria do dono dos olhos bicolores.

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Notas Finais: Um agradecimento a beta da fific @/tsukinojojo e a capista @/angellen_ ❤

E a você que leu até o fim.

Bjs.

10 Novembre 2023 01:10 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

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