São armas ocultas. Todas, engatilhadas. Todas miram o nosso coração. Quando disparam, não há estampido. Quando o tiro nos atinge, quase não percebemos, mas começamos a sangrar. Gota a gota. Se não nos dermos conta nem tentarmos deter a sangria, pouco a pouco, a nossa vida se torna exangue. Perdemos o poder, o entusiasmo, a alegria. Por último, a esperança. E nos tornamos zumbis a nos sujeitar a rotinas, a cumprir compromissos, a corresponder às expectativas. Em silêncio, acabamos entendendo que viver é sinônimo de luta, sacrifícios, perdas sucessivas, sofrimento... O tal vale de lágrimas.
As armas têm nome: vergonha, culpa, tristeza, medo. De geração em geração, nos são impingidas e, direta ou sublimarmente, re-engatilhadas dia após dia. Da infância à velhice.
Parece inescapável.
Hein?
Há anos, o meu relógio biológico deu uma cambalhota. Troquei o dia pela noite. Obviamente, o tal ciclo circadiano foi para a Cucuia.
Como sou matusquelinha, não liguei. Tudo, bem: ficava (como fico) ligadíssima durante toda a madrugada, tempo suficiente para pensar, imaginar, delirar e escrever à vontade. Beleza!
Todavia, recentemente, comecei a desconfiar de que fora atingida por dois tiros traiçoeiros e de que estava perdendo gotinhas de sangue.
Quê?! Ficaria eu inerte, apenas observando a lenta exsanguinação? Jamais! Chamei, imediatamente, o Dr. PPQuisa, meu alter-ego (que, hoje em dia, vive em Liubliana, capital da Eslovênia, mas, sendo multidimensional, me chegou em poucos segundos).
O douto pesquisador, experto também em perícia criminal, entrou em cena, coletou vestígios e os interpretou. Foi taxativo:
- Bibi, meu amor, foste vítima, primeiro, da culpa e, depois, do medo. Perdoa-te e cura-te!
Ora, ora... A culpa, por não me adequar à norma dos ponteiros do relógio (nem do calendário), contrariando comportamentos milenares, e o medo, por tanto que me disseram que trocar o dia pela noite me adoeceria, estavam, sub-reptícios, com suas energias baixíssimas, alterando a minha vibração.
Perdoei-me, sim. (Convenhamos: após os 70 anos, que é que faz tanto mal à saúde?) E, aceitando uma nova injeção de alegria, me curei a tempo, antes que a vergonha e a tristeza me atingissem.
É tudo muito pérfido nesse nosso mundo de manipulações sombrias.
Merci pour la lecture!
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