gprowlling G.P. Rowlling

Amor, palavra de quatro letras, um único kanji, mas de peso enorme independente de quem sente. Um sentimento que inunda todos por completo, até que estejamos apenas um corpo afogado em sentimento.


Fanfiction Anime/Manga Tout public.

#iwaoi #Oikawa-Tooru #Iwaizumi-Hajime #haikyuu #yaoi
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Você não tem ideia de como está errado

O que eu poderia dizer sobre aquele calor que agora também habitava meu peito junto com a tempestade contínua que já vivia nele desde muito antes d'eu perceber? Não podia afirmar muito, afinal, era a primeira vez que eu o sentia — e doía o meu orgulho admitir isso, mesmo que não fosse em voz alta.

Quando percebi que estava apaixonado? Ah, não tinha notado. Nunca tinha cogitado a ideia de amar alguém tanto ao ponto de poder chamar essa pessoa de "Primeiro Amor". Muitos dizem que tiveram seus amores bem cedo, mas acho que nem mesmo podemos dizer o que é amor quando somos tão novos.

Amor, palavra de quatro letras, um único kanji, mas de peso enorme independente de quem sente. Um sentimento que inunda todos por completo, até que estejamos apenas um corpo afogado em sentimento — algumas vezes, desespero. Assim como eu estava.

Amar alguém nunca é fácil, em hipótese alguma o amor é fácil porque amar significa aceitar também, aceitar que os erros e defeitos existem, e também aceitar que as vezes, eles vão permanecer na pessoa até o final da sua vida. Amar uma pessoa que é simples, de objetivo simples, de palavras simples, de sentimentos simples, é sim muito mais fácil. Mas... Quando amar é sentir algo por alguém de tamanha beleza que chama a atenção por onde passa? Quando essa pessoa recebe elogios e cantadas a torto e a direita e você não pode evitar o ciúmes? Quando o amor dói porque o seu amor é proibido.

Claro, pode parecer bobo, amor não proíbe, não limita e não prende, amor é livre e puro. As pessoas que amam não são.

Virei-me debaixo das cobertas, tentando aquecer meu corpo tremulo, torcendo para que o remédio fizesse logo efeito para que eu entrasse num sono profundo, mas a insônia simplesmente impedia que o sono finalmente chegasse em mim.

Pensei em momentos bons, em momentos que me faziam sorrir. Como um dia que uma simples piada bastava para arrancar minutos recheados de gargalhadas — tanto minhas quanto dele —, ou dias simples que um olhar bastava para entender o que o outro queria. E por mais irritante que aquele garoto de cabelos encaracolados fosse, ele era um bom amigo.

O bom amigo que fazia meu peito se aquecer e meu coração palpitar. E eu até chegava imaginar perguntas bobas e simples que eram recheados de sentimentos.

Será que ele sabia que ficava ainda mais bonito quando estava usando seus óculos? Ou será que sabia que ficava uma graça quando ficava irritado? Mesmo quando a culpa de sua irritação era minha? Mas eu tinha que guardar meu amor para mim mesmo.

Era difícil guardar aquilo para mim, mas nada que fosse impossível, e se tornava um bocado mais fácil quando todas às vezes que ele me deixava envergonhado eu podia bater nele ou simplesmente xingá-lo. Era um bocado mais fácil fingir que eu não sentia nada além de desprezo quando na verdade, eu sentia tudo, menos desprezo.

Passei uma vida ao seu lado, e observá-lo dia após dia me fez notar algo: Esse sentimento que eu sentia era louco, um completo sádico.

Ele nunca apareceu e como se me desse um tapa e simplesmente notasse a existência dele. Dia após dia, como uma pequena planta que precisa de cuidados, ele esteve dentro de mim, criando raízes, criando força e crescendo. Ele acabou se tornando um sentimento imparável. Ficar ao seu lado na aula, nos treinos, estar ao lado dele desde o primário, tudo aquilo alimentou aquele amor oculto que eu tinha por ele, por aquele cabelo macio, por aquele sorriso metido que sempre gostava de aparecer em seus lábios.

Ele ao menos sabia como meu coração batia forte pelo seu mais singelo toque? Ele ao menos sabia como eu ficava com raiva por ver outras meninas o tocando ou mandando cantadas e elogios para ele? Ele ao menos sabia o quanto doia em mim ver ele beijando outros lábios?

Minha cabeça se enchia cada segundo mais com pensamentos idiotas quando na verdade, eu deveria estar no décimo quinto sono — a única parte boa era que na manhã seguinte seria sábado. Mas isso ainda não era pretexto para desregular todo o meu sono. Suspirei, me arrancando de meus próprios pensamentos — ou pelo menos tentando me arrancar desses. Eu precisava dormir.

Eu me culpava por tudo aquilo. Por que, entre todas as pessoas da face da Terra era por ele que meu coração batia forte?

Eu queria espantar todo aquele sentimento, e isso incluia a minha tristeza. A última vez que eu tinha chorado tinha sido — ironicamente — no abraço daquele por qual eu estava apaixonado. Precisava chorar para tirar um pouco daquele peso que era amar aquele garoto. Lavar aquelas lembranças ruins, destruir o resto das ruínas de memórias de ex-namoradas — tanto as dele quanto as minhas. Eu chorei por tudo.

Era difícil lidar com todo aquele turbilhão que ele me causava. O arrepio que a sua voz me causava, como aquele sorriso acalmava a tempestade que habitava em meu coração. Como eu queria simplesmente abraçá-lo e dormir com ele em meus braços, igual faziamos quando eramos apenas duas crianças inocentes. Eu amava tanto ele que muitas vezes doia em mim. Me perguntava por que doia sentir algo tão puro por alguém.

Senti meu celular vibrar em algum lugar sob meus dois travesseiros e apalpei as cegas à procura dele. Quando finalmente encontrei o aparelho, vi uma mensagem simples, e ainda sim, meu coração parecia ter pulado uma batida.


"Acordado?" — Era uma mensagem extremamente simples, mas era de alguém especial — em horário inconveniente.

"Você deveria estar dormindo." — Digitei rapidamente quando senti que o celular estava prestes a cair no meu rosto.

"Meu cavaleiro também." — Brincou ele. Podia imaginar o pequeno sorriso em seus lábios.

"Idiota." — Respondi.

"Seria muito ruim se eu fosse para ai agora? Sei que seus pais estão viajando e eu realmente preciso conversar." — Pediu ele.


Era um evento que veio em um horário horrível — três da manhã, fala sério — e numa situação pior ainda. Mas mesmo que fosse tudo isso, ele ainda era meu melhor amigo. Por mais que eu o amasse, ele ainda era meu melhor amigo, e se ele precisasse de um lugar para se esconder, se ele precisava de um ombro amigo, se ele precisasse de um abraço reconfortante, eu estava feliz em ser eu a quem ele recorreria.


"Se você for assaltado, não venha se lamentar para mim." — Digitei, já esperando por sua presença. Preparado para o caos que se tornaria dentro de mim por causa dele. Eu queria que ele não fosse a calmaria da minha tempestade, e o motivo do meu maior caos.


Não demorou muito para que ele estivesse na minha porta. Cabelos apontando para todos os lados, desafiando a gravidade de todas as maneiras possíveis. Olhos inchados e vermelhos, as bochechas ainda coradas e molhadas, aqueles pequenos indícios de seu choro recente. Suas roupas e hálito fedendo a álcool.

Nem mesmo dei chance para que ele pudesse falar algo, simplesmente fiz ele entrar e sentar-se na entrada da casa, tranquei a porta e então voltei minha atenção para ele. Tirei seus tênis e o peguei no colo.

Apesar de ser mais alto que eu, ainda era mais magro e eu sempre malhava, o que resultava em músculos e força. Levei-o até o banheiro e comecei a despí-lo.

Parei assim que ele deixou sua cabeça tocar meu ombro e seu corpo magro deixou um espasmo escapar acompanhado de um soluço.

Abracei-o, sem nem mesmo perguntar o motivo do seu choro, apenas querendo tomar as dores dele para mim, porque eu querendo ou não, me importava demais com aquele idiota para conseguir vê-lo chorar e ainda sim não fazer nada para tentar acalmá-lo.


— Não fala nada. — Pedi para ele ainda no meio do abraço. — Só tira a roupa e vai tomar um banho — Mandei. — E vai dormir aqui hoje. — Eu disse arrumando o cabelo dele ás cegas.

— Iwaizumi. — Ele sussurrou e então me abraçou forte em busca de um porto seguro em mim.

— É assustador ouvir você me chamando assim. — Eu afirmei. Tinha me acostumado com ele me chamando por um apelido bobo que me chamava desde criança, e agora, era estranho ouvir ele me chamando por outra maneira.

— Eu levei um fora. — Ele disse e eu gelei.

Meio que já esperava isso da namorada dele, afinal, ela era uma vagabunda que se importava apenas com a aparência. Se ela fosse bem vista, nada mais importava. Mas de alguma maneira, Oikawa conseguia gostar dela.

— Ela terminou comigo, disse tanta coisa. Disse que eu não era bom o suficiente para ela. — Ele começou.

— Cala a boca. — Mandei.

— Que eu não merecia ela, porque eu só me dedicava ao vôlei e...

— Cala a boca! — Eu o interrompi e segurei firme seus ombros e afastando seu tronco do meu, seus olhos demonstravam puro arrependimento e tristeza. Eu dei sorte por todos os cômodos da casa terem isolamento acústico, então poderia gritar com ele por mais que toda a minha raiva não fosse para ele, e sim, para aquela que era o motivo das lágrimas dele. — Não quero ouvir os motivos por quais aquela vagabunda acha que pode terminar com você.

— Mas... — Ele tentou argumentar.

— Nada de "Mas...", chega disso. Não quero ouvir uma palavra do motivo que faz você chorar. — Disse olhando nos olhos chorosos dele. — Tome um banho que eu vou preparar uma bebida quente para você. — Ele hesitou por um momento, mas assentiu, ainda triste.


Me levantei e esguerei-me para fora do banheiro com o coração palpitando — de raiva. Quando ouvi a maçaneta trancar, foi como o sinal que afirma que a aula finalmente acabou, e eu finalmente estava livre. Sentei-me no chão frio e me encolhi ali mesmo.

Hesitei no pensamento que trazia os olhos dele tão profundos nos meus, e mesmo que estivessem vermelhos, mesmo que estivessem com lágrimas, eles eram puros e sinceros. E eu queria evitar olhar para eles a todo custo, porque eu não sabia do que era capaz se eles estivessem tão próximos dos meus novamente.

E eu não sabia do que era capaz de fazer com aquela vadia que acha que pode direcionar alguma palavra para ele. Oikawa poderia ser algumas vezes muito metido e submerso em seus objetivos, mas isso não fazia dele um idiota, não fazia dele uma pessoa pior ou melhor. Ele era fofo e atencioso sim, mas não era com ela que ele deveria demonstrar aquilo.

Corri para a cozinha para direcionar minha atenção para outra coisa e não na minha vontade ridiculamente grande de estrangular aquela garota.

Preparei um chocolate quente bem doce para ele e deixei a bebida em fogo baixo para esquentar. Fui para o meu quarto e separei um pijama para ele dormir, afinal, não poderia ficar com aquelas roupas fedendo a bebida.

E por algum — diabo de — motivo, ele simplesmente decidiu ir para o meu quarto apenas de toalha e cabelos úmidos. No mesmo instante eu pensei em algo que uma pessoa aleatória escreveu em alguma rede social qual não me lembrava exatamente qual.


"Estou apaixonado pelo seu sorriso. Estou apaixonado pela sua voz. Estou apaixonado pelo seu corpo. Estou apaixonado pela sua risada. Estou apaixonado pelos seus olhos. Estou apaixonado por você.".


Eram frases simples, mas apesar de sua simplicidade, elas carregavam uma verdade imutável. Quando nós amamos algo, amamos por completo, independente dos erros, independente dos defeitos, e sabemos e queremos que a pessoa concerte seus defeitos, que se arrependa de seus erros, mas mesmo que ela não o faça, ainda o amor não vai mudar. Um sentimento imutável e imparável.


— Eu quero roupas. — Pediu ele e eu imediatamente entreguei essas a ele.

— Vou ver seu chocolate quente. — Eu disse já me direcionando para a cozinha e ele segurou meu pulso, fazendo meu coração bater forte.

— Você pode me escutar, então? — Ele indagou e eu não pude dar uma resposta. Eu podia escutar seus lamentos sobre uma outra garota que não o amava como eu o amava?


Obriguei-o a soltar meu pulso e fui direito para a cozinha, torcendo para que quando eu voltasse ele já estivesse propriamente vestido, afinal, meu cérebro não conseguia ser muito racional quando eu via o corpo com os pequenos traços de músculos dele.


[...]


— Você me odeia? — Ele disse depois da quarta xícara de chocolate quente. Estava um pouco mais frio, então obriguei-o a colocar uma jaqueta e coloquei uma também.

— Por que disso? — Indaguei, realmente me perguntando da onde tinha vindo aquela pergunta.

— Eu notei que tem me evitado ultimamente, não tem conversado comigo nos treinos, nem mesmo tem me batido quando as garotas me paqueram. — Ele disse um tanto triste.

— Se quiser eu posso te bater agora mesmo. — Afirmei e ele abriu um pequeno sorriso.

— Não é isso...

— Não te odeio Oikawa, mas odeio a maioira das pessoas que estão a sua volta. — Admiti para ele, arrancando dele um olhar surpreso. — Odeio as meninas que dão em cima de você, odeio as namoradas que fazem você vir a minha casa as três da manhã, odeio o Ushijima que fica enchendo o saco do time inteiro para te convencer a entrar no time dele. — Falei olhando para ele. — Odeio uma porção de coisas ligadas a você, mas não posso bater nelas, e sinceramente, você já apanhou o suficiente de mim.

— Isso é motivo para se afastar de mim? — Ele disse colocando a xícara no criado- mudo, próximo à cabeceira da cama.

— Você está aqui porque eu quero que esteja. — Eu disse e logo em seguida sussurrei um "Folgado", desgostando de seu ato. — Acredite, eu tenho meus motivos para estar longe, e não quero que você se machuque por minha culpa.

— Acho que você é o único que não é capaz de me machucar. Pelo menos não além de fisicamente, Iwa-chan. — Ele disse e eu sorri.

— Acredite, Oikawa. — Eu falei. Ele se aproximou de mim e simplesmente ficou me encarando. — O que foi?

— Procurando algum traço de mentira no seu rosto. — Ele disse com um pequeno sorriso.

— Você é o pior mesmo. — Respondi com um sorriso.


O clima, depois de alguns minutos, logo se tornou leve e fácil de conversar — era mais fácil ignorar a existência da ex-namorada dele, mas eu sabia que não podia adiar para sempre. Mas era bom, sentir meu coração batento forte pelo seu sorriso, seu cabelo finalmente estava secando, seus olhos já não estavam vermelhos, mas ainda havia um pouco de inchaço em seu rosto — o que foi um pretexto para eu caçoar dele.

Brinquei com meus próprios dedos enquanto ele falava uma ou outra coisa aleatória, tentando se distrair do motivo real de ter fugido para ali.


— Ei, Iwa-chan. — Ele chamou com um dos seus tons mais suaves.

— Sim? — Respondi sem nem mesmo olhar para ele.

— O que é estar apaixonado por alguém? — Ele indagou. Demorei alguns segundos para processar as palavras daquela pergunta.

— Quê? — De maneira monossilabica eu pude expressar toda a minha confusão. — Eu lá tenho que saber? Não é você o apaixonadinho que é tão popular?

— Sim, eu sou. Mas isso não significa que eu possa realmente ter me apaixonado por alguém. — Ele respondeu, simplista.

— Ah... Como eu posso dizer? — Eu pensei.

— Já pensei sobre isso, mas nunca cheguei a uma resposta concreta. — Ele disse.

— Você já amou alguém? — Eu indaguei.

— Acho que não, e você?

— Eu amo alguém. — Respondi e senti o olhar dele cair sobre mim. — Amar, acho eu pelo menos, é aceitar a pessoa como ela é, e também é a paixão que existe, a paixão que move o mundo, que faz você querer a pessoa perto e também protegê-la. Também faz seu coração bater forte e querer abraçar a pessoa e muitas vezes beijá-la. — Comecei. — Faz você se sentir mais vivo que nunca, acho que o amor não é como o fogo, que queima você por dentro tão intensamente que uma hora ou outra, ele simplesmente acaba. Isso é paixão, algumas não queimam tão ferozmente, por isso duram, outras, são tão ardentes que mal pode se chegar perto. Amor você não precisa estar com a pessoa, precisa somente estar ao lado dela. Não precisa tocá-la, apenas ter ao alcance de seu toque, não precisa beijá-la, mas ter seu rosto tão próximo que qualquer movimento pode se tornar um beijo. Assim como uma dança lenta. Ela não precisa de movimentos bem calculados, não precisa de exibicionismo, apenas estar na melodia lenta e certa.

— Isso foi bem profundo. — Oikawa disse depois de um tempo de silêncio.

— Verdade. — Concordei.

— Acho que nunca amei ninguém. — Ele disse sincero. — Nunca senti esse sentimento de querer estar ao lado dela, de não ter a necessidade dela, e sim, ter ela ao alcance de seu toque. — Seu tom era de verdade e seu olhar pensativo. — A pessoa que tem o seu coração é muito sortuda. — Ele declarou e eu apenas ri.

— Você não tem ideia de como está errado. — Falei.


[♛]


A madrugada tinha sido intensa de muitas maneiras, tinha me tirado do meu estado "Bem", ou pelo menos, o que eu conseguia fingir de bem, e aquilo me levou a uma saída qual eu só tinha recorrido apenas uma vez antes: Álcool.

Não durei muito mais que uns dois drinks e umas quatro doses — talvez menos que isso. Então, chorei um pouco, sozinho como nunca achei que algum dia poderia estar. Era incrível que mesmo que eu passasse o dia rodeado de pessoas que diziam que estariam lá em todos os momentos, elas não estavam nem em metade deles. Mas... tinha alguém que estava em todos os meus momentos.

Cambaleei até a casa do meu melhor amigo, talvez, o único amigo de verdade que ainda me restava — o que não era muita coisa. Ele me recebeu sem questinamentos, ele simplesmente me sentou no chão, tirou meus sapatos e me carregou até seu banheiro, disse que não queria ouvir as bobeiras que minha namorada — ou melhor, ex-namorada — tinha dito para mim. Me obrigou a tomar um banho, e foi sob a pressão que a água que o chuveiro dele fazia na minha cabeça que eu notei algo: Eu não sou ninguém. Aquele pensamento me arrastou para fora do banho, me fez tomar quatro canecas enormes de uma bebida horrivelmente doce que fez todo o álcool em meu organismo se dissolver, e foi naquela intensa madrugada, cheia de turbolências que eu ouvi as mais belas palavras, as mais sinceras. A verdade absoluta que eu nem sequer tinha cogitado, e então surgiram mais e mais perguntas. Será que algum dia eu amei? Será que meu melhor amigo amava alguém?

Foi naquela madrugada cheia de sentimentos que todas as lágrimas que eu podia derramar, eu chorei-as. Chorei pela minha dor, pela minha dúvida, pelo meu egoísmo, por tudo, e ao som de uma lenta melodia que tocava em minha mente, eu dormi no abraço reconfortante do meu melhor amigo. Perdendo-me no sono, nos sonhos e nas memórias.

Quando eu tinha secado as lágrimas dele, quando ele não perguntou nada e simplesmente me abraçou forte, quando falou que eu era um tolo e que minha cara ficava horrível quando chorava — então era melhor parar antes que ele não pudesse dormir naquela madrugada —, quando eu segurei seu rosto em minhas mãos e o guiei em meio a escuridão, quando não havia saída para nós e ele segurou minha mão, sorrindo, e assim, de maneira tão simples, clareou nossa vida.

Acordei, já tendo conciência que não era tão cedo assim. A tarde trazia com ela o calor insuportável do verão, era um calor que fazia a pele suar, fazia tudo parecer mais cansativo. Parecia que eu estava vivendo um verão a vida toda.

Abri meus olhos — um tanto inchados por causa das lágrimas que me levaram ao sono — e pude encarar uma cena que talvez nunca se repetiria.

Com uma aura angelical, ele exibia uma expressão calma em seu rosto, a respiração calma e ritmada, e mesmo no quarto obscurecido, ele parecia encantador. Seus braços ainda me rodeavam, assim como estavam quando eu peguei no sono, seu cabelo naturalmente bagunçado e espetado apontava somente para cima. Ele parecia em paz.

Permiti ficar algum tempo observando aquele lado que Iwaizumi odiava mostrar por alguma razão. Ele mal sabia que eu adorava quando ele sorria — e apesar disso soar completamente gay, ele não deixava de ser encantador. Talvez ele só não fosse o centro da atenção do time porque eu também estava nele.

A coberta estava perto do seu pescoço, e eu nem mesmo precisava tocar no seu corpo para saber que ele estava extremamente quente — sua pele imanava calor. Toquei o mais leve possível no tecido e afastei de seus ombros, deixando um pouco de seu corpo exposto ao ar que circulava no quarto.

A garota que tinha o coração dele realmente era sortuda. "Você não faz ideia de como está errado.", eu imagino o que ele realmente queria dizer com isso. Por mais que não admitisse, sabia que ele tinha um lado romântico e que era atencioso, além de tudo, ele tinha aquela ideia maravilhosa do amor, como não poderia ser sortuda a garota que ele amava?

Pensar nele namorando doia um pouco meu orgulho como melhor amigo — apesar de ele ter terminado com todas elas um pouco menos que três meses depois do começo do namoro —, talvez eu realmente achava ele importante demais para poder dividí-lo com outra pessoa.

Ele se mexeu um pouco debaixo da coberta e então abriu os olhos lentamente, queria que ele tivesse a melhor imagem para acordar de manhã — ou nem tão manhã assim — e destruir as memórias da madrugada anterior. Eu sorri para ele de maneira mais sincera e singela possível.


— Bom... Dia ou tarde? — Ele falou com a voz um tanto alterada pelo sono.

— Não faço a menor ideia. — Respondi. Ele sorriu e por um segundo, imaginei como se meu coração tivesse pulado uma batida. Ele caçou o celular às cegas e quando finalmente o encontrou fechou a cara.

— Merda. — Ele falou. Esperei por mais respostas. — São quase quatro horas. — Ele disse e eu perdi o fôlego por um segundo. — Avisou a sua mãe que ia ficar aqui?

— Ah... — Eu disse monossilabicamente e foi o suficiente para ele desbloquear o celular e fazer uma ligação para minha mãe.

— Bom dia... Ah, oi. — Ele disse com um leve sorriso. — Eu só queria que não se preocupasse, o seu filho está aqui em casa... Ah, imaginou que ele estivesse?... Ontem surgiu um compromisso de última hora e ele veio aqui para casa... Tudo bem se ele ficar uns dias?... Te devolvo antes do Natal... Certo... — Ele riu de algo e então olhou nos meus olhos. — Sim, sim. Falo. Até depois.

— E? — Eu indaguei depois que ele desligou.

— Ela disse que você pode ficar o tempo que quiser desde que não incomode ninguém... Acho que é impossível você não incomodar ninguém. — Ele brincou e eu ri. Me joguei em cima dele e o abracei grato.

— Obrigado, Iwa-chan. — Eu disse. Realmente não queria ficar sozinho. Eu não podia ficar sozinho.

— Sai de cima de mim. — Ele mandou num tom irritado e eu logo obedeci. — Vai na sua casa pegar o que é necessário e eu vou fazer um café para nós. E ela disse que te ama.


[♕]


Apesar de eu realmente ter ficado irritado com ele — afinal, ele ainda era um tanto pesado quando decidia se jogar em cima de mim —, era bom ver que estava um pouco melhor. Será que ele tinha notado que meu coração bateu um tanto mais forte quando o aroma do seu cabelo ficou tão claro para mim?

Dei de ombros e tirei as torradas e coloquei num prato para ele.


— Eu não quero ficar em casa, vamos sair, Iwa-chan? — Ele perguntou e eu apenas revirei os olhos enquanto sentava na cadeira.

— Oikawa, já são quase cinco da tarde...

— São quatro e dez. — Corrigiu.

— não deve ter nada divertido para fazer. — Eu continuei como se a interrupção dele nem tivesse existido.

— Não quer sair? — Ele perguntou de maneira irritante. Olhei para ele com um olhar descrente na pergunta. — Não. — Concluiu. — Então vamos fazer algo em casa mesmo.

— Como o quê? Jogar Twister? — Sugeri sem vontade real de jogar aquele jogo que muitas das vezes, dava errado.

— Olha, não é má ideia. — Brincou ele e eu não pude evitar sorrir. — Iwa-chan quer ficar perto de mim? Eu deixo. — Ele disse e novamente meu coração bateu mais forte. Aquele idiota nem fazia ideia como suas palavras mexiam comigo. — Iwa-chan, você está bem? Está vermelho.

— Imaginei eu com uma garota jogando Twister. — Menti e ele riu. Aquela risada sincera que fazia minha pele se arrepiar sob o tecido de minhas roupas.

— Só você mesmo, Iwa-chan. — Ele disse. — Acho que se fosse o Iwa-chan, eu não me importaria que me tocasse.

— Isso foi gay. — Eu disse tentando desviar da minha própria vergonha.

— Foi mesmo, mas é a verdade. Não acho que me importo de ser tocado por você. — Disse simplista enquanto destroçava a torrada apenas para come-lá.

— Acha? — Eu indaguei e ele assentiu. — Levante-se. — Mandei e ele me olhou com um olhar questinador. — Apenas faça. — Eu disse e ele fez. Coloquei-o contra a parede, olhei no fundo de seus olhos e então aproximei meu rosto do dele. Como eu queria beijar aqueles lábios que deveriam ser tão macios.

— Iwa...chan? — Ele disse um tanto hesitante.

— Ainda acha que não se importa de ser tocado por mim? — Eu perguntei e ele corou no mesmo instante. Meu coração disparou e minha mente viajou para outros lugares, para sonhos que eu tentava esquecer, assim como os gemidos que eu tentava abafar. Me afastei no mesmo instante, com o rosto queimando.

— Estranho. — Ele disse.

— Vamos comer. Por favor. — Eu falei.


No mesmo instante surgiu uma pergunta na minha mente. "Comer o quê?".


[...]


A tarde já vinha escurecendo aos poucos, deixando o céu com uma cor única. O tempo tinha passado rápido com Oikawa me enchendo o saco e assistindo filmes aleatórios que passavam nos canais. A minha mente vagava para o segundo que meu rosto estava tão próximo do dele que o mínimo movimento mal calculado — ou muito bem calculado. "Não precisa beijá-la, mas ter seu rosto tão próximo que qualquer movimento pode se tornar um beijo.", era o que eu tinha falado na madrugada anterior. Aquela cena se repetia tantas vezes dentro da minha mente. O que eu estava fazendo comigo mesmo? Foi o que eu perguntei enquanto olhava para ele, que estava tão concentrado no filme que nem mesmo percebeu o meu olhar sobre ele. Eu era um completo idiota por um idiota ainda maior.


[♛]


Ele tinha caído no sono. Eu também estava cansado, e a maratona de filmes aleatórios não tinham ajudado a descansar.

Seu sono parecia profundo, assim como naquela tarde, eu notei que ele tinha uma leve aura angelical quando dormia. Sentei-me ao seu lado, no chão gelado e observei-o de perto. Novamente, meu coração bateu forte ao estar perto demais dele. Isso sempre aconteceu, mas quando ele me colocou contra a parede, quando senti sua respiração se misturar com a minha, quando o menor movimento poderia me levar longe, quando suas mãos estavam ao lado do meu corpo, quando o momento parecia perfeito para um erro irreparável, meu coração bateu como um louco, meu rosto esquentou, a ponta dos meus dedos formigavam e eu mal podia senti-los, meu corpo respondia de modo errado ao meu cérebro. Quando ele se afastou, senti um vazio. Eu realmente queria aquilo?

Toquei o seu cabelo, que na verdade, era mais macio que sua aparência mostrava. Sua pele estava um tanto febril — ou talvez eu estivesse gelado demais — e sua respiração continuava ritmada.

Por que eu queria tanto ele quando na verdade eu já tive tantas meninas lindas? Talvez fosse minha imaginação, ou apenas uma curiosidade de adolescente, talvez... Talvez tantas coisas, e nessas coisas poderiam também ser amor. Qual era a probabilidade de você se apaixonar pelo seu melhor amigo de infância e achar que é hétero?

Ele mexia comigo — sempre mexeu. Sempre o queria por perto, queria que ele estivesse lá, mesmo que fosse para me dar uma bronca, ou apenas para sorrir para mim. Eu queria ele. Ele me fazia querer a cada momento mais.


— Oikawa... — Ele disse enquanto abria os olhos. Me afastei alguns centímetros que não tinha percebido que tinha aproximado e encarei ele um tanto mais distânte. — O qu...

— Você fica bonito enquanto dorme. — Eu disse sem olhar para ele. Olhando para o céu que escurecia lá fora. — Você é bonito, só que é muito agressivo e a maioria do tempo é rude comigo, então eu não falo isso para você.

— Você é metido porque sabe que é bonito, e isso é irritante. — Ele disparou enquanto se sentava no sofá. — Oikawa... — Ele me chamou e eu olhei para ele. — Você estava falando sério sobre eu te tocar? Em sentido romantico...

— Estranho eu admitir isso, certo? — Eu disse. — Mas é, acho que não me importo... — Eu disse, até queria dizer "Eu até quero", mas mordi a língua. — Acho que porque é você.

— Sabe que é errado. — Ele disse.

— Eu já fiz uma tempestade de erros, então acho que isso nem importa mais. — Respondi.

— Oikawa. Você disse que achava que nunca se apaixonou, também disse que a garota que tem meu coração é uma sortuda. — Ele disse.

— Sim, e você disse que eu estava errado. — Eu respondi.

— Você nunca vai querer olhar na minha cara, mas acho que você se apaixonou sim, e que essa pessoa errou com você. — Meu olhar voltou-se para ele. Seus olhos seguiam a linha do horizonte do mundo dele. O mundo que eu não podia ver. — E a pessoa que eu amo não é tão sortuda assim. Ele veio aqui ontem mesmo, chorar porque outra pessoa dispensou ele. — Falou com um sorriso triste. Permaneci em silêncio, sentindo aquelas palavras dentro de mim.

— Iw...

— Eu amo você. — Ele disse claramente. Olhou nos meus olhos, com as lágrimas prontas para descer por suas bochechas. — Eu quero estar ao seu lado em todos os momentos, mas você sabe o quanto dói estar próximo quando você está chorando por outra vagabunda que nem mesmo vê você? — As lágrimas dele partiam o meu coração por alguma razão.


Quando eu era criança, eu chorava por tudo, era um verdadeiro chorão, e Iwa-chan brigava comigo e dizia que eu tinha que ser forte. Não tenho uma memória concreta dele chorando na minha frente quando éramos apenas dois meninos, e às poucas vezes que eu pude ver ele chorando, foram tão rápidas que mal pude absorvê-las. Agora, as lágrimas desciam pelo seu rosto livremente, seu corpo deixava os espasmos livres para ir e vir em todos os momentos, ele chorava. Chorava como talvez nunca tivesse.


— Merda. É tão difícil te amar. Você nem mesmo sabe quão bonito é, nem mesmo sabe que é encantador, que tem um sorriso maravilhoso, que quando quer, é um amigo maravilhoso, que eu queria passar toda a minha vida ao seu lado. — Ele disse atropelando as palavras. — Você é lindo e me irrita tanto as pessoas sempre darem em cima de você, me irrita mais ainda você não se importar. — Me levantei apenas para sentar ao lado dele. — Eu quero que você olhe para mim e veja apenas mais do que um colega de time, mais do que apenas um amigo de infância ou apenas um vizinho. Veja Iwaizumi Hajime. Veja-me por completo. O cara que está perdidamente apaixonado por você e seria capaz de parar o mundo por você e...

— Shh. — Eu disse tapando a boca dele com minhas mãos. Quando percebi que ele tinha desistido de falar, eu o abracei, como eu nunca tinha o abraçado antes. Abracei querendo juntar os pedaços do coração dele que eu tinha quebrado, eu queria curar aquelas feridas e parar de ser apenas fragmentos.

— Tome a responsabilidade. — Ele sussurrou em meio ao choro e meu abraço. Sorri.

— Pode parecer loucura, mas é você que terá que tomar a responsabilidade por mim. — Eu disse e ele apenas parou de se mover. — Eu não sei se amei alguém antes, mas espero sinceramente descobir a minha definição de amor, porque eu não sei definir o que faz meu coração bater forte quando você está perto, nem mesmo porque eu sonho com você, porque você me arranca sorrisos tão facilmente e quando eu preciso de alguém, a única pessoa em qual eu consigo pensar é em você. E por mais que eu tenha sido uma pessoa ruim, eu vou ser bom amanhã, eu vou ser bom por todas ás vezes que eu não fui. — Eu disse pensando na música que desde que o momento que ele abriu a porta para mim na madrugada anterior, tocava em minha mente. — E eu quero ter mais do que apenas fragmentos. — Eu falei.

— Isso...

— Isso significa que eu quero me arriscar por algo que eu não sei o nome que eu quero desesperadamente que seja amor e não arritmia cardíaca. — Eu disse e ouvi a doce risada dele.


Beijei sua bochecha, tentando aliviar um pouco de todos os danos que eu já tinha dado nele. Movi-me e sentei em seu colo, segurei seu rosto em minhas mãos, olhei em seus olhos avermelhados e sorri.


— Quero ter mais que fragmentos, mesmo que por enquanto seja a única coisa que temos para seguir um caminho juntos. — Eu disse e ele fechou os olhos e sorriu.

— Você me deu os melhores fragmentos que a vida pode oferecer. — Ele disse e eu sorri. — Prometo que faremos algo lindo com eles.

— Isso significa que está disposto a aceitar toda a minha loucura e me amar ainda sim? — Brinquei.

— Não é isso que eu faço todos os dias desde que nos conhecemos... Tooru? — Ele disse meu nome e senti todo meu corpo deixar um arrepio bom se espalhar.

— É sim. Hajime-chan. — Sorri enquanto nossos lábios se tocavam pela primeira vez de muitas.


☙❣❧

7 Mars 2018 00:00 1 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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Alice Alamo Alice Alamo
Olá! Sua história está na categoria errada do site. Fanfics devem ser postadas na categoria Fanfiction e os gêneros como romance, poesia, lgbt, etc, devem ser postados nas tags ;) Para alterar, basta ir em Editar configurações da história, ok?
March 25, 2018, 21:23
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