O louva-a-deus mantinha uma postura soturna.
Usual e inerente à sua própria personalidade. Naturalmente comedido. Nada o acometia para fora da curva rotineira de seus hábitos educados, lentos, quase premeditados. Nem de sua vestimenta profissional, senão uma gravata mal escolhida entre quatro dezenas penduradas separadamente em cabides marcados com algoritmos romanos. Em ordem decrescente. Com o imprescindível cuidado de desusar quaisquer que terminassem em numerais cinco ou o três.
Todas com cortes impecáveis no armário mal iluminado por uma lâmpada à pilhas. Do tipo que se cola com fita dupla face ou parafusa-se. E um leve e permanente odor de bolor.
Curiosamente, da cor menos apreciada. Amarela. Detestava amarelo! Um tom que sempre emanava uma aura de descompromisso com a necessária sobriedade. Folga burlada em pleno expediente contínuo do transcorrer diário dos fatos realmente importantes do dia a dia. Um equívoco na paleta de tons da natureza!
Discretamente corroborando com este ato falho de desconexão sem propósito consigo mesmo, um nó frouxo demais a tornava ainda mais tardiamente intolerável. Dependurada, ou quase abandonada no pescoço esguio. Assemelhava-se a uma forca em dúvida ideológica sobre comprometer-se a ser, ou deixar que se desaperceba sem maiores implicações.
Porém, hoje e naquela sessão em particular, este pequeno deslize talvez se tornasse quase um imperceptível erro estratégico para a finalidade atípica a que se propunha alcançar. Empoderava uma postura sóbria demais.
Sobriedades duradouras demais causam tanto distanciamento quanto autocríticas sinceras. Ou sudorese. Ou hálito ruim.
Inconscientemente forçou uma fenda imperceptível em meio aos seus lábios. Feios. Leporinos. E, no momento presente, secos.
O ventilador de três pás em formato de luas minguantes havia queimado já, há uma semana. Sentia falta de seu ronronado ao girar sempre preguiçosamente. Mal dando conta de suavizar o ambiente interno. Pendurado no teto de lâminas de madeira encarunchada, permanecia imóvel. Envergonhado pela própria inércia. Até bem pouco tempo atrás, arrogantemente eficaz. Agora, silencioso e moribundo.
Os papéis de parede com estampas de árvores de alguma floresta tropical fictícia esboçavam bolhas recorrentes da alta temperatura. Temia que um dia entrassem em combustão. Mesmo com a ajuda da ampla e sempre escancarada janela de madeira de carvalho empoeirada por tudo que já presenciara em silêncio.
Silêncios contínuos tornam empoeiradas quaisquer considerações mais honestas sobre espaços internos ou horizontes além das vidraças.
E o verão deste ano, ciente disso, estava ainda mais infernal. Vingativo! Certamente seu ar estagnado e abafado estava acrescido do elemento natural que precede qualquer vingança: a baixa oxigenação das energias positvas em ambientes mentalmente restritos. Ou, a perda do gosto por sorvetes no verão. Assim como a suavidade para rir de si mesmo estatelado no chão. Quase justo. Já que, de fato, neste período, ano após ano, amaldiçoava veementemente o verão e suas altas temperaturas. Desprezava-o. Pra ser mais exato, o classificava como um desengonçado par na delicada dança das mudanças das estações.
O louva-a-deus tomado por uma quase infantil preocupação, soprou brevemente em direção às narinas fecundadas no rosto estreito. O ar morno embaçou a borda inferior direita da lente perfeitamente limpa e redonda de seus óculos de aro leve. Não... Hálito normal. Raízes de gengibre. E dois cravos secos para refrescar a garganta e amenizar o inchaço da tireoide. Bem, este efeito não era comprobatório de fato. Mas aliviava a permanente ansiedade física e psicológica de abrir o maço de cigarros bem à vista no armário de mogno com espelhos cristalinos à sua frente. “Para manter seu poder sobre si mesmo tenha seu inimigo sempre a distância de sua própria fraqueza”. Este era um dos tantos versos do mantra que repetia sem muita convicção, que entoava e praticava a muito custo.
Ainda salivava ao passar os olhos pelo maço. Ainda se perguntava o porquê de tantas privações. Todos morrem um dia qualquer. Por uma negação ou oração qualquer.
Instantaneamente lembrou-se do recado escrito em letras garrafais em tom vermelho grudado com fita adesiva na alça de sua geladeira antiga. De porta vermelha e côncava: comprar gengibre!
Curioso como os lembretes mais casuais determinam todo o decorrer de uma inquietação ao longo de uma manhã.
Estava com sede. Instintivamente olhou de soslaio para o aquário sobre o pedestal de mármore azulado no canto direito da sala. Sobre um tapete de cordão verde relva, tecido à mão por ele mesmo. Uma de suas terapias. A água estagnada e um pouco turva mostrava um navio de pedra naufragado na areia com pedrinhas vermelhas.
O rombo em seu casco do tamanho de uma noz estava vazio e escuro. Uma cripta submersa para o esqueleto de espinha dorsal do antigo peixinho albino. Na superfície tomada pelo fino lodo formado pelos restos da última semeadura de ração em pó que se deteriorava lentamente, um magricela inseto sutilmente se deslocava sem se afundar. Resoluto em sua inquestionável condição de saber fazê-lo. Consciente de seu peso ínfimo. Consciente também das variáveis acerca de existir sobre uma impossibilidade absurdamente dúbia sobre pesos e necessidades.
O louva-a-deus o invejava. Como invejava as lanternas japonesas no outono. Gostaria de ser mais leve. Ou, de não dar a mínima para superfícies. Nem profundidades.
Contrastando com o que deveria transparecer, seu semblante normalmente tranquilizador era uma amálgama de curiosidade presente e sobriedade distante. Emanava certa incredulidade das íris castanhas dentro de um invólucro quase pétreo de suas cavidades oculares. Seu olhar perturbadoramente analítico e descompromissado fitava, por detrás das lentes. Embora, um desleixo proposital com que esticava as patas traseiras dentro das calças de brim perfeitamente engomadas denotava um lampejo de desconforto. Ou expectativa. Qualquer uma das duas era compreensível, dado a intrigante e embasbacante figura repousada desassossegadamente em seu divã!
Ele a fitou quase incrédulo. Mas não era o único tomado pelo ceticismo palpável. Uma mosca azul trocava insistentemente de posição na borda do copo de papelão onde um ralo suco de groselha esquentava ao nível da temperatura ambiente. Buscava um melhor ponto de visão atraída pelo odor fétido da ocupante do divã. Logo teria mais companhia.
A poltrona de encosto alto, de couro marrom surrado era desenhada pelas dobras onde seus botões de quatro furos criavam sulcos verticais ao longo do couro desgastado. Proporcionava-lhe uma silhueta ainda mais magérrima do que normalmente permitia transparecer. Mesmo tendo escolhido a camisa branca de mangas compridas e listras pretas e finas horizontais.
Louva-a-deussão esguios, todos o sabem, mas o que corriqueiramente se desconhece é o fato de que a vaidade com o próprio aspecto é aquilo que lhes dá contornos verdadeiramente estranhos à sua personalidade.
O relógio de pedestal inglês de quase meio século reverberou por três vezes. Seu pêndulo ia e vinha sem pressa e cada ação contava sonoramente as horas. Uma por uma. Em absolutas certezas. Algumas certezas tornam quase tudo enfadonho como a monotonia inquestionável deste maldito relógio, resmungou pra si mesmo.
Quando sozinho ali, costumava comparar seu movimento pendular ao inquietante sorriso do gato Cheshire da fábula. Um pequeno sobressalto na primeira batida lânguida.
Hora de iniciar a sessão. Pela primeira vez, inconscientemente, trocara de lugar em sua posição profissional num desconfortante espaço de tempo. O bastante para rejeitar o divã e se ver aliviado por não pertencê-lo. Suspirou. Esfregou a ponta do lápis na folha de papel de sua prancheta. Borrou um tosco par de olhos. Diferente daqueles que o fitava. Vívidos. Aflitos. Atormentados. Um botão castanho que piscava incessantemente. O outro, dependurado por um frágil cordão cinza-sujo.
— Às vezes é difícil entendê-los! Vagalumes falam todos ao mesmo tempo.
Ergue um pequeno frasco semi transparente. Balança-o. Dentro dele, vagalumes. Mortos.
A boneca de pano tem a voz anasalada. Tom baixo e trêmulo. Não pronuncia as palavras por inteiro. Procura sem cessar uma posição mais confortável deitada no divã. Não vai achar.É óbvio. Como poderia? Ela rejeita a si mesmo.
Suas grandes unhas carcomidas rasgam incessantemente a pele de tecido encardido e mal cheiroso que cobre seu corpo. O louva-a-deus perscruta seu corpo. Esquálido. Quase sem enchimento. Flácido. É um milagre que ela tenha conseguido chegar até ali. É um milagre que consiga ao menos andar. Tem vontade de tapar os ouvidos quando chega à sua empatia a mensagem que ele berra por sinais de autoflagelo. Violência. Abuso. Demência.
— Está tão frio aqui dentro!
A boneca reclama. Quase não deu pra se ouvir. As palavras chorosas saem aleijadas pela fresta da boca. Trombam nos poucos dentes de sementes amareladas que lhe restam. Parte da sonoridade é expelida pelas desgastadas narinas. Dilatadas. Numa delas uma enferrujada argola. Um pequeno e escuro orifício vai alargando o furo em que foi encaixada há muito tempo. Deixando-a cada vez mais frouxa. Vai cair em breve. Irá rasgar a pele de pano desgastado. Uma ponta de espuma escura atesta isso. Com certeza coça. Ela leva uma das unhas ali de minuto a minuto. Piora tudo!
O louva-a-deus pensa em lhe oferecer um lenço. Desiste. Não está frio. O sol queima quase tudo que não deveria arder do lado de fora das paredes. Torna a pequena sala quase uma cova abafada. Ela parece se dar conta.
— Guarda-chuvas cinzas! O céu é bonito quando os cospe assim, diz a boneca olhando pra fora.
Um dos olhos de botão está pendente. Um fino fio de cordão o segura fragilmente. Vai cair. Não demorará. Como todo o resto daquilo que se agita no divã. O vestidinho curto demais deixa à mostra as longas pernas magricelas. Já quase não há enchimento dentro da pele de pano. Os contornos são confusos. A boneca capta, mesmo voltada para a direção oposta, o olhar do Louva-a-deus. Por um momento ele deixou-se levar pela imagem de algumas nuvens brancas pastoreadas por alguma brisa. Indo para longe dali. Invejou sua liberdade.
A dualidade entre se deixar levar e não ter que voltar. Dualidades são perfeições.
A boneca leva suas mãos sobre a virilha. Agarra uma ponta do vestidinho vermelho. Manchado. Sujo demais. Curto demais. Obsceno. Fede. Grande merda! Quem se importa? Sorri! Um sorriso anormal. Distorce ainda mais seus lábios pintados à mão. De tinta alaranjada. Sua tez já fora clara. Tem manchas escuras. Deveria ter sido bonita. Tempos atrás. Sobrancelhas borradas. A da direita é só uma mancha agora. As bochechas têm fissuras. Na cabeça de porcelana, dezenas de pequenas tranças mescladas por três ou quatro farrapos de cores distintas e desbotadas. Alinhavados. Emprestam-lhe um ar falsamente jovial. Desconexo. Abusivo. Restam-lhe poucas agora. Vê-se clareiras pontilhadas de pigmentos avermelhados onde a maioria delas foi arrancada. Três estão pela metade. Outras duas, menos que isso. Apenas uma delas mantem um lacinho vermelho na ponta.
— Qual era mesmo o nome?
A boneca tenta se lembrar do nome. Ela tinha um para aquele lacinho. Um para todos os outros também.
— Mariposa, grita!
Seu hálito é azedo. Atinge o rosto do Louva-a-deus que o repugna. Mesmo sem contrair um músculo da face sequer. Disseram-lhe que eram mariposas, lembrou-se! Nunca vira uma de verdade em toda sua vida. Talvez a febre. Talvez o intervalo dela. Mas, qual fosse a razão, acreditava! Demoniozinhos coloridos que ao invés de sugarem seus olhos à noite, alimentavam-se de flores. Flores também deveriam existir. Não pode ser tudo uma merda de mentira o tempo todo. O tecido que envolve seu crânio coça. Ferido na película mais deteriorada que o envolve. Os piolhos reivindicam até mesmo o menor dos fiapos.
A mosca, que se mantinha quase imperceptível até agora, passa zumbindo perto do ouvido do Louva-a-deus. Segue em direção ao divã.
Pousa numa clareira da cabeça da boneca. Ela não sente. Não sente a maioria das coisas que a conecta consigo mesmo, há tempos. Está aqui e em outro lugar agora. Longe!
Eis um bom refúgio para se abrigar, quando não sabemos mais para onde nos afastarmos de nossos demônios. E, nunca lhes sirva chá num dia chuvoso. A chuva de guarda-chuvas sempre os trará de volta. Mesmo num calmo fim de tarde qualquer, acredita a boneca.
Um arrastado e resignado suspiro. Sua mente se esvazia. Esquece quase tudo por um instante. Quase pra sempre. Vem acontecendo em intervalos cada vez menores. Mas ela não se deu conta ainda. Tudo que consegue processar é que seus dedos murchos tremem. Aperta com dificuldade um dos olhos-botões. Aquele que ainda está no lugar. Tem uma fissura nele. A boneca o esfrega com certo cuidado. Teme perdê-lo. Receia parti-lo e ter que encarar sua própria escuridão todo o tempo. Não consegue limpá-lo. Nada mais consegue.
Pisca algumas vezes seguida. Analisa o lugar. Quase se distrai. Quase normal. Poucos móveis além do aquário vazio e do relógio que parece alguém que não devia estar ali.
Uma poeira fininha se espalha pelo lugar, feito boas intenções em dias tristes. Ela reconhece isso. Tem o pó da estagnação melancólica sobre seus trapos o tempo todo.
Enlaça com força as coxas, uma sobre a outra. Bambas. Remendadas. Quer ir embora. Talvez tenha sido uma ideia de merda ter ido ali. Olha para a janela escancarada. Perto do céu gangrenado. Nada bom. Perto demais dos guarda-chuvas que voltam a cair. Alguns abertos. Rodopiantes e lentos. Outros suicidas. Como corpos cuspidos por Deus. Imagina porcos à mesa de jantar atirandoguardanapos ao lixo depois de limparem a sujeira de seus focinhos. E arrotarem.
Às vezes pensa na ironia de que seu olho de botão rachado nunca se despregara. Talvez por estar sempre lúcido. Mais do que ela nunca se sentira. Os ouvidos de dedal colados nas laterais do crânio de porcelana zumbem. Tem dores de cabeça. Elas deixam tudo turvo, muitas vezes. O céu é belo. Cinza é belo. Guarda-chuvas também.
Inspira. Afasta o hálito quente da demência. Fecha os olhos. O que está pendurado não obedece. Desfalecido. Demente. Ela vê, no canto mais afastado do assoalho, algo parecido com um pequeno buraco redondo junto à parede do canto. Uma entrada. Ou uma saída para algum lugar. Poderia jurar que eram um par de olhos vermelhos de uma lebre.
O relógio reverbera. Lento. Consciente. Destoa de todo aquele ambiente. Anuncia o término da sessão. Relógios são coveiros do tempo.
— O que eles lhe contam depois que vou embora?
A boneca pergunta. Sempre a mesma pergunta. Refere-se aos seus guarda-chuvas. Sua febre.
O louva-a-deus rabisca lábios abaixo dos olhos borrados na prancheta. Não ouviu muito do que a boneca falou desde que entrara. Sua presença doentia lhe trás torpor. Sente vontade de alinhavar seu olho de botão num dos furinhos na sua face de porcelana. Às vezes, de arrancá-lo! Abre a porta mantendo distância discreta da boneca, de seu mau cheiro demente e seu corpo em frangalhos. Não responde a pergunta. Não está lá para isso! Já tem demônios demais para conhecer mais alguns por seus próprios nomes. A boneca não se despede.
Não olha para trás. Não precisa mais.
Sozinho, outra vez. Despoja-se na poltrona. Limpa as lentes dos óculos embaçadas. Deixa a prancheta e sua folha borrada no chão. Atira a gravata para um lado qualquer. Detesta gravatas. Tanto quanto odeia o verão. Ou quanto odiava aquele peixinho albino. Evita olhar para o céu. Limpo demais. Azul demais. Quente feito o inferno. Uma brisa morna invade a sala. Redesenha o pó de fuligem.
A mosca esfrega as patas dianteiras outra vez na borda do copo de papelão. Está farta. Inicia seu voo além da janela. No céu, um vazio de azul tórrido. Ou não. Guarda-chuvas despercebidos caem aos poucos. Talvez! Ela vaga por tudo isso. Alcança alturas impossíveis.
Sua mente rejeita as nuvens de sanidade doentia acima de todo o possível lúcido. Alcança um jardim. Neste jardim há árvores de todas as formas e tamanhos. Imensas se você plantar bananeiras ou pequeninas se tiver que amarrar os próprios sapatos.
Numa delas, um longo fio de nuvem sustenta um casulo. Há algo lá dentro. Uma lebre ou uma borboleta. Lebres não nascem em casulos. No entanto, borboletas não têm contornos de longas orelhas. Bem, certezas não servem para muita coisa se não podem ficar em dúvida algumas vezes. São velinhas de bolo apagadas por outra pessoa que não o dono da data.
Melhor seguir voando! Casulos podem ser muito temperamentais, às vezes.
Mais além, pousa em um dos galhos mais baixos. Uma cena nada corriqueira chama sua atenção.
No solo, a menina reclama do longo e desajeitado vestido. Babados demais. Calor demais. Ajoelhada prevê o desgosto de seu pai quando vir que todo o engomado de suas meias perdeu-se em meio ao barro marrom que gruda também no sapatinho envernizado.
Já deveria ter voltado para casa. Seu pai não admitia atrasos para o jantar. Mas a febre a atormentava tanto quanto aquele encalorado vestido idiota. E não conseguiria jantar em paz, nem dormir esta noite enquanto não recuperasse seu relógio de cordão. Isto ofenderia terrivelmente a última lembrança terna de sua mãe. Fora presente de aniversário. Em seu leito de morte.
Deixara-o cair e uma lebre branca de olhos vermelhos em disparada se embaraçara nele ao fugir, espantada com sua presença. Entrara naquela toca em meio às ervas daninhas que emaranhavam os arbustos próximos à figueira. Detestava figos. Lebres e febres. Sermões sobre lama, vestidos engomados ou horários de janta.
Ajoelhou-se e aproximou seu rosto na entrada da toca. Com um dos olhos fechados forçou o outro a conseguir um foco de aproximação e nitidez precária. Vislumbrou uma tênue luz alaranjada em seu interior. Aspirou duas vezes. Tinha certeza. Era mesmo o odor enjoativo de óleo queimado. Reconheceu um miúdo lampião preso numa das paredes de um longo corredor. Tirou do bolso a lupa de cabo comprido. Aproximou-a de ambos os olhos agora, para distinguir mais a fundo. Não podia dar crédito ao que julgava ter visto. Olhos são parceiros das mais bizarras peças da imaginação, muitas das vezes!
Sem se importar com seus longos cachos ruivos roçarem as folhas enlameadas, forçou-se para dentro da toca.
Descobriria o que se passava ali dentro. Apesar da lama ou sermões sobre jantares.
Ou, mesmo que nunca mais merecesse a merda de um vestido novo! Desejou isso muito mais do que outro chapéu de formato maluco em seu aniversário.
Descobriria o que diziam os murmúrios vindos da toca!
O que poderia estar sussurrando, um pequeno e elegante louva-a-deus, a uma boneca tão esfarrapada...
Merci pour la lecture!
Li ontem de madrugada. Que história ! Como sempre, o Marcelo nos deixa pensando a respeito de uma miríade de coisas ao fim de cada conto ou capítulo de suas novelas. Tudo é cirúrgico, desde as reflexões, passando pelas críticas até a escrita única, firme, prazerosa de acompanhar. Acredito, meu querido amigo, que um dia ouvirei sobre você por toda parte ! É um talento natural que merece ganhar o mundo. 🙏🏻🖤 Recomendo muito a leitura, não só deste, mas de toda sua obra !
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