lulu_mms Luiza Mendel

Para muitos, dois anos podem durar uma eternidade. Uma reflexão sobre a minha experiência com a pandemia e as cicatrizes que ela deixou.


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Quanto tempo dura dois anos?

Quando tudo começa, você passa a marcar os dias com um X no calendário para saber quanto tempo vai levar até o pesadelo acabar, mas não houve um dia certo para o término, o calendário já se foi, e os dias dentro do pesadelo continuaram, mesmo depois do fim. A pandemia já acabou, tecnicamente, mas você nunca saiu de lá, aqueles dois anos continuam te assombrando. Às vezes, quando a vida está parecendo normal, você volta pra lá e não entende como todos já superaram e seguiram em frente como se nada tivesse acontecido. Você olha para as conquistas das pessoas e sente que ficou pra trás. Você se pergunta: por que eles também não deram uma pausa? Como continuaram vivendo? Não parece justo que os outros já estão três anos na sua frente, porque você teve medo de fazer planos por um tempo. Você lembra da empolgação que sentiu com um novo ano chegando e como foi doloroso o tapa na cara que a realidade lhe deu.


Você revive os dias de terror sentindo medo pela sua vida e pela vida daqueles que ama. Seus pensamentos lhe dizem para parar de fazer drama, afinal, tiveram todos aqueles que nunca terão a chance da sair de lá, e você nem perdeu ninguém próximo. Você volta a fazer planos apenas agora, mas com receio de que uma catástrofe aconteça de novo, lembrando de tudo que aconteceu nos primeiros meses e se perguntado: como eu sobrevivi? Na mesma semana, o mundo muda, a lâmpada do quarto queima, o celular estraga e o cachorro, que ainda é um filhote e não tem culpa de nada, destrói tudo que toca.


Quando a vida parece entrar nos eixos de novo, lá está você, dentro daqueles dois anos, ainda esperando acabar para as coisas voltarem ao normal de verdade. O problema é que nada nunca volta ao normal, a vida é uma montanha russa, e por vezes parece que está em uma eterna subida angustiante. Pequenas pausas de alegria acontecem em meio a uma eternidade de acontecimentos horríveis. Você espera a montanha começar a descer, para poder jogar os braços para o alto e respirar, mas mesmo depois do fim do que você chamou de apocalipse, as coisas ruins não param. É uma continuidade dos dois anos que não te tiraram ninguém com o vírus, mas agora que tudo está aparentemente bem, você começa a perder pessoas por outros motivos. O que iria acontecer de qualquer jeito, mas com aqueles dois anos de tempo perdido tudo fica pior. Quem não se vai, fica doente: familiares; amigos; seu cachorro idoso. E você não para de se preocupar com a vida daqueles que ama, não da tempo de relaxar.


Só então você percebe que a vida é assim mesmo, e se lamentar não vai mudar o passado. O melhor que podemos fazer é seguir em frente e aproveitar o tempo que temos com quem é importante para nós, ficar ao lado deles e saber que não estamos sozinhos. Mas falar é fácil, porque mais cedo ou mais tarde, você vai estar lá de novo, marcando o X em um calendário interminável de uma época que vai deixar cicatrizes se perguntando quanto tempo dois anos podem durar, e esperando que uma dia a resposta não seja: uma vida inteira.

27 Mars 2023 02:00 6 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
10
La fin

A propos de l’auteur

Luiza Mendel Meu nome é Luiza, tenho 26 anos. Futura veterinária e escritora nas horas vagas. Gosto de assistir séries e filmes de aventura e suspense. Meu grande sonho é sair para conhecer o mundo sem ter hora para voltar.

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Izzy Hagamenon Izzy Hagamenon
Foram realmente dois anos estranhos que para mim passaram e se mesclaram em um borrão de tempo, nunca me lembrou se algo aconteceu em 2020 ou em 2021, mais ou menos me lembro do início de 2022. Também tive a sensação de que tudo parou e depois deu um salto. Quando começou eu estava no ensino médio, depois tudo parou (as aulas pararam por quase um ano inteiro para mim e depois veio o EAD), num piscar de olhos a minha formatura chegou. Eu passei de uma adolescente para uma adulta, que tinha que ter responsabilidades e maturidade. Muitos ao meu redor evoluíram rápido, enquanto isso, eu travada tentando entender o que estava acontecendo. Senti que fui deixada para trás, mas aos poucos estou me encontrando. Muitos ficaram com cicatrizes desses anos, mas o importante é deixar o passado para trás e tentar seguir a vida apesar de tudo.
March 31, 2023, 05:04
Lanthys LionHeart Lanthys LionHeart
Acho que a idade e os planos ou metas que tu já atingiu ou completou refletem muito em como as pessoas enfrentaram essa pandemia... Lembro do dia que meu sogro, em pânico (ele tem problema de ansiedade então é compreensível) dizia que tudo ia subir, que ia faltar alimento, que as pessoas iam assaltar os mercados e a gente ia ficar sem dinheiro e eu parei, analisei bem e disse "cara, eu vivo sem dinheiro desde sempre" então tipo, a pandemia não seria um diferencial nesse quesito... Isso abriu minha mente para, o que realmente a pandemia vai me obrigar a mudar e o que continua como era antes e talvez isso me ajudou a filtrar as coisas... Muita coisa tinha de mudar, inclusive um dos hábitos mais comuns, a roda de chimarrão, isso teve de ser extinto e no final, ficou muito melhor, hoje cada um tem seu chimarrão e só se partilha a mesma cuia com os da casa mesmo, foi uma mudança bem vinda... Mas teve a questão da máscara, as vacinas, as aglomerações, o isolamento, tudo isso foi difícil de lidar pra muitas pessoas, eu por ser mais "eremita" não tive dificuldades em me isolar, minha esposa e minha filha partilham da mesma ideia, então tiramos isso de letra também, mas vimos nossos parentes mais próximos, que amam as reuniões em família e o contato físico constante sofrerem muito com tais situações... Realmente a reflexão do texto é maravilhosa porque se analisarmos certinho, esses dois anos ainda não terminaram e não terminarão tão cedo, mas acima de tudo isso, é necessário buscar coisas que mudaram positivamente, situações em nossa vida que descobrimos que não descobriríamos sem os efeitos e o tempo de pandemia... O grande triste disso tudo, são as pessoas que se foram, os que ficaram sofrendo pelos que se foram, e os que nunca conseguiram se recuperar dessa vivência única que essa nossa época enfrentou! Parabéns pelo trabalho maravilhoso, gostei muito! \0/
March 29, 2023, 13:19
GABRIELA FARIAS GABRIELA FARIAS
"Dois anos? "... Isso me pegou de jeito foi como um filme de terror na minha mente, não sei com quais sentimentos você escreveu, mas o que eu senti foi medo, receio, decepção, dúvida, peso, preocupação... esse tipo de sentimento intenso e avassalador. O que a pandemia foi e o que é agora, não muda muito. No fim como foi escrito, nada nunca volta ao normal, e felizmente a única opção é seguir com a vida. Profundidade isso te descreve. Bela reflexão!
March 29, 2023, 01:47
Franciele Santos 🦋 Franciele Santos 🦋
Apesar das cicatrizes deixadas, viver um hoje mesmo que seja difícil importa, deve seguir apenas em frente, mesmo que isso custe muitas coisas.
March 28, 2023, 13:47
Maria Eduarda S. S. de Lima Maria Eduarda S. S. de Lima
Gostei muito da forma como sua escrita transmitiu essa angústia que foram esses anos de pandemia e afastamento, um medo constante, o desespero e desamparo de não saber como vai ser o próximo dia e de quando isso vai finalmente acabar. Essa pandemia realmente deixou cicatrizes mas é exatamente como tu escreveu, temos que seguir em frente, de uma forma ou de outra, fácil ou não, só assim vamos poder viver sem nos arrependermos por ter tido medo de não viver. Parabéns pela maravilhosa escrita!!
March 28, 2023, 05:51
Norberto Silva Norberto Silva
A pandemia não foi algo fácil de se lidar e, apesar de, graças a Deus, não ter tido nenhuma grande tragédia pessoal, entre amigos e família, compreendo muito bem o quanto outras pessoas acabaram marcadas por tal situação. Fico na torcida para que essas pessoas, inclusive você se ainda estiver dessa forma, consigam meios o suficiente para, afinal, deixar as dores causadas pela pandemia no seu devido lugar, um passado que não volte para assombrá-las. Parabéns pelo texto.
March 27, 2023, 13:31
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