Convidei-te a entrar. No meu mundo. Talvez, quisesses apenas espreitá-lo.
Não sei. Que diferença faria? As pessoas crescidas precisam de certezas. De saber que sabem, ou de saber que não sabem. Mesmo que as suas certezas sejam a fingir. Mas não se importam, desde que sejam suas. Se eu encontrasse uma certeza, deixá-la-ia voar. Mas talvez eu não seja (ainda) uma pessoa suficientemente crescida. Por isso, prefiro as incertezas às certezas. E tu sem saberes deste-me isso.
Aceitaste o convite. E eu aceitei a tua presença. Então, ficámos caladas, durante um bocado. A existir. Não sei se o teu silêncio era igual ao meu. Nem se a tua existência era igual à minha. Que diferença faria? As pessoas crescidas precisam de significar tudo, até o silêncio! Até a existência! Talvez exista, na existência, a simplicidade de existir. Sem mais nada. Então, nesse caso, o barulho não cabe lá. E o silêncio também não. Por isso, prefiro a existência à inexistência. E tu sem saberes deste-me isso.
Partilhámos esse momento. Não sei por quanto tempo. Que diferença faria? As pessoas crescidas precisam de contar o tempo. Até as que dizem não ter tempo, também o contam — o que me parece ainda mais confuso! Se não têm tempo, como o podem contar? Talvez porque passaram todo o tempo que tinham a contá-lo e o tempo ficou todo contado. E, depois, ficaram sem mais tempo para contar. O tempo delas chegou ao fim. Deve ser triste. Por isso, prefiro as coisas intemporais às temporais. E tu sem saberes deste-me isso.
Falaste-me da tua viagem. E eu ouvi-te. Não sei se aquilo que te trouxe foi igual àquilo que me trouxe. Que diferença faria? As pessoas crescidas falam do que veem na caminhada, raramente do que sentem durante a viagem. Talvez por estarem demasiado ocupadas à procura de qual o caminho mais certo e o mais rápido, para chegar não se sabe onde. Por isso, prefiro os caminhos que viajam por dentro de mim àqueles que só passam. E tu sem saberes deste-me isso.
Vi-te a dançar por vários mundos. Fui-te buscar, sem nunca ter de te trazer. Porque tu aceitaste o meu convite e, intemporalmente, existes em mim. E eu como aceitei a tua presença, intemporalmente, existo em ti. Talvez eu tivesse de te perguntar se estava tudo bem ou como tinha sido o teu dia. Mas eu já não compreendo essas perguntas. Nem tu. Ensinaste-me isso. "O que é estar tudo bem? É nada estar mal"? E que coisas podem entrar no teu "tudo"? São as que ficam à porta do teu "nada"? E o que cabe no teu "bem" é o que excluis do teu "mal"? Que diferença faria? As pessoas crescidas fazem perguntas que, sinceramente, acho que nem elas as entendem. E, caso as entendam, não sei se entendem porque as fazem! Por isso, prefiro perguntar às minhas próprias perguntas a ter de perguntar às dos outros. E tu sem saberes deste-me isso.
Vi-te a sorrir e vi-te a chorar. Não sei quais foram os teus verdadeiros motivos. Que diferença faria? As pessoas crescidas são como cirurgiões prontos a dissecar qualquer sorriso ou qualquer lágrima. Só terminam a autópsia, quando lhes desventram toda a magia. Por isso, prefiro dar-te o meu colo, a ter de ser médica legista dos teus sorrisos e das tuas lágrimas. E tu sem saberes deste-me isso.
Se por mero acaso — eu ou tu, ou tu e eu — nos tornarmos pessoas suficientemente crescidas para nos esquecermos disto, então que sejamos apenas o deslumbre de um embalar mágico. Que diferença faria? Se um dia eu vou. E tu vais. Então, nós vamos. Sem questionar. Sem contar o tempo. Sem sorrisos e sem lágrimas. Apenas existir no colo uma da outra.
Merci pour la lecture!
#A primeira lição: Viagem ao teu colo
Que leitura mágica! Com uma linguagem leve e de fácil compreensão, a narrativa aborda temas relevantes, com valiosas lições e relexões. Vale a pena mergulhar nessa viagem.
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